Fotos: Fernando SouzaO orgulho estampado no rosto da professora aposentada Ana Maria Rambauske foi a melhor tradução da cerimônia em comemoração aos 80 anos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e aos 200 anos do ensino de Arquitetura no Brasil, na manhã do último dia 17, no histórico edifício Jorge Machado Moreira (JMM), na Cidade Universitária. “Fui da segunda turma da faculdade aqui no Fundão, em 1963. Éramos a única unidade na ilha então, vi a UFRJ crescer ao redor e passei minha vida aqui até me aposentar há 20 anos”, disse ela, emocionada, ao lado da neta Juliana, aluna do terceiro período da FAU. “É uma dinastia que segue, isso me dá muita alegria”.
Ana Maria lembrou que a paixão pela Arquitetura e pela UFRJ a levaram direto da graduação, em 1967, para a carreira docente, depois de fazer o mestrado e o doutorado na Coppe. “Atuei também como arquiteta do ETU, planejando a ocupação da Ilha do Fundão. A Arquitetura ocupava os oito andares do JMM, sendo que no oitavo ficava o curso de Urbanismo. Voltar aqui para comemorar os 80 anos da FAU me traz muitas recordações, não só daqui, mas de todo aquele clima da universidade nos anos 1960, a ebulição cultural, o lançamento da Bossa Nova no Teatro de Arena no Palácio Universitário. É uma ligação muito forte, a gente leva para a vida inteira”, lembrou ela, representando gerações de mestres.ALEGRIA Ana Maria com a neta Juliana
Elos do passado e do futuro se juntaram nas comemorações. Diante de um auditório lotado, o reitor Roberto Medronho, que presidiu a sessão solene da Congregação da FAU em homenagem à data, anunciou um “presente” carregado de simbolismo: a reforma do painel artístico em concreto armado da fachada do JMM, criado pelo paisagista Roberto Burle Marx, um antigo sonho da comunidade da FAU. “A Arquitetura tem uma imensa contribuição na vida brasileira, inclusive na área de Saúde. Os arquitetos foram importantes nas ações saneadoras que se seguiram à gripe pelo vírus influenza, inadequadamente chamada de gripe espanhola, no início do século passado”, lembrou Medronho.
O anúncio da recuperação do painel (foto maior, no alto) de Burle Marx — que também projetou a ocupação das áreas livres da FAU, com seu jardins geométricos e seus espelhos d’água — emocionou a todos. A vice-reitora Cássia Turci resumiu esse sentimento: “Eu vejo esse auditório lotado de um amor incomensurável. Esse prédio me emocionou muito quando cheguei à UFRJ, há muitos e muitos anos, e continua me emocionando. Vida longa à FAU!”.
CAMINHOS DA HISTÓRIA
O diretor da FAU, professor Guilherme Lassance, destacou que os 80 anos têm como marco a criação da antiga Faculdade Nacional de Arquitetura (FNA), em 1945. “A faculdade passou a funcionar neste edifício a partir de 1961, um projeto de Jorge Machado Moreira e da equipe do então ETUB entre 1949 e 1961”, pontuou Lassance, que fez questão de usar na solenidade a bela medalha dos diretores da FAU, cunhada nos tempos da FNA.
A história da faculdade — e do ensino da Arquitetura no país — é contada em detalhes na exposição FAU Continuidade e no livro FAU 80—200, lançados no dia 17 como parte das comemorações. “O ensino oficial da Arquitetura no Brasil tem origem na criação da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios em 1816, embrião da futura Academia Imperial de Belas Artes, que efetivamente começou a funcionar de forma regular em 1826. Durante os primeiros anos, os professores davam aulas de forma irregular, muitas vezes em suas próprias residências, ao mesmo tempo em que realizavam projetos e obras para a Corte, enquanto se aguardava a conclusão da sede projetada pelo arquiteto francês Grandjean de Montigny. Tudo o que restou dessa sede, demolida em 1938, foi um pórtico que hoje está no Jardim Botânico do Rio de Janeiro”, destacou o diretor da FAU.
A segunda sede da já então Escola Nacional de Belas Artes (ENBA), sucessora da Academia Imperial, foi projetada por Adolpho Morales de Los Rios, também professor da escola, e inaugurada em 1908. É o prédio da Avenida Rio Branco que hoje abriga o Museu Nacional de Belas Artes. O curso de Arquitetura da ENBA deu origem à a Escola Nacional de Arquitetura em 1937, que em 1945 se tornou a FNA. Depois de um período provisório da Praia Vermelha, a faculdade chegou até a sede da Ilha do Fundão. “Esse patrimômio onde estamos, como outros da UFRJ, foram forjados por profissionais arquitetos formados por esta instituição octogenária e também bicentenária. É muita história”, disse Lassance.TECNOLOGIA Gonçalo e Medronho com escultura feita com uso de robôs no LAIDE a história da FAU continua, cada vez mais atrelada a avanços tecnológicos. Após a sessão solene da Congregação, o reitor Roberto Medronho e a vice-reitora Cássia Turci inauguraram o Laboratório Aberto de Inovação e Design (LAID), onde se destaca uma unidade robótica de última geração. “É um laboratório aberto, fruto de uma parceria entre a FAU, a EBA e a Coppe. Temos aqui um robô industrial e outro colaborativo capazes de construir protótipos em escala real”, explicou o professor Gonçalo Castro Henriques, um dos coordenadores do laboratório, que é multiusuário e integra as áreas de Design, Arquitetura, Urbanismo e Engenharia de Materiais. É a FAU desenhando seus novos passos para o futuro.