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WhatsApp Image 2024 04 12 at 21.59.52 9Foto: Renan FernandesKelvin Melo e Renan Fernandes

‘Um circuito de produção de desejo, de afeto em torno da pesquisa, que entendo como o mais importante da universidade. O estudante se vê como pesquisador, como produtor de conhecimento”. Assim o professor Bernardo Oliveira, da Faculdade de Educação, definiu a 45ª Jornada Giulio Massarani de Iniciação Científica, Tecnológica, Artística e Cultural (JICTAC). Entre os dias 8 e 12, o evento mobilizou 2.886 docentes orientadores de 5.539 alunos de todas as áreas do conhecimento.
A mistura de ansiedade e euforia em torno dos 4.463 trabalhos apresentados tomou conta dos três locais de que sediaram o evento: o Salão Nobre do Fórum de Ciência e Cultura, a Inovateca da Cidade Universitária e o Centro Multidisciplinar de Macaé. “É realmente estimulante. Faço questão de participar todo ano para entrar em contato com essa atmosfera de curiosidade, aprofundamento, dessa relação entre professor e estudante”, acrescentou Bernardo.
Muitos são os docentes que despertaram ou consolidaram a vocação acadêmica a partir da JICTAC. Entre eles, o pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa, professor João Torres: “Fiz iniciação científica e foi superimportante para mim. É um dos momentos mais vibrantes da universidade ver esses jovens falando dos trabalhos. Acho emocionante”, disse.
O professor Cesar Augusto, da Faculdade de Farmácia, atuou como avaliador e reforçou o papel formador da Jornada. “A apresentação coloca o aluno em uma posição de exercitar o raciocínio científico. Isso não dá para ensinar apenas em aulas. Chega uma hora que o aluno precisa colocar a mão na massa, aprender a formular hipóteses, a dialogar com outras experiências semelhantes na literatura. O resultado não é o mais importante”, analisou.
Na mesa de abertura, o professor Edson Watanabe, da Coppe, compartilhou um conceito que aprendeu no Japão. “Quando você dá aula, está formando; mas quando você orienta — e se for um bom orientador — você cria. O conceito é criar um pesquisador que sai andando com as próprias pernas”, afirmou.
A reportagem circulou pelas duas sedes da Jornada no Rio e tudo indica que o conceito está sendo bem aplicado. Um exemplo foi o trabalho “Conhecimento, representações e práticas frente à vacinação anti-HPV de jovens universitários”, apresentado pelas estudantes de Enfermagem Ágatha Christie Oliveira e Gabriela Taulois. A pesquisa é financiada pela Faperj e desenvolvida pelo grupo Saúde Sexual e Reprodutiva dos Grupos Humanos, coordenado pela professora Ana Beatriz Azevedo Queiroz, da Escola de Enfermagem Anna Nery.
Na primeira fase do trabalho, o grupo coletou dados por meio de formulário de 223 estudantes do Centro de Ciências da Saúde. “Espera-se que os alunos da área da saúde tenham uma conscientização maior sobre a vacina, mas nossos dados mostram que não é bem assim”, alertou Ágatha.
A professora Ana Beatriz destacou a relevância da pesquisa e a importância de reforçar as campanhas de prevenção entre estudantes e profissionais da área da saúde. “É um olhar de cuidado para os discentes da universidade. O HPV é uma infecção sexualmente transmissível (IST) que tem uma incidência significativa na adolescência e juventude e poder trazer repercussões futuras com diversos tipos de cânceres, entre eles o câncer de colo do útero. Verificamos como nós, profissionais da saúde, temos falhas no nosso próprio cuidado. Prescreve para o outro, mas não olha para si”, advertiu. “A universidade precisa cada vez mais promover a saúde estudantil”.

OLHAR AGUÇADO
Duas obras que dividem o título “Beasts of no nation” chamaram a atenção de Jhonny Mattos, do oitavo período de Defesa e Gestão Estratégica Internacional. O estudante decidiu investigar a relação entre as obras artísticas homônimas: o álbum do músico nigeriano Fela Kuti, de 1989, e o filme do diretor Cary Fukunaga, lançado pela Netflix em 2015, sobre os meninos-soldados guerrilheiros no continente africano.
Mattos desenvolveu uma análise do discurso. “O álbum do Fela Kuti tinha um motivo político, de luta contra um governo corrupto e repressivo. O objetivo era diluir o medo por meio da música para gerar uma revolução”, explicou. Já o filme deturpa e invisibiliza a mensagem da música do jazzista nigeriano. “A vulgarização da violência entre menores de idade no filme não traz a ideia proposta na música. O exército nigeriano criticado por Kuti é retratado como ajuda humanitária no filme”, concluiu.
A professora Adriana Marques, do Instituto de Relações Internacionais e Defesa, orientou o estudante na pesquisa e relacionou o trabalho com o conceito de “Guerra híbrida”. “Jhonny fez uma analogia com o livro do antropólogo brasileiro Piero Leirner, que fala sobre essa doutrina militar, muito utilizada pela extrema-direita. É uma ideia de guerra de informações”, contextualizou a docente.
Quem não pôde acompanhar trabalhos como os de Ágatha, Gabriela e Jhonny na edição desta semana — mais restrita em função do aperto orçamentário da UFRJ (leia mais no texto abaixo) — terá nova oportunidade em outubro, na 46ª JICTAC, para mais uma festa do conhecimento. Até lá!

RAIO-X DA JICTAC

4.463 trabalhos aprovados 

2.886 professores orientadores

5.539 estudantes

1.012 bolsistas PIBIC-CNPq

1.012 bolsistas PIBIC-UFRJ

90 bolsistas PIBITI-UFRJ

30 PIBIC-Af (ações afirmativas)

116 PIBIC-EM (ensino médio)

JICTAC EM DOSE DUPLA

Além da JICTAC realizada esta semana, a UFRJ terá mais uma edição em outubro deste ano, dentro da Semana de Integração Acadêmica (SIAC). A excepcional “dose dupla” atende a uma exigência do CNPq e ajusta o calendário interno da universidade para que o evento volte a acontecer no segundo semestre letivo daqui em diante.
A agência de fomento determina que as universidades beneficiadas pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) realizem duas jornadas a cada dois anos de vigência do edital de distribuição das bolsas. A UFRJ recebe 1.158 bolsas do CNPq (veja quadro acima) dentro do programa — que poderiam ser cortadas, caso a exigência não fosse cumprida.
“Ficamos devendo 2020 por causa do primeiro ano da pandemia. Em 2021, houve uma JICTAC emergencial como essa que estamos fazendo, em março. Em 2022, a SIAC aconteceu em fevereiro, e a de 2023, em maio”, relembra o superintendente geral de Pós-graduação e Pesquisa, professor Felipe Rosa. “Com o edital de 2022 efetivado em agosto e a SIAC 2024 marcada para outubro, ficamos descobertos. Não iria dar dois eventos em dois anos”.
O superintendente explica que a situação não vai prejudicar a realização da Jornada de outubro. “Quem vai apresentar em outubro é uma mistura de quem tem bolsa agora e pode não ter depois, mas tem trabalho para apresentar; e os que não são bolsistas agora e serão depois”, disse. “Dos mais de quatro mil trabalhos inscritos, temos pouco mais de dois mil bolsistas. A metade que não é bolsista é potencial bolsista para o próximo ciclo”.
A crise orçamentária da UFRJ obrigou a reitoria a concentrar a JICTAC em apenas três locais. Em condições normais, seriam necessárias 30 ou 40 salas. A medida causou transtornos. “Já na segunda, tivemos que barrar quem não estava diretamente envolvido na Jornada. A Inovateca sobrelotou”, lamentou Felipe.

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