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Professores de todo o país se reuniram de 26 de fevereiro a 1º de março em Fortaleza (CE), para a realização do 42º Congresso do Andes. Instância máxima de deliberação do movimento docente nacional, o encontro mantém estanque uma dinâmica que abafa posições minoritárias e beneficia quem comanda o sindicato. “O processo é tão complexo que os professores têm dificuldade de participar e expor suas posições, e isso faz com que a diretoria nacional tenha mais ascendência sobre o que é aprovado nesses grupos”, explica a presidenta da AdUFRJ, professora Mayra Goulart.

Exemplo dessa dinâmica aconteceu na noite de quarta-feira (28), quando o plenário foi unânime na defesa de uma greve em 2024. A divergência aconteceu apenas sobre quando a paralisação por tempo indeterminado deveria acontecer e como seria construída. A metodologia do congresso não permitiu que posições contrárias à greve fossem defendidas no plenário, uma vez que todos os grupos de trabalho aprovaram por maioria a defesa do movimento paredista no dia anterior (veja o debate abaixo).

A segunda tônica do congresso é a tendência ao pouco pragmatismo sobre temas centrais para o movimento docente, enquanto discussões transversais sem grande repercussão para os professores ganham peso e não geram ações efetivas. “Não dá tempo de discutir tudo e o essencial fica sem o necessário debate”, aponta o professor Carlos Frederico Leão Rocha, delegado da AdUFRJ, que integra o grupo de apoio da diretoria.

O congresso acontece no Espaço de Convivência da Universidade Federal do Ceará, no campus Pici, região Oeste de Fortaleza. O espaço tem confortáveis salas de aula e de reuniões. O auditório utilizado para as plenárias, no entanto, não comportava o total de inscritos, o que levou à inusitada criação uma sala de transmissão virtual anexa ao local das plenárias.

O encontro reuniu 632 representantes de 83 seções sindicais. Desses, 457 são delegados, 132 são observadores, 36 são diretores do Andes e sete são convidados. A AdUFRJ levou uma delegação de 19 pessoas, entre 13 delegados e seis observadores, a maioria do campo da situação. A síntese das decisões você encontra na próxima edição do Jornal.

 

Greve: temos condições de parar já?

No momento em que a maioria das universidades ainda não começou o primeiro período letivo, muitos professores que acompanham o 42º Congresso do Andes foram surpreendidos com uma proposta de greve imediata. O tema foi discutido e votado na noite do dia 28 de fevereiro. Apenas 20 votos separaram os favoráveis a uma greve no primeiro semestre deste ano daqueles que defendiam a possibilidade de uma greve com organização responsável e em parceria com outros setores do funcionalismo. Pela “greve já” votaram 156 professores, enquanto 136 foram favoráveis à construção do movimento ao longo de 2024. Houve, ainda, 36 abstenções.

A delegação da AdUFRJ se dividiu entre favoráveis à construção de uma greve ao longo de 2024, a greve imediata e as abstenções sobre o tema. Céticos sobre os alcances de uma greve neste momento, por conta da baixa mobilização dos professores em todo o país, os delegados que representam o grupo político da diretoria da AdUFRJ não puderam discutir alternativas, pois o tema havia sido aprovado por maioria em todos os grupos de trabalho, no dia anterior. A maior parte se absteve.

Pouco antes do início da plenária que discutiria o plano de lutas dos docentes federais, o presidente do Andes, Gustavo Seferian, levou para a plenária um informe parcial sobre mesa de negociação que havia terminado pouco tempo antes, em Brasília. Seferian afirmou que o governo mantinha o reajuste zero, “sem qualquer tipo de avanço” nas negociações. “É, talvez, dos mais tenebrosos informes, mas também, dos mais motivadores de nossa raiva e indignação”, disse, inflamando parte dos delegados a pedirem greve já.

O dirigente não contou que o secretário de Relações do Trabalho José Lopes Feijoó informou aos sindicatos, na mesma reunião do dia 28, que o governo espera a confirmação do superávit da arrecadação do primeiro trimestre para apresentar um novo índice. “As negociações continuam”, pontuou o secretário.

Durante o longo debate no congresso, docentes se revezaram ao microfone para defender suas percepções sobre a greve. Dois integrantes da delegação da AdUFRJ tiveram oportunidade de fala. “Não dá para aceitar reajuste zero”, reconheceu o professor Carlos Frederico Leão Rocha, delegado alinhado politicamente à diretoria local. Para ele, a indignação dos professores é justa, mas não pode ser usada com irresponsabilidade, já que docentes universitários estão desmobilizados. “É preciso uma construção efetiva dessa greve e devemos atuar em conjunto com os servidores públicos federais, mas não estamos preparados no momento. Precisamos voltar às nossas universidades e consultar nossos colegas”, defendeu.

Integrante do grupo de oposição à diretoria da AdUFRJ, a professora Fernanda Vieira interveio em favor da greve já. “Não existem condições objetivas ideais para iniciar uma greve.”, disse, em resposta ao professor Leão Rocha. “É preciso decidir”.

O professor Henrique Santos, da Federal da Bahia, apontou que a greve é uma necessidade, mas que só vai acontecer se houver mudanças na conjuntura nacional. “Só é possível, se mudarmos nossa correlação de forças. Para fazer greve, nós vamos ter que enfrentar a direita na universidade, a extrema direita nas ruas e um governo que não quer nos dar reajuste”, observou. “Não vamos poder entrar sozinhos numa greve, pois ficaremos isolados”, apontou.

Docente da Federal Rural do Rio de Janeiro, a professora Elisa Guaraná chamou atenção para a seriedade da greve como instrumento de pressão e reforçou os riscos de um eventual fracasso. “Greve é nossa arma mais potente. Nós fizemos reunião de setor com a avaliação de que foi difícil paralisar por dois dias. A maioria das universidades não paralisou”, lembrou. “Nós temos que ser coerentes com nossas avaliações. Passamos o dia todo ontem falando das dificuldades de mobilização. Se nós puxarmos uma greve e ela fracassar, nós enterraremos o movimento”, alertou. “Eu não sou vanguardista. Nós vamos construir esse processo pela base”.

Mayra Goulart ressalta que a diretoria da AdUFRJ é absolutamente comprometida com a defesa da universidade pública e com a construção de um movimento responsável. “A greve é um instrumento importante, não pode ser banalizado. Precisamos avaliar se temos condições de realizá-la. Nós atuaremos num amplo processo de consulta, de escuta e de debate com os professores da UFRJ nas unidades e no Conselho de Representantes. Acreditamos que esta pode ser uma oportunidade para ativar os professores para que se mobilizem em defesa de melhores condições de trabalho e salário”.

 

 

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