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ENTREVISTA I ELEONORA ZILLER, DIRETORA DA UNIVERSIDADE DA CIDADANIA

WhatsApp Image 2024 08 01 at 20.37.20 9Foto: Fernando Souza/Arquivo AdUFRJAbrir as portas da UFRJ aos movimentos sociais, construir novas pontes e renovar a vida acadêmica. Este é o papel que a Universidade da Cidadania (UC), órgão suplementar do Fórum de Ciência e Cultura, começa a retomar neste segundo semestre de 2024. Cursos, debates, podcasts e até mesmo um programa de rádio em parceria com a AdUFRJ estão no radar da diretora, professora Eleonora Ziller, que assumiu o cargo no fim do ano passado.
Eleonora está em “casa” na direção da Universidade da Cidadania. Basta conferir seu histórico na UFRJ sempre ligado às causas coletivas. Ainda como bolsista de graduação, em 1985, participou da criação da Sub-Reitoria de Desenvolvimento e Extensão. Ex-presidente do sindicato dos docentes (2019 a 2021), ex-dirigente do Sintufrj e representante dos técnicos no Consuni nos anos 90, ela ainda integrou os movimentos estudantis universitário e secundarista.
“Quando a Chris (Ruta, coordenadora do Fórum) me convidou para assumir a direção da Universidade da Cidadania, foi uma espécie de ponto de chegada desse meu compromisso que une as duas pontas: a minha participação permanente junto aos movimentos sociais, estudantil e sindical e a defesa da instituição”, explica Eleonora, que também dirigiu a Faculdade de Letras por oito anos (de 2010 a 2017).
Na entrevista a seguir, confira os planos da diretora.

Jornal da AdUFRJ - Qual a missão da Universidade da Cidadania?
Eleonora Ziller
- A Universidade da Cidadania é uma estrutura mais livre, com condições de produzir coisas novas, buscar uma população que não se vê na universidade, mas que pode se beneficiar dela, abrindo novas fronteiras para os projetos acadêmicos.

Mas alguns cursos, programas de pós e projetos de extensão já não fazem essa interação? Qual a diferença?

A UC é uma estrutura que pode ultrapassar as barreiras institucionais, com unidades e cursos ainda muito fechados em seus campos disciplinares. A gente pode produzir internamente uma interação bem mais horizontalizada. Ela segue a ideia de ser também uma porta aberta para os que tenham desejo de participar da vida universitária sem necessariamente estarem matriculados em um curso formal.
Nossa expectativa é que, tão logo retorne o segundo semestre, voltemos a promover reuniões com as entidades, movimentos e grupos que sempre participaram da UC. Será nosso movimento principal para que possamos construir uma Universidade da Cidadania cada vez mais aberta, forte e sintonizada com os desafios atuais.


O que já está sendo preparado?
No primeiro semestre, tivemos uma série de dificuldades, inclusive a deflagração da greve dos técnicos-administrativos. Mesmo assim, conseguimos retomar a produção de podcasts que havia sido suspensa. Já estamos no terceiro episódio da quinta temporada gravados pela Rádio Cidadania, disponível no Spotify ou em seu agregador de podcast favorito, um projeto que vem da gestão do professor Paulo Fontes, que esteve à frente do órgão. São vários encontros extraordinários, debatendo sempre nessa perspectiva dialógica. É uma conversa mais estendida do que será nosso programa semanal de rádio, o Faixa Cidadã, um projeto que receberá o apoio da AdUFRJ. Ele irá ao ar sempre as segundas-feiras às 10h, assim que os novos programas forem lançados pela Rádio UFRJ.

A Universidade da Cidadania também realiza cursos?
Temos o Curso de Realidade Brasileira, que acontece há mais de 20 anos em várias universidades pelo país, e é construído em parceria com os movimentos populares e sindicais. O curso oferece uma ampla base para a pensar a formação política, histórica e social de nosso país. Tivemos uma resposta excepcional, com mais de 200 inscritos. Ele acontece aos sábados pela manhã, na Faculdade Nacional de Direito. Aproveito até para agradecer publicamente à direção da FND, que abraçou a proposta.

O que mais vem por aí?
No dia 5 de agosto, vamos dar início às atividades do segundo semestre com a parceria da Federação Única dos Petroleiros em uma mesa sobre o movimento sindical, das origens da CUT (Central Única dos Trabalhadores) até hoje. O movimento sindical está num momento em que precisa recuperar sua história e que precisa ser capaz de se projetar para este futuro muito diverso, com um mundo do trabalho em transformação muito acelerada e radical. Haverá a exibição do documentário “A geração que criou a CUT”, seguida do debate (veja card abaixo).
E, no dia 17, vamos discutir o papel da cultura e da educação na organização popular com Luiz Antonio Simas (professor de história e escritor), Mauro Cordeiro (professor do Colégio Pedro II, enredista da Beija-Flor de Nilópolis e doutorando no PPGSA-UFRJ) e Rosana Fernandes (coordenadora político-pedagógica da Escola Nacional Florestan Fernandes do MST). Será uma programação no âmbito do Curso de Realidade Brasileira, sábado, às 9h. As inscrições para o curso já estão encerradas. Mas quem quiser participar apenas da mesa de debates, basta enviar um pedido de inscrição para o e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..

Por que é importante para a UFRJ ter uma estrutura como a Universidade da Cidadania?

Saímos há pouco tempo de quatro anos de um governo que fez uma campanha sistemática, violenta, de desmoralização da própria instituição universitária. Um governo negacionista. Isso tem efeitos. Precisamos urgentemente retomar um diálogo mais intenso com a sociedade. Não podemos renunciar ao papel de fortalecer a vida democrática do país.

WhatsApp Image 2024 08 02 at 16.26.22

WhatsApp Image 2024 08 01 at 20.37.20 3ASSINATURA do acordo aconteceu em reunião de 27 de junho - Foto: Eline Luz/AndesO Ministério da Educação revogou nesta quinta-feira, 1º de agosto, a Portaria 983/2020, que estabelecia o controle de frequência por ponto eletrônico e o cumprimento de carga horária mínima de 14 horas de ensino para os docentes do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT).
A ação era uma das pautas da greve que atingiu as universidades federais no primeiro semestre e era defendida pelo Andes, Sinasefe e Proifes. A medida estava prevista no acordo firmado com os sindicatos em 27 de junho, mas já havia sido acordada desde o dia 14 do mesmo mês.
Os sindicatos comemoraram a anulação. “É conquista da greve. Vamos cobrar que a elaboração do novo texto seja estabelecida o quanto antes, com a participação do nosso sindicato”, informou o Sinasefe em suas redes sociais.
“A revogação é uma conquista da categoria. Trata-se da reversão de um ataque do governo Bolsonaro e, portanto, a primeira revogação importante realizada pelo governo Lula”, publicou o Andes.
“Consideramos a revogação da portaria 983/2020 uma grande vitória do Proifes, que foi quem esteve à frente da negociação que criou a carreira EBTT em 2008 e pautou a revogação da portaria em todas as mesas de negociação que aconteceram desde a reabertura do diálogo com o governo em 2023”, afirmou o vice-presidente do Proifes, Flávio Silva.

WhatsApp Image 2024 08 01 at 20.37.20 7Fotos: Alexandre MedeirosPara alguns, um sucesso histórico. Para outros, um fracasso retumbante. Os debates do 67º Conselho do Andes (Conad), realizado no Cefet-MG, em Belo Horizonte, de 26 a 28 de julho, deixaram claras as divergências de avaliação da greve federal docente que alcançou, em seu momento de pico, 65 instituições de ensino entre 15 de abril e 3 de julho.
A diretoria do Andes e parte do Renova, coletivo de oposição, classificaram a greve como vitoriosa e atribuíram a ela as conquistas obtidas junto ao governo. Já grupos ligados ao PSTU, por exemplo, qualificaram as conquistas como “migalhas” e denunciaram o que chamaram de “servilismo” da direção do Andes e do Renova ao governo Lula.
Os grupos críticos em relação à condução da greve argumentam também que o fim do movimento foi “imposto” pela direção do sindicato nacional, sem consulta às bases. Esse argumento foi contestado pela diretoria do Andes.
Apesar das fraturas expostas, o presidente da entidade, Gustavo Seferian, vislumbrou uma convergência fundamental no 67º Conad. “Foram expressos os diferentes posicionamentos sobre a greve no seio de nossa base, com avaliações distintas acerca do desfecho da mobilização grevista. Mas é notável a opinião inconteste quanto à importância da greve e da sua força, o reconhecimento da greve como ferramenta indispensável para o conjunto de nossa categoria”, avaliou o professor da UFMG.
Na visão da presidenta da AdUFRJ, professora Mayra Goulart, a postura da direção do Andes ao longo do 67º Conad reafirmou um desapreço do grupo pela pluralidade. “Há uma reação da direção do Andes de conter as divergências sobre os momentos de entrada e saída da greve, sobre o que significou a greve. A AdUFRJ se viu novamente atacada por representar a pluralidade dentro do Andes”, disse.
“A despeito de inúmeras concordâncias que temos com a direção do sindicato nacional em relação à importância de defender a educação pública e gratuita, à necessidade de aumentar o orçamento das universidade e à valorização do professor, esse grupo enfatiza os ataques à AdUFRJ em virtude da nossa divergência em relação à estratégia de luta, como a greve, em contraponto a outras formas de mobilização”, analisou Mayra, que foi a delegada da AdUFRJ ao encontro.WhatsApp Image 2024 08 01 at 20.37.20 8PRESENTE! A delegação da AdUFRJ, composta pela delegada Mayra Goulart (agachada) e oito observadores, participou dos debates

O INIMIGO PROIFES
Se houve divergências de avaliação no quesito greve, as diversas correntes representadas no 67º Conad foram unânimes em eleger o inimigo número 1 a ser derrotado pelo Andes: o Proifes. A federação que assinou o acordo salarial com o governo em 27 de maio — antes da assinatura do Andes e do Sinasefe, que só ocorreu em 27 de junho — foi alvo de artilharia pesada do início do fim do encontro em BH.
A unanimidade em torno da necessidade de enfraquecer a entidade rival foi destacada pelo presidente do Andes. “É fundamental ressaltar o importante salto proporcionado, no âmbito da greve das federais, na ebulição das bases hoje estranguladas e constrangidas da Proifes, a federação burocrática”, afirmou.
“Esse salto suscitou uma movimentação histórica em universidades que há mais de duas décadas não construíam greve. Isso se deu no âmbito da Federal da Bahia, da Federal do Oeste da Bahia, no campus dos Malês da Unilab, nas federais de Goiás, de Santa Catarina e do Rio Grande do Norte”, comemorou Gustavo Seferian.
A artilharia não ficou só nos discursos. Após intensa discussão, com suporte da assessoria jurídica do Andes, a plenária aprovou a criação do Grupo de Trabalho de Organização Sindical das Oposições (GTO), com o objetivo de organizar a mobilização docente nas IFES nas quais a organização sindical local tenha rompido com o Andes ou tenha se constituído inicialmente sem vínculo com o sindicato nacional.
O alvo preferencial dessa iniciativa são as IFES que estão na base do Proifes, como a UFG, a UFSC e a UFRN.
O GTO apresentará, ao 43º Congresso do Andes — a ser realizado no início de 2025 em Vitória — uma proposta de resolução normatizando as relações do Andes com as oposições organizadas que “reivindicam o sindicato nacional”.
A diretoria fica autorizada a dar apoio político, jurídico e financeiro ao GTO para organizar os grupos de oposição. Até a realização do 43º Congresso, a participação em reuniões e outras atividades do GTO incluirá a participação subsidiada de até dois representantes de cada oposição organizada que reivindique o Andes como seu sindicato.
A professora Mayra Goulart vê com preocupação essa iniciativa. “A intervenção na liberdade e na autonomia de cada organização sindical nas universidades pode reduzir os espaços de ADs com posicionamentos diferentes daqueles da direção do Andes. E é preocupante também o financimento de grupos de oposição. Quem analisa o cenário político sabe bem o papel dos recursos de campanha numa eleição”.
O 67º Conad reuniu 70 delegados e 181 observadores, com a participação de 82 seções sindicais. O 68º Conad será realizado em Manaus, em 2025.

WhatsApp Image 2024 08 01 at 20.37.20Foto: Kelvin MeloNão houve deliberação na sessão especial do Conselho Universitário que decidiria o futuro dos 11 andares do edifício Ventura, um conjunto formado por duas torres corporativas de alto padrão localizado na Avenida Chile. A reunião do Consuni aconteceu na manhã 1º de agosto, mas cinco pedidos de vista interromperam o debate. Uma nova sessão está marcada para o dia 8 de agosto, às 14h.
O reitor Roberto Medronho participou remotamente da sessão e fez um apelo para que os conselheiros aprovassem a matéria. “Estar ao sabor do mercado não é nossa missão e nós não temos expertise para lidar com a especulação imobiliária”, afirmou. “Quero apelar aos conselheiros para votarem a favor do Ventura por conta das melhorias para a nossa universidade e para os nossos estudantes”.

DEBATE
A reunião começou com atraso, até atingir o quórum mínimo de 41 presentes. A exigência é regimental: sessões especiais, como as que decidem sobre patrimônio, precisam contar com dois terços dos conselheiros, ou 41 presentes. As deliberações também precisam alcançar dois terços de aprovação.
O parecer da Comissão de Desenvolvimento (CD), favorável à alienação dos andares, foi lido pela professora Libânia Xavier, já que o relator da matéria, professor Flávio Martins, não participou da sessão. Um dos argumentos a favor da venda é o alto custo despendido pela UFRJ. Só de condomínio, a universidade paga R$ 273 mil mensais. Pesa também o perfil do imóvel, que não é adequado às atividades-fim da universidade.
Ainda segundo o parecer da Comissão de Desenvolvimento, a transferência definitiva de propriedade dos imóveis só ocorrerá após a entrega das obras referentes às contrapartidas acordadas.
A bancada estudantil e parte da bancada de técnicos apresentou um parecer alternativo. No documento, eles pedem mais tempo para a discussão e solicitam que haja uma garantia de cinco anos após a conclusão das obras que serão entregues. “Não está sendo considerado o novo plano de ocupação do Centro do Rio, que pode aumentar o valor do patrimônio”, alegou a técnica Marta Batista.
“A UFRJ não é especuladora imobiliária”, rebateu o professor Carlos Frederico Leão Rocha, diretor do Instituto de Economia. “O nível de osciosidade do Ventura é bastante alto. Para termos mais ocupação, nós temos que ter um jogo de mercado que é incompatível com um ente público”, alegou Fred.
“Temos hoje a oportunidade histórica de melhorar a imagem da UFRJ diante da população, com a conclusão de uma série de obras”, pontuou o pró-reitor de Pesquisa, professor João Torres. “O debate sobre o Ventura foi amplamente consensuado na UFRJ”, afirmou. “Votar contra o Ventura é votar contra o bandejão de Macaé, contra o curso de Dança”, comparou.
Substituto do professor Vantuil Pereira, decano do CFCH, o professor Paulo César Castro informou que o Conselho do Centro foi unânime pela aprovação da alienação do Ventura. “Essa decisão do CFCH é condicionada à garantia de que a Faculdade de Educação e o CAp sejam alocados no que hoje é chamado de ‘paliteiro’”, disse o professor.
A técnica-administrativa Gilda Alvarenga criticou a condução das discussões e reclamou de falta de informações. “Nós, que estamos à margem desse processo, não nos sentimos seguros para esta decisão”. Ela decidiu, então, pedir vistas do processo. A ação gerou outros quatro pedidos de vistas de conselheiros favoráveis e contrários.
“Ser contrário a este projeto é ser contra a UFRJ”, desabafou o representante dos eméritos, professor Ricardo Medronho. Ouvido pela reportagem, ele avalia que o tema está bastante amadurecido e que a universidade tem muito a ganhar com as obras que virão a partir da alienação dos andares. “Não é possível que prefiram a universidade nesta situação de penúria”.

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