facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados


Notice: Undefined property: Joomla\CMS\Categories\CategoryNode::$link in /var/www/html/adufrj/plugins/content/facebooklikeandshare/facebooklikeandshare.php on line 256

WhatsApp Image 2024 10 17 at 21.36.28 2Foto: Kelvin MeloO poeta cubano José Martí dizia que plantar uma árvore é algo que todo mundo deveria fazer ao longo da vida. Só que uma dupla de professores resolveu ir além: Ian Marques Martins e Roberto Fernandes Oliveira, da Engenharia Civil, ajudaram a plantar ou fincaram com as próprias mãos centenas de mudas no entorno do Centro de Tecnologia. A iniciativa, nos anos 1980, transformou a paisagem.
“Cheguei aqui em 1972, ainda como aluno. Era um campus muito árido”, afirma Ian. O cenário incomodava o então estudante. Ainda mais tendo um pai, Seu Irahy, que gostava muito de árvores e já fazia o plantio de mudas pelas praças de Niterói. Quando se tornou docente da universidade, em 1983, Ian começou a pensar em como colocar em prática o que tinha aprendido em casa. “Meu pai, inclusive, cedeu algumas mudas para trazer para cá”.
Mas poucas mudas não seriam suficientes para alterar a aridez do CT. Seria necessário um plantio em grande escala. Ian convenceu Roberto e os dois levaram a ideia ao decano da época, professor Carlos Russo, que apoiou a iniciativa. “Fui então ao Departamento de Parques e Jardins do Rio, em 1986, convidei um técnico para visitar o campus, demos uma volta por aqui e perguntei que tipos de árvores ele sugeriria para serem plantadas. Depois disso, fomos à reitoria e pedimos um caminhão para ir ao departamento, que separou uma série de mudas para nós buscarmos”, recorda Ian.
Foram trazidas mil mudas das mais variadas espécies: ipês, baobás, figueiras, mirindibas, mungubas, goiabeiras, tamarindeiras, pés de fruta-pão, sapotizeiros, entre tantas outras. O professor calcula que aproximadamente 300 delas vingaram e estão por aí até hoje. “Todas vieram em saquinhos. Aqui na frente do bloco B do CT existem esses baobás enormes que vieram com 1,20m de altura”, conta Ian.
Entre tantas, há algumas preferidas. “Minha árvore predileta é um ipê amarelo, que fica no estacionamento, em frente ao bloco G. Sempre dá uma floração que é um espetáculo. Quando as folhas caem, o chão parece um tapete amarelo”, afirma Ian. “Gosto também da mirindiba, que não sabia que iria adquirir uma copa tão grande e bonita, que está em frente ao Bloco D”.
Nem tudo foi plantado de uma vez só. Com a ajuda de um rapaz que prestava serviços para os trailers de alimentação chamado Geraldo, os docentes começaram a distribuir as árvores nos espaços disponíveis. Aos poucos. Um trabalho que não parou por aí: foram anos regando as plantas, após o expediente. “Para a gente, era uma higiene mental. Pegávamos os regadores e íamos molhando as mudas”, acrescenta o professor Roberto Fernandes.
BEM COMUM
A mudança da flora também ajudou a trazer novos “moradores” para o CT. “Está ouvindo? Esse é o canto do sabiá-laranjeira”, diz Ian, durante a entrevista. “Hoje, temos muitos passarinhos. Vemos muitas caturritas, sabiás, canários-da-terra, sanhaços, entre outros”, completa.
Passadas quase quatro décadas do início da empreitada, os dois festejam os resultados. “Foi pelo gosto de tornar o local de trabalho mais aprazível e dividir isso com os colegas. A gente fica feliz, porque os benefícios não reverteram só para mim, para o professor Roberto ou para o professor Carlos Russo”.
Roberto concorda e, mesmo aposentado e agora morando em São Paulo, ainda demonstra preocupação e carinho com suas antigas mudas. “Está um tal de pegar fogo em árvore que não é brincadeira”, alerta.

WhatsApp Image 2024 10 17 at 21.36.28 1Fotos: Fernando SouzaA Semana Nacional de Ciência e Tecnologia da UFRJ – que acontece de 16 a 18 no Fundão e em Caxias, e nos dias 22 e 23, em Macaé – tem um superpoder: o de fazer os olhos de mais de 8 mil estudantes brilharem encantados com o conhecimento passado por bravos professores. “O mais importante é essa troca de conhecimento. Muitas dessas ações são resultado de projetos de pesquisa e extensão integrados. É uma experiência estimulante não só para estudantes, mas também para professores”, afirma Ivana Bentes, pró-reitora de Extensão, que organiza o evento. Participam da SNCT 160 colégios do Rio e Baixada Fluminense.

Um dos pontos de parada das mais de 20 visitas guiadas realizadas durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia da UFRJ foi o Lab3D, o Laboratório de Realidade Virtual e Realidade Aumentada da Coppe. Alunos da Escola Municipal Campos Elísios, de Duque de Caxias, conheceram algumas das aplicações e curiosidades da tecnologia de três dimensões.
“Aqui trabalhamos com imagens 3D e realidade aumentada. Vocês sabem a diferença? Conhecem o jogo Pokemón Go?”, perguntou a professora Claudia Susie Rodrigues, coordenadora do laboratório. A turma de mais de 30 adolescentes respondeu em coro: “sim”. “Ele é um exemplo de realidade aumentada. É quando você consegue inserir um objeto virtual no mundo real”, explicou. “Já a imagem em 3D depende de um mecanismo que engana nosso cérebro para gerar essa percepção de profundidade. Os óculos anaglifos (de lentes vermelha e azul) cumprem o papel de unir as imagens que cada olho vê separadamente, de forma que pareçam saltar da tela”, demonstrou.
Ao experimentar os óculos e ver as imagens se movendo, as reações eram todas de surpresa. “Estou gostando muito. Nunca tinha visto nada igual”, disse o estudante Eduardo Daniel Guedes. Aos 15 anos, ele está no 7º ano e pretende estudar na UFRJ. “Quero fazer computação”, contou.WhatsApp Image 2024 10 17 at 21.39.54
Os professores dos jovens estudantes participaram da atividade emocionados. “Muitos deles nunca estiveram numa universidade. Outros sequer saíram do bairro onde vivem. Então, vivenciar isso com eles é muito estimulante”, contou Marcio Douglas Floriano, professor de Geografia da turma.
A professora Susie, docente da Coppe, também estava emocionada. “É maravilhoso receber esses estudantes. Eles ficam encantados, os olhos deles brilham e os nossos também. Precisamos mostrar a eles as tecnologias, para que eles dominem essas ferramentas”.
A poucos metros dali, outro grupo chegou para conhecer a nova geração do MagLev Cobra, o trem de levitação magnética desenvolvido pela Coppe. A segunda versão, ainda mais silenciosa e autônoma, está em fase final de ajustes, mas foi instalada nos trilhos onde foi possível demonstrar a flutuação do equipamento.
Os alunos do Colégio Estadual José Leite Lopes ouviam as explicações atentamente. “É uma ideia muito boa, mas acho que a implementação dele será num futuro distante no Rio de Janeiro, mas poderia ser usado para ligar os prédios da UFRJ”, opina Cauã Peverari, de 15 anos. Pela primeira vez na universidade, o aluno do ensino médio ficou impressionado com o tamanho da instituição. “Eu me surpreendi muito com o campus. É muito grande! Achei incrível ter vários prédios com vários cursos diferentes”.
No hall do Bloco A do Centro de Tecnologia, prédio que concentrou as exposições no Fundão, pequenininhos e grandões descobriam mais sobre ciência, tecnologia e inovação. Projetos de todas as unidades da UFRJ se revezaram nos estandes ao longo dos três dias de evento encantando gerações de alunos e professores. “É a primeira vez que eu vejo um microscópio. Eu estou gostando muito desse passeio”, contou a animada Stella Oliveira, de 11 anos.
“É ótimo receber os alunos das escolas, ver o interesse das pessoas”, conta Ana Luiza Costa, do 10º período do curso de Microbiologia. O tema de sua exposição era Cianobactérias, bactérias que têm a propriedade de obter energia pela fotossíntese. “É um desafio explicar os assuntos de acordo com a faixa etária que chega até a gente, mas é sempre uma experiência maravilhosa”.
Professora do Espaço de Desenvolvimento Infantil Bárbara Ottoni, escola municipal voltada à educação infantil, Alessandra Gonçalves levou sua turma de 5 aninhos. “A prefeitura disponibilizou o ônibus para a escola. As crianças estão fascinadas com as interações. Espero que seja a primeira de muitas visitas que elas farão à universidade ao longo da vida”, desejou a educadora.
Responsável por explicar sobre desafios da sustentabilidade para crianças tão pequenas, a professora Laísa Freire, do Instituto de Biologia, não escondia o sorriso no rosto. “É uma delícia. Apostamos na vivência, na experimentação, para falar de ecossistemas, cadeia alimentar, impactos da ação humana até chegarmos ao desafio da sustentabilidade”, contou. “Nossa ideia é trazer para eles, mesmo pequenininhos, essa perspectiva tão urgente e necessária sobre a preservação do meio ambiente”, disse. “Mais do que passar a informação, nós queremos vivenciar com eles o que é explicado. Isso é popularizar a Ciência”, defendeu.
WhatsApp Image 2024 10 17 at 21.37.18 2O Museu Nacional também expôs partes de suas coleções, como animais taxidermizados e conservados em álcool. O estande, é claro, ficou lotado de olhinhos curiosos. “As crianças são muito interessadas, fazem muitas perguntas. A gente ama esse contato com o público”, declarou Marcela Pessoa, extensionista do museu e estudante de Ciências Biológicas. “Nosso papel é exatamente este, de trazer o museu para o público, falar sobre ciência, sobre pesquisa com a sociedade”.
Pietro Calixto, da Escola Municipal Rui Barbosa, era um dos mais interessados nos diferentes estandes que visitou, no dia 16. Aos 14 anos, ele está no 8º ano e se interessa muito por Astronomia e Biologia. “Foi a primeira vez que estive na UFRJ. Eu visitei muitas coisas e aprendi muitas coisas também”, contou o aplicado aluno, convidado pela sua escola por ter um ótimo comportamento e boas notas.
Ele demonstra o que absorveu durante o dia rico em conhecimento e dá pistas do quanto a universidade e os professores podem melhorar o mundo. “É importante a gente preservar a natureza. Eu acho que a gente deveria queimar menos combustível”, aconselhou Pietro. “Essa fumaça tóxica polui muito o meio ambiente e destrói nosso planeta”. Recado anotado!

CAXIAS RECEBE MAIS DE MIL ESTUDANTES EM TRÊS DIAS DE EVENTO

WhatsApp Image 2024 10 17 at 21.37.18Foto: Pedro Henrique RibeiroO campus de Duque de Caxias registra 22 escolas participantes da SNCT. A estimativa é que mil estudantes da educação básica visitem os projetos expostos nos três dias de atividades. “Estamos recebendo entre 300 e 400 estudantes por dia das escolas municipais e estaduais de Caxias e adjacências”, conta a professora Alinny Isaac, coordenadora de Extensão do campus.
Docente de Biologia Celular, ela não esconde o orgulho em ajudar a proporcionar aos estudantes da Baixada Fluminense a experiência de conhecer a UFRJ. “É muito gratificante este trabalho. Estamos lidando com crianças que muitas vezes nunca tiveram contato com a universidade, nunca viram um microscópio”, diz. “São coisas que vão ficar na memória deles e, certamente, na de todos nós”.
A programação é a mais variada possível. “Temos muitas oficinas sobre meio ambiente, sistema nervoso, biomas, contação de histórias, com participação de 200 alunos da universidade – envolvidos em oficinas ou em monitorias –, além de 18 professores do campus, três externos e nove técnicos”..
A docente destaca a importância de eventos como a SNCT. “Esse é o nosso papel: aproximar a universidade da sociedade, compartilhar conhecimento”, afirmou. “É muito emocionante ver as crianças se deparando com esse mundo novo. É a maior recompensa que a gente pode ter”, avalia a docente. “A extensão é a melhor ferramenta de ação direta na sociedade. É um elo que precisa ser estimulado”, conclui.

WhatsApp Image 2024 10 11 at 15.50.26 2Cada vez mais professores começam a celebrar os ganhos da ação movida pela AdUFRJ em relação aos 3,17%, um índice de reajuste salarial devido aos servidores federais entre janeiro de 1995 e dezembro de 2001. Os valores recebidos são corrigidos pela inflação desde então.
“Foi uma surpresa muito boa. É sempre bom receber um dinheirinho extra”, comemorou a professora Cenira Barroso, aposentada da Escola de Química. Ex-diretora da unidade, a docente foi uma das 1,1 mil pessoas que tiveram o processo ajuizado pelo sindicato desde julho do ano passado.
A ação coletiva transitou em julgado, mas a Justiça determinou que o pagamento dos valores seja feito através de processos individuais. Cenira foi uma das primeiras a assinar, em agosto de 2023, a procuração disponibilizada pelo setor jurídico da AdUFRJ. Em outubro deste ano, passou a contar com o recurso aplicado na conta. “O dinheiro fica a postos para qualquer eventualidade”, afirma.
Professor aposentado da Faculdade de Medicina, Antonio Issa entregou a procuração em setembro de 2023 e, passado um ano, também recebeu o pagamento da ação. “Óbvio que gostei muito. Um dinheiro que entrou na conta ninguém reclama”, brinca. Depois, sério, elogia a ação da AdUFRJ: “O sindicato sempre foi muito atuante e confiável”.
Mas se o processo coletivo já está ganho, por que os professores estão demorando um ano ou mais para receber o pagamento? É o que esclarece o assessor jurídico do sindicato, Renan Teixeira: “O processo se divide em duas fases, a de discussão de direito e a de discussão de valores. A primeira já foi ganha. Ou seja: todos os professores que estão na lista enviada pela UFRJ, disponível no sindicato, têm direito aos valores”.
Após a discussão do direito — que demorou anos —, inicia-se a fase de definição dos valores, que deve ser ajuizada por cada professor, por determinação judicial. Depois de iniciado o processo individual, o juiz determina que a universidade se manifeste para apresentar o valor devido, no prazo de 60 dias. “Após apresentado, mandamos para o nosso contador verificar. Até aqui, 100% dos casos estiveram corretos e concordamos. Só então o juiz homologa e determina a ordem de pagamento”.
Os valores devidos também influenciam no prazo de pagamento. “Aqueles abaixo de 60 salários mínimos (R$ 84.720) são pagos em até 60 dias corridos a partir da ordem de pagamento. Acima disso, entram na modalidade do precatório federal. Os precatórios inseridos no sistema até o dia 2 de abril de cada ano são pagos somente com o orçamento do ano seguinte”, informa o advogado.
E por que um professor que protocolou antes de um colega que recebeu ainda pode estar na fila de espera? “Ajuizamos os processos na ordem de envio da procuração. Mas cada processo, por sorteio, pode ser distribuído por mais de 30 varas federais, com juízes e acúmulos de trabalho diferentes. Portanto, pode haver esta diferença de andamento”, acrescenta Renan.
A AdUFRJ tem divulgado a ação dos 3,17% no jornal, nas redes sociais, no seu grupo de transmissão via Whatsapp (( 21) 99365-4514) ou por e-mail. Ainda assim, quase dois mil professores ainda precisam assinar a procuração disponibilizada pelo sindicato. E, como alerta o assessor jurídico, este numeroso grupo precisa se apressar.
O prazo final para ingresso desta ação é março de 2025. “A prescrição de ações contra a Fazenda Pública é de cinco anos. No final de 2022, a juíza determinou o arquivamento da ação coletiva e que cada professor buscasse seu direito individualmente. A partir de então, o prazo voltou a correr pela metade, ou dois anos e meio. O que nos leva a março de 2025”, afirma Renan.
Todos os professores que estavam na carreira (mesmo aposentados) entre janeiro de 1995 e dezembro de 2001 podem entrar em contato com o sindicato pelo número de Whatsapp (21) 99808-0672 ou pelo email Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. para verificar se têm direito ao ganho judicial e assinar a procuração (veja como no quadro).

CUIDADO
É importante ter cuidado com golpistas e só se comunicar com a AdUFRJ pelos canais oficiais divulgados acima. “Nem o sindicato nem o setor jurídico pedem adiantamento de custas a respeito do assunto. Nossos honorários são sobre o êxito. Só ganhamos se o professor ganhar. Essa história de que precisa pagar custas de perito para receber valores é golpe”, diz Renan. Filiados pagarão 10% das custas; não filiados, 20%.

COMO ASSINAR A PROCURAÇÃO

A.
Após a verificação de que o professor tem direito, a procuração pode ser obtida de diversas formas:

- O documento pode ser solicitado no Whatsapp da AdUFRJ: (21) 99808-0672, pelo email Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.,
na própria sede do Sindicato, ou pelo site da entidade, na aba “serviços” e clicando em “atendimento jurídico”.

B.
É possível fazer o preenchimento de duas formas:

-  Ela poderá ser impressa, preenchida, assinada e encaminhada de volta escaneada, pelo email ou pelo Whatsapp citados acima.

- Ou, ainda, mediante a utilização de assinatura digital. A assinatura digital pode ser feita através do sistema interno do servidor ou, ainda, pela assinatura do SOUGOV, disponível no site do Governo Federal através de login e senha. É necessário cadastro.

C.
Também é preciso encaminhar: identidade e comprovante de residência.

ORIGEM DOS 3,17%

Em 1994, uma lei estabeleceu que todo o funcionalismo deveria receber reajuste, a partir do início de 1995, de acordo com dois parâmetros: o primeiro seria o Índice de Preços ao Consumidor em Real, baseado entre a emissão da nova moeda, o Real, em julho e dezembro daquele mesmo ano. O segundo critério previa que, caso o valor pago a título de remuneração no mês de dezembro de 1994, fosse menor do que a média dos valores pagos durante todo o ano — o cálculo levava em conta uma conversão para a extinta Unidade Real de Valor (URV) —, o reajuste também deveria ser composto por essa diferença. Entretanto, o governo federal não aplicou o segundo parâmetro, que resultava justamente nos 3,17%.

 

WhatsApp Image 2024 10 17 at 21.36.28Foto: Sebastião SalgadoProfessoras e professores mudam destinos, compartilham conhecimentos e transformam o Planeta num lugar menos desigual e mais solidário. Essa mágica emancipatória acontece diuturnamente em escolas e universidades mundo afora.
Na UFRJ, não é diferente. Aqui, mais de quatro mil docentes se desdobram para dar a aula mais importante de todas: a da esperança em dias melhores. Inspirada na foto de Sebastião Salgado, de 1986, edição especial do Jornal da AdUFRJ celebra as múltiplas versões do trabalho de professoras e professores e homenageia o Dia do Mestre. Parabéns!

WhatsApp Image 2024 10 11 at 18.39.04Silvana Sá e Renan Fernandes

O ano de 2024 já está marcado como o que mais registrou denúncias de violência política de gênero no Brasil. Há casos em todos os estados e também no Distrito Federal, com destaque para a Região Sudeste, que concentra quase 40% das agressões. Para se ter uma ideia, o Disque 100, serviço do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, recebeu este ano 584 denúncias de violência política contra mulheres. Em 2022, ano também eleitoral, esse número foi de 354 denúncias.
A intimidação e a ameaça são outras formas tristemente comuns de violência a mulheres na política. Primeira deputada trans da Alerj, Dani Balbi (PcdoB-RJ) denunciou publicamente, no dia 3 de outubro, uma ameaça recebida por e-mail anônimo. A agressora (supostamente uma mulher branca e cisgênero), além de dizer que atentaria contra a vida da parlamentar, proferiu insultos transfóbicos.

EXPLOSÃO DE CASOS
Na primeira edição da pesquisa “A violência política e eleitoral no Brasil”, das ONGs Terra de Direitos e Justiça Global, lançada em 2020, as mulheres ocupavam 13% das vagas nas casas legislativas municipal, estadual e federal, mas representavam 31% das vítimas de ameaça e 76% das vítimas de ofensas.
Já na segunda edição da pesquisa, em 2022, o percentual de mulheres nos espaços legislativos subiu para 16%. O aumento tímido da participação feminina foi acompanhado de um crescimento substancial na violência. As mulheres foram 56% das vítimas de ameaças e 75% das vítimas de ofensas. Mulheres negras foram vítimas de 23% dos casos de violência política no país.WhatsApp Image 2024 10 11 at 18.29.50
Os dados preliminares já divulgados pelas ONGs da pesquisa que será lançada este ano também apontam o agravamento da violência política de gênero. Se na edição de 2022 as mulheres foram vítimas de 42% dos casos de violência, a edição de 2024 indica um crescimento para 46% do total de casos.
Com 518 ocorrências, o ano de 2024 se mostra como o mais violento da série histórica produzida pelas duas organizações.

NÃO SÃO SÓ NÚMEROS
Por trás dos dados há muitas histórias. Tristes exemplos de como uma democracia não deve se comportar. O Ministério Público Federal acompanha 11 casos de violência a candidatas que disputaram a eleição deste ano. O mais grave, um estupro contra Lili Rodrigues, do PSOL, candidata a vice-prefeita de Porto Velho. Ela foi violentada a dois dias do pleito. A vítima registrou boletim de ocorrência e realizou exames e procedimentos médicos, incluindo corpo de delito e profilaxia após violência sexual. A Polícia Civil investiga o crime.
A poucos dias do primeiro turno, a vereadora Tainá de Paula (PT-RJ), então candidata à reeleição, sofreu um atentado a tiros em Vila Isabel, Zona Norte do Rio. Dois homens armados dispararam duas vezes contra o veículo em que a parlamentar e sua equipe estavam. Não houve feridos, pois o carro era blindado. A Polícia Civil afirmou em nota que descarta motivação política, mas segue investigando o caso. Tainá foi reeleita.
Outra parlamentar que enfrenta cotidianamente a violência política é a deputada estadual Marina do MST (PT-RJ). O episódio mais emblemático aconteceu em agosto do ano passado. Enquanto tentava realizar uma plenária de prestação de contas de seu mandato em Lumiar, em Nova Friburgo (RJ), a deputada sofreu ameaças e agressões físicas e morais. “Eu me senti violentada, ofendida, discriminada. Se eu não fosse do movimento social, se eu não fosse mulher, se eu não fosse negra, eu não teria sofrido aquele grau de violência”, destaca a deputada. O Ministério Público do Estado denunciou oito pessoas envolvidas nas agressões.
“A violência de gênero na política é quase uma questão cultural, tão forte é o machismo e o patriarcado do nosso país”, avalia Marina. “É um tema que devemos enfrentar, a começar pelos espaços nos quais participamos, na academia, nos partidos políticos,e também nos movimentos sociais, já que não se trata de uma exclusividade da extrema direita. A esquerda também não está livre disso, pois a violência de gênero é algo estrutural da nossa sociedade”, afirma.
WhatsApp Image 2024 10 11 at 19.14.14Vice-presidenta da AdUFRJ, a professora Nedir do Espirito Santo viveu na pele uma situação de violência política de gênero num espaço de articulação de esquerda. No 67º Conad do Andes, a docente foi a única pessoa nominalmente citada em um texto. Apesar de mencionada caluniosamente, a docente não teve direito à defesa. “O Conad debate temas políticos do nosso sindicato nacional. Ao invés de o texto citar a institucionalidade, citou nominalmente uma pessoa, de forma caluniosa e descontextualizada”, lamenta Nedir.
“Eu fui acusada de marginalizar o movimento estudantil. Covardemente, nenhuma das pessoas que escreveu o texto foi defendê-lo no plenário, de forma que eu não pude me defender”, critica a professora. “Fui silenciada. Como uma instituição permite que uma pessoa seja caluniada e não dá voz para que ela se explique?”, questiona.

POR QUE ACONTECE
Presidenta da AdUFRJ e pesquisadora do tema, a cientista política Mayra Goulart, professora do IFCS, afirma que os inúmeros casos de violência política de gênero no Brasil têm uma única raiz: o patriarcado. “Esse sistema social e político funciona para manter as hierarquias consolidadas. Essas hierarquias se estruturam a partir de relações econômicas, mas que têm clivagens de gênero e raça”, explica. “No topo dessa hierarquia está o homem branco, hétero e cis de classe alta. Tudo o que discrepa dessa hegemonia sofre violência, porque ameaça prerrogativas estabelecidas”, analisa a pesquisadora. “Quanto mais afastada desse perfil hegemônico, mais agressões a pessoa sofrerá”.
Mayra Goulart também acredita que o fortalecimento de movimentos conservadores de extrema direita contribui para que mais mulheres sofram mais violência política. “O conservadorismo, como o próprio nome diz, prega a manutenção, a conservação do patriarcado. Então, quanto mais ele é aceito e reivindicado por pessoas e grupos, mais aceitas – e até mesmo estimuladas – são essas violências”, avalia Mayra.
Doutoranda do Centro de Estudos Interamericanos da Universidade de Bielefeld, na Alemanha, Lívia de Souza Lima pesquisa a atuação de mulheres negras na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Durante suas observações, ela compreendeu que precisaria falar sobre violência política de gênero e raça. “Não foi algo que era prévio, surgiu a partir das observações, do que essas mulheres enfrentam exercendo seus mandatos”, afirma.
Para a pesquisadora, é preciso compreender a razão de um corpo ser previamente sujeito a ataques. “A violência política de gênero é um contíguo da violência de gênero. Há uma condição subalternizada da mulher na sociedade e a política, como espaço de poder, vai ser refratária a diversos grupos considerados minoritários ou marginalizados”, avalia. “A violência, então, serve para barrar a expansão desses grupos”.

DESLEGITIMAÇÃO
De acordo com Lívia, homens e mulheres sofrem violência política, mas a forma como essa violência se manifesta vai depender do gênero da pessoa agredida. Em geral, mulheres são sempre deslegitimadas e atacadas com desqualificações pessoais. “Por exemplo, mulheres negras são excluídas de espaços por onde circulam parlamentares homens, porque há um imaginário social que diz que aquele não é o lugar delas”, avalia. “Mulheres têm sua capacidade técnica questionada, são silenciadas, são colocadas como arrogantes quando reivindicam sua capacidade técnica”, exemplifica.
O exemplo maior da violência política de gênero no Brasil é o assassinato da vereadora Marielle Franco, em 2018. “Por que o corpo da Marielle se torna matável?”, questiona Lívia. “Quais são os cálculos políticos que levam ao entendimento de que aquele assassinato terá as mínimas consequências possíveis?”.
Deputada estadual e pesquisadora, Renata Souza (PSOL) é ex-assessora de Marielle e foi quem primeiro enxergou que o assassinato da parlamentar tinha relação direta com seu gênero. Foi quando, ainda em 2018, ela cunhou o termo ‘feminicídio político’. “A escalada dessa violência de gênero é justamente o feminicídio político, é o grau máximo dessa violência”, afirma a autora do termo. “Por que as mulheres na política são mortas? Pela sua condição de gênero atravessada por outras questões sociais”, explica Renata. “E não falo só da política institucional, mas de todos os espaços em que mulheres exerçam política”, diz.
Ela dá alguns exemplos. A juíza Patrícia Acioli, assassinada em 2011, é um deles. “O fato de ela ser mulher criou essa condição institucional de estar sem escolta”, diz. Mãe Bernardete, liderança quilombola na Bahia, é outra. “Foi morta fazendo a luta pela terra, na frente de seus netos, com tiro no rosto que configura o ódio, a misoginia”.
A parlamentar também é vítima de violência política de gênero desde antes de assumir seu primeiro mandato como deputada estadual, em 2018. “No dia seguinte à eleição, as minhas redes foram atacadas. As pessoas me chamavam de macaca e diziam que eu teria o mesmo fim de Marielle”, conta. “Ali, eu entendi que seria preciso pensar na minha segurança pessoal para conseguir assumir o mandato”, lembra. “Tudo isso, não tenho dúvidas,é um atentado à democracia”.

ALTERNATIVAS
Não há segredo para combater a violência de gênero. O caminho passa, necessariamente, por conscientização, educação e judicialização com punição. “Uma é a via institucional, com punição para aquilo que é crime, e criação de regras que estimulem representação de minorias”, aponta Mayra Goulart. “A segunda via é a conscientização, com criação de processos de comunicação, diálogo e educação sobre a importância de superar o patriarcado”, conclui.
Lívia Souza concorda. “O marco legislativo é muito importante, pois ajuda que o tema seja tratado com institucionalidade. Mas não pode haver só o punitivismo. É preciso visibilizar o problema e ter um protocolo de enfrentamento, que ainda não conseguimos construir”, diz. “Precisamos entender o status da violência política de fato. A política é conflito, mas é preciso estabelecer os limites sobre o que é esperado na democracia e o que devemos considerar violência na política”.

WhatsApp Image 2024 10 11 at 20.12.32DEPOIMENTO I
MARINA DO MST
DEPUTADA ESTADUAL (PT)

A violência política de gênero é um tema muito sério e importante de ser debatido pela academia, por partidos políticos e também pelos movimentos sociais, que é minha origem. É um tema que devemos enfrentar com organização popular, com formação política em todas as instâncias, sobretudo nos partidos políticos, inclusive os de esquerda, que também não estão livres disso, exatamente porque se trata de algo estrutural da nossa sociedade.
Acredito que há uma vinculação direta entre o aumento da violência com o fortalecimento da extrema direita nas Casas Legislativas. Houve um pequeno aumento do percentual de mulheres nas candidaturas e nos espaços legislativos, o que é um avanço importante, mas é preciso haver um preparo para lidar com o aumento da violência.
Eu fui atacada numa atividade de prestação de contas do mandato, em Lumiar. Fui agredida, impedida de exercer meu direito parlamentar de dialogar com a população. Não reconheceram meu papel. Também não há o reconhecimento nas casas legislativas dessas mulheres que estão exercendo seu mandato.
Eu acho que há um aumento dessa violência com o crescimento da extrema direita, mas há também reação. Surge uma série de movimentos para que haja denúncias e para que seja feita justiça.
Eu me senti realmente violentada, mas coletivamente nós enfrentamos os agressores e a plenária aconteceu. No pátio da polícia, mas aconteceu.
Eu me senti ofendida, atacada, violentada e discriminada. Se eu não fosse do movimento social, se eu não fosse mulher, se eu não fosse negra, eu não teria sofrido aquele grau de violência. Não tenho lugar para o ódio no meu coração, mas exijo que seja feita a justiça. O processo está andando. Alguns já vão pagar cestas básicas e oito réus vão a julgamento.
Infelizmente, vivemos um rebaixamento da política na Alerj e em outros espaços legislativos. Homens e mulheres parlamentares que têm em seus projetos o desejo de fazer política de fato são atacados. Estou vindo do plenário. Havia na pauta um projeto meu para que o governo do estado possa desenvolver políticas de acolhimento para pessoas vítimas de trabalho análogo à escravidão, com acesso à saúde, habitação. São poucas as vezes em que há um projeto importante na pauta. A saída para esse duro cenário deve ser coletiva e passar por punição e educação.

WhatsApp Image 2024 10 11 at 20.12.33DEPOIMENTO I
RENATA SOUZA
DEPUTADA ESTADUAL (PSOL)

Ser da favela causa um nível de criminalização muito violento, que se alia à misoginia e ao racismo. São elementos que se agrupam e levam a sociedade quase que referendar que uma mulher da favela está necessariamente ligada ao crime. E isso aconteceu com a Marielle. Houve até o caso de uma desembargadora que tentou associá-la a facções criminosas.
Eu fui vítima de violência de gênero no dia seguinte das eleições de 2018. Eu vinha de uma situação de chefe de gabinete da Marielle e fui eleita pra o primeiro mandato. Todas as minhas redes sociais foram atacadas. O número de seguidores aumentou de maneira absurda e aproveitaram para me atacar. As pessoas me chamavam de macaca e diziam que eu teria o mesmo fim de Marielle. Ali eu percebi que teria que pensar na minha segurança pessoal para conseguir assumir o mandato. A violência de gênero, portanto, tem recorte também de raça e de classe.
Infelizmente, sofri violência de gênero inclusive no plenário da Alerj, com injúrias e até mesmo intimidação física para me calar ao microfone. Tudo isso diante das câmeras.
Tive que me mudar muitas vezes. As últimas ameaças que recebi continham dados sensíveis e confidenciais, com nomes e informações pessoais da minha família. É muito sórdido!
A escalada da violência de gênero é justamente o feminicídio político, que é o grau máximo dessa violência. Por que as mulheres da política são mortas? Pela sua condição de gênero atravessada por outras questões sociais. E não falo só da política institucional, mas de todos os espaços em que mulheres exerçam política. A juíza Patrícia Acioli está incluída nesse conceito. Ela enfrentou o embrião da milícia de São Gonçalo e o fato de ser mulher criou essa condição institucional de ela estar sem escolta. Ela fazia parte de uma estrutura que deveria protegê-la e, ainda assim, teve sua segurança negligenciada. Mãe Bernardete, que foi morta fazendo a luta pela terra na Bahia, é outro exemplo. Foi assassinada na frente de seus netos, com tiro no rosto, que configura todo esse ódio, essa misoginia. Irmã Dorothy Stang, outro exemplo. Todas mulheres envolvidas com a transformação social, com a mudança significativa da sociedade. Lideranças com o poder de mudar a realidade local a partir de seu trabalho diário. Todas defensoras dos direitos humanos.
Ao olhar para esses casos, quase todos são de disputa por território, o que remonta a um Brasil que não resolveu sua questão agrária. E que está ligado, segundo ao que apontam as investigações, ao próprio caso da Marielle. Esse é um grande tema por trás da violência política de gênero. Muitas dessas lideranças agrárias são mulheres. Esse conceito do feminicídio político também se consolida por essa via. Ameaçar os filhos é outra face dessa violência direcionada às mulheres. A Mãe Bernardete teve um filho assassinado antes de ela própria ser executada.
O Brasil não tem nem 20% de participação feminina na política. O patriarcado impede que essas mulheres exerçam plenamente seu papel político. Mesmo entre as que assumem seus mandatos, a maior parte vem de uma herança patriarcal. Estão lá por conta de seus maridos, de seus pais, de seus avôs. Nós, que não herdamos essa estrutura, acabamos sendo mais vítimas de violência política de gênero. Quando uma mulher preta e favelada acessa espaços de poder, ela “ousa demais” dentro dessa lógica patriarcal. Tudo isso, não tenho dúvidas, é um atentado à democracia.

Topo