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WhatsApp Image 2022 06 24 at 21.05.42Os impactos dos cortes no orçamento das áreas de Educação, Ciência e Tecnologia são conhecidos, e especialmente sentidos pela comunidade científica. Mas quais são os efeitos de longo prazo para o país? Esta e outras questões foram analisadas na mesa de debates “A responsabilidade da Economia nos cortes em Ciência e Educação: A meta é desenvolver ou subdesenvolver?”, organizada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e pela Academia Brasileira de Ciências (ABC), na terça-feira (21). O encontro virtual reuniu os presidentes das duas entidades, além da Andifes e de diversos ex-ministros de Estado, como Fernando Haddad (Educação), Luiz Carlos Bresser-Pereira (Ciência e Tecnologia) e Nelson Barbosa (Fazenda e Planejamento). O debate foi a principal atividade do Dia Nacional “Não aos cortes em Educação e Ciência”, organizado por diversas entidades do setor.
“O quanto a economia ganha com Educação e Ciência? O projeto do Brasil é desenvolver ou subdesenvolver?”. Com essas perguntas, o professor Renato Janine Ribeiro, presidente da SBPC e ex-ministro da Educação, abriu o debate. Ele lembrou ainda dos ataques a outras áreas, como a Cultura e o Meio Ambiente, criticando a agenda do governo. “Todos esses ataques parecem ter um propósito muito mais de atrasar do que de avançar o Brasil. E uma sociedade para o progresso da Ciência quer que o Brasil progrida, que avance”, defendeu Ribeiro.
Com a queda no investimento em pesquisa dos últimos anos, acentuada durante o governo Bolsonaro, o Brasil está perdendo uma janela de oportunidade mundial de assumir um papel importante entre os países que mais investem em pesquisa, dentro de um contexto de profunda competição. A avaliação é do ex-ministro da Ciência e Tecnologia e ex-reitor da UFMG Clélio Campolina Diniz. “Estamos assistindo à mais acelerada corrida tecnológica da história em escala mundial”, resumiu o professor. Segundo ele, os 20 países que mais publicam artigos no planeta aumentaram a sua produção em 200% neste século. Ele também destacou o papel central que a China assumiu neste cenário. “Por incrível que pareça, a China deslocou os EUA e assumiu a primeira posição no ranking”, detalhou. O professor falou ainda de outros países asiáticos, como a Coreia do Sul e a Índia, que também aumentaram sua produção científica.
Para efeito de comparação, o professor apontou que a Coreia do Sul faz o maior investimento proporcional ao seu PIB (4,5%) em Ciência e Tecnologia. Em seguida vem o Japão, com 3,5% do PIB investido. Já o Brasil investe apenas 1,16% do PIB na Ciência. “Isso é dramático. Há uma mudança na ordem global e do Brasil nisso. Há impactos econômicos e geopolíticos significativos na ordem global”, explicou o professor, que ainda acrescentou: “É um imperativo para o Brasil investir em Educação, Ciência e Tecnologia, não só para melhorar as condições econômicas e sociais da população, mas também a nossa posição no cenário global”.
O economista Nelson Barbosa também defendeu o investimento em Ciência e Tecnologia como uma das maneiras de o Estado agir como indutor da economia. “Está cada vez mais claro que o conceito de investimento tem que ser ampliado. Investimento não é só infraestrutura econômica tradicional, mas envolve também uma infraestrutura social e tecnológica”, explicou Barbosa. Ele ainda citou como as experiências de desenvolvimento de alguns países vieram a partir do investimento em Educação, Ciência e Tecnologia. “É um gasto transformador, um gasto que transforma a estrutura produtiva e as relações sociais, e precisa ser tratado como investimento”, acrescentou.
Nelson Barbosa defendeu ainda que uma política de fomento à pesquisa precisa ter três ações: recursos, previsibilidade e a valorização da Ciência e Tecnologia. “Dinheiro, previsibilidade e valorização. É isso que os países que conseguem fazer bem Ciência e Tecnologia fazem”, explicou.
O presidente da Andifes, Marcus David, apresentou o grave cenário pelo qual passam as instituições federais de ensino após os cortes feitos por Bolsonaro. “Os dois ministérios que sofreram os maiores bloqueios foram os da Educação e da Ciência e Tecnologia”, disse o professor, que tratou o fato não como uma coincidência, mas como uma política do governo que compromete o futuro do país. Segundo ele, o orçamento discricionário de 2022 é inferior à metade do orçamento executado em 2015. “Nossos problemas foram agravados com o bloqueio realizado nos nossos orçamentos. O que há agora é a total inviabilidade de operação das nossas instituições já no segundo semestre deste ano”, denunciou Marcus.
O debate não foi o único evento do dia, que contou com outras mesas virtuais organizadas pela SBPC, ABC e Andifes, e com um ato público da APUBH em frente à reitoria da UFMG. Na quinta-feira (23), mais de 50 reitores, reitoras e congressistas da Frente Parlamentar pela Valorização das Universidades Federais fizeram um ato contra os cortes no Congresso Nacional.

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