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WhatsApp Image 2021 11 19 at 17.54.36 1“A cabeça de obsidiana: Malraux diante de Picasso”, do escritor francês André Malraux (1901-1976), agora figura entre as publicações da Editora UFRJ. O lançamento da obra, realizado no início do mês (dia 4), foi marcado por reflexões sobre realidade, imaginação e estéticas. E se tornou uma emocionante homenagem ao professor Edson Rosa da Silva, responsável pela tradução, que faleceu em dezembro do ano passado.
“Edson é certamente o maior especialista brasileiro e um dos mundiais em Malraux”, destacou Marcelo Jacques de Moraes, professor titular da Faculdade de Letras e diretor da editora da universidade.
Repleto de alusões que vão da Pré-História à Modernidade, o longo ensaio de Malraux esteve sob a guarda de Edson Rosa da Silva desde 2006, sendo finalizado apenas em 2020. “O livro demorou a vir à luz. Era sempre assim com ele, tudo era demorado. Perfeccionista”, recordou Teresa Cerdeira, também professora titular da UFRJ, ensaísta e viúva de Edson.
Teresa relatou que o isolamento forçado da família, durante a pandemia, ajudou na conclusão do trabalho. “Uma vida, quando se interrompe, deixa visível o inacabado. Edson tinha muitos planos que ficaram por fazer, mas este não. Este chegou ao seu termo e agora começa a chegar ao púbico”.
Georges André Malraux (1901-1976) é reconhecido por títulos tais como Os Conquistadores (1928), A Condição Humana (1933), Museu Imaginário (1947) e As Vozes do Silêncio (1951). Em sua fase mais madura, dedicou-se a analisar o universo artístico de várias partes do mundo. A cabeça de obsidiana: Malraux diante de Picasso apresenta como pano de fundo a visita de André Malraux à viúva do artista espanhol, Jacqueline, para ajudá-la a avaliar as obras que deveriam ser destinadas ao Estado francês.
“Era uma coleção de telas, esculturas e objetos deixada com a expressa orientação de que deveria ser doada, mediante a condição de que não fossem dispersadas. Essa coleção deveria permanecer como ela foi legada por Picasso”, detalhou Érico Elias, fotógrafo, jornalista e doutorando de Artes Visuais da Unicamp, convidado para debater o ensaio.

Arte e literatura
Para o pesquisador da estadual de Campinas, a experiência com o cenário de criação do artista plástico espanhol foi decisiva para um dos conceitos-chave de Malraux: “O Museu Imaginário é pensado, em princípio, como um museu virtual que habita a memória de cada pessoa e constitui uma coleção de objetos artísticos que nos tocam ao longo de uma vida”, argumentou.
Na interpretação de Érico, Malraux utilizou Picasso como “um espelho” para confirmação da tese, ao combinar impressões e vivências pessoais com reflexões sobre a própria natureza da arte desenvolvidas pelo conceito de Museu Imaginário. Embalado por um “estilo inovador de escrita”, tornou A cabeça de obsidiana “muito mais que um simples livro de memórias”. “É um ensaio autobiográfico composto de uma apreciação crítica da obra de Picasso acerca da concepção de Museu Imaginário”, resumiu.

Literatura e arte
A beleza literária de A cabeça de obsidiana: Malraux diante de Picasso coube à professora Mônica Genelhu Fagundes. “Malraux apresenta uma descida ao inferno, porque o artista que se visita está morto”, comentou. “Embora Picasso não esteja ali, os amontoados de escultura, as pilhas de telas que ele produziu e as que compunham o seu museu imaginário e que se acumulam perturbadoramente por cômodos infindáveis, incorporam as ideias do artista espanhol. Mas também a sua perda”, acrescentou.
Mônica destacou, no lançamento do livro, uma das anotações feitas por Edson Rosa da Silva. Ele considera que Malraux dedica o ensaio a Picasso não simplesmente por admirar a obra ou o caráter revolucionário do artista, mas, “sobretudo, porque vê nela a expressão mais fiel de sua própria concepção da arte e até mesmo literatura”. Ou seja, por uma identidade entre literatura e artes plásticas.
Ex-orientanda de Edson, Mônica comentou ainda a coincidência entre os enredos do livro e da tarefa de resenhá-lo, “revisitando o antigo mestre, como Malraux diante de Picasso”. “Foi inevitável perceber a dobra”, afirmou.

Compra
O livro está à venda no site da Editora e nas lojas da Livraria da Travessa.

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