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WhatsApp Image 2020 09 14 at 08.25.061“Como você se integra à cidade?”, questionou a professora Luciana Lago, do Instituto de Planejamento Urbano e Regional, aos participantes do CineAdUFRJ do dia 9. A atividade virtual promovida pelo sindicato e pelo Grupo de Educação Multimídia da Faculdade de Letras debateu pela primeira vez o tema “direito à cidade”.
Luciana, que atua como pesquisadora da rede Observatório das Metrópoles e estuda experiências de habitações autogeridas por movimentos sociais urbanos no Brasil, destacou um dos filmes sugeridos para a sessão: “Era o Hotel Cambridge.” Produzido em 2016, o filme conta a história de refugiados recém-chegados ao Brasil dividindo um velho edifício abandonado no centro de São Paulo com um grupo de sem-tetos.
 “Olhando a diversidade cultural e as tensões em ‘Era o Hotel Cambridge’, me perguntei em que sentido esse projeto da cidade moderna tem a intenção de homogeneizar, unificar crenças e modos de vida”, afirmou.
A docente tocou assim na constatação do geógrafo britânico David Harvey que inspirou o tema do evento: “O direito à cidade está muito longe da liberdade individual de acesso a recursos urbanos: é o direito de mudar a nós mesmos pelas mudanças da cidade”. Sob a perspectiva dos movimentos minoritários, explicou Luciana, o “direito à cidade” reflete a necessidade de uma revolução urbana e social.
Para a arquiteta Carla Caffé, que participou da produção do mesmo filme, é preciso aproximar a Academia dos movimentos sociais. “Ao fazer este filme, precisamos ir para as reuniões de base do movimento para entendê-lo melhor”, relembrou Caffé, que é professora da Escola da Cidade, em São Paulo.
A discussão do direito à cidade terá uma sequência no cineclube: uma segunda sessão está marcada para o dia 23.

image processing20200725 4122 nuha24Celso FurtadoEm homenagem aos centenários da UFRJ e do economista Celso Furtado, o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) organiza a aula inaugural “O legado de Celso Furtado e os desafios do Brasil”. O evento virtual terá transmissão pela página do IFCS, no Facebook. Participam da atividade a viúva Rosa Freire D’Aguiar, diretora da Coleção Arquivos Celso Furtado e organizadora do livro “Diários Intermitentes: 1937-2002” de Celso Furtado, e o economista Paulo Nogueira Batista Jr., ex-vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS. Apresenta e coordena o evento a professora Susana de Castro, diretora do IFCS. Haverá participação especial da professora Ana Célia Castro, diretora do Colégio Brasileiro de Altos Estudos.
Acompanhe ao vivo a transmissão:
https://www.facebook.com/direcaoifcs/

WhatsApp Image 2020 09 07 at 13.17.521Homens brancos e de elite correspondiam ao perfil majoritário de professores da universidade, no seu inícioPor ocasião das comemorações dos 100 anos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, me indagaram sobre o que significava ser docente do ensino superior, nos anos 1920? O que podemos assinalar sobre a questão é que, naquele contexto, atuar como docente significava – em linhas gerais – fazer parte de um reduzido grupo de homens brancos, letrados, pertencentes, portanto, a uma elite cultural e econômica. Era fazer parte de um grupo que se distinguia pelo conhecimento acumulado, num país onde a maioria da população era analfabeta, haja vista que o regime escravista havia sido extinto há, apenas, pouco mais de três décadas.
Uma das características fortes desse grupo foi sua associação ao regime de cátedras.
No contexto brasileiro, ser professor catedrático implicava ter assegurada a vitaliciedade no cargo, o que lhes garantia uma ampla margem de poder na hierarquia que, pouco a pouco, foi se constituindo no interior das Universidades. O poder dos professores catedráticos contrastava com as condições de trabalho dos seus auxiliares, que contavam com reduzidas chances de ingressarem e galgarem estabilidade nos quadros da instituição. Essa situação perdurou até a Reforma Universitária de 1968, que extinguiu o regime de cátedras, dentre outras medidas.
Nesses cem anos, as identidades dos professores das Universidades públicas brasileiras mudaram muito.  Hoje, muitas mulheres integram o quadro docente, o que não era de se esperar no início do século XX. Gradativamente, o grupo de professores e professoras, de distintas origens sociais, foi se tornando, cada vez mais, plural e profissional. Se, em 1920, eles pareciam estar mais distantes da população, em 2020, o compromisso assumido pela grande maioria de docentes que atuam nas Universidades públicas, pelo Brasil a fora, se volta para a produção e disseminação dos conhecimentos científicos, visando a melhoria da qualidade de vida da população e a solução dos problemas de nosso tempo.

WhatsApp Image 2020 09 07 at 13.25.10Libânia Xavier
Professora Titular da Faculdade de Educação da UFRJ

WhatsApp Image 2020 09 07 at 13.37.03O belga Alberto I foi o primeiro monarca europeu a visitar a República do Brasil. A viagem, em 1920, mobilizou a sociedade carioca, que assistiu ao desfile na Avenida Rio Branco. O banquete de gala foi oferecido no Palácio do CateteA Universidade do Rio de Janeiro foi criada pelo governo do Presidente Epitácio Pessoa em 1920, durante a Primeira República. Este período da história brasileira durou de 1889 a 1930 e recebeu diversos nomes na nossa historiografia: República Velha, República do Café com Leite, República dos Coronéis, República Oligárquica. Todas estas denominações remetem para o fato de que a Primeira República foi dominada econômica e politicamente pelas oligarquias paulistas e mineiras, principalmente pela riqueza produzida pelo café de São Paulo. No entanto essa caracterização geral não dá conta da riqueza e complexidade da vida social e cultural do Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, a capital do país.
Entre o final do século XIX e as primeiras décadas do século XX a cidade do Rio de Janeiro vive um grande processo de transformação. Como apontou Flora Sussekind, a cidade, que já aparece como epicentro da vida política e cultural do país, desejava se modernizar.
“A Capital: a encenação de um Brasil que se deseja moderno, de uma população que troca seu velho figurino por sapatos e paletós obrigatórios, de uma ansiosa substituição do naif pelo puro chic”. 1
Este empenho se traduziu no projeto de urbanização e modernização levado a cabo pelo prefeito do Distrito Federal Francisco Pereira Passos, entre 1902 e 1906. Destas obras emergiu a “Cidade Maravilhosa”, que começou a definir uma identidade cultural própria. Além disso, na visão de WhatsApp Image 2020 09 07 at 13.37.02EPITÁCIO PESSOA Assinou o decreto de criação da então Universidade do Rio de Janeiro, a primeira do paísAmérico Freire, constituiu postura e relações políticas próprias, valendo-se do fato de que, como Distrito Federal, gozava de uma certa autonomia.2
Em contrapartida, como apontou José Murilo de Carvalho, a grande propriedade rural e o legado da escravidão freavam a modernização e eram obstáculos à cidadania civil e política. A urbanização evoluiu lentamente, concentrando-se em algumas capitais, especialmente Rio e São Paulo; da mesma forma, a industrialização também se concentrava nestas capitais; na época o Rio de Janeiro era a cidade mais industrializada. São Paulo e Rio tinham perfis diferentes nesse campo: no Rio havia forte presença de população negra oriunda da escravidão, em São Paulo a maioria do operariado era composta de imigrantes europeus. Mas ambos tinham, nesta época, grande influência do movimento anarquista que só será superado após a criação do Partido Comunista Brasileiro em 1922.3  
Mas, em 1920, o Rio de Janeiro era também uma capital social. Uma vida circulava pelas ruas do centro da cidade, pelas ruas do Ouvidor e Gonçalves Dias, onde se respirava um ar mundano e moderno. As famosas melindrosas do caricaturista J. Carlos são representações dessa atmosfera da cidade.  Esta mundanidade também se estendia à vida social do Palácio do Catete que, no tempo do Presidente Epitácio Pessoa, foi das mais intensas.4 O presidente ofereceu algumas grandes recepções e a mais marcante foi o banquete de gala para os reis da Bélgica.
WhatsApp Image 2020 09 07 at 13.37.031LIMA BARRETO Denunciou, em crônicas, contos e romances, as desigualdades da época. Foi o primeiro a exaltar o subúrbioMas, sobretudo o Rio foi uma capital cultural. Não apenas em 1920, mas ao longo de toda a década 20, intelectuais e artistas pensavam e interpretavam a República; expressavam e criticavam as contradições da capital. Num estudo clássico sobre história e literatura, Nicolau Sevcenko aborda a vida e a obra de dois escritores cariocas que ele considera representativos das contradições, dilemas e agruras da  Primeira Republica e, ao mesmo tempo, das maiores expressões literárias do período: Euclides da Cunha e Lima Barreto.5 Para Sevcenko estes dois escritores transformaram sua escrita em “missão”. Euclides da Cunha (1866-1909), em sua obra monumental “Os Sertões” retratou e recriou a guerra de Canudos, do sertão da Bahia, tendo acompanhado a atuação do exército republicano que destruiu o arraial de Canudos, liderado por Antonio Conselheiro. Lima Barreto (1881-1922) mulato, pobre, alcoólatra, fez de seus romances e contos uma contundente crítica à sociedade carioca da época, denunciando a desigualdade social e o racismo.
Mas, para além da literatura, a cultura popular marca os anos 20 e deixará um legado indelével na cidade e no país: o samba. Nas primeiras WhatsApp Image 2020 09 07 at 13.37.032TIA CIATA Matriarca do samba. Veio para o Rio na chamada “diáspora baiana”, aos 22 anos e influenciou decisivamente na criação do ritmo. O samba nasceu em sua casadécadas do século XX, músicos, artistas, compositores, capoeiristas reuniam-se na Pequena África, nas regiões da Gamboa, Saúde, Pedra do Sal nas casas das tias baianas, em especial na casa de Tia Ciata, onde compunham, cantavam, dançavam e tocavam samba, sempre perseguidos pela polícia.6  

1 Sussekind, Flora. As Revistas de Ano e a Invenção do Rio de Janeiro.  RJ. Nova Fronteira/FCRB, 1986, pp15

2 Freire, Américo. República, cidade e capital: o poder federal e as forças políticas do Rio de Janeiro no contexto da implantação republicana. IN Ferreira, Marieta (Org.) Rio de Janeiro: uma cidade na história. RJ, Editora FGV. 2000, PP 29

3 Carvalho, José Murilo de. Cidadania no Brasil. O longo caminho. RJ, Civilização Brasileira, 2010, pp58, 59
 
4 Lustosa, Isabel. Histórias de Presidentes. A República no Catete. RJ, Vozes, 1989, pp87
 
5 Sevcenko, Nicolau, “Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República”, Brasiliense, SP.

6 Moura, Roberto Tia Ciata e a Pequena África no Rio de Janeiro, RJ, FUNARTE, 1983

 

WhatsApp Image 2020 09 07 at 13.26.37Maria Paula Nascimento Araujo
Historiadora, professora titular do Instituto de História da UFRJ, ex-diretora da AdUFRJ

 

WhatsApp Image 2020 09 07 at 13.17.52CARLOS CHAGAS FILHO em ação num dos laboratórios da Faculdade de Medicina, que funcionava ainda na Praia VermelhaNa década de 80, a UFRJ ainda era chamada de “a Nacional”. Ser aluno da Nacional era um sonho para muitos dos que tentavam ingressar no ensino superior. Comigo não foi diferente e mesmo sem saber qual carreira seguir, a meta para esta carioca do subúrbio era ser aluna da “Nacional”. Ingressei na Universidade Federal do Rio de Janeiro ao completar 17 anos, o que acontece com muitos estudantes até os dias de hoje. Ainda em formação, ingressamos em instituições capazes de modificar as nossas vidas para sempre. Nossos anseios mudam e ao longo dos anos, nos bancos da universidade, amadurecemos e a nossa personalidade vai sendo moldada, adquirindo os contornos que levaremos para o resto da nossa existência. A universidade passou a ocupar a maior parte do meu tempo durante os últimos 38 anos. Afinal, sempre fiquei mais tempo nas instalações da UFRJ do que na minha própria casa, o que é uma prática comum entre muitos servidores e estudantes.
A UFRJ nos envolve e fascina porque nela encontramos liberdade de pensamento e possibilidade de discussões acaloradas e de altíssimo nível nas diferentes áreas do conhecimento sobre temas do passado e do presente, sem perder de vista a perspectiva do futuro. Basta estarmos abertos ao diálogo, à troca de ideias e à possibilidade de nos reinventarmos. Esse é um ambiente salutar que nos acolhe e propicia a renovação, base para a modernidade e o progresso. Como estudante, pude assistir shows e palestras de professores e cientistas renomados, inclusive conviver com prêmios Nobel que visitam a UFRJ. O que mais os seres humanos gostam de fazer do que ter a possibilidade de interagir com esta riqueza de ideias e possibilidades?
Desde os primeiros anos da faculdade, ingressei em diferentes atividades de monitoria e de iniciação científica, que pavimentaram a minha trajetória até os dias de hoje. As oportunidades que encontrei permitiram que eu pudesse escolher os caminhos a seguir. Me sinto muito grata por ter encontrado na UFRJ o alimento completo para o meu desenvolvimento como profissional médica qualificada e o solo fértil para me tornar cientista e professora engajada nas atividades de graduação, pós-graduação e extensão. Durante a trajetória acadêmica, desde muito cedo escolhi ser professora em tempo integral da UFRJ e assim continuo até hoje, exercendo esta profissão por opção. Muitos questionam a nossa dedicação ao trabalho, porque talvez não tenham a perspectiva de que a atividade laboral pode ser muito prazerosa. As atividades de produção do conhecimento e de ensino se aproximam bastante de manifestações artísticas, porque dependem de muita inspiração e são capazes de gerar emoção. Poder ensinar, pesquisar e interagir com a sociedade são tarefas extremamente recompensadoras.
Nesta centenária instituição, me tornei médica, mãe biológica de duas profissionais formadas pela UFRJ e mãe científica de vários doutores que hoje são profissionais reconhecidos. Tendo sido a primeira pessoa da minha família a obter diploma na educação superior, sou mais um dos exemplos da capacidade transformadora da nossa universidade e das oportunidades que esta instituição nos propicia.
Desde aluna de graduação pude atuar em eventos científicos dentro e fora do país, com o principal intuito de divulgar o nosso trabalho, o nome da UFRJ e do nosso Brasil. Agora, me sinto muito honrada em dirigi-la no ano do seu centenário, quando, por obra do destino, a gigante UFRJ pôde se aproximar ainda mais da sociedade neste difícil momento de enfrentamento à pandemia pelo coronavírus. Devemos seguir adiante, atendendo sempre às demandas da sociedade do conhecimento. Que esta fábrica de realizar sonhos, a UFRJ, possa continuar de forma perene a transformar as nossas vidas para melhor.

denise artigoDenise Pires de Carvalho
A professora é a primeira mulher a ocupar o cargo máximo da universidade em 100 anos

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