Fotos: Fernando SouzaImagine se você fosse uma criança e tivesse a oportunidade de observar bem de pertinho alguns animais, analisar suas formas, entender suas características, aprender sobre seus habitats. Depois, que pudesse conhecer e reproduzir seus movimentos, ser apresentado à capoeira, ter uma abordagem antirracista da história do jogo e aliar os movimentos dos animais aos da capoeira. Tudo isso permeado de muita brincadeira, diversão e afeto. Imaginou? Seria interessante, não? Pois bem, esse é um bom resumo do que aconteceu na manhã de sábado, 29 de março, na Casa da Ciência da UFRJ.
O evento Capoeira com Ciência atraiu grande público. A iniciativa foi uma realização do Laboratório Capoeira, da Escola de Educação Física e Desportos, e do Grupo Abadá-Capoeira, em parceria com o Museu Nacional. A AdUFRJ e o Fórum de Ciência e Cultura apoiaram a atividade.
Crianças de todas as idades foram as convidadas especiais da intensa manhã de aprendizados, “mas a oficina é para todo mundo que quiser se divertir”, garantiu o professor Tavinho, do Abadá-Capoeira, no início da programação. “Vamos ensinar a movimentação dos animais, o toque silvestre e o jogo silvestre”, explicou. “Esta é uma aula com importantes informações sobre os animais e sua influência nos nossos movimentos”, disse.
“O primeiro animal que vamos conhecer é o coral-cérebro. É simbólico. Só existe no Brasil. É uma espécie endêmica da Bahia e do Espírito Santo”, descreveu Fernando Coreixas de Moraes, pesquisador do Museu Nacional. “Essa espécie nos inspira a ter atenção e resiliência no jogo”, disse.
Em seguida, foram mostradas conchas para as crianças. “O capoeirista tem ‘mãos de concha’ para proteger os dedos dos golpes do adversário”, continuou o pesquisador, enquanto apresentava os exemplares de animais taxidermizados ou conservados em álcool. Os espécimes são da Seção de Assistência ao Ensino do Museu Nacional, que empresta gratuitamente suas coleções para escolas, pessoas físicas ou grupos.
A professora Lívia Pasqua, coordenadora do Laboratório Capoeira da EEFD, foi uma das organizadoras da atividade. Lívia destacou que a oficina é uma forma de o Departamento de Lutas da unidade realizar ensino, pesquisa e extensão, apesar dos problemas de infraestrutura pelos quais passa a EEFD. “O nosso prédio da Escola de Educação Física está interditado, mas nós estamos aqui resistindo. O LabCapo está aqui”, afirmou.No fim do evento, uma roda de capoeira com integrantes de diferentes escolas se formou. Depois, pais e mães foram convidados a gingar com seus filhos, um dos momentos mais emocionantes da manhã de descobertas. “Já acompanhei minha filha em muitas atividades, mas nunca me senti tão à vontade e convidada a participar com ela de um momento como esse”, disse Estella Manhães, mãe da pequena Gabriela, de 8 anos.
“Nessa oficina aliamos os diálogos e saberes tradicionais aos científicos para compartilhar com a sociedade esses conhecimentos. Não há uma hierarquização dos saberes”, explicou a professora Lívia Pasqua. “Hoje vimos aqui pais e mães que provavelmente nunca tiveram a oportunidade de jogar com seus filhos. Isso é muito bonito de ver”, disse. “A capoeira é um jogo de perguntas e respostas e tivemos diversas respostas nesta manhã. Isso aqui também é pesquisa”, celebrou.
AULAS NO CT
A professora Lívia e alunos monitores ministram aulas de capoeira no hall do Bloco A do Centro de Tecnologia. As aulas são fruto do projeto de extensão Capo-UFRJ e acontecem todas as segundas e quartas-feiras, das 17h às 18h30. As aulas são abertas a pessoas acima de 18 anos. Não é necessário ter experiência prévia na capoeira. Basta comparecer no horário da aula para se inscrever. “A gente treina movimentos, musicalidade, troca experiências, realiza exposições de TCC. Os treinos acontecem sempre”, concluiu a docente.