Foto: Fernando SouzaRenan Fernandes
Caminhos para o desenvolvimento da cultura científica e digital para aumentar o interesse e a participação de estudantes do ensino básico no ambiente escolar. Esse foi o tema do Simpósio de Pesquisa em Rede “Escolarização aberta com tecnologias digitais: aproximando currículo, escola e sociedade”, organizado pelo Laboratório de Tecnologias Cognitivas do Instituto Nutes de Educação em Ciências e Saúde no Auditório Hélio Fraga, na quarta-feira, 21. O projeto coordenado pela professora Miriam Struchiner envolve pesquisadores da UFRJ e de outras seis universidades de diferentes regiões do Brasil.
Todas as pesquisas apresentadas adotam a perspectiva da escolarização aberta. Trata-se de uma abordagem de educação que rompe com o modelo disciplinarizado e funcionalista e propõe um processo de aprendizagem que estimula a crítica, o debate e a colaboração.
O protagonismo do estudante é central para a aplicação desta abordagem. “A ideia é conseguir ampliar os conhecimentos dos alunos a partir do que lhes interessa aprender, levando as pessoas da comunidade e da universidade para conversar com eles”, disse Struchiner. “Eles são autores, estão à frente dos projetos pensando em questões que são importantes para a coletividade deles”.
A docente atua em parceria com professores da Escola Municipal Madrid, em Vila Isabel, no projeto “Web Rádio Fala, Madrid”. Andréa Rodrigues Dias, professora de história da rede municipal de educação, comentou o funcionamento da atividade que começou em 2020, durante a pandemia da Covid-19. “Os alunos decidem os temas abordados e ficam muito empolgados. Já abordaram assuntos como racismo, bullying, diversidade, o lugar da mulher na sociedade, entre outros”, explicou a professora que recebeu o prêmio Anísio Teixeira da Escola de Formação de Professores Paulo Freire.
No primeiro ano do projeto, a escolha do tema pelos alunos chamou a atenção da professora Miriam. “Achei que eles iriam escolher falar sobre a Covid, mas quiseram debater o racismo. Foi ótimo”, exaltou. O desenrolar da pandemia trouxe recortes que enriqueceram e ampliaram o debate dos estudantes. “Eles pediram para discutir o porquê de a população preta estar mais vulnerável à doença. Convidamos cientistas e professores que trabalham história e filosofia da ciência para conversar com eles”, recordou Struchiner.
A valorização do contexto em que os estudantes estão inseridos também fez parte do trabalho da professora Karine Pinheiro de Souza, do Instituto de Formação de Educadores da Universidade Federal do Cariri. Na pequena Porteiras, cidade de 15 mil habitantes no Ceará, o patrimônio cultural local passou a fazer parte do currículo escolar. “A primeira atividade na escola é abrir a janela. Trazer para a escola não apenas os saberes teóricos, mas também as vozes dos mestres das culturas e os saberes locais”.
Para a docente, o movimento de abrir a janela e observar as problemáticas do entorno é o ponto de partida para alunos da educação básica e estudantes de pedagogia envolvidos no projeto se desenvolverem como pesquisadores. “O quadripé ensino, pesquisa, extensão e cultura é fundamental para o desenvolvimento de práticas sociais”, explicou a docente.
Em Santa Catarina, o professor Marcio Vieira de Souza, do departamento de Engenharia e Gestão do Conhecimento da UFSC, destacou o trabalho em conjunto com professores da rede pública da cidade de Sombrio, a 250 km da capital Florianópolis. “Queríamos aprofundar para influenciar em políticas públicas de educação. Fizemos um trabalho de formação, mas o principal foi o resgate e valorização de ações que já eram desenvolvidas pelos professores há muito anos”, revelou Marcio. O projeto resultou em um livro digital escrito por 27 professores da cidade com a orientação dos pesquisadores da universidade.
A professora Maria Elizabeth de Almeida, da Faculdade de Educação da PUC-SP, desenvolve pesquisa em uma escola municipal localizada na Brasilândia, em São Paulo. Para a docente, a potência da colaboração entre universidade, escola e sociedade é fundamental para a formação de professores e pesquisadores. “Acho até que aprendemos mais com a escola do que a escola aprende conosco”, diz a docente. “A gente sai da escola e continua trabalhando com tudo o que vivenciou lá dentro”.