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WhatsApp Image 2025 09 02 at 20.17.44Foto: Divulgação/Centro AcadêmicoRenan Fernandes

Os estudantes de Medicina em Macaé paralisaram as aulas nos dias 26 e 27 de agosto. Foi a forma que encontraram de chamar a atenção da universidade para as precárias condições de ensino no curso: laboratórios defasados, falta de professores, número reduzido de preceptores e vagas nos campos práticos.
“Há três anos faltam professores das cadeiras de Infectologia e Reumatologia e, mais recentemente, de Dermatologia”, afirmou a estudante Fernanda Barbosa, do Centro Acadêmico.
O receio é deixar lacunas na formação. “Temos medo de não sairmos preparados. A gente desenvolve uma auto cobrança muito grande ao longo do curso porque sabemos que vamos lidar com situações reais de risco de morte”, revelou Fernanda.
A falta de docentes afeta, especialmente, o ciclo clínico do curso, a partir do quinto período. “No último semestre, ficamos parte do período sem aulas de Dermatologia. Depois, tivemos professores convidados, mas a cada três semanas eram professores diferentes”, revelou Cristy Helen Pedrosa, aluna do sétimo período. “Nossa avaliação foi reduzida a uma prova. A turma inteira sentiu essa defasagem no aprendizado”.
Após mais de um mês decorrido do calendário acadêmico do segundo semestre, a rotina de incerteza quanto ao cronograma das aulas continua prejudicando a formação da aluna e de seus colegas. “Ainda não tivemos aula de Reumatologia e tivemos duas aulas de Doenças Infecto Parasitárias, mas não é nada fixo”, lamentou Cristy. “A coordenação tenta fazer o que está ao alcance, mas ficam muitos buracos na nossa formação”, completou.
Marlon Pessanha, do nono período, falou sobre a rotina de ter que buscar aprender fora da universidade. “Procuramos capacitação, nos juntamos nas ligas acadêmicas, a gente tem que correr muito por fora”, disse.
O colegiado do curso apoiou a paralisação e as reivindicações. “Ouvimos os alunos e entendemos que essas demandas significam a melhoria do ensino”, disse o professor Francisco Eduardo Silva, coordenador do curso. “Esses problemas estão provocando um impacto na formação deles. Eles têm que protestar”.
Atrair interessados para o magistério é o grande desafio para o professor Joelson Rodrigues, diretor do Instituto de Ciências Médicas do Centro Multidisciplinar UFRJ Macaé. “Somos uma universidade no interior em um curso de área com mercado muito competitivo. Os salários são muito defasados, muito inferiores ao que um médico especialista recebe no serviço público ou privado”.
O concurso mais recente, de 2024, não recebeu nenhuma inscrição. “Quando temos um professor que pede exoneração por falta de interesse, a dificuldade de conseguir alguém para substituir é muito grande”, lamentou.

PRECEPTORES
A falta de estrutura e de pessoal se estende para os campos práticos. Marlon apontou os problemas que enfrenta no internato, a fase de estágios em hospitais no final do curso. “A gente não tem um hospital ou um ambulatório da UFRJ. Os preceptores são médicos da prefeitura de Macaé que nos recebem de boa vontade, sem receber a mais para fazer esse trabalho”, disse.
Muitas vezes, os estudantes ficam desconfortáveis, com medo de atrapalhar o trabalho dos médicos. “Como não estamos no nosso lugar, somos um corpo estranho. Nossos professores mesmo sugerem cautela na hora de tirar dúvidas”.
A preceptoria também acaba se tornando um problema para o sistema de saúde do município, já que os profissionais recebem uma redução de carga horária para cumprir a função. “Isso gerou um problema no sistema de saúde do município que precisa do profissional e ele está deslocado para uma atividade docente”, apontou Joelson.
Para piorar a situação, uma recente determinação da Procuradoria-Geral de Macaé restringiu ainda mais as vagas nos campos práticos. Para não deslocar médicos com contratos temporários, contratados em caráter emergencial, de suas atividades-fim, apenas médicos efetivos podem ser preceptores. “Houve uma redução grande de pessoas disponíveis para essa função. O último concurso para médico efetivo do município foi há cerca de 15 anos”, afirmou Joelson.
O diretor revelou que já houve conversas com a direção da Ebserh na tentativa de encontrar soluções. “É um processo complexo. Existe uma fila de projetos com o mesmo objetivo, mas existem algumas possibilidades como construir uma unidade aqui ou o município doar uma unidade para a universidade e a Ebserh gerir”.
Para o coordenador do curso de Medicina em Macaé, a construção de uma unidade própria da UFRJ é o caminho ideal. “Não é apenas para o curso de Medicina. Aqui temos também Enfermagem, Farmácia. Somos um centro de formação na área da saúde”, reforçou o professor Francisco Eduardo Silva.

REITORIA
O reitor Roberto Medronho também classificou as reivindicações dos estudantes como “justas”. “Estamos avaliando a contratação de professores substitutos para essas disciplinas, o que precisa ser imediato”, disse.
“Trabalhamos através de convênios com a prefeitura. Por isso, muitas vezes, ocorre esse desajuste. Vamos alinhar com a prefeitura a melhor forma de nossos alunos estarem nos campos de prática”.
Medronho defende o curso de Medicina em Macaé como elemento fundamental na interiorização do acesso aos atendimentos médicos e parte importante na negociação com a prefeitura. “A ideia de criação desse curso em Macaé foi para que os alunos formados permaneçam lá e nas arredores. Queremos fixar os médicos ali”, contou o reitor.

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