Sede do 68º Conad, a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) convive com sérios problemas orçamentários — realidade comum a todas as instituições federais de ensino do país. Mas o isolamento da região amazônica impõe desafios extras para a administração central e para a Adua, a associação de docentes, tanto na gestão do dia a dia da universidade, que tem 33 mil alunos, quanto na defesa de melhores condições de trabalho para os seus 1.640 professores.
O campus da universidade está imerso no maior segmento de floresta em área urbana do Brasil, e terceiro maior do mundo. São 6,7 milhões de metros quadrados de mata, e é comum alunos e professores serem “observados” pelas janelas das salas de aula por macacos, preguiças e pacas. A natureza exuberante ao redor não se restringe a Manaus. A Ufam tem cinco campi no interior do Amazonas, e apenas um deles (Itacoatiara) tem ligação por estrada com a capital. Os demais (Benjamin Constant, Coari, Parintins e Humaitá) só são acessíveis por barco ou via aérea.
O Jornal da AdUFRJ entrevistou a nova reitora da Ufam, professora Tanara Lauschner, que assumiu em 4 de julho, e a presidenta da Adua, professora Ana Lúcia Gomes, sobre os principais problemas da universidade.
ENTREVISTAS
“Os desafios de logística, de integração, para além dos orçamentários, são muito grandes”
Fotos: Eline Luz/AndesTANARA
LAUSCHNER
Reitora da Ufam
Jornal da AdUFRJ: A senhora assumiu o cargo há duas semanas. Quais os principais problemas que encontrou?
A situação da Ufam não é diferente da situação da grande maioria das universidades públicas federais. O nosso orçamento não é suficiente para todas as nossas ações, por isso a gente sempre tem que buscar uma complementação orçamentária, ou emendas parlamentares com a bancada federal. Nós temos um passivo gigantesco, principalmente em relação à manutenção e a questões como energia, água e internet, então essas serão as nossas prioridades iniciais. Vamos buscar orçamento para fazer novos investimentos em infraestrutura, porque esses problemas que nós temos exigem investimentos.
Com os parcos recursos, que investimentos a senhora vai priorizar?
Precisamos, por exemplo, de uma nova subestação de energia. Temos problemas com o nosso castelo d’água, que precisa ser reformado. E há uma grande questão: somos uma universidade multicampi. Além de Manaus, nós temos mais cinco campi no interior, num estado que é 20% do território nacional. Os desafios de logística, de integração, para além dos orçamentários, são muito grandes.
Com os recursos restritos, a Ufam corre o risco de corte de serviços básicos como energia e água?
O desafio de gestão é muito forte. Não deixar cair a internet, não faltar água nem energia, isso é prioridade. Acho que há pontos de gestão que podemos melhorar e que não demandam muito orçamento, ou demandam pouco orçamento. Na área de recursos humanos, nós ainda não temos um sistema integrado de administração, e precisamos ter. Isso vai poupar tempo de todos e vai melhorar a gestão para que a gente possa identificar mais rapidamente os gargalos e agir mais rapidamente para evitar suspensão de atividades dentro da nossa universidade.
“A falta de recursos é patente. Os estudantes estão sem bolsa de extensão há três meses”
ANA LÚCIA GOMES
Presidenta
da Adua
Jornal da AdUFRJ: Quantos filiados tem hoje a Adua e quais são os principais problemas enfrentados pelos docentes da Ufam?
Temos hoje 935 docentes sindicalizados. A Amazônia é outra realidade. Temos seis realidades distintas dentro de uma mesma Ufam. Porque nas unidades fora da sede as pessoas se comportam muitas vezes de forma diferente. Há um assédio moral forte sobre os professores. Isso tem causado um adoecimento docente muito intenso também. Essa é uma queixa recorrente.
A Ufam tem uma nova reitora, empossada há poucos dias. Como será a relação da Adua com a nova gestão?
Nós queremos dialogar. Ela assumiu há pouco, não tivemos tempo de mostrar nossas pautas. Ela veio para a abertura do Conad, foi um bom sinal. Pensamos até em entregar nossa pauta de lutas aqui, mas preferimos dar tempo a ela e sua equipe. Nossa ideia é levar as pautas nos próximos dias e abrir o diálogo. Ela tem uma visão um pouco diferente da nossa. Busca aproximação com empresas em busca de recursos, isso tem que ser visto com cautela. A falta de recursos é patente. Os estudantes estão sem bolsa de extensão há três meses. Eu estou ajudando um aluno meu com recursos próprios para ele não abandonar o projeto. Esperamos resolver isso com a nova reitoria.
Além dessa questão das bolsas, que outras pautas estão no horizonte?
A multicampia está fervilhando dentro da universidade. Essa questão das dificuldades que nós temos como uma universidade multicampi. O adoecimento, a questão do assédio, a falta de autonomia financeira das unidades do interior. O ensino indígena também é prioridade. Eu fui dar aula numa unidade fora da sede e havia 17 etnias dentro de uma sala. Para dar aula nessas condições tem que haver um preparo, uma formação. Esse também é um desafio.