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WEB P4 1128Uma triste unanimidade. Abraham Weintraub é o pior ministro da história do MEC, segundo especialistas em Educação. E não são poucas as razões para o título: currículo acadêmico fraco, incapacidade política e administrativa, desrespeito com educadores e estudantes e o ímpeto para destruir avanços no setor marcam a gestão de forma decisiva.
Professor Titular da Faculdade de Educação da UFMG, Luciano Mendes diz não haver dúvidas sobre a classificação do ministro quanto à formação acadêmica: “Do ponto de vista do preparo, é o mais incompetente que já tivemos”, afirma. O docente observa que o ministério já foi comandado por pessoas que não eram consideradas grandes intelectuais. “Mas tinham alguma visão, mesmo que por uma perspectiva regressiva da presença do Estado, como o Paulo Renato (ministro na gestão de Fernando Henrique Cardoso)”.
O MEC de Bolsonaro não quer construir nada. Pelo contrário, a proposta é destruir. Luciano faz questão de mencionar o antecessor de Weintraub na pasta, o nada saudoso Ricardo Vélez, que ficou pouco mais de três meses no cargo. “Vélez investiu contra educação no campo, contra educação de indígenas e de quilombolas, mas preservava a universidade. Weintraub tem dirigido seu arsenal contra a universidade”, explica.  
O professor deixa claro que a dupla Vélez e Weintraub choca pelo ímpeto destrutivo, pois agora há conquistas que podem ser eliminadas. E que não existiam em tempos autoritários, como a expansão do ensino superior, políticas de reconhecimento da diversidade, tentativas de construir escolas sem racismo e sexismo. “Talvez seja a primeira vez que temos políticas de Estado que visam à destruição; não à construção”, afirma.
Outro ponto abordado pelo Titular da UFMG é a ação política do ministro. “Lembra dele com o guarda-chuva (quando falou que choviam fake news no MEC)? Aquilo é claramente encenado para obter um determinado resultado midiático. A espetacularização da política não é algo ingênuo”, avalia Luciano. “Diz coisas que motivam seus adeptos. É uma necropolítica, baseada na violência e no ódio”.  

MINISTRO TUITEIRO
Essa estratégia de  “governar pelo ódio” , destruindo políticas e apresentando poucas alternativas, fica evidente na presença do ministro do Twitter. Levantamento exclusivo realizado pelo Jornal da Adufrj mostra que, em nove meses, de 24 de abril de 2019 a 24 de janeiro de 2020, o ministro da Educação postou 3.149 tuítes. Em média, foram mais de 11 tuítes por dia,  sendo 80% deles em dias úteis, quando o titular da Educação deveria estar se dedicando às complexas tarefas da pasta. Há mais citações à oposição política do que à ciência e à pesquisa. A palavra cientista não aparece uma única vez. Já as menções ao chefe Bolsonaro e a seus herdeiros são frequentes. Mais de 80 vezes.
Maria Luiza Süssekind, 1ª secretária da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (Anped), destaca que Weintraub surpreende pela “própria incompetência de não realizar aquilo a que se propõe”. E cita iniciativas frustradas como homeschooling (ensino domiciliar), educação fonética e o Future-se, programa lançado para apoiar as universidades federais. “O Future-se é um imenso fracasso. Não saiu do papel, não gerou um real de financiamento para nenhuma universidade”
O Enem do governo Bolsonaro não podia ficar de fora da lista de desastres. “Ele anunciou o melhor Enem de todos os tempos e fez o pior. Caso cometa o absurdo de manter o Enem para as datas atuais, fará os dois piores Enem da história”, avalia Maria Luiza. “Será o Enem da desigualdade”, completa.
O desrespeito de Weintraub com ícones da Educação, como Paulo Freire, além de professores e alunos foi lembrado pela professora , que leciona no Departamento de Didática da UniRio. “Estamos sob um governo que entende a Educação como campo de batalha. É muito grave que o ministro perca tempo fazendo propaganda no Twitter, batendo boca com estudantes, acusando indevidamente as universidades”, alerta.
Maria Luiza também chama atenção para a falta de diálogo da pasta. A Anped, com mais de 40 anos de conhecimento acumulado no campo da Educação, era regularmente convidada ao MEC para opinar sobre mudanças nas políticas educacionais. “Agora, sequer nossos ofícios são respondidos”, diz.
Diretor da AdUFRJ, o professor Felipe Rosa recorda que o Observatório do Conhecimento — rede de 11 associações e sindicatos de docentes em defesa da universidade pública — concedeu o título de pior ministro da História para Abraham Weintraub quando o titular do MEC completou um ano na pasta, em 9 de abril. A hashtag #PiorMinistroDaHistória  chegou a ficar em segundo lugar entre os assuntos mais comentados do país no Twitter.
O título de pior ministro da história  está  fortemente conectado com o 15 de maio do ano passado. “O 15M de 2019 pegou fogo quando o ministro começou a acusar as universidades de fazer ‘balbúrdia’. Ele tinha acabado de subir ao poder. E sabia que as universidades não fazem balbúrdia. Estamos vendo isso claramente na pandemia”, critica. “Ele promove  uma ideologização da Educação absolutamente maluca. E isso compromete muito o trabalho”, avalia Felipe. “Além disso, ele é muito ruim na parte técnica. A articulação dele com o Congresso é péssima. O destino do malfadado Future-se mostrou-se um fracasso, não somente porque o projeto era ruim, mas por que ele é um desastre na tentativa de construir algo politicamente”.
 A “cereja do bolo” para a caracterização do ministro é a falta de decoro no exercício do cargo, até para tratar de temas alheios ao MEC. “Nem de Educação ele entende, quanto mais do resto. Tivemos o episódio lamentável do ataque à China”, diz. “Ele não consegue resistir ao ímpeto de ficar tuitando o tempo todo. O perfil dele é uma coletânea de ofensas e brincadeiras de mau gosto”, lamenta.

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