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Por Renan Fernandes e Silvana Sá

"Estou vivendo um sonho! A UFRJ sempre foi minha primeira opção”, comemora Lucas Santos, calouro de Engenharia Química, curso que acolheu os novos alunos num auditório recém-pintado, decorado com um enorme painel fotográfico de boas-vindas, carteiras novas e limpeza impecável.

Lucas é um dos quatro mil e duzentos estudantes que, na manhã da segunda-feira 18, inauguraram sua trajetória na maior universidade federal do país. Castigada por um crise orçamentária voltuosa, a centenária instituição de Minerva se divide entre a alegria de recomeçar o semestre e a dificuldade para permancer funcionando.

Semana passada, faltou água durante quatro dias no CCS, um hacker derrubou a internet do Fundão e diretores de Unidade lamentaram no Conselho Universitário a falta de docentes - caso, por exemplo, da Faculdade de Direito com 17 professores a menos e do Colégio de Aplicação que iniciou o ano sem 28 professores de diversas disciplinas e 15 docentes da Educação Especial.

Ainda que o rosário de problemas se multiplique, professores e estudantes se desdobram para recomeçar o semestre. Há aulas magnas, palestras, cursos, ciclos de debates e atividades culturais. Uma programação pujante e diversa, como a UFRJ merece ser. “Infelizmente, as dificuldades não são de hoje, se perpetuam há anos”, destaca o professor Rodrigo Fonseca, diretor da AdUFRJ. “No entanto, não podemos deixar que esses problemas nos impeçam de receber com emoção e vontade nossos novos alunos, pois eles são nosso esteio, nosso futuro”, afirma o docente.

 

BEM-VIND@S À MAIOR FEDERAL DO BRASIL

"Estamos prontos para receber a comunidade acadêmica neste início de semestre letivo. Os técnicos-administrativos estão em greve, mas há um rodízio. Eles estão sendo muito colaborativos. A greve desses profissionais é legítima. Estamos trabalhando para que não haja nenhuma intercorrência. Eventualmente é possível que tenhamos falta de pessoas para abrir algumas salas de aula. Essa é uma preocupação sobretudo com os cursos noturnos, mas estamos atuando para que esse problema não ocorra.
Nossa infraestrutura está dentro do nosso padrão normal. O maior problema era uma grande colméia de abelhas que foi retirada porque representava um risco para os estudantes. Fizemos com recursos próprios com contratação emergencial de uma empresa especializada. A nossa brigada está funcionando perfeitamente e desde que foi instalada não tivemos qualquer problema relacionado a curtos ou princípios de incêndio. Há um trabalho preventivo bastante eficiente em curso. Estamos felizes em recomeçar o ano.”

Josefino Cabral Lima
Decano do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza

 

"Qualquer ambiente de trabalho precisa oferecer acolhimento aos seus profissionais. Com a universidade não poderia ser diferente. Há especificidades do serviço público. É importante que o novo docente entre na universidade e se sinta pertencente a ela. É um ambiente construído por todos nós. O novo professor é importante, constrói junto a instituição. É preciso, portanto, de orientação, de acolhida. O início do semestre é sempre um momento muito feliz pelo reencontro. As dificuldades são muitas e estão aprofundadas nesse momento de crise orçamentária, mas as pessoas não podem ser negligenciadas por nossas condições de trabalho.
Em relação aos estudantes, eles são nosso futuro e quando chegam, a universidade representa uma vida nova para eles. A graduação oferece muita liberdade para o aluno e cobra responsabilidade também. Então, é fundamental que a gente acolha e oriente esse novo estudante. Nesse sentido, é preciso fortalecer as COAAs (Comissão de Orientação e Acompanhamento Acadêmico). Eu lamento que a orientação acadêmica não seja abraçada por todos os docentes. Temos que trabalhar pelo futuro.”

Nedir do Espirito Santo
Vice-presidenta da AdUFRJ

 

NOVO BANDEJÃO NO BLOCO H DO CT
Foi inaugurado no dia 18 um novo restaurante universitário no bloco H do Centro de Tecnologia, no espaço ocupado pelo Burguesão até 2020. A cerimônia teve a presença da reitoria. Com 280 lugares, a unidade opera inicialmente com capacidade de servir 1.800 refeições por dia. O investimento em infraestrutura foi de R$ 1,95 milhão e de R$ 2 milhões na compra de equipamentos para a cozinha. A expectativa é reduzir as filas principalmente no horário do almoço.

MENSAGEM DE BOAS-VINDAS
A reitoria da universidade publicou uma nota de boas-vindas aos novos estudantes na segunda-feira, dia 18. “Ao Corpo social da UFRJ: O primeiro semestre do ano letivo de 2024 começa com muitos desafios mas com esperanças que venceremos as dificuldades uma a uma, com perseverança, união, compreensão e muito trabalho em equipe.
Sejam bem-vinda(o)s a nossa centenária Universidade Federal do Rio de Janeiro. Estamos aqui para acolhê-lo(a)s e acompanhá-lo(a)s durante toda a trajetória, que culminará em uma formação de excelência e serviço à população brasileira.”

CAPRICHO NA ESCOLA DE QUÍMICA
Corredores pintados, chão encerado, bebedouros novos e um lindo painel de boas-vindas para receber os calouros de 2024.1. A Escola de Química é um retrato de compromisso e zelo da universidade com os novos estudantes.

 

PROBLEMAS SE AVOLUMAM

"Iniciamos o ano letivo de 2024 sem o nosso quadro docente completo. (...)Nossas aulas começaram no dia 06 de fevereiro de 2024 com a falta de 28 professores de diferentes disciplinas e de 15 professores da Educação Especial.(...) O CAp atende cerca de 800 estudantes da Educação Infantil ao Ensino Médio e mais de 500 estudantes das diversas licenciaturas, em média (...) Temos também, hoje, cerca de 50 estudantes público-alvo da educação especial, crianças e adolescentes com deficiências, síndromes e/ou altas habilidades que precisam – e têm direito por lei – de acompanhamento específico. (...) Porém, atualmente, não estamos conseguindo assegurar esta atuação. No momento, contamos apenas com 6 docentes ligadas ao Núcleo de Educação Especial e Inclusiva do CAp. (...) A fim de minimizar a falta de docentes, tivemos que diminuir nosso horário de atendimento na Educação Infantil e no Ensino Fundamental Inicial. (...) Não temos sede própria até hoje; o prédio da Lagoa passa por graves problemas estruturais (...). Nossos estudantes da Educação infantil estão desalojados porque a sede Fundão está impedida de uso por conta de degradação em sua estrutura.”

Trechos de carta do CAp lida no Conselho Universitário. Veja a íntegra aqui.

 

"Minha angústia se intensificou nesta semana quando vi tanta vibração com a criação de cem institutos federais Brasil afora. Não que eu seja contra. Tem que expandir o ensino superior. Mas eu fiquei pensando: a gente não tem dinheiro para ir até julho. Os campi do Reuni (Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) vivem em condições precaríssimas e o governo federal vai criar mais instituto federal?
Minha expectativa era que viria um Reuni 2 com recursos para a consolidação dos campi, criação de novos cursos, desenvolvimento do que já foi construído no passado. Mas o que foi celebrado pelo MEC é uma ‘recomposição’ de R$ 250 milhões para as universidades federais. Segundo o que fiquei sabendo, para nós seriam R$ 5 milhões, que não dá para pagar um décimo do que os nossos terceirizados precisam receber para executar funções mínimas para o nosso funcionamento. A UFRJ precisa se posicionar frente ao MEC e exigir ao presidente da República os planos do governo para a nossa universidade. A gente vai terminar 2024 com dívida maior que o nosso orçamento, sem perspectiva de recomposição.

Juliany Rodrigues
Diretora do Campus Caxias em depoimento ao Consuni

 

CRISE DE INFRAESTRUTURA NO CCS
No Centro de Ciências da Saúde (CCS), os problemas de estrutura são antigos. A comunidade acadêmica convive com infiltrações e goteiras que impactam nas aulas e em laboratórios de pesquisa. Quedas de luz e no fornecimento de água são comuns. Recentemente, um rompimento de tubulação atingiu o Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho.
Em nota, o professor Luiz Eurico Nasciutti, decano do centro, falou sobre as dificuldades de administrar a unidade. “Estamos a cada dia enfrentando problemas muito sérios no CCS”. Nasciutti pediu compreensão e justificou os problemas na falta de recursos da universidade. “É muito importante que compreendam que a Decania não tem total controle de tudo que acontece, nem muito menos autonomia para tudo resolver”, alegou o decano.

IFCS AGUARDA ORÇAMENTO
O prédio do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), no Largo de São Francisco de Paula, é outra unidade que vive situação dramática. Depois de forte mobilização de docentes, técnicos e estudantes, a reforma da unidade foi definida pela reitoria como a “prioridade zero” para 2024.
Dois projetos executivos elaborados pelo Escritório Técnico da Universidade (ETU) aguardavam a liberação no IPHAN. Apenas a reforma elétrica do prédio está estimada em R$ 6 milhões. Ainda não é possível orçar o custo final das obras necessárias.
O professor Fernando Santoro, diretor da unidade, comemorou a autorização da reforma elétrica, mas destacou que ainda não existem recursos para o início dos trabalhos. “O IPHAN aprovou o projeto. Agora falta Brasília liberar a verba. Recebemos uma emenda parlamentar para 2025, do Deputado Glauber Braga, graças à mobilização estudantil. Mas continuamos nos esforços para realizar essa reforma neste ano”, disse Santoro.

REDES E INTERNET INTERMITENTES
A infraestrutura da rede de internet da UFRJ também está no centro do furacão. Sucateada, a área de Tecnologia da Informação da universidade carece de recursos para atualização e manutenção de equipamentos. A Superintendência Geral de Tecnologia da Informação e Comunicação (SGTIC) não possui sede própria desde o incêndio no Edifício Jorge Machado Moreira em 2016.
Na semana que antecedeu a volta às aulas, uma tentativa de invasão à rede da universidade deixou o serviço de internet instável no Fundão. A despeito da precarização das condições de trabalho oferecidas pela UFRJ, os técnicos da SGTIC trabalham para manter ativo o serviço para o funcionamento da universidade.

 

FALA, CALOUR@!

 

WhatsApp Image 2024 03 19 at 07.51.221Estou vivendo um sonho! A UFRJ sempre foi minha primeira opção. Cheguei a pensar em outras universidades, mas nenhuma delas fez meu coração bater tão forte como a UFRJ faz desde que eu era pequeno. No Pedro II, os professores falam bastante sobre a universidade pública e isso só alimentou o desejo de estar aqui. Sempre gostei muito de Química. Conversei com alguns conhecidos que cursaram engenharia, com meu orientador pedagógico. Comecei a pesquisar, vi as áreas de atuação e tomei minha decisão pela Engenharia Química. Minhas expectativas estão muito altas. Quero participar dos projetos incríveis da Escola de Química, conhecer pessoas de realidades diferentes e reaprender quem eu sou. Tenho certeza que a UFRJ vai me apresentar um mundo incrível.

Lucas Santos da Silva,
Engenharia Química

 

WhatsApp Image 2024 03 19 at 07.51.222Comecei a fazer acompanhamento com terapeuta aos oito anos, quando meus pais se divorciaram. Esse trabalho foi fundamental para eu entender todas as mudanças que estavam ocorrendo na minha vida. Desde então, nunca parei fazer terapia. Senti na pele o poder que o autoconhecimento tem. A ideia de cursar Psicologia começou quando minha psicóloga disse que eu não precisava ser uma única coisa na vida. Podemos mudar o tempo todo. Foi quando desisti do Direito e me permiti viver uma coisa que acredito muito. Sempre sonhei em vir para o Rio e estudar na UFRJ. Abri mão de estar próximo das pessoas que amo para viver esse sonho. Espero escrever uma história muito linda aqui.

Maria Luisa Fernandes da Silva,
Psicologia

 

WhatsApp Image 2024 03 19 at 07.51.223Estou muito feliz em passar para um dos melhores cursos de engenharia do Brasil.Mudei de ideia algumas vezes sobre o que estudar na faculdade. Engenharia Civil era um sonho quando tinha uns 13, 14 anos. Depois, coloquei na cabeça que queria fazer Medicina e passei a estudar para isso. Minha nota no ENEM não foi suficiente para Medicina, mas bastou para Civil. Então, abracei meu antigo sonho. Sou de Santo Antônio da Platina, no Paraná. Vim para o Rio de Janeiro cursar o Ensino Médio no Polo Educacional SESC. O fato de já estar habituado à cidade também influenciou minha escolha pela UFRJ.

Yan Siqueira Eleutério,
Engenharia Civil

 

WhatsApp Image 2024 03 19 at 07.51.23Sempre quis estudar engenharia. Escolhi a Nuclear a partir do contato com professores e com conteúdo científico. Só a USP e a UFRJ oferecem esse curso. Passei para as duas, mas escolhi a UFRJ pelo fato de o curso ser especializado e melhor estabelecido. A mudança não é novidade na minha vida. Venho duma cidadezinha no centro-oeste de Minas Gerais chamada Carmo da Mata. Já tinha me mudado sozinho para Divinópolis para fazer o Ensino Médio Técnico em Mecatrônica no CEFET-MG. Essa experiência em um ambiente acadêmico federal foi muito importante para mim. Tenho uma visão menos romantizada da universidade, mas estou bem animado para começar o curso.

Víctor Bernardes de Morais,
Engenharia Nuclear

 

WhatsApp Image 2024 03 19 at 07.51.231Ano passado, participei do projeto Conhecendo a UFRJ e isso foi muito importante. Ganhei uma placa escrito #EuQueroUFRJ e todo dia olhava para ela. Escolhi a Engenharia Ambiental para ter um lugar na construção de um futuro sustentável. Gostaria muito de fazer a diferença atuando nessa área. Resolvi que iria ser engenheira ainda muito pequena, quando estudei numa escola na Praia Vermelha que era do lado do Instituto Militar de Engenharia. Com o tempo, esse sonho esmoreceu e só reapareceu no ano do vestibular. Sei que é uma universidade com muitos problemas de estrutura, mas tenho certeza que é um lugar onde vou ter uma educação de qualidade a abrir caminho para oportunidades maravilhosas.

Marina Teixeira Maurício,
Engenharia Ambiental

 

WhatsApp Image 2024 03 19 at 07.51.232Sempre quis uma área que envolvesse criatividade e arte, mas nunca tive coragem, achava que não conseguiria me sustentar. Comecei a cursar Geografia na UFF em 2019, sem muita convicção. Em 2020, veio a pandemia, fiquei um ano sem aulas e passei a refletir se estava feliz. Um dia, assistindo ao filme Amor à Flor da Pele, do diretor Wong Kar-Wai, me apaixonei. Comecei a ter uma visão diferente sobre cinema. Pensar em todas as formas de expressar emoções e sentimentos.Estudei por conta própria ano passado e consegui passar para Rádio e TV. Hoje, com 24 anos, estou muito animada com essa nova fase na minha vida. Quero aproveitar de tudo um pouco da UFRJ, participar de projetos da universidade, conhecer o movimento estudantil. Dessa vez, vou viver o meu sonho.

Giovana Lino de Souza,
Rádio e TV

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