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Foto: Renan FernandesRenan FernandesA AdUFRJ definiu em assembleia, na quarta-feira, 2, a delegação que enviará ao 67º Conselho do Andes (Conad). O evento acontece entre os dias 26 e 28 de julho, em Belo Horizonte, no campus Nova Suíça do CEFET. A professora Mayra Goulart, presidenta da AdUFRJ, foi indicada à vaga de delegada com direito a voto. A mesa recebeu a inscrição de 13 nomes para concorrer às nove vagas de observadores.
A assembleia contou com transmissão ao vivo pelo Youtube e intérpretes de Libras para garantir a acessibilidade às pessoas com deficiência auditiva. Contudo, a participação docente foi pequena. Trinta e três professores filiados assinaram a lista de presença e apenas 31 depositaram seus votos na urna.
“Me pareceu que uma parte simplesmente desistiu do sindicato, pelo menos nesse Conad. E isso não é bom”, disse a professora Eleonora Ziller Camenietzki, da Faculdade de Letras.
Eleonora estará entre os nove observadores da delegação da AdUFRJ. Ela comemorou ter recebido votos de todos os docentes que participaram do pleito. “Fiquei muito feliz, porque acredito que o nosso caminho precisa ser sempre o de caminharmos juntos, mesmo quando as divergências parecerem intransponíveis”, celebrou.
Mayra também acredita no diálogo como instrumento para avanços nas condições de trabalho da categoria e para a recomposição orçamentária das universidades. “Espero que as fraturas causadas pelas discordâncias quanto à estratégia grevista não se sobreponham às convergências que temos acerca da necessidade de mais orçamento para as universidades públicas”, afirmou.
O tema central do Conad em 2024 é “Fortalecer o ANDES-SN na luta por orçamento público, salário e em defesa da natureza”. O impacto da greve entrará em pauta para atualizar o debate sobre conjuntura e sobre o plano de lutas do movimento docente.
Foto: Acervo Pessoal
ENTREVISTA I ANITA HANDFAS, DA REDE UNIVERSITÁRIA DE SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO
Ela aprendeu com o pai, desde cedo, que práticas colonialistas e racistas do sionismo devem ser combatidas. Hoje, a professora Anita Handfas, da Faculdade de Educação da UFRJ, usa os ensinamentos paternos para denunciar as atrocidades do governo israelense na Faixa de Gaza e para irradiar pelas universidades brasileiras uma corrente de apoio aos palestinos. Nesta entrevista, ela fala sobre os objetivos da Rede Universitária de Solidariedade ao Povo Palestino, criada há cerca de cinco meses e da qual é uma das coordenadoras nacionais.
Jornal da Adufrj - Como surgiu a Rede e quais os seus objetivos?
Anita - A Rede foi criada por um grupo de professores que perceberam a urgência em criar uma rede de solidariedade que congregasse todas as instituições de ensino superior brasileiras. É um movimento de solidariedade ao povo palestino, mas também de denúncia das ações de caráter colonialista e racista do sionismo que vêm ocorrendo há mais de 70 anos na Palestina. Como expresso em seu manifesto de criação, a rede quer fazer um chamado a toda a comunidade acadêmica para uma tomada de posição contra o “regime de apartheid e a atual política de terror praticada pelo Estado de Israel” na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. É uma rede que pretende estimular as mais diversas ações, sejam atividades culturais, debates, lançamento de livros, exibição de filmes e tantas outras que têm como objetivo demonstrar nossa indignação com o genocídio perpetrado pelo Estado de Israel e expressar toda a nossa solidariedade ao povo palestino.
Essa denúncia abarca o histórico da relação entre Israel e a Palestina?
Ao contrário do que a mídia corporativa propaga, de que essas ações recentes do exército israelense seriam uma resposta ao ataque do Hamas em 7 de outubro passado, a realidade é que o apartheid e o colonialismo existem há mais de 70 anos, desde a criação do Estado de Israel em 1948, e a história mostra como que o povo palestino tem sido privado de seus direitos básicos, de viver em paz e de exercer sua plena soberania. São décadas de sofrimento, mas também de muita luta dos palestinos pelo seu direito de viver em liberdade. A proposta da rede vem no sentido de aglutinar as universidades, estimulando a criação de comitês de solidariedade e de denúncia das condições em que vivem os palestinos.
E por que uma rede universitária?
A universidade tem como uma de suas principais vocações a de ser um espaço de desenvolvimento da crítica, da reflexão, e da tomada de posição em favor dos povos oprimidos. É na universidade que devemos ser chamados a pensar em alternativas para a solução dos problemas que afligem toda a humanidade. Um dos objetivos da rede é levar para dentro da universidade o tema da Palestina. É claro que outras instituições da sociedade podem e devem se mobilizar, e a rede vai estar sempre associada a essas iniciativas, mas afirmamos em nosso manifesto que “como professores e professoras que têm convicções críticas, democráticas e humanistas defendemos a necessidade de garantir ao povo palestino e suas lideranças o exercício do seu direito à libertação nacional e plena soberania”.
Outro objetivo da Rede é o BDS. Poderia falar mais sobre isso?
O BDS é um movimento internacional, cuja sigla significa Boicote, Desinvestimento e Sanções. É inspirado em ação semelhante da África do Sul, que também enfrentou um regime de apartheid, e visa pressionar Israel a cumprir o Direito Internacional. O país ocupa um lugar chave na fabricação de armamentos e na doutrina militar, abastecendo diversos países em contratos milionários. É o caso do Brasil. Temos como exemplo as armas usadas pela polícia nas favelas do Rio de Janeiro, em grande parte compradas do governo israelense. Na página da internet da rede fazemos um chamamento à comunidade acadêmica para se engajar no BDS, por meio de ações de rompimento de acordos de cooperação técnica que universidades brasileiras mantêm com o governo de Israel. Outra luta que buscamos levar à frente é para que o governo brasileiro rompa as relações diplomáticas com o Estado de Israel.
Como tem sido a adesão à rede?
Centenas de professores universitários de todo o Brasil já se integraram à rede. Temos iniciativas importantes que têm em comum a solidariedade aos palestinos e a denúncia do genocídio que em Gaza, assassinando até o momento mais de 37.000 pessoas. É um pesadelo para todo o povo palestino, mas também para tantos profissionais que têm sido mortos. São médicos cujo objetivo é salvar vidas; são jornalistas que querem mostrar ao mundo a barbaridade que vem ocorrendo em Gaza. A destruição dos edifícios e do patrimônio cultural é gigantesca, veja as várias universidades que foram derrubadas. É importante registrar a crescente participação dos estudantes com ações de denúncia e de BDS.
Como a rede pode mostrar a realidade dos territórios ocupados?
Nunca houve tanta visibilidade da questão palestina como agora. Ao contrário do que vinha acontecendo em outros confrontos, temos um conflito com transmissão direta. Recentemente testemunhei o depoimento de um aluno que se disse horrorizado com as imagens de crianças correndo de bombas aéreas. Esse aluno entendeu o que representa o sionismo e se colocou a favor da causa palestina. A opinião pública pode até não ter clareza da real situação, tendo em vista o papel deturpador da mídia corporativa. A rede quer fazer esse contraponto, resgatando a verdade histórica. Vamos denunciar o genocídio que vem ocorrendo em Gaza.
Como vê o movimento em universidades norte-americanas em favor da causa palestina. É uma inspiração?
Só temos que aplaudir esse movimento que veio na esteira de manifestações gigantescas na Europa. Foi um posicionamento dos professores, dos estudantes. Na Universidade de Columbia, por exemplo, foi emocionante. Muitos professores sendo presos e fazendo barreiras com seus corpos para que a polícia não atingisse os alunos acampados. É algo que aqui no Brasil ainda não alcançamos, mas vamos nos manter firmes e fazer tudo o que for possível para engajar o maior número de professores, técnicos e estudantes. Creio que as manifestações nas universidades lá de fora serviram de inspiração para alguns atos que tivemos aqui, como o acampamento dos estudantes da USP, para citar um exemplo.
Você acha que há algum foco de resistência às ações de Israel em Gaza dentro das universidades israelenses?
Participamos de uma atividade recente na Faculdade de Educação que exibiu uma entrevista com uma professora universitária israelense, Nurit Peled-Elhanan, pesquisadora da Faculdade de Letras da Universidade de Jerusalém, autora do livro “Ideologia e propaganda na Educação: a Palestina nos livros didáticos israelenses”. Ela demonstra a forma pela qual os palestinos são retratados como seres inferiores nos livros didáticos do ensino médio em Israel. Há uma estratégia didática de apagamento do povo palestino. E veja que em Israel os estudantes ingressam no Serviço Militar — meninos e meninas — assim que concluem o ensino médio. Isso nos dá a dimensão do papel decisivo que os livros didáticos exercem na formação desses jovens com relação ao desprezo ao povo palestino. Este é apenas um exemplo. Nas universidades israelenses há vozes corajosas que se posicionam contra o sionismo, ainda que sejam perseguidas.
Qual a sua visão sobre os próximos passos do conflito?
É difícil fazer previsões. Benjamin Netanyahu (primeiro-ministro de Israel) está desgastado internamente e isolado externamente. Mas quem será capaz de deter Netanyahu e sua máquina de guerra, que já fustiga o Líbano e o Irã? Teremos um conflito generalizado na região? Uma coisa é certa, o povo palestino resistirá, como tem feito há mais de 70 anos. De nossa parte, é seguir na luta contra o genocídio, contra a ideologia sionista e exigir um cessar-fogo imediato.
Os docentes da UFRJ têm se engajado na Rede?
Embora diversos professores tenham aderido ao manifesto, ainda temos muito a caminhar. É preciso replicar as ações, incorporando um número crescente de professores. Gostaria de fazer um chamamento aos meus colegas da UFRJ para que se juntem a essa luta de apoio ao povo palestino e de denúncia do caráter racista e colonialista do sionismo. Uma luta contra o apartheid, contra o genocídio que está ocorrendo em Gaza. Convido todos os colegas a conhecer a página da Rede na internet (https://universidadespelapalestina.com/), e se engajar nessa luta tão importante pela libertação e pela soberania do povo palestino.
Foto: Eline Luz/Ascom Andes-SNO Andes, o Sinasefe, a Fasubra e o Proifes assinaram na quarta-feira (27) o acordo com o governo que prevê reajustes salariais para 2025 e 2026. Fruto de longo processo de negociação, os documentos também incluem alterações nos degraus das carreiras do magistério superior, EBTT e dos técnicos-administrativos, além de transformar as primeiras classes da carreira docente em uma única classe de entrada, somando ganhos de 43% para os novos professores. Os acordos encerram a greve de mais de 60 dias de professores federais — os docentes da UFRJ não aderiram ao movimento paredista. Já os técnicos da UFRJ terminaram a greve nesta segunda, com retorno às atividades a partir de amanhã (2).
No caso da carreira docente, do ponto de vista dos ganhos salariais, o documento só se difere daquele assinado pelo Proifes, em 27 de maio, em um ponto: o reajuste previsto para maio de 2026 será antecipado para abril daquele ano. Ao documento original foram acrescentados itens não econômicos, como a revogação da Portaria 983, que versa sobre a carreira EBTT, a liberação do controle de frequência para o magistério do EBTT e a criação de grupos de trabalho para discutir reenquadramento de aposentados.
Fotos: Divulgação/NUPEMRenan FernandesDez mil quilômetros separam Macaé de Stavanger, na Noruega. As realidades tão distintas entre o tropical norte fluminense e o gélido sudoeste norueguês convergem em um ponto: a indústria petrolífera. As duas cidades possuem um tratado de cidade-irmã devido à influência do setor de petróleo e gás na economia local. Foi esse ponto de interesse em comum que chamou atenção da professora Daniela Maria Pampanin, do Departamento de Química, Biociência e Engenharia Ambiental da Universidade de Stavanger.
“Macaé e Stavanger têm uma relação forte. As duas cidades compartilham desafios em comum quanto ao desenvolvimento sustentável e à conservação ambiental, o que impulsionou esforços colaborativos e a troca de conhecimentos”, disse a professora.
Com financiamento do governo da Noruega, a docente italiana criou em 2017 o projeto NorBra (Noruega - Brasil), em parceria com a UFRJ, o Instituto Oswaldo Cruz e outras instituições norueguesas e norte-americanas.
O quarto encontro presencial do projeto reuniu em Macaé, entre os dias 24 e 29 de julho, no Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade (Nupem), pesquisadores de diferentes nacionalidades para o curso internacional “One health perspective: a key for a sustainable future” (A perspectiva de uma saúde única: a chave para um futuro sustentável, em tradução livre).
A atividade teve como objetivo principal preparar uma nova geração de estudantes com ferramentas e conhecimentos interdisciplinares para enfrentar os desafios da promoção da saúde humana integrada ao meio ambiente. “Esta parceria não apenas constrói pontes para reduzir distâncias geográficas, mas também une objetivos compartilhados, potencializando o crescimento mútuo e a inovação”, celebrou Pampanin.
O conceito de “One health, one world” fundamenta o projeto a partir da ideia de uma saúde única entre os seres humanos, os animais e o meio ambiente. A proposta de integrar diferentes áreas do conhecimento une noções dos campos de Biologia, Ciências Humanas, Ecologia, Economia, Educação, Engenharia Ambiental, Fisiologia e Saúde Pública.
“Saúde, meio ambiente e, particularmente, as doenças, tudo é interconectado, não dá para estudá-los de forma separada. O conhecimento multidisciplinar é fundamental para a compreensão de problemas complexos”, destacou o professor Rodrigo Nunes da Fonseca, ex-diretor do Nupem e um dos coordenadores do projeto.
A proposta integrativa de uma saúde única foi muito bem recebida no Nupem. Segundo Rodrigo, o instituto sempre desenvolveu pesquisas que dialogam com diferentes campos do saber. “Educação, meio ambiente e saúde são três focos da nossa unidade. A pesquisa em Biologia, Ecologia e, sobretudo, a ideia de sustentabilidade, são naturalmente multidisciplinares”, afirmou.
O projeto NorBra prevê apoio financeiro para que professores e alunos possam realizar parte de suas pesquisas nas instituições parceiras. A meta é criar uma comunidade internacional de pesquisa e criar pontes entre as infraestruturas das universidades e a biodiversidade de cada país.
Para a professora Ana Cristina Petry, coordenadora do programa de pós-graduação em Ciências Ambientais e Conservação do Nupem, o valor do intercâmbio de conhecimento é inestimável para as pesquisas. “Vai muito além do acesso aos equipamentos de ponta que existem em Stavanger ou do contato com um patrimônio biodiverso tão grande quanto o nosso”, ponderou.
A docente ressalta que a vivência das diferenças e similaridades entre os dois países é tão importante quanto o conhecimento técnico. “Muitas vezes, uma cidade pode passar no futuro o que a outra já viveu no passado e nós podemos aprender com isso”, explicou.
DESENVOLVIMENTO
Se a presença da indústria de exploração do petróleo traz impactos ambientais para as duas cidades, há também benefícios no desenvolvimento socioeconômico local que são considerados pelo projeto. A demanda por profissionais capacitados em lidar com a gestão ambiental de grandes empresas alimenta linhas de pesquisa nas universidades.
“Essas cidades têm a atenção do mundo sobre elas e acabam se tornando polos do saber. Formar pessoas nesse contexto é ótimo, porque já existe um mercado pronto para receber essas pessoas”, concluiu Petry.
A rede de contatos proporcionada pelos cursos do projeto NorBra é apontada como destaque pelos participantes. Gésily Aguiar, mestranda em Fisiologia pelo Nupem, encontrou no curso a possibilidade de novos caminhos profissionais. “Esse curso foi muito importante para mim, pude fazer laços com pessoas do outro lado do mundo, compartilhar experiências, treinar meu inglês e principalmente visualizar milhões de possibilidades”.
A estudante revelou que o ritmo das aulas ministradas durante a semana foi pesado. “Não vou mentir, foi puxado. A cabeça fervilha e o corpo também cansa, mas não me arrependo nenhum segundo de ter me inscrito”, declarou.
Já Nelly Narges Karimi participou na edição de 2019 como estudante de mestrado em Energia, Meio Ambiente e Sociedade na Universidade de Stavanger. Hoje, a líder do programa de desenvolvimento de inovação da universidade norueguesa recordou com carinho as aulas em Macaé.
“As palestras, as visitas de campo e a estrutura geral do programa foram muito bem planejadas. O curso promove várias oportunidades de contatos e aprendizagem entre pesquisadores e estudantes de diferentes países”, lembrou.
O projeto NorBra funciona em ciclos de quatro anos. O atual se encerra em 2025. A professora Daniela Maria Pampanin espera aprofundar a cooperação entre a UFRJ e a Universidade de Stavanger. “Desde o início do projeto, existe um interesse crescente em participar de programas educacionais e de intercâmbio. A minha esperança é que esta parceria se expanda, criando uma relação duradoura de excelência acadêmica, beneficiando tanto as instituições como as suas comunidades”, desejou a docente.