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Reunião de desdobramento da III Conferência Regional de Educação Superior da América Latina e Caribe (CRES), ocorrida há cinco anos em Córdoba, na Argentina, a CRES+5 debateu os avanços e os principais entraves ao desenvolvimento do ensino superior na região, em encontro de 13 a 15 de março, em Brasília. Temas como autonomia, integração, diversidade e condições de trabalho foram abordados por mais de dois mil especialistas em 12 eixos de discussão. O evento foi organizado pela Capes e pela Secretaria de Educação Superior (Sesu) do MEC, em parceria com o Instituto Internacional para a Educação Superior na América Latina e no Caribe (IESALC), a Unesco e o Espaço Latino-Americano e Caribenho de Educação Superior (Enlaces).

Ao abrir o encontro, o ministro da Educação, Camilo Santana, destacou os avanços iniciados há duas décadas, desde que o “governo começou esforços para interiorizar as universidades” e que hoje podem ser verificados no acesso de mais estudantes ao ensino superior. Já a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, lembrou o papel predominante que o conhecimento científico tem no combate a problemas como mudanças climáticas, guerras e insegurança alimentar, “que não reconhecem fronteiras e só serão solucionados com ciência, tecnologia e inovação”.

A mesa de abertura contou com a participação da diretora da Unesco no Brasil, Marlova Noleto, que qualificou a educação como “o mais importante dos direitos, algo transversal, pelo qual podemos garantir acesso a todos os outros direitos”. Também participaram da mesa de abertura a professora Denise Pires de Carvalho, presidente da Capes, e o professor Alexandre Brasil, titular da Secretaria de Educação Superior do MEC, assim como Márcia Abrahão, presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Manuela Mirela, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e Vinicius Soares, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG). A próxima CRES está prevista para 2028.

No encontro, o ministro Camilo Santana anunciou a criação de dois programas por meio da Capes. O primeiro, com o Grupo Montevideu, com mais de R$ 100 milhões para projetos de pesquisa com mobilidade acadêmica entre os países participantes. O segundo, chamado Mova La America, oferecerá 500 bolsas de mestrado e doutorado para estágios de pós-graduação em instituições brasileiras, com recursos de R$ 20 milhões.

Um dos pontos altos do encontro foi a conferência da professora Nilma Lino Gomes, da Faculdade de Educação da UFMG e ex-ministra das Mulheres. Com o tema “Diversidade étnico racial e a educação superior no contexto de integração dos países da AL e Caribe”, a professora brindou a plateia com uma análise de conjuntura em que defendeu “uma integração emancipatória” de povos tradicionais da região (veja abaixo trechos da fala da professora).

Participante do encontro, a presidenta da AdUFRJ, professora Mayra Goulart, disse que a conferência da professora Nilma “ressaltou a importância do papel civilizatório desempenhado pelo atual governo, em termos de conter o avanço da extrema direita e permitir a continuidade desse processo de inclusão”. Mayra aproveitou o evento para debater as condições de trabalho e salário docentes com representantes da UNE, da ANPG e com professores de diversas universidades.

Depoimento I Nilma Lino Gomes, professora da Faculdade de Educação da UFMG

"Precisamos retomar e apoiar com força governos progressistas”

“Nossos currículos se inspiram muito mais no formato e em realidades europeias, estadunidenses em alguns casos, do que em nossas próprias histórias e realidades locais, com foco nas nossas populações indígenas, afro-americanas, afro-latino-americanas. Mas não só os currículos. Também nas nossas categorias de análise como pesquisadores, nas nossas metodologias de pesquisa. Nos conceitos com os quais nós interpretamos a realidade latino-americana, caribenha e do mundo”.

“Qual integração nós queremos? Eu entendo que essa integração tem que ser emancipatória. E para isso ela deverá não só privilegiar a inclusão dos grupos, dos países, das culturas e dos coletivos nas estruturas econômicas, políticas, educacionais e de poder, historicamente hegemônicas. Mas também indagar essas próprias estruturas, percebendo nelas ausências, lacunas, invisibilizações, sub-representações justamente de povos e culturas que precisam ressignificar nosso pensamento e nossas práticas”.

“No atual contexto da América Latina e do Caribe temos assistido ao crescimento de mobilizações conservadoras e reacionárias na sociedade civil. Que ao invés de instigar as organizações a avançarem, muito ao contrário, querem é retirar aquilo que nós já construímos de avanço emancipatório dentro das instituições democráticas, em especial da educação superior. Essa é uma realidade tensa que vivemos, não só no Brasil, mas em outros países da América Latina e do Caribe. E isso é novo para nós. Há necessidade, nesse momento, de um fortalecimento das frentes que lutam por uma integração emancipatória latino-americana e caribenha”.

“Muitas vezes os grupos conservadores e reacionários usam também o discurso da integração. Mas o fazem na tentativa de enganar os menos atentos. Trata-se de um discurso falacioso, pois o que propõe é a dissolução dos laços de solidariedade, o individualismo, o fundamentalismo de mercado. No caso do Brasil, também o fundamentalismo religioso. Há também uma tentativa de neutralização do debate, de perseguição de lideranças, de movimentos sociais”.

“Precisamos retomar e apoiar com força governos progressistas, pois foi a ascensão desses governos, particularmente na América do Sul, que deu grande impulso a outra perspectiva de integração regional”.

 

 

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