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Para discutir o necessário avanço feminino na Ciência, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) recebeu o evento “Meninas e Mulheres na Ciência:WhatsApp Image 2024 02 23 at 20.49.04 Avanços e Perspectivas”, no dia 19. O encontro foi organizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Na ocasião, foram entregues as outorgas do edital inédito lançado pela agência em 2023, o Programa de Apoio à Jovem Cientista Mulher com vínculo em instituições de Ciência e Tecnologia do estado. Para este edital, a Faperj destinou um total de R$ 13 milhões distribuídos para 70 pesquisadoras. Uma das vencedoras foi a professora Mayra Goulart, cientista política do IFCS e presidenta da AdUFRJ.

O termo de outorga foi assinado publicamente por Michele Gonçalves Monthé, que representou todas as contempladas. Michele é professora da Escola de Química da UFRJ e atua no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos Químicos e Bioquímicos. “É fundamental que atuem diretamente na inclusão de mulheres nas áreas de ensino, ciência e tecnologia, engenharia e matemática, uma vez que representamos um terço de todos os pesquisadores”.

Ela também falou sobre a necessidade de ampliar o acesso de jovens mulheres negras à carreira docente. “Somos apenas 0,9% de todos os professores”. A docente aproveitou o momento para fazer uma homenagem à sua mãe, a professora Cheila Gonçalves Monthé. “Mulher negra, de origem humilde, superou todas os obstáculos e se tornou a primeira docente titular negra da UFRJ”.

Mayra Goulart considera que a ação da Faperj ajuda a mudar a realidade da pesquisa brasileira. “Há uma disposição hegemônica dos recursos da pesquisa no Brasil, que são concentrados em pessoas do sexo masculino e que já têm carreiras amplamente consolidadas”, aponta a docente. “Com isso, essa iniciativa contorna um viés que desfavorece professores jovens e mulheres, sempre marginalizados por critérios supostamente meritocráticos estabelecidos pelos grupos hegemônicos que são por eles favorecidos”.

A mesa de abertura teve a participação de importantes nomes do meio científico. Um deles, a professora Tatiana Roque, secretária municipal de Ciência e Tecnologia. “Precisamos de fomentos específicos, sim, para mulheres, para mães, para a gente combater o assédio, o teto de vidro, a desigualdade nas carreiras, as injustiças do ponto de vista dos direitos”, afirmou. “A ciência que a gente pratica, sem a participação igualitária das mulheres, se torna enviesada”, disse.

Apesar dos desafios, a presidente da ABC, professora Helena Nader, trouxe dados que mostram avanços. “A gente já tem paridade na pós-graduação. Isso é um marco. Também temos paridade em publicações. Não temos paridade nas diferentes áreas. Esse incentivo precisa começar na pré-escola”, afirmou. Ela também alertou para o refluxo feminino nas chamadas ciências duras. “Nós vivíamos um aumento de meninas nas áreas exatas e agora temos visto uma diminuição. É preciso saber o motivo”.

O machismo estrutural, para o professor Jerson Lima, presidente da Faperj, está na origem da questão. Docente da UFRJ, o professor deu exemplo de dois editais da Faperj: um lançado para pesquisadores com vínculo institucional e outro para pesquisadores sem vínculo. O edital com vínculo teve maior participação de homens e só 35% de mulheres, enquanto o que não necessitava de vínculo institucional teve 62% de participação feminina. “Isso nos mostra um quadro preocupante. Mulheres estão tendo menos espaço nas universidades”, lamentou.

Para atuar na linha de apoio às mães, a Faperj lançará em maio deste ano um edital específico para esse público. A iniciativa terá a parceria do Instituto Serrapilheira e do movimento Parent in Science. Os apoios devem totalizar R$ 120 mil para cada projeto selecionado.

OUTROS EDITAIS
Há outras boas, mas ainda recentes e parcas, iniciativas espalhadas pelo país com o objetivo de ampliar o acesso de mulheres na Ciência. A Faperj é uma das pioneiras em editais voltados à equidade de gênero. Hoje, a fundação tem dois específicos: o de Meninas e Mulheres nas Ciências Exatas e da Terra, Engenharias e Computação, em segunda edição, e o edital de apoio à Jovem Cientista Mulher. Além disso, a Faperj busca garantir a equidade de gênero entre vencedores dos editais, amplia prazos para contagem de produtividade para pesquisadoras mães e aplica, desde 2018, a licença-maternidade para pesquisadoras e bolsistas.

A Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo tem iniciativa semelhante: o edital Mulheres na Ciência, que seleciona projetos de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação coordenados por pesquisadoras.

Este ano, a Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia do Rio lançará o segundo edital do Prêmio Elisa Frota Pessoa, destinado aos melhores artigos escritos por mulheres sobre Ciência e Tecnologia na igualdade de gênero. A cerimônia acontece no dia 8 de Março. As universidades federais de Santa Catarina e de Alagoas também têm prêmios destinados a mulheres na Ciência. As premiações são voltadas ao público interno das duas instituições.

O CNPq e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação lançaram no ano passado a terceira chamada pública Meninas e Mulheres nas Ciências Exatas, Engenharias e Computação, destinada a estudantes do ensino médio e de graduação. O edital distribui R$ 100 milhões às vencedoras. Outras duas chamadas aconteceram em 2013 e em 2018. O projeto prevê que pelo menos 30% das bolsas sejam destinadas a negras e indígenas.

A Universidade Federal do Mato Grosso do Sul tem um programa institucional de Mulheres na Ciência. O edital busca apoiar com auxílio financeiro docentes e técnicas da universidade que coordenem projetos de pesquisa e inovação. O exemplo é seguido pelo Instituto Federal de Sergipe.

A Universidade de Brasília tem o edital Mulheres e Meninas na Ciência: o Futuro é Agora, destinado a projetos de extensão que atuem incentivando a participação de meninas das escolas públicas do Distrito Federal nas áreas de Ciência e Tecnologia.

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) tem dois editais para estimular a igualdade de gênero na ciência. Um deles é o Programa Amazônidas – Meninas e Mulheres na Ciência. O outro é o Programa Fapeam: Mulheres na Ciência, específico para o interior do estado.

Já o Instituto Federal do Rio Grande do Norte lançou a segunda edição do edital “Projetos de Pesquisa e Inovação com Mulheres Jovens Cientistas”, voltado a projetos de pesquisa e inovação que envolvam alunas do ensino médio ou da graduação.

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