facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

WhatsApp Image 2022 04 15 at 10.06.45Foto: Márcio MercanteA preocupação em receber os alunos, sobretudo os calouros e os que ainda não haviam tido aulas presenciais por conta da pandemia, foi a marca das ações de recepção organizadas por direções de unidades e centros acadêmicos da Praia Vermelha. Quem deu o tom foi professor emérito Marcio Tavares d’Amaral, da ECO, na abertura do Ecomeço, evento organizado para receber os novos alunos: “Nosso trabalho aqui, numa Escola de Comunicação, é afirmar na cara do mundo que a verdade existe e que nós a procuramos. Meu jovem coração de velho está indescritivelmente feliz de ver vocês aqui”, disse o professor, que acaba de completar 75 anos.
O Ecomeço recebeu os alunos no tradicional laguinho do Palácio, mas a recepção foi apenas uma das atividades previstas. Na segunda-feira (11), o professor Muniz Sodré deu a aula inaugural do curso. “É um super Ecomeço, feito para dar conta de acolher toda essa diferença, nesse contexto de fragilidade e vulnerabilidade em que estamos. De 1.280 estudantes de graduação, 600 nunca pisaram aqui”, explicou a professora Suzy dos Santos, diretora da Eco.
A semana também foi dedicada à recepção dos alunos no Instituto de Psicologia. O Centro Acadêmico organizou a Semana de Ambientação de Novos Alunos (Sana), com atividades de integração e apresentação do campus. A direção do instituto apoiou a iniciativa, e suspendeu as aulas da primeira semana. “A Sana já acontece há muitos anos. Normalmente ela é para os alunos do primeiro período, mas dessa vez expandimos”, explicou Mykaella Moreira dos Anjos, do CA da Psicologia.WhatsApp Image 2022 04 15 at 10.35.23 3
Já a direção da Faculdade de Educação organizou um café da manhã para os alunos. A atividade também contou com apresentação de poesia e a confecção de cartazes, feitos pelos estudantes. “Estamos muito felizes e emocionados de ver o campus com essa alegria. Temos estudantes de terceiro período que nunca pisaram aqui. Achamos importante fazer essa inserção, para que eles sentissem que esse espaço também é deles”, contou a diretora da faculdade, profesora Maria Muanis.
O Instituto de Economia recebeu uma aula inaugural na segunda-feira, e manteve as aulas normais na primeira semana. O professor Carlos Pinkusfeld Bastos também não escondia sua animação, e brincou com o longo período afastado das salas de aula: “Espero não estar enferrujado”. Para ele, o momento é de celebração. “Estou feliz. Vai ser tudo muito diferente, dar aula para uma turma de quinto período na qual eu não conheço quase ninguém”, contou o professor.
Aluna do professor Carlos Pinkusfeld, Fernanda Maurelli entrou na UFRJ em 2020.1. Seu primeiro dia na universidade foi também o último das atividades presenciais. A experiência no remoto foi bastante complicada para ela, que acredita que não teve a experiência da universidade. “Eu sonhava com a UFRJ, e com aulas remotas eu perdi isso. Era como não estar na universidade. Está sendo uma realização”, contou.

ENTREVISTA
Paulo Vaz
(60 anos)
Professor da Escola de Comunicação da UFRJ e pesquisador 1A do CNPq

O senhor fez críticas à última edição do jornal, que celebrou o retorno presencial. Não concorda com a volta das atividades presenciais?
Eu acho que era necessário haver uma política de vulnerabilidade. Haver retorno presencial para aqueles não vulneráveis e deixar à escolha dos vulneráveis se desejassem voltar ou não. Não entendo por que [o ensino] não pode continuar remoto em algumas situações. Não sou contra a volta, só que nós temos um problema na forma de discussão sobre a covid-19 que não trata da questão maior que é a passagem da pandemia para a endemia. Isso não significa o fim do vírus, significa uma nova distribuição do risco e o fim das medidas de controle. Como criaremos condições para que os vulneráveis possam se proteger? A UFRJ não fez isso, não criou essas condições, obrigou todos a voltarem. Eu sou contra a volta ao presencial forçada, por isso me espanto com a AdUFRJ celebrar forçar.

Quais seriam as alternativas possíveis?
Não forçar, negociar, tornar a decisão local. Como o Conselho Universitário emite uma regra que obriga um imunossuprimido a ir ao Fundão ser examinado? Por que não aceitar uma autodeclaração? É uma caricatura de vigilância e punição, numa universidade pública. O equívoco fundamental é que os vulneráveis não se limitam aos imunossuprimidos e imunodeprimidos. A covid-19 é especialmente desastrosa para idosos. As congregações poderiam encontrar soluções. O Consuni acha que somos um bando de pessoas que não quer trabalhar?

Os estudantes pressionavam pela volta presencial. Não são eles a razão de a universidade existir?
Se eu fosse jovem, com certeza iria querer voltar ao campus. A vida universitária é tão maravilhosa que alguns nunca saem dela. Mas creio que poderiam ter meio-termos, estipular, por exemplo, que na sexta não teria aula presencial, que até 20% do curso pudesse ser remoto. Eu acho que faltou sensibilidade do Consuni, da reitoria. Você acha que os estudantes não seriam solidários se soubessem que aquele professor é vulnerável, que pode morrer?

Qual disciplina o senhor ministra? Quantos alunos estão matriculados?
Atuo com Psicologia, Comunicação e Filosofia e passei muito tempo da minha carreira discutindo fator de risco. Sou pesquisador 1A do CNPq, trabalho há muito tempo com Medicina e Comunicação. Tenho 40 alunos nesse semestre. O ideal era que eu tivesse uma turma de 20 para o espaço que terei de trabalho. Vou brigar para ter meu direito trabalhista respeitado. É preciso que a AdUFRJ dê apoio aos professores em vulnerabilidade. Só voltarei ao presencial se a universidade cortar meu pagamento, mas espero que isso não aconteça.

 

Topo