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WhatsApp Image 2023 08 28 at 20.38.37 1Foto: Fernando SouzaPor Igor Vieira

‘O que importa na vida não é quanto dinheiro temos, quantos aviões, apartamentos, mas sim as histórias que criamos”, contou o navegador e escritor Amyr Klink, sobre o que aprendeu ao viver pelo lema de “navegar é preciso”. “Espero que vocês construam uma grande história com o ‘Estaleiro Escola’”, completou, diante de uma plateia lotada e emocionada, durante aula inaugural do curso de extensão Estaleiro Escola, da universidade.
No auditório Horta Barbosa, do Centro de Tecnologia (CT), desembarcaram dois tipos de mestres, do mar e da academia: os professores da UFRJ, que vão atuar na extensão, e os pescadores, mestres nas tradições, que as transmitirão aos alunos, também presentes.
A aula inaugural aconteceu no dia 21 de agosto. Atenta, a plateia ouvia os ensinamentos de Amyr Klink, primeiro navegador a fazer a travessia do Atlântico Sul a remo, em 1984. As aventuras pelos mares o levaram a navegar também pelas letras. Hoje, aos 67 anos, Klink é autor de cinco livros e um dos palestrantes mais bem-sucedidos do país.
Amyr Klink deu uma aula com suas histórias de marinheiro. “Velejando na Antarctica, eu descobri a importância do tempo, para não morrer congelado. O tempo também é necessário para não deixar o conhecimento morrer, e essa é a missão do Estaleiro Escola”.
A fina arte de construir embarcações tradicionais o fizeram lembrar de outra boa história: “Me criticaram por não ter feito um barco moderno, e sim um tradicional, com duas proas, que mais parecia um ‘bote do litoral do Maranhão’”, relembrou Klink sobre sua travessia do Atlântico Sul. “Os projetistas da Noruega e Suécia não entendem algo óbvio para os pescadores do Ceará: além de navegar, o barco também tem que ficar parado, possibilitando a pesca. É preciso saber receber o mar”, afirmou.
A importância do saber tradicional foi, então, outra lição aprendida em alto-mar pelo navegador, que defendeu a união desses saberes com o conhecimento científico da universidade. “Embarcações aparentemente simples escondem uma sabedoria e conhecimento que às vezes não há na universidade”, disse Klink, que dividiu o palco com uma canoa de casco trincado, construída pelo Mestre Gilson, pescador da equipe de extensão.
Ao fim da palestra, Amyr Klink comentou a polêmica que atravessou os sete mares: ele não emprestou o seu barco para a própria filha fazer sua primeira travessia. “Eu teria perdido minha filha e meu barco, e eu gosto dos dois”, contou, aos risos. “Hoje, ela fez três navegações em solitário, após entender a importância de aprender com quem sabe fazer”, concluiu.
Para ele, o interesse da filha também é uma lição. “Quando fazemos algo bem feito, com entusiasmo e amor, contagiamos as pessoas ao nosso redor. Minha família não queria mais me observar da costa, e agora me acompanha nas viagens”, afirmou.
A vice-reitora Cassia Turci elogiou a trajetória do palestrante. “Não basta só o conhecimento técnico, devemos agregar outras qualidades, como empatia e entusiasmo”. Outros importantes nomes da universidade fizeram parte da mesa de abertura do curso. Entre eles, o decano do CT, Walter Suemitsu, e a pró-reitora de Extensão, Ivana Bentes.

TRADIÇÃO E ACADEMIA NAVEGAM JUNTAS

Para manter o conhecimento tradicional vivo, o projeto Baía Viva se uniu ao Núcleo Interdisciplinar para o Desenvolvimento Social (NIDES), órgão do CT, e com a Associação de Pescadores Livres de Tubiacanga (APELT), para utilizar o Hangar Naútico da universidade. No curso de extensão “Estaleiro Escola”, os pescadores, unidos aos professores da UFRJ, vão ensinar os estudantes a construir embarcações como as feitas por pescadores e ribeirinhos no Brasil.
O palestrante Amyr Klink disse que se sentiu entusiasmado ao visitar o Hangar Náutico da UFRJ, juntamente com o responsável do local, Ocione José Machado, e os professores Mauricio Oliveira, do campus de Macaé, e Felipe Addor, do NIDES, ambos coordenadores pedagógicos do projeto.
O curso de extensão recebeu uma enorme quantidade de pedidos de matrículas e esgotou rapidamente as 30 vagas oferecidas. Devido ao sucesso e à importância do curso, o NIDES já se organiza para oferecer novas turmas.

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