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04e05WEB menor1137A AdUFRJ organizou um grande evento virtual na segunda-feira, 13, para debater os desafios do ensino remoto durante a pandemia.  Para amparar as discussões, a diretoria preparou texto com diversas propostas e reflexões sobre o assunto, todas focadas na garantia da qualidade acadêmica, no acolhimento dos estudantes e na valorização do trabalho docente.  As reuniões mobilizaram 113 professores das mais diversas áreas. Os professores foram divididos em quatro grupos: Humanas, Artes, Saúde e Tecnologia. O encontro suscitou novas inquietações e propostas que foram apresentadas e debatidas com o Conselho de Representantes da AdUFRJ na quinta-feira, 16.

 

HUMANAS
Alternativas para reduzir sobrecarga

A plenária da AdUFRJ que reuniu os professores de Humanas refletiu algumas das principais preocupações dos docentes da UFRJ com a adoção do ensino remoto. A oferta de plataformas digitais para realização das aulas, a adaptação do conteúdo das disciplinas para a modalidade remota e o desgaste causado pelo trabalho em confinamento foram alguns dos temas abordados na reunião. Mas ponto central da discussão foi a insegurança manifestada por muitos professores sobre a individualização da decisão de dar ou não aulas remotas.
A plenária foi coordenada pelo diretor Josué Medeiros, professor do IFCS. Na abertura, Josué apresentou os principais pontos do texto da diretoria sobre o ensino remoto. “O texto expôs, de maneira introdutória, o que achamos que são os princípios que devem nortear a atuação da AdUFRJ”, disse Josué. “Esperamos as contribuições dos colegas para acrescentar ao material”.
A reunião foi um grande espaço para a troca de ideias sobre como implantar um modelo de aulas remotas adaptado ao programa de cada disciplina. A professora Marta Castilho, do Instituto de Economia, relatou como está sendo a preparação para o Período Letivo Excepcional na sua unidade. “Na Economia estamos discutindo bastante sobre todas as questões que envolvem o ensino remoto, e os temas que estão no documento da AdUFRJ contemplam bastante as nossas preocupações”, disse a professora,  que também contou que no IE os docentes tiveram a ideia de criar turmas grandes, mas com mais de um professor. “Ajuda na administração durante a aula, mas diminui um pouco a carga dos professores”, explicou. “A ideia acabou se difundindo, e várias turmas nossas serão compartilhadas desta forma”, relatou a professora.
O professor Sandro Torres, da Escola de Comunicação, contou como o processo tem sido tranquilo também em sua unidade. A direção da ECO consultou os alunos sobre a oferta de aulas remotas, com uma resposta majoritariamente positiva, e propôs desde o começo uma ampla discussão com os professores, trazendo-os mais para perto das decisões. A professora Ana Lúcia Cunha Fernandes, da Faculdade de Educação, também relatou a experiência na sua unidade. “Fizemos uma série de rodas de conversa, e agora temos um grupo de trabalho pensando em questões mais concretas, de ordem mais objetiva. Fizemos um questionário, destinado aos professores, para tentar captar as suas dificuldades e necessidades”, contou a professora, que sugeriu que a AdUFRJ seja, sobretudo neste momento, o espaço para que essas conversas aconteçam.
A professora Júlia Ávila Franzoni, da Faculdade de Direito, lembrou que é importante ressaltar que o trabalho remoto é um direito. “É preciso entender que desde que foi deflagrada a pandemia todos os professores da UFRJ estão trabalhando”, disse a docente, que se mostrou preocupada com como as chefias vão entender isso, para evitar punições a quem não aderir ao PLE. Ela também se mostrou preocupada com os professores substitutos, os que estão em período probatório e com as progressões de carreira, entendendo que não pode haver nenhum prejuízo aos docentes. Em resposta, o professor Josué convidou a professora Júlia a escrever sobre o tema, para que seja incluído no texto final. Josué também colocou a AdUFRJ à disposição de professores que estejam se sentindo pressionados por suas unidades a dar aulas durante o período excepcional.
Outra inquietação debatida na reunião foi sobre a gravação das aulas e os direitos de imagem dos professores. “Minha maior preocupação é com a própria segurança dos docentes em relação aos vídeos gravados. Não vivemos uma conjuntura política muito fácil”, ponderou Ana Cláudia Tavares, do NEPP-DH. “Temos casos recentes de invasões de salas de aula”, disse. A gravação das aulas, lembrou Josué, é uma reivindicação dos alunos para facilitar o acesso daqueles estudantes que não possam assistir à aula sincronamente, e que a AdUFRJ vai conversar com o DCE para que haja um entendimento sobre o tema.
A professora Fernanda Vieira, do NEPP-DH, fez uma fala manifestando sua preocupação com a decisão de dar ou não aulas remotas ficar a cargos dos professores. Para ela, uma vez que a universidade vai informar ao MEC que a UFRJ está oferecendo aulas, abre-se um perigoso precedente para que docentes que optem por não aderir ao Período Letivo Excepcional sejam prejudicados de alguma forma. A docente defende que a decisão, da maneira que foi tomada pela UFRJ, não dá garantias jurídicas, frente ao governo, de que os colegas poderão escolher não dar aulas sem ter eventuais prejuízos.
Em sua resposta, Josué reafirmou a importância dos conselhos superiores da universidade, mostrando que existe uma estratégia para lutar contra eventuais ataques do governo. “Não tenho dúvidas de que com um governo fascista não há garantias jurídicas. Justamente por não termos garantias jurídicas, precisamos contar com garantias políticas. E não há garantia política maior do que contar com os conselhos superiores da universidade. Ali está a garantia da autonomia universitária”, disse Josué. A decisão sobre aulas remotas foi amplamente discutida, ao longo de meses, pelo CEG, CEPG e Consuni, que de maneira democrática ouviram todos os segmentos da universidade.
A presidente da AdUFRJ, Eleonora Ziller, encerrou a reunião lembrando que é um período muito difícil para todos, em que “nossas vidas estão empobrecidas de experiências afetivas”, e defendeu a posição da UFRJ. “A universidade teve muita calma na hora de discutir as aulas remotas. O Conselho Universitário dedicou uma sessão inteira a ouvir os estudantes, e a proposta foi aprovada praticamente por unanimidade, com apenas 3 abstenções. Essa votação é o ganho político que conquistamos nesse processo, e é por esse caminho que enfrentamos o fascismo. Com muita coragem. Combater governos fascistas exige coragem”, disse.(Lucas Abreu)

CIÊNCIAS DA SAÚDE
Preocupação com as aulas práticas

A reunião da área de saúde foi intensa e bastante representativa. Participaram docentes da Farmácia, Medicina, Fisioterapia, Psicologia, Fisioterapia, Biologia, Gastronomia, Terapia Ocupacional. Foi demonstrada uma preocupação quanto à oferta de disciplinas práticas no PLE - Período Letivo Excepcional. "Minha preocupação é com as aulas práticas em laboratório, trabalho de campo, atividade docente assistencial. Não foram contempladas nesse PLE essas modalidades sob a forma remota", disse o professor Hélio de Mattos, da Farmácia. "Várias aulas práticas podem serem ministradas sob a forma remota. Mas a resolução do CEG não obriga, deixou isso a critério das unidades", completou.
Pedro Lagerblad, diretor da AdUFRJ, lembrou que o PLE não foi uma opção, e sim uma necessidade. “Socialmente e politicamente falando, não temos escolha quanto ao PLE”, ponderou. Para o professor titular do Instituto de Bioquímica Médica, apesar da adversidade, os docentes devem procurar soluções para ministrar seus cursos. “Estamos com um problema. Vamos ver o que se pode fazer de bom com ele.”
Lúcia Azevedo, professora de Medicina, afirmou que existe um esforço do seu curso em adiantar algumas atividades práticas pelo ensino remoto, como teleconsulta e medicina da família. “Alguns componentes dessas matérias podem ser facilmente colocados no método remoto”, explicou Lúcia. Para ela, o maior desafio é ensinar aos professores a usar as ferramentas tecnológicas para auxiliar na aprendizagem. “Muitos não estão acostumados a usar videoaulas, gravar conteúdo online. Eu e um grupo de alunos vamos fazer um tutorial para ajudar esses professores”, completou.
Na Biologia, não existe um consenso sobre as aulas práticas, segundo o professor Paulo Paiva. “Vamos trabalhar na precariedade, mas é possível pensar em soluções”, afirmou. Ele acredita que algumas respostas podem ser encontradas nas universidades brasileiras que mantiveram o semestre de modo remoto, como é o caso da USP e Unicamp. “É necessário pensar nas universidades que estão passando pelo mesmo processo, nesse momento o planeta inteiro está funcionando remotamente”, lembrou.
David Majerowicks, professor da Farmácia, disse que o seu departamento está à procura de profissionais com experiência em ensino remoto. “Existe gente que estuda o EAD e que sabe mais do que a gente como fazer”, sugeriu.
Alguns professores relataram que o curso de formação ofertado pela UFRJ, sobre as plataformas digitais para o PLE, foi dado de maneira rasa. Mario Gandra, professor da Faculdade de Farmácia, já possui familiaridade com essas plataformas, devido a uma experiência anterior na UFBA. Ele percebeu a urgência do tema e resolveu disponibilizar tutoriais sobre o googleclassroom e o AVA no seu canal do YouTube, para que outros professores possam aprender. O canal se chama Professor Mario Gandra e também estão disponíveis videoaulas para os estudantes de Farmácia. (Liz Mota Almeida)

EXATAS E TECNOLÓGICAS
AdUFRJ quer ressarcimento de docentes por aula remota

Mais de 40 docentes do CCMN e do CT participaram do encontro da AdUFRJ sobre ensino remoto, O professor Felipe Rosa mediou o debate. “O ensino remoto não é mais uma questão de ‘se’, mas uma questão de ‘como’, já que a universidade decidiu implantá-lo”, afirmou o vice-presidente do sindicato. “A ausência de aulas exclui muito mais os estudantes que o ensino remoto emergencial”, defendeu o professor. A AdUFRJ, ele explicou, prioriza dar suporte e proteção aos docentes, neste momento.
Uma das bandeiras levantadas pela diretoria da AdUFRJ é que os professores sejam ressarcidos dos custos que se elevaram em casa e na aquisição de equipamentos para as atividades remotas. A assessoria jurídica da seção sindical vai produzir parecer sobre direito autoral e propriedade intelectual em relação às aulas preparadas de maneira remota e disponibilizadas como conteúdos gravados. “Nossa posição é que o direito do professor sobre o material de suas aulas vai além do entendimento da Procuradoria da UFRJ”, disse Felipe Rosa.
No parecer da universidade, o procurador Renato Vianna afirmou que as aulas não são criações de interesse privado dos docentes e que, por isso, o direito autoral seria “exclusivo da Administração Pública, não podendo auferir quaisquer benefícios privados” aos professores. Em relação à imagem, diz o procurador, a lei protege o docente de violação e “mau uso, que lhe cause dano material ou moral”. A disponibilização de aulas gravadas aos alunos, completa Vianna, “não causa dano material ou moral ao professor”.
Outra preocupação da AdUFRJ – também expressada por alguns professores – diz respeito à necessária integração com todos os estudantes. A AdUFRJ pretende encabeçar um movimento nacional em defesa da democratização da internet e a inclusão digital. E pretende iniciar o debate por meio do Observatório do Conhecimento.
A professora Thereza Paiva, do Instituto de Física, reforçou o cuidado necessário com os estudantes e o quanto a falta de aulas pode impactar inclusive economicamente os mais vulneráveis. “Há muitos estudantes de fora do Rio que se planejaram para passar um determinado período na cidade, que é uma das mais caras do Brasil. Não dar aulas é fazer os estudantes aumentarem essa permanência na cidade. Muitas famílias não têm condições financeiras de ampliar este tempo”.
As disciplinas e teses que dependem de experimentos foram um dos temas levantados pelos professores. Enquanto não há protocolo para retorno seguro das atividades nos laboratórios, muitos trabalhos estão parados. Mas alguns laboratórios das áreas exatas estariam retomando pesquisas. “A pior coisa que pode acontecer são esses laboratórios voltarem de forma presencial, sem protocolos de segurança”, criticou o professor Fernando Rochinha, da Coppe. “Boa parte dos laboratórios do CCS estão funcionando desde o dia zero da pandemia. Temos protocolos nesses locais que podem ser estabelecidos para os demais laboratórios”, disse.
Yraima Cordeiro, professora da Farmácia, defendeu o uso do  AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem – desenvolvido pelo Instituto Tércio Pacitti) e da plataforma Moodle para as aulas, já que a UFRJ deu liberdade às unidades de escolherem e organizarem de forma autônoma suas aulas remotas. Em relação às metodologias de ensino, a docente criticou a demora de os professores se prepararem para esta migração de conteúdos para o ambiente virtual. “Tivemos a chance de nos preparar desde março. Eu me programei pra fazer curso de AVA já prevendo que a única forma de retorno possível seria essa, por atividades a distância”.
Do Instituto de Química, o professor Rodrigo Almeida reconheceu que a universidade tem conseguido dar boas respostas à crise, mas salientou a necessidade de avaliar constantemente as decisões sobre o ensino remoto “É fundamental que esta experiência não seja naturalizada. É importante que seja bastante reforçado que o nosso tripé de ensino, pesquisa e extensão está muito sustentado pelo contato físico, pelo presencial.Nossas práticas pedagógicas são baseadas nisso”, disse.
Também houve críticas de professores da Escola Politécnica sobre o calendário aprovado. O chamado Período Letivo Excepcional foi considerado curto. “O encurtamento do calendário pode, sim, comprometer a qualidade das aulas e da formação”, afirmou o professor José Henrique Sanglard, da Engenharia Naval. “A Escola Politécnica tem um problema adicional: a maioria dos professores não tem experiências com ensino a distância ou aulas remotas”.
O professor Sylvio Oliveira, da Engenharia Mecânica, reivindicou um direcionamento mais claro sobre que plataformas usar para as aulas neste período. “Há muitas perguntas a fazer e muitas orientações que eu gostaria de receber”, disse.

AVALIAÇÃO POSITIVA
O vice-presidente da AdUFRJ comemorou o sucesso do encontro. “A reunião foi surpreendentemente cheia, superou as expectativas. Mostra que o tema domina a dinâmica da universidade”, avaliou Felipe Rosa. Ele destacou que a volta das atividades remotas, com inclusão e solidariedade, foi um consenso importante entre os participantes. “Não será o melhor dos mundos, mas é um caminho que deve ser seguido”.
As questões levantadas pelos professores serão levadas em consideração para a versão final do documento sobre ensino remoto da diretoria da AdUFRJ. “As questões centrais que foram abordadas já estão contempladas no nosso documento, mas ele certamente será enriquecido. Protocolos de segurança para laboratórios e atividades práticas de pós-graduação tem de ser incorporados.  Além disso, a universidade deve dar uma orientação mais direcionada aos professores sobre plataformas e metodologias de ensino”, concluiu Felipe. (Silvana Sá)

ARTES
Criatividade é a palavra de ordem

A plenária das Artes e outras práticas teve um número menor de participantes, mas surpreendeu pela representatividade. Participaram da troca de ideias docentes dos cursos de Música, Comunicação Visual Design (EBA), Direção Teatral (ECO), Letras e Gastronomia. A roda de conversa foi conduzida pela presidente da AdUFRJ, Eleonora Ziller.
As disciplinas práticas são o calcanhar de Aquiles. “Metade da nossa carga horária é de vivência em laboratório. Não achamos uma solução para resolver isso remotamente”, relatou Daniela Munizzo (Gastronomia). Segundo a docente, o caminho escolhido foi a oferta de disciplinas eletivas e teóricas.
 Já na ECO, as estratégias incluem a oferta de disciplinas complementares e conjuntas (ministradas em parceria por mais de um docente). “Nossa intenção é garantir um período mais leve e sem muita pressão sobre os alunos e professores”, informou José Henrique (Direção Teatral). A criatividade é a palavra de ordem, tanto para a graduação quanto para os projetos de pesquisa e extensão. “Enviamos kits de luz e cromaquis para a casa das pessoas e vamos fazer nossa primeira web ópera”, disse.
A estrutura física da universidade também foi debatida. Norma Menezes,  da Escola de Belas Artes, interpelou a Adufrj para garantia de espaços físicos, na universidade, para gravação das aulas. Assim como, uma política de formação para os docentes sobre ensino remoto. “Vídeos, oficinas, tutoriais”, exemplificou. “Ninguém quer perder a qualidade”.
Uma das maiores unidades da universidade, a Letras pontuou preocupações em relação a um eventual retorno às aulas. “Apesar de bem arejado, o prédio não tem a menor perspectiva de atender ao volume enorme de pessoas que abrigamos, inclusive de outros cursos, respeitando a demanda de isolamento”, relatou a professora Danielle Copas. “Não temos condições nem para semipresencial”, advertiu.
Surgiu também a preocupação com contagem do tempo para progressão docente durante a pandemia. A presidente da Adufrj afirmou que a entidade atua junto à reitoria para proteger os direitos docentes em relação à carreira e à propriedade intelectual. (Elisa Monteiro)

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