Foto: Danielle Gama/PR-5Renan Fernandes
Vai começar a 23ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty. A cidade histórica do litoral sul do estado do Rio de Janeiro recebe, entre os dias 30 de julho e 3 de agosto, uma extensa programação com rodas de debates, apresentações culturais e lançamentos de livros. Pela terceira vez, a UFRJ participa da Casa da Favela para apresentar experiências de projetos de extensão e ações que dialogam com a sociedade interligando educação, cultura, arte, escrita e literatura.
Na edição de 2024, 2 mil pessoas passaram pelo espaço organizado pela Agência Nacional das Favelas. Para este ano, a expectativa é de recorde de público. “A participação da UFRJ na Casa da Favela é fundamental. A FLIP é uma vitrine nacional e internacional e passa muita gente por lá”, destacou a professora Ivana Bentes, pró-reitora de Extensão.
A programação da UFRJ começa na sexta-feira, dia 1º, com a mesa “Projetar Mundos: Favela, Invenção e Extensão”. O debate dialoga com o tema da Casa da Favela em 2025 “A favela no multiverso”, que vai discutir a pluralidade de subjetividades que compõem a vida nos territórios periféricos. A PR-5 vai apresentar ações realizadas no Rio de Janeiro e na região metropolitana que dão protagonismo aos moradores de áreas periféricas e buscam a valorização da ancestralidade, memória e história com o auxílio de ferramentas educacionais e de leitura.
Ainda na sexta, Ivana participa do lançamento do cineclube literário do Arquivo-Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa com a exibição do curta “Assaltaram a gramática”, realizado em 1984 por Ana Maria Magalhães. O filme sobre a linguagem poética conta com a participação de Paulo Leminski, artista homenageado desta edição.
Já no sábado, 2, a professora media a mesa “Memória Programada - Entre algoritmos e oralidades: a disputa por narrativas, reconhecimento e futuro”, com a pesquisadora de inteligência artificial Camila Leporace; a cientista da computação Nina da Hora; e a antropóloga Talita Azevedo.
“É importante discutir como as periferias e favelas estão disputando o debate da inteligência artificial e as tecnologias”, disse Ivana.
A programação termina no domingo, 3, com o lançamento do livro da Editora UFRJ “O ritmo, a música e a educação” de Émile Jaques-Dalcroze, com organização e tradução do professor Rodrigo Batalha, da Escola de Música. A editora estará presente na Casa da Favela todos os dias com cerca de 100 títulos à venda. “O livro tem potencial de articular equidade, diversidade e inclusão”, ressaltou Fernanda Ribeiro, diretora adjunta da Editora UFRJ.
Fernanda aguarda com ansiedade a participação no evento. Para a diretora, é o momento ideal para mostrar obras que dialogam com a temática do ano e contribuem para a produção literária brasileira. “Somos sempre muito acolhidos pelo pessoal da Casa da Favela. É uma grande oportunidade de mostrar nossa produção”, afirmou.
A experiência de edições anteriores na FLIP motiva Pricila Magalhães, coordenadora de integração e articulação da PR-5. “Além da identificação do público com as questões abordadas pelos projetos, os participantes demonstraram grande interesse em saber as possibilidades de ingressar na universidade, de se formar por ela, ter um certificado da UFRJ, para além da graduação e da pós”, explicou.
Pricila destacou a extensão como o local de diálogo para a construção de novas alternativas sociais. “É nesta lacuna que os cursos de extensão têm um papel fundamental de oportunizar uma formação de excelência, prática, multidisciplinar, voltada para a reflexão e resolução conjunta de questões entre universidade e sociedade”.
Além dos projetos, a PR-5 vai apresentar em Paraty o Portal da Extensão, site com todas as ações de extensão da universidade — cursos, eventos, projetos e programas. “O portal tem uma grande importância ao publicizar, de maneira rápida e intuitiva, ações disponíveis à sociedade para sua formação”, afirmou Pricila. “Essa é mais uma ferramenta que contribui para a democratização do acesso à universidade, principalmente para a população moradora das periferias das nossas cidades”, completou.
A Casa da Favela está localizada na Rua Tenente Francisco Antônio, 28, no Centro Histórico de Paraty.
LANÇAMENTOS DA UFRJ
No decreto de 1931 que autoriza a incorporação do Instituto Nacional de Música à universidade, uma das disciplinas é chamada Método Dalcroze. O professor Sá Pereira conheceu o método na Europa e o trouxe para o Brasil.
Émile Jacques-Dalcroze foi um compositor e educador musical suíço que, após uma viagem à Argélia, passou a estudar uma forma de trazer para o movimento do corpo a consciência de escuta da música. “Ele percebeu que a tradição europeia dos conservatórios de música, dos corpos comedidos, não funcionava”, disse o professor Rodrigo Batalha, organizador da tradução de “O ritmo, a música e a educação”. “Ele provocou os estudantes a criarem uma imagem mental e corporal daquilo que executariam no instrumento” .
Essa é a primeira obra do autor traduzida para o português. “Dalcroze é estudado em cursos de música, dança, teatro e até educação física, mas aparece sempre citado por alguém”, comentou Batalha. O docente articula com universidades de Angola e Moçambique o envio de cópias da obra.
O trabalho encontrou alguns desafios. Os tradutores se preocuparam em levantar questões que não eram objeto de preocupação na época do autor. “Em vários momentos ao longo da tradução procuramos trazer o debate para algumas temáticas contemporâneas”, pontuou o professor.
Batalha lança o livro no domingo, 3, às 10h, na Casa da Favela.
“As Heras: folhas sob esferográfica”, lançado pela editora Caravana, é o primeiro romance da professora, artista visual, dançarina e poeta Marta Bonimond. “Quando fiz 30 anos, lancei um livro de poesias. Uma poesia falava que fui ser poeta por falta de ordem para encadear romance”, brincou.
Durante uma arrumação em casa, Marta encontrou papeis guardados há uma década com a ideia original. A protagonista Vera quer escrever um livro e está sempre em deslocamento. “Tem uma metalinguagem. Vera é um pouco eu, mas não tem meu nome”, explica a autora. Os desdobramentos da trama fazem Vera se tornar Mera, uma mulher que tenta se inserir na sociedade. “É a mesma mulher, mas não é. A vida se torna mais árida, mais áspera”.
A vida fica tão difícil que Mera deixa de existir e vira a Fera. “Ela fica se perguntando o que é. Não é ser humano, não é vegetal, é monstruoso”.
Bonimond brinca com a sonoridade das heras e das eras. As heras, metáfora para as folhas que enchem um muro e a compulsão de Vera em escrever para encher uma folha; as eras são as fases da protagonista.
O lançamento acontece no sábado, 2, às 17h, na Casa Caravana, Rua do Comércio, 319, no Centro de Paraty. Na sexta, 1º, às 12h, Bonimond apresenta uma performance.