Foto: Fernando SouzaRenan Fernandes
“Um dia, quando for seguro, quando não houver mais medo de retaliação pessoal por chamar as coisas pelo o que são, quando for tarde demais para tornar alguém responsável, todo mundo sempre vai ter sido contra isso”.
O trecho do novo livro do escritor e jornalista egípcio Omar El Akkad foi lido por Marcos Feres, secretário de Comunicação da Federação Árabe Palestina do Brasil, na noite de terça-feira (10), em debate realizado pelo Cine Cidadania, no Estação Net Botafogo. O evento organizado pela Universidade da Cidadania (UC) discutiu o documentário “Aqui e acolá”, de Anne-Marie Miéville e Jean-Luc Godard.
“Estamos no dia 613 do holocausto palestino. São mais de 66 mil palestinos exterminados, 22 mil crianças e 12 mil mulheres mortas pelas bombas e pela fome”, revelou Marcos. “É uma depravação genocida o que assistimos na Palestina”.
O massacre promovido por Israel na Faixa de Gaza foi o tema escolhido para a quarta edição do projeto. “A questão da Palestina se impôs para a gente como uma questão cívica de cidadania global”, disse a professora Eleonora Ziller, diretora da UC. “A exibição do filme representa uma tomada de posição institucional da nossa universidade”, completou.
A professora Christine Ruta, coordenadora do Fórum de Ciência e Cultura, ao qual a UC está ligada, leu a moção pelo fim da violência em Gaza aprovada pelo Consuni no dia 22 de maio. O texto pede o fim da guerra e a permissão da entrada de ajuda humanitária no território.
“Me sinto honrada por pertencer a uma universidade que se pronuncia diante de um genocídio”, celebrou a professora Beatriz Bissio, do IFCS. A docente deu uma aula sobre a questão palestina explicando as origens do confronto. “O conflito é político, e não religioso. Tudo é consequência do colonialismo britânico e do imperialismo americano. Por séculos, cristãos, judeus e muçulmanos conviveram pacificamente na região”.
O cineasta Adilson Mendes leu o trecho do poema “Identidade” do poeta palestino Mahmoud Darwish, que constava no roteiro concebido por Godard e pelas lideranças palestinas que contrataram os diretores. “Escreve que sou árabe. Que você arrasou as vinhas do meu pai e a terra que eu cultivava. E meus filhos. Você nos tirou tudo, menos para a sobrevivência dos meus netos, os nossos rochedos. Mas seu governo vai roubá-los também”.
O público participou ativamente do debate. Prestes a completar 50 anos de docência na UFRJ, o professor João Baptista Vargens, da Setor de Estudos Árabes da Faculdade de Letras, se emocionou ao recordar dos primeiros passos no estudo da língua árabe. “Fui da primeira turma graduada em árabe na UFRJ. Eu era 50% da turma. O principal motivo de ter ingressado no curso foi a causa palestina”, lembrou.
O professor Fernando Santoro, diretor do IFCS, também esteve na plateia e levantou uma questão. “A criação do estado de Israel, em si, foi uma solução racista” defendeu. “E a atitude racista está na base de todos os grandes problemas que levam ao extremismo da extrema-direita. Temos que perceber os projetos racistas que existem em toda parte”.