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Fotos: Fernando SouzaA UFRJ foi a anfitriã de dois fóruns que reuniram, nos dias 5 e 6 de junho, mais de 100 reitores dos países do Brics+ para discussão e assinaturas de acordos nas áreas de inteligência artificial, políticas linguísticas, transição energética, sustentabilidade e combate à pobreza. Ao abrir o Fórum de Reitores das Universidades do Brics+, na sexta-feira (6), no Museu do Amanhã, o ministro da Educação, Camilo Santana, afirmou que a cooperação entre os países do bloco é um caminho sem volta: “Os Brics não estão no mundo para se opor a ninguém. Nosso espaço de cooperação não se faz em detrimento de ninguém, os Brics estão no mundo para somar. Em um mundo cada vez mais perigoso, identificar parcerias é um achado para reduzir nossa dependência. É por isso que estamos aqui”.
O titular do MEC lembrou que o Brasil ainda enfrenta muitas dificuldades de acesso da população às instituições de ensino, e que a parceria com os Brics+ se enquadra numa política do governo federal de valorização da educação pública. “O que nós queremos hoje é ampliar cada vez mais as oportunidades de acesso para que nossas crianças e nossos jovens transcendam as barreiras de desigualdade que ainda as mantêm longe das cadeiras das universidades. Nossas universidades têm sido exemplos na defesa da democracia, do progresso da ciência e do desenvolvimento social. Esse é um compromisso do governo do presidente Lula, o da luta por uma educação pública, gratuita e qualidade, comprometida com as grandes causas do país e da Humanidade”, disse Camilo.
AMPLIAÇÃO
Inicialmente formado por instituições brasileiras, russas e bielorussas, o Fórum de Reitores vem ampliando a adesão de universidades dos países do Brics+, como África do Sul, Indonésia, Índia, Irã, China, Etiópia, Egito, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
Em sua saudação aos reitores, a cônsul-geral da República Popular da China no Rio de Janeiro, Tian Min, garantiu que seu país está empenhado em fortalecer os laços entre os países do bloco. “Os países do Brics representam metade da população mundial e 30% da economia global. Os Brics estão remodelando a ordem global, e as universidades exercem um papel cada vez mais destacado nesse processo. A China está pronta para participar desse novo caminho, sobretudo no campo da educação digital”, afirmou.
Tian Min anunciou que a China vai montar dez centros de educação digital em países do Brics — um deles no Brasil —, e que as universidades devem se engajar nesse projeto. “Também queremos atuar em áreas como inteligência artificial, criando plataformas multilaterais, e ainda em mudanças climáticas e segurança alimentar”, adiantou ela. O reitor da UFRJ, professor Roberto Medronho, saudou a ampliação das parcerias: “A cooperação entre nossos países contribuirá para a construção de um mundo mais justo, saudável e sustentável”.
RÚSSIA E BIELORRÚSSIA
Cooperação e colaboração foram as palavras mais usadas no encontro. “Temos grandes oportunidades de colaboração. Sou matemático e devo muito de minha formação a cooperações internacionais. Gostaria que nossas juventudes se conhecessem e se relacionassem mais, trocassem experiências. Temos 10.200 alunos em nossa universidade, sendo 1.200 estrangeiros. Infelizmente, ainda nenhum brasileiro, mas espero que seja por pouco tempo”. As palavras do professor Daud Mamiy, vice-presidente da União Russa de Reitores, resumem bem a essência do Fórum dos Reitores das Universidades da Rússia, Brasil e Bielorrússia, organizado pela UFRJ na quinta-feira (5), no auditório CT2, na Cidade Universitária.
Reitor da Adyghe State University, instituição de 85 anos na região do Cáucaso, no sul da Rússia, Mamiy está entusiasmado com os avanços da Liga das Universidades da Rússia, Brasil e Bielorrússia, criada no ano passado na Universidade Estatal de Moscou — Lomonosov, onde ocorreu o primeiro Fórum dos Reitores. “O modelo de criação da Liga, que partiu de cooperações temáticas entre pesquisadores dos três países, é muito promissor. As possibilidades de ampliação de colaborações são vastas”, observou Mamiy.
Ministro da Embaixada do Brasil em Moscou, Marcelo Bolke lembrou que o processo de criação da Liga começou há dois anos, por iniciativa da representação diplomática brasileira na capital russa. “O projeto que hoje celebramos nasceu de uma ideia simples, a de superar o desconhecimento mútuo e criar fontes diretas entre pesquisadores. Em 2023, quando iniciamos essa jornada, identificamos o potencial de colaboração entre as instituições de ensino superior de nossos países. Em vez de seguir o modelo tradicional de assinar acordos genéricos, invertemos essa lógica, e conectamos diretamente professores em grupos temáticos. Assim nasceu a Liga”, recordou Bolke.
O reitor da UFRJ, professor Roberto Medronho, destacou que as parcerias em vários áreas do conhecimento são cada vez mais sólidas no grupo. “A quantidade de acordos e de processos de intercâmbio entre as universidades dos três países cresce de forma exponencial. E essa é uma necessidade para a construção de um novo mundo”, disse Medronho.
Para Andrei Petrov, cônsul-geral da Rússia no Rio de Janeiro, a Liga tem um importante papel a exercer no xadrez global. “São três culturas diferentes, três diferentes formas de ver o mundo. Vamos juntar nossas visões. Não é melhor nos unirmos em prol dos três países? Deixar de ser escravos de inovações de terceiros e caminhar por nós mesmos?”, convocou.
De acordo com o professor Viktor Stempitsky, vice-reitor da Belarusian State University of Informatics and Radioeletronics, a terceira edição do Fórum será realizada no ano que vem em Minsk. “Nossa capital está de braços abertos para recebê-los. É muito importante, e muito urgente para nosso planeta, ampliar essa relação entre nossos países”.
Dmitry Savkin
vice-reitor da National Research Nuclear University (MEPHI), de Moscou
Jornal da AdUFRJ: O senhor acaba de assinar um acordo de cooperação técnica com a UFRJ. Qual a importância desse acordo e da parceria geral entre as instituições?
Dmitry Savkin: Este encontro é maravilhoso porque começa a primeira conexão entre as três universidades dos países no território do Brasil. Muitas universidades importantes da Rússia e a da Bielorrússia vieram aqui para ampliar a cooperação. Para nós, é o primeiro acordo com uma universidade no Brasil. Esse é na área de estudos de transição energética. O próximo será com a Universidade de São Paulo, com a qual começaremos o doutorado em Engenharia Nuclear.
Em que campos temáticos a parceria com a UFRJ pode avançar?
Eu acho que com a Universidade Federal do Rio de Janeiro nós podemos desenvolver a inteligência artificial, e trabalhar no desenvolvimento de energia sustentável dos dois países. Isso é o que nós pesquisamos e podemos compartilhar. Temos seis vencedores do Nobel entre nossos pesquisadores. As universidades russas têm algumas tecnologias que podemos compartilhar com os parceiros brasileiros.
Quantos alunos você tem em sua universidade?
No total, há quase 30.000. Cerca de 8.000 estão em Moscou, e o resto está em campi espalhados pelo país. E nós temos quase 80 alunos do Brasil.
E qual o orçamento de sua universidade para este ano?
O orçamento é de cerca de 300 milhões de dólares.
Os recursos são todos do governo russo ou há outras fontes?
Os recursos vêm do governo, somos uma universidade pública. Então as verbas vêm do orçamento da Educação e também de um fundo de desenvolvimento de pesquisa, para o qual contribuem diferentes empresas, algumas de fora da Rússia. Especificamente em Ciências de Computação, nós fazemos pesquisa em segurança cibernética para empresas internacionais. Temos também alguns investidores que contribuem em nossas pesquisas.
A UFRJ é a melhor universidade federal do país de acordo com o Center for World University Rankings (CWUR), instituição independente que realiza pesquisas sobre a qualidade da educação superior no mundo. A universidade subiu impressionantes 70 posições em comparação com o ano passado. Saiu do 401º lugar para o 331º e ultrapassou a Unicamp, se tornando, assim, a segunda melhor universidade do Brasil. Ficou atrás apenas da Universidade de São Paulo.
A UFRJ chegou a ter melhor avaliação que a USP em relação a dois critérios: qualidade da educação, medida pela estrutura e sucesso acadêmico de ex-alunos, e excelência do corpo docente. A nota global, no entanto, não superou a da estadual paulista. A UFRJ obteve 76,5 pontos, de um total de 100, enquanto a USP, que ocupa a 118ª posição global, recebeu 81,5 pontos.
Em relação à América do Sul, a UFRJ também melhorou: saiu de 3ª para 2ª colocação na região ao desbancar a Pontifícia Universidade Católica do Chile, que no ano passado ocupava o segundo lugar no continente. O CWUR analisou 74 milhões de dados para classificar as universidades.
O desempenho não é por acaso, mas fruto de intensa dedicação e da qualidade da comunidade acadêmica. É o que avalia o reitor Roberto Medronho. “Estou muito feliz e orgulhoso. Esta vitória é resultado da excelência dos nossos docentes, técnico-administrativos e estudantes”, afirma. “Temos um corpo social altamente qualificado e que, com esforço, responde com excelência a despeito da gravíssima crise orçamentária e do subfinanciamento crônico que enfrentamos”, destaca o dirigente. “É estímulo para continuarmos trabalhando mais e melhor pela nossa universidade e pelo país”.
A professora Mayra Goulart, presidenta da AdUFRJ, concorda. “Certamente, a evolução da UFRJ tem direta relação com a excelência dos nossos colegas docentes, dos técnicos e estudantes”, avalia. “A comunidade acadêmica demonstra resiliência ao enfrentar os desafios orçamentários e de infraestrutura. O resultado expressa o quanto é importante mantermos a nossa instituição aberta, funcionando, respondendo aos desafios sociais do Brasil. Nós, professores, estamos fazendo a nossa parte”.Fotos: Arquivo AdUFRJ/Fernando Souza
Os critérios avaliados foram: classificação educacional, empregabilidade de egressos, produção científica e qualidade do corpo docente. Este ano, foram avaliadas 21.462 instituições e duas mil foram listadas como as melhores do mundo. Dessas, 53 são brasileiras. A Universidade Federal Rural do Rio (UFRRJ) deixou de integrar a lista neste ano. O topo mundial segue ocupado por Harvard, que obteve nota máxima na avaliação.
Em pesquisa, um dos fatores levados em conta é o número de publicações de grande impacto. Segundo a Pró-reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (PR-2), nos últimos cinco anos, a UFRJ conseguiu publicar 26 artigos na Nature, 49 na Nature Communications e 26 na Science, que são os mais prestigiados periódicos de pesquisa do mundo. “Publicar nessas revistas é dificílimo. Requer uma colaboração internacional grande, há enormes exigências e termos esse número de artigos publicados é muito bom”, avalia o superintendente de Pesquisa, professor Felipe Rosa. “Mostra também nossa inserção internacional, uma vez que muitas dessas pesquisas e publicações aconteceram em colaborações internacionais”, celebra.
ORGULHO DE SER UFRJO resultado da UFRJ espelha trajetórias como a do professor Rodrigo Nunes da Fonseca, pesquisador do Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade (Nupem), de Macaé. O docente foi reconhecido como um dos principais nomes da biologia evolutiva do desenvolvimento (Evo-Devo) pela revista científica internacional Journal of Experimental Zoology Part B: Molecular and Developmental Evolution. Rodrigo, que é diretor da AdUFRJ, foi destaque na prestigiada seção “In the Spotlight”, que reconhece cientistas produtivos e com trajetória de impacto na área.
A publicação ressalta o pioneirismo e a originalidade da carreira do professor, que é o primeiro cientista da área de Evo-Devo a aplicar essa abordagem ao estudo de artrópodes negligenciados, como mosquitos vetores de doenças tropicais e moscas negras.
O professor tem história pessoal e acadêmica inspiradora: de aluno da rede pública no Rio de Janeiro a referência internacional com passagens pela Universidade de Colônia, na Alemanha, e colaborações com grandes nomes da genética evolutiva.
Para Rodrigo, o resultado reforça a relevância da UFRJ na produção científica nacional e internacional, mesmo diante de sucessivos cortes e dificuldades. “Esse reconhecimento internacional me emociona profundamente, mas não é uma conquista individual — é fruto de um ambiente acadêmico fértil, colaborativo e comprometido com a excelência, como o que encontramos no Nupem e em toda UFRJ”, considera o professor.
“Estar entre os destaques de uma revista científica de prestígio é uma honra, mas fazer parte de uma universidade pública que transforma vidas diariamente é ainda mais significativo”, emociona-se Rodrigo. “A UFRJ prova que é possível fazer ciência de ponta com responsabilidade social, mesmo em um cenário de subfinanciamento crônico”, destaca. “Tenho muito orgulho de contribuir, a partir de Macaé, com a construção de uma universidade plural, democrática, inclusiva e socialmente referenciada”, afirma.
Larissa Pereira, estudante de Nutrição, recebeu com entusiasmo a notícia da melhora da nota da UFRJ. “Sou extremamente feliz por ser aluna da casa e tenho muito orgulho da minha trajetória. Esse resultado apenas reflete, de forma mais extensa, a minha experiência e a de muitos colegas meus”, acredita a estudante. “Tenho os melhores professores, muitos deles autores de livros de referência, coordenadores de estudos e de iniciações científicas famosas no Brasil e no exterior”, elogia.
Com mais recursos, Larissa acredita que a universidade conseguiria alçar voos mais altos. “Muitas vezes, a falta de infraestrutura freia o potencial que toda a comunidade universitária tem. Vejo isso, também, por estudar no Centro de Ciências da Saúde e comparar as condições e ferramentas com outros centros e outras instituições”, lamenta. “Nem consigo imaginar o reconhecimento, a mais que a universidade receberia com orçamento adequado”.
Ranking reflete crise
O fenômeno alcançado pela UFRJ não é a regra se compararmos as avaliações das demais universidades brasileiras. A crise orçamentária que afeta as instituições de ensino superior parece ter se refletido na avaliação deste ano. Cerca de 90% das instituições do país perderam posições em 2025. A própria USP, que segue sendo a melhor do Brasil, caiu no ranking global. Saiu do 117º lugar para o 118º. A Federal de São Paulo perdeu 37 posições. Caiu do 580º para o 617º lugar.
A Universidade Federal do Rio Grande do Sul foi outra que perdeu posição. Deixou de ser a 464ª melhor para se tornar a 476ª. A UFMG também caiu: de 495º para o 497º lugar. O mesmo aconteceu com a Fundação Oswaldo Cruz, que saiu da posição 654 para a de número 668. Todas permanecem entre as dez melhores instituições de ensino e pesquisa do Brasil, mas em posições globais mais baixas que no ano passado.
Segundo o site do Center for World University Rankings, a instituição é a única que publica avaliações sem depender do envio de dados pelas universidades. A metodologia analisa dados em pesquisas sobre as instituições de ensino com indicadores agrupados em quatro grandes áreas.
Educação: com base no sucesso acadêmico dos ex-alunos de uma universidade, medido em relação ao seu porte (25%);
Empregabilidade: com base no sucesso profissional dos ex-alunos de uma universidade, medido em relação ao seu porte (25%);
Corpo Docente: medido pelo número de docentes que receberam as mais altas distinções acadêmicas (10%);
Pesquisa:
1. Produção de Pesquisa: medida pelo número total de artigos de pesquisa (10%);
2. Publicações de Alta Qualidade: medidas pelo número de artigos de pesquisa publicados em periódicos de primeira linha (10%);
3. Influência: medida pelo número de artigos de pesquisa publicados em periódicos altamente influentes (10%);
4. Citações: medidas pelo número de artigos de pesquisa altamente citados (10%).
Foto: Luis Fortes/MECA agonia orçamentária das universidades e institutos federais ganhou um alento na semana passada. Em reunião com reitores no Palácio do Planalto, na terça-feira (27), o ministro da Educação, Camilo Santana, anunciou uma recomposição de R$ 400 milhões para as instituições federais de ensino — em torno de R$ 250 milhões para as universidades e R$ 150 milhões para os institutos federais.
Ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Camilo anunciou também a retomada da liberação de 1/12 mensais do orçamento das federais, tornando sem efeito os 1/18 previstos no decreto 12.448, de 30 de abril passado. Além disso, o governo se comprometeu a liberar o repasse de R$ 300 milhões — que ficaram retidos no MEC por força do decreto 12.448 — para pagamento de custeios de janeiro a maio — o que o ministro Camilo Santana classificou como “regularização financeira”.
Os R$ 400 milhões anunciados recompõem os R$ 340 milhões cortados pelo Congresso na aprovação da Lei Orçamentária Anual (LOA 2025) em relação ao que foi proposto pelo Executivo no projeto original (PLOA), e ainda adiciona mais R$ 60 milhões. Mas os reitores acentuaram que o quadro orçamentário ainda é de incertezas.
No seminário “Financiamento das Universidades Federais”, realizado pela Andifes em 21 de maio, um estudo apresentado pelo reitor da Universidade Federal de Viçosa, Demetrius David da Silva, mostrou que seriam necessários R$ 249,3 milhões para recompor o que havia sido proposto pelo governo na PLOA 2025 para as federais, e que foi cortado pelo Congresso na aprovação da lei orçamentária. O estudo destacou que, das 69 IFEs, 53 tiveram cortes de 4% a 4,86% e oito de 3% a 3,99% em seus orçamentos na transição da PLOA para a LOA 2025.
De acordo com o pró-reitor de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças (PR-3), professor Helios Malebranche, ainda não é possível saber quanto a UFRJ receberá de repasse, pois os recursos não foram incluídos no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) do governo federal. “Nosso orçamento para o funcionamento será ampliado, mas temos que aguardar o Siafi para saber os valores. Entretanto, nossa necessidade, segundo a última atualização, é de R$ 519 milhões, isto é, ainda nos faltarão R$ 194 milhões. Nosso orçamento continua fortemente insuficiente”, avaliou o professor.
ALÍVIO E ESPERANÇA
De forma geral, os dirigentes presentes ao encontro da semana passada ficaram aliviados com os anúncios feitos pelo ministro, embora destaquem que os orçamentos das universidades e institutos federais estejam defasados. “Isso resolve uma parte pequena do problema, mas a recomposição histórica não foi debatida, os ministros se comprometeram a trabalhar para isso. Ficamos com um gostinho de que poderia ter sido melhor. A nossa luta é por recompor toda a década do orçamento”, avaliou o professor Roberto Rodrigues, reitor da UFRRJ e presidente do Fórum de Reitores das Instituições de Ensino do Estado do Rio de Janeiro (Friperj).
Rodrigues saudou a realização do encontro e a inserção da Friperj, fundado no ano passado, no debate orçamentário. “Foi um passo importante para as nossas universidades e para os institutos federais. Porém é uma discussão que se inicia, precisamos debater e avançar mais na questão orçamentária. O Friperj quer participar ativamente desse debate. Para desenvolver o estado do Rio de Janeiro é preciso que nossas universidades e institutos federais estejam fortes”.
Para o reitor do IFRJ, professor Rafael Almada, o Friperj saiu fortalecido da reunião. “Esse encontro foi, em grande parte, fruto de nossa mobilização. A volta do empenho mensal de 1/12 e a recomposição anunciada nos ajudam a pagar as contas e a planejar melhor o ano. Mas ainda temos o debate sobre a recomposição orçamentária, e isso foi falado pelos ministros. A ideia é criar um grupo de trabalho para estudar uma legislação que gere segurança orçamentária para nossas ações e garanta a sobrevivência financeira de nossas instituições. Esse foi o principal ganho da reunião”, disse Almada.
O presidente da Andifes, José Daniel Diniz Melo, reitor da UFRN, tem esperança de que o diálogo com o governo avance. “A reunião teve a importância de ser efetivamente um momento de diálogo. É importante que nossas instituições tenham esse espaço para mostrar suas necessidades e seus projetos. Desde a aprovação da Lei Orçamentária Anual, estávamos pleiteando um acréscimo de R$ 1,3 bilhão, o que acabou não ocorrendo. Por isso, esperamos que essa suplementação venha a seguir”, comentou Melo.
AVANÇOS NO MEC
Antes de fazer o anúncio da recomposição orçamentária, o ministro Camilo Santana traçou um panorama das mudanças no ministério e na área de Educação desde que o governo tomou posse, em 2023. Camilo lembrou que os anos de 2021 e 2022 “representaram o pior período orçamentário para as instituições federais”, e que a atual gestão assumiu o MEC com “seis anos sem reajuste salarial, concursos públicos ou diálogo institucional, dez anos sem reajuste nas bolsas estudantis, obras paralisadas e ausência de novos investimentos”.
Entre as principais ações do governo Lula para universidades e institutos federais, o ministro destacou as suplementações orçamentárias de R$ 1,7 bilhão, em 2023, e de R$ 747,3 milhões, em 2024. Outro avanço foi a inclusão da educação no Novo PAC, com previsão de investimento de até R$ 9,5 bilhões para consolidação e expansão das universidades, institutos federais e hospitais universitários.
Camilo Santana também salientou que a assistência estudantil ganhou novo impulso no atual governo, transformando-se em lei (PNAES) em 2024 e registrando sucessivo aumento de recursos ano a ano: de R$ 1,4 bilhão, em 2021, para R$ 2,3 bilhões este ano.
“Se o decreto fosse mantido, a UFRJ ficaria praticamente insolvente. Não teríamos condições de manter nossa máquina funcionando no modelo 1/18.
Felizmente, o decreto foi revisto. Reconheço o esforço do MEC na revogação do decreto do 1/18 e também na recomposição orçamentária, devolvendo para as universidades aquilo que o Congresso Nacional havia retirado na Lei Orçamentária.
Recompondo os valores orçamentários da PLOA de R$ 423 milhões para UFRJ e voltando ao sistema de 1/12, teremos alguma tranquilidade. Ainda é uma situação difícil porque temos um déficit grande, mas reconhecemos que o MEC foi muito eficiente. “
Roberto Medronho
Reitor da UFRJ
A professora Heloiza Costa Brambati, aposentada do Colégio de Aplicação da UFRJ e reconhecida tradutora de Francês, infelizmente faleceu em 30 de março deste ano, aos 84 anos, sem ter recebido o que era seu direito assegurado pela lei e pela Justiça. No momento mais delicado de sua vida, já fragilizada e enfrentando um câncer, ela teve negado pela universidade o que seria um último conforto e alento para quem dedicou sua vida a ensinar gerações.
Ela tinha direito à incorporação do Reconhecimento de Saberes e Competências (RSC) ao seu contracheque de aposentada como mestra. Depois de recolher documentação de toda uma vida e de ter sido aprovada pela banca do Colégio de Aplicação, a Seção de Inativos da PR-4 declarou o pleito “indeferido por falta de amparo legal”. Heloiza não é um caso isolado. Ela sintetiza a luta de outras 22 docentes que aguardam sem definição o recebimento da retribuição.
A decisão judicial favorável à professora Heloiza e a um grupo de mais de 70 docentes é de 2022, fruto de ação coletiva da AdUFRJ. Em novembro do mesmo ano, a Pró-reitoria de Pessoal assinou compromisso legal de implementar a RSC em até 15 dias, mas nada aconteceu.
Para buscar uma solução para a longa espera, oito professoras aposentadas se reuniram com a direção e com a assessoria jurídica da AdUFRJ na última sexta-feira, 30 de maio. “Este é um interesse vital para nós aposentadas, pois temos enorme defasagem salarial e a RT representa muito no nosso salário”, explicou a professora Laura do Amaral Mello.
Ao todo, 73 docentes aposentados do CAp poderiam receber a RSC. A lista inclui docentes dos 67 aos 90 anos. Todos têm direito à paridade com os ativos. Muitos deles estão bastante adoecidos.
Até agora, somente 23 conseguiram juntar toda a documentação necessária para dar seguimento ao processo interno à UFRJ. Para receber os valores do RSC, é necessário comprovar que sua vida acadêmica foi equivalente à retribuição por titulação pleiteada (mestrado, se têm especialização; doutorado, se têm mestrado). A primeira dificuldade é justamente juntar documentos de uma época em que nada ou quase nada era digitalizado. “Fui pedir minha documentação na UFRJ e me responderam que não tinham porque o oitavo andar pegou fogo. Meus documentos se perderam naquele incêndio (2016)”, contou a professora Manuela Quintáns, que já foi diretora do Colégio de Aplicação. “Esse é um exemplo da dificuldade”.
O passo seguinte é ser aprovado por uma banca formada por dois professores do CAp e dois professores externos à UFRJ. “Essa é uma etapa complicada. Tem sido muito difícil conseguir os avaliadores externos”, revelou a professora Angela Fonseca. Dos 23 que juntaram a documentação, nove já foram aprovados – sete mulheres e dois homens –, mas os processos aguardam resposta da PR-4 desde setembro do ano passado. Outras 14 professoras esperam a formação das bancas.resiliência em meio à dor Professoras aposentadas do CAp se reuniram com a diretoria na sede da AdUFRJ, no dia 30 de maio - Foto: Silvana Sá
LUTA JUSTA
Há anos, os professores do CAp têm direito à licença para qualificação, mas essa não era a realidade vivida pelas professoras que fazem parte do grupo que pleiteia a RSC. “Hoje, os professores têm mestrado com liberação, doutorado com liberação e isso é absolutamente justo e fruto de uma luta que nós travamos”, afirmou a professora Laura. “A gente não tinha liberação para se qualificar. Nosso trabalho era integral. Muitas de nós fomos desencorajadas tamanha luta. Não restava fôlego para se titular. Não bastasse isso, hoje não vemos a concretude desse reconhecimento”, lamentou.
“Não se trata de progressão. É o direito sobre a RT no nosso salário”, pontuou a professora Militza Putziger. “No meu caso, seria um acréscimo de R$ 4 mil”, revelou. “Essa desproteção desde setembro passado é inconcebível. Parece-nos que estamos numa linha de direito indiscutível, mas nada acontece”, completou a professora Laura.
Há docentes na lista gravemente doentes, que lutam contra o tempo para receberem o que a Justiça já lhes garantiu. “Temos colegas em situação muito difícil e esse dinheiro seria muito importante para comprar remédios, para melhorar a vida”, contou a professora Marlene Medrado. Seu processo também está finalizado, mas sem resposta da Pró-reitoria de Pessoal.
“Trata-se de descumprimento de decisão judicial”, pontuou o advogado Renan Teixeira do escritório Lindenmeyer Advocacia, que presta assessoria jurídica à AdUFRJ. “Vamos mediar a situação junto à PR-4 e ao CAp para que a determinação seja cumprida”, garantiu.
A professora Mayra Goulart, presidenta da AdUFRJ, entrou em contato informalmente com a PR-4 durante a reunião e foi informada de que o CAp enviou os processos para o setor errado, mas não explicou o motivo de o processo da professora Heloiza ter sido indeferido. “Vamos fazer uma diligência junto a Pró-reitoria de Pessoal para que esses pagamentos sejam realizados. Também entraremos em contato com a Comissão Permanente de Pessoal Docente do CAp para que os próximos processos sejam enviados diretamente para o gabinete da pró-reitora”, disse Mayra.
Procuramos a PR-4 para uma resposta formal à reportagem, mas não obtivemos retorno até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto.