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WhatsApp Image 2021 04 16 at 19.10.53ERIKA: saudade e tristezaDez terceirizados de limpeza do Centro de Tecnologia testaram positivo para a covid-19  em março. A funcionária Erika Queiroz, de apenas 32 anos, não resistiu. No dia 30, ela se tornou uma das mais de 365 mil vítimas da doença no país.
A decania do CT não tinha registro de tantos casos assim desde o início da pandemia. Segundo especialistas consultados pela reportagem, a situação não se caracteriza tecnicamente como um surto. Mas preocupa.
Decano do Centro, o professor Walter Suemitsu falou sobre a dificuldade do gestor público nesta situação: “Tentamos fazer o melhor dentro do nosso alcance, dar as condições para trabalhar com segurança”, diz. “Mas não basta só o nosso ambiente. Há a questão do transporte público, por exemplo”, lamenta.
Após tantos casos, o CT decidiu afastar todos os trabalhadores de limpeza, pouco antes do “superferiado” decretado pela prefeitura do Rio, de 26 de março a 4 de abril. Eles só retornaram às atividades após apresentação de testes negativos. Todos os exames estão sendo feitos pelo Centro de Triagem e Diagnóstico da UFRJ, no Bloco N do Centro de Ciências da Saúde.
Também foram solicitadas medidas mais rigorosas de orientação e prevenção à empresa Soluções, responsável pela prestação do serviço. A decania cobrou maior distanciamento entre os terceirizados nos momentos de assinatura de folha de ponto e no horário de almoço.
A falta de prevenção entre os próprios funcionários não ajuda. É comum ver muitos trabalhando sem máscaras. Uma colega de Erika — que prefere não se identificar —manda uma mensagem para todo o segmento : “Para se cuidar mais, usar bastante álcool em gel, evitar andar em aglomeração. A doença não veio para brincar. Veio pra matar mesmo. E está matando muita gente”.

SAUDADE
Familiares e amigos lembram, com saudade, da moradora da Maré, mãe dedicada de três filhos, muito extrovertida e companheira.  “Fazia amizade com qualquer um. Era muito querida aqui na Vila do Pinheiro e era uma mãezona”, diz o primo de Erika, Marcelo Henrique, técnico de laboratório pela Fundação Coppetec.  “Quando a gente fazia uma festinha, ela gostava de preparar um baião de dois, que ficava uma delícia”, completa.
    A rapidez do agravamento dos sintomas surpreendeu. Poucos dias após ser afastada do trabalho no CT, ao lado de todos os funcionários de limpeza, ela começou a sentir falta de ar. A família procurou apoio na UPA da Maré e no hospital Evandro Freire, na Ilha, mas Erika, que não tinha qualquer doença preexistente, não chegou a ser hospitalizada. Durante uma noite, ela piorou e acabou internada na UPA da Maré, enquanto aguardava um leito de UTI.
    Na unidade de saúde, mais um reflexo da crise sanitária nacional: a família foi informada de que havia mais de 600 pessoas na mesma situação e à frente de Erika, na “fila” de regulação dos leitos. No desespero, o primo e o marido recorreram ao Ministério Público. No mesmo dia 30 de março em que conseguiram uma liminar para garantir a transferência dela em até 24 horas para uma UTI, pública ou privada, Erika não resistiu.

TERCEIRIZADOS VULNERÁVEIS
O aumento de casos no CT e a morte de Erika voltaram a chamar atenção para o segmento mais exposto à doença, dentro da UFRJ. São 3.141 pessoas, segundo o último levantamento (de novembro) apresentado pela pró-reitoria de Governança (PR-6). Nenhum deles pode fazer o trabalho de forma remota.  São funcionários de limpeza, vigilância e portaria.
No dia 16 de março do ano passado, data em que a UFRJ suspendeu as aulas presenciais, a PR-6 emitiu um ofício às empresas prestadoras de serviço com as diretrizes do governo federal e da reitoria. No documento de duas páginas, orientações para intensificar a higienização em áreas de maior fluxo de pessoas, campanha de conscientização das medidas de prevenção e levantamento dos funcionários dos grupos de risco, como pessoas com 60 anos ou mais ou grávidas, “para avaliação da necessidade de haver suspensão ou substituição temporária na prestação dos serviços desses terceirizados”.
Quinze dias depois, novo ofício foi distribuído pela PR-6. Desta vez, dirigido às pró-reitorias, às decanias e às direções de unidade. Também orientando sobre o afastamento dos trabalhadores em grupos de risco, em atividades consideradas essenciais ou não. E apresentando o modelo de autodeclaração de saúde, nestes casos. “Registre-se que a organização e o funcionamento da Unidade são atribuições da direção local”, informou a PR-6, via assessoria de imprensa.
A universidade não mantém um controle centralizado dos dados sobre os terceirizados e a covid. Questionada sobre o número de terceirizados que ficaram doentes ou vieram a falecer por conta da doença, a PR-6 limitou-se a dizer que “não realiza esse controle”. A reitora Denise Pires de Carvalho garante que pelo menos todos os que atuam nas unidades de saúde foram vacinados.
 
SOLIDARIEDADE
O que falta de informação sobra de solidariedade na UFRJ. A família de Erika, que trabalhava há 13 anos na universidade, recebeu imediato apoio dos colegas e das entidades representativas. Esta semana, a mãe da funcionária recebeu uma cesta básica da associação dos terceirizados (ATTUFRJ), que veio de uma cota doada pela AdUFRJ. “A cesta vai ajudar muito neste momento”, disse o primo Marcelo Henrique.
    Presidente da ATTUFRJ, Waldinéa Nascimento acredita que a situação ocorrida do CT, um dos pontos que mais concentra terceirizados no campus, reflete o avanço da covid na cidade: “Quando veio essa nova variante, é que começaram a pipocar os casos no CT”, afirma. “Este ano, está muito rápido (o contágio), pegando firme”.
A dirigente da associação repudia qualquer tentativa de retorno presencial das aulas. “Sem vacina, acho impossível. Isso é uma loucura”, afirma. “Vamos supor que as aulas tivessem começado, neste período que teve a maior taxa de contaminação entre os terceirizados. Seria o caos”.
A UFRJ se prepara para a etapa de vacinação na capital, que vai priorizar os trabalhadores da Educação, incluindo os terceirizados, entre 59 e 45 anos, a partir de 26 de abril. Todos devem estar na ativa e apresentar contracheque. A reitoria providenciará comprovante para os servidores que não têm contracheque, desde que as listagens sejam enviadas por ofício à administração central.
Os que atuam nos campi Macaé e Duque de Caxias poderão se dirigir ao posto de vacinação drive-thru localizado no Fundão, que continua funcionando apenas aos sábados, nos horários determinados pela prefeitura.

 

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