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Foto: LÉCIO A. RAMOS / FAPERJA comunidade científica do Rio de Janeiro reagiu de forma rápida e contundente à notícia da exoneração do pesquisador Jerson Lima da presidência da Faperj. Mas não bastaram os apelos, atos públicos, audiências, tuitaços e reuniões convocadas pelos cientistas. O governador Cláudio Castro publicou a troca no comando da Fundação na última quinta-feira (7). Sai o professor da UFRJ e pesquisador 1A do CNPq, reconhecido internacionalmente por suas pesquisas sobre o câncer; entra a pedagoga Caroline Alves da Costa, até então presidente da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec).
A oficialização das trocas no Diário Oficial ocorreu depois de uma reunião entre o governador Cláudio Castro e representantes da comunidade científica. Na ocasião, Castro ouviu os argumentos dos pesquisadores, se comprometeu a manter todos os editais de fomento da Faperj, mas avisou que nomearia Caroline.
No encontro, que aconteceu na tarde de quarta-feira (6), o governador informou, ainda, que irá apoiar o Projeto de Lei 4328/2024, da deputada estadual Dani Balbi (PCdoB). O texto prevê que a presidência da Faperj tenha um mandato e que a escolha passe pelo Conselho Superior da instituição. Uma lista tríplice deverá ser encaminhada ao governador, que ficará delimitado aos nomes indicados pela comunidade científica.
“É uma forma de protegermos a fundação, para que ela não se torne instrumento de acordos políticos espúrios, que em nada contribuem para o desenvolvimento científico e tecnológico do nosso estado”, declarou a autora do projeto, durante audiência pública na Alerj, na semana passada. O texto ainda depende de tramitação e aprovação na Alerj.
Caroline foi a segunda opção do secretário de Ciência e Tecnologia do estado, Anderson Moraes, do PL, para presidir a Faperj. Antes da Faetec, a pedagoga ocupou por um ano e meio a vice-presidência de Educação a Distância da Fundação Cecierj, até janeiro de 2023.
Em seu lugar, na Faetec, assume o bolsonarista Alexandre Valle, candidato do PL derrotado quatro vezes nas eleições municipais de Itaguaí. Valle não tem ensino superior, mas tinha sido a primeira indicação do secretário de C&T. A grita da comunidade científica e a rejeição do próprio compliance do governador afastaram Valle da Faperj.
“Essa é uma troca muito ruim para nós”, afirmou a professora Ligia Bahia, conselheira da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) no Rio de Janeiro. A docente defende manter a mobilização para acompanhar os próximos passos da nova presidência da instituição e também do governador. “Nós nos mobilizamos para tentar evitar uma crise, que é iminente pela distância que há entre a pessoa nomeada e o mundo da pesquisa”, explicou. “Agora deveremos acompanhar os desdobramentos dessa nomeação e a própria crise na qual se encontra o governador Cláudio Castro, ameaçado de prisão”.
Natália Trindade, diretora da Associação Nacional de Pós-Graduandos, também lamenta o descaso de Castro com os cientistas. “O governador tomou uma decisão. Nos resta seguir organizados”, disse. “Não é a primeira vez que se partidariza uma agência de fomento. Nosso papel é apresentar para toda a sociedade quem de fato tem compromisso com a ciência e quem não tem”, avaliou. “Nossa luta agora é pela aprovação da lista tríplice na Alerj, que tem maioria do governo. Eles terão uma segunda chance para mostrar se estão a favor ou contra a comunidade científica”.
A AdUFRJ participou ativamente das mobilizações em defesa da Faperj e também critica a escolha de Castro. “A diretoria da AdUFRJ lamenta que o governador tenha desconsiderado a comunidade científica do Rio de Janeiro”, declarou a professora Mayra Goulart, presidenta da seção sindical. “Os pesquisadores seguirão vigilantes para que a Fundação mantenha-se alinhada aos princípios republicanos que balizam a pesquisa e a inovação no estado”. afirmou.
O gabinete do governador e a Secretaria de Ciência e Tecnologia não retornaram às tentativas de contato da reportagem.
O professor Jerson Lima foi procurado pelo Jornal da AdUFRJ para comentar a exoneração e os planos futuros, mas preferiu se manifestar por carta. Leia a íntegra abaixo.
CARTA DE DESPEDIDA DO PROFESSOR JERSON
Chegou o momento de despedida, e gostaria de compartilhar uma mensagem detalhada sobre as experiências vividas nos últimos anos. São muitos os agradecimentos que desejo fazer, mas, diante da limitação deste espaço, expresso em poucas palavras tudo o que vivi e o quanto sou grato.
O sucesso da FAPERJ não seria possível sem a maior riqueza deste estado: seus cientistas, inovadores, criadores e empreendedores de todas as áreas — das ciências exatas à cultura —, de todos os gêneros e cores. Nos últimos cinco anos, a ciência e a inovação no estado cresceram graças a milhares desses atores, desde pesquisadores sêniores a juniores, incluindo pós-doutorandos, doutores Nota 10, dedicados pós-graduandos e alunos de iniciação científica e empreendedores.
Minha gratidão também vai aos governadores Claudio Castro e Wilson Witzel, pelo apoio e confiança depositada em mim e em minha equipe ao longo de quase seis anos, e por seguirem a determinação da constituição estadual, liberando integralmente os recursos para a Ciência, Tecnologia e Inovação. Trabalhamos arduamente — presidente, diretores, funcionários e assessores da FAPERJ —, e sempre afirmei que essa foi a decisão política mais importante do governo. A FAPERJ é uma agência de estado que deve se manter conectada às necessidades regionais. Durante esses anos, a FAPERJ alcançou destaque nacional e internacional, tornando-se a segunda maior agência estadual de fomento do país.
Agradeço também ao Deputado Dr. Serginho, com quem compartilhei a presidência sob sua Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação. Sua gestão como Secretário garantiu a autonomia necessária para que o Conselho de Diretores e o Conselho Superior conduzisse os programas das diretorias científica e tecnológica. Não posso deixar de agradecer aos demais Secretários com quem trabalhei durante esse período: Leonardo Rodrigues, que me convidou em 2018, junto com o Governador Witzel, para liderar a FAPERJ; professora Maria Isabel; João Carrillo; Mauro Azevedo; e Anderson Moraes.
Fazer da FAPERJ um expoente no fomento à ciência e à inovação no estado só foi possível graças a uma equipe excepcional de diretores, cientistas assessores, colaboradores e, principalmente, um grupo de funcionários altamente comprometidos com a missão da Fundação. A lista de agradecimentos é extensa e ocuparia muitas páginas, mas não posso deixar de mencionar os diretores Eliete, Maurício, Aquilino, Maria Cláudia, Denise e os assessores Consuelo, Vânia, Vitor, André, Caio, Egberto, Luciana, Liana, Patrícias, Claudia e Letícia. Agradeço especialmente às minhas secretárias, Maria Cláudia, Sulamita e Kátia. Em nome da Consuelo, estendo meu sincero agradecimento a todos os integrantes da Fundação. Um agradecimento especial ao Conselho Superior, que tem sido um guia para a agência, avaliando e aprovando os editais e ações da diretoria. Em nome de sua Presidente, Alice Casimiro, agradeço a todos os membros desse conselho, formado por reitores, pró-reitores, pesquisadores e empresários, que pensam a Ciência e a Inovação de forma estratégica e essencial para o desenvolvimento científico, tecnológico, econômico e social do estado e do país.
Embora seja impossível mencionar todos, destaco também as parcerias com agências federais como CNPq, FINEP, CAPES, DECIT; com o CONFAP; com agências privadas como o Instituto Serrapilheira e Ciência Pioneira, IDOR/Rede D’Or; e com diversas parcerias internacionais. Meu agradecimento especial à minha Alma Mater, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, aos membros do meu laboratório, alunos e pesquisadores, aos institutos IBqM e CENABIO e a todas as sociedades científicas das quais faço parte, incluindo a Academia Brasileira de Ciências, a Academia Nacional de Medicina e a SBPC.
Governador Claudio Castro, quando a comunidade se manifesta diante de mudanças, meu olhar de cientista e poeta vê nisso a confirmação de que a FAPERJ se tornou um patrimônio intangível, fruto dessa administração e de um trabalho inter e multidisciplinar. Esse esforço envolveu Universidades, Institutos de Pesquisa, Federações como FIRJAN e ACRJ, a ALERJ, além de várias secretarias do governo, em uma atuação discreta que alcançou tanto a excelência das nossas instituições quanto o interior do estado e as comunidades urbanas e favelas.
Concluo esta mensagem, que pretendia ser breve, desejando muito sucesso à nova Presidente Caroline Alves da Costa e aos diretores Eliete Bouskela e Mauro Azevedo, que certamente manterão a FAPERJ em sua trajetória de sucesso. Estarei sempre à disposição para colaborar como membro da comunidade científica, visando ao pleno desenvolvimento científico e tecnológico do estado e do país. Escrevi esta mensagem olhando para a foto de um dos meus Mestres, o Professor Carlos Chagas Filho — patrono da FAPERJ —, para uma homenagem recente da UENF, a Medalha Darcy Ribeiro, este que foi ex-presidente da FAPERJ, e para as centenas de mensagens eletrônicas e escritas à mão, inclusive em guardanapos de papel, enviadas por pesquisadores do estado e do Brasil.
Por fim, agradeço de forma especial à minha família — minha esposa, meus quatro filhos e meus dois netos — pelo apoio e suporte incondicionais durante essa jornada da qual tanto me orgulho.
Minha eterna gratidão a todos e todas!
Jerson
Fotos: Fernando SouzaPersonagens conhecidos e muito queridos em suas unidades, dois professores e 26 técnicos-administrativos com 50 anos de universidade foram homenageados nesta segunda (11). Todos receberam da reitoria uma medalha comemorativa pela longeva dedicação à UFRJ.
“A UFRJ não é o seu patrimônio físico. A UFRJ é feita pelos seres humanos que aqui trabalham e se dedicam no seu dia a dia”, disse o reitor Roberto Medronho. “A excelência no ensino, pesquisa, extensão e assistência em saúde é por conta do nosso trabalho”, completou.
A alegre cerimônia lotou o auditório G-122 da Coppe. A cada nome chamado para ganhar a honraria, explodiam palmas e gritos de incentivo dos amigos e familiares.
Uma das mais celebradas foi a assistente social Vânia Dias, lotada no Hospital Universitário, que recebeu a medalha acompanhada dos netinhos Antônio e Alice. “Essa medalha é tudo. A emoção me define hoje”, disse à reportagem.
Vânia chegou à UFRJ em janeiro de 1974, primeiro para trabalhar como assistente administrativa na Escola de Educação Física e Desportos. O meio século na universidade transformou sua vida e a dos familiares. “Venho de uma infância muito pobre. Sou bisneta de um casal que foi escravizado. Minha avó e minha mãe foram empregadas domésticas”, contou a hoje doutora pela Escola de Serviço Social.
GRATIDÃO
O evento de segunda-feira encerrou a programação da UFRJ em homenagem aos servidores. A pró-reitora de Pessoal, Neuza Luzia, distribuiu agradecimentos aos colegas. “As histórias que vocês escreveram, que vocês viveram, se confundem com a história da UFRJ. E muito nos orgulha expressar nossa gratidão pelos 50 anos de compromisso com nossa universidade”, afirmou.
Um compromisso tão grande que pode influenciar as próximas gerações de servidores da instituição. “Vocês são um exemplo para os que estão iniciando a carreira aqui agora”, disse a vice-reitora Cássia Turci. “Obrigada por tudo”, concluiu.
HOMENAGEADOS
Foram homenageados os professores Joaquim Inácio de Nonno (Escola de Música) e Eliana Barreto Bergter (Instituto de Microbiologia). Entre os técnicos, receberam a medalha: Celso Pereira, Cláudio Nunes Pereira e Waldir Dias de Oliveira (Instituto de Biofísica), Dilza Torres Melo de Alvim e Paulo da Costa Lima Filho (FAU), Ilton Antônio da Silva de Oliveira (IPUB), José Carlos da Silva Paz e Fátima Morgado Britto (CCS), Marcílio Lourenço de Araújo (IPPMG), Paulo César Villa Real (IQ), Sérgio Iório (Coppe), Alfredo Heleno de Oliveira (Prefeitura), Carlos Alberto Celestino e Marilene Ferreira dos Santos (PR-1), Edna do Desterro (Odontologia), Edson Jorge da Rocha (Instituto Tércio Pacitti), Francisco Carlos Santana Costa (Maternidade Escola), Laureano Soares da Silva (Museu Nacional), Luiz Carlos Batista Freitas e Vânia Dias de Oliveira (HU), Maria de Fátima Stopelli Mendes (IFCS), Paulo Cézar Rangel e Reinaldo Barros (CCMN), Ronaldo Martins (Nutes), Severino de Andrade Amorim (PR-4), e William Barbosa da Silva (Letras).
DEPOIMENTOS
Eliana
Bergter
77 anos, 52 de UFRJ
Professora do Instituto de Microbiologia
Entrei em 1972 como auxiliar de ensino. Fui fazendo a carreira, passei a titular e sou emérita desde abril deste ano. A UFRJ representa a fase mais feliz da minha vida. Esses 50 anos foram maravilhosos, porque faço tudo de que gosto: dar aula para a graduação, para a pós, fazer pesquisa. Tenho estudantes desde a iniciação científica até o pós-doutorado. O importante é estar aqui e continuar passando o que eu aprendi para meus alunos. Para os professores que estão começando, minha mensagem é que procurem fazer aquilo que vocês gostem. Vão fazer muito bem e aquilo será um exemplo para as outras pessoas.
Vânia Dias
de Oliveira
71 anos, 50 de UFRJ
Assistente social
Cheguei a esta universidade em janeiro de 1974, como assistente administrativa, na Escola de Educação Física. Em 1977, fui para o Hospital Universitário como auxiliar de documentação médica. Em julho de 1980, me graduei no Serviço Social. Em setembro de 1981, fiz prova e passei para assistente social no Hospital Universitário. Sou de uma época de uma universidade extremamente elitista, branca, herdeira do colonialismo. Foram muitos os desafios para uma menina preta trabalhar aqui dentro. Hoje, quando olho a UFRJ um pouquinho mais diversa, eu queria ter mais 50 anos para ver meus netos aqui dentro.
CORRIDA DO SERVIDOR
Parte da programação em homenagem aos servidores da UFRJ, um evento esportivo agitou a Cidade Universitária, na manhã de domingo (10). Aproximadamente 300 pessoas — incluindo público externo — se inscreveram para as provas de caminhada (2,5 km) e corrida (5 km).
Foto: Lab. de Ecofisiologia Vegetal - UFRJComeça no ano que vem um ambicioso projeto de restauração ecológica da Cidade Universitária. Uma das frentes do trabalho será recuperar as restingas típicas das ilhas originais que formaram o atual campus. Os ecossistemas foram praticamente destruídos com o aterramento do arquipélago, no início da década de 1950.
“Teremos 20 espécies sendo reintroduzidas de restingas. Imagina dar um passeio na praia no fim da tarde, com bromélias e cactos floridos, tendo ao fundo a beleza cênica que é a Baía de Guanabara”, diz a professora Dulce Mantuano (foto), do Instituto de Biologia, coordenadora da iniciativa.
Por enquanto, a equipe de professores, técnicos e estudantes realiza alguns testes. “Estamos fazendo ensaios de plantio para ver as melhores técnicas”. A ideia é restaurar a vegetação nativa em todas as praias existentes atrás do alojamento estudantil e no trecho que vai dos fundos da Educação Física até a parte da frente do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem).
As mudas virão de uma parceria com o horto municipal Carlos Toledo Rizzini. “E vamos produzir algumas aqui, as mais raras, no horto da prefeitura universitária”, completa Dulce.
Outra frente de atuação será a criação de uma área para a chamada Mata Atlântica de Baixada. “Existe uma Mata Atlântica na encosta. É o caso da Floresta da Tijuca, do Maciço da Pedra Branca. Mas a de Baixada, que possui uma flora única, está praticamente extinta”, explica Dulce. Hoje, além de alguns poucos viveiros, as espécies deste ecossistema só podem ser encontradas em remanescentes pequenos e ameaçados, no Rio. Por exemplo, na Floresta do Camboatá, em Deodoro.
Esta parte da empreitada, com a introdução de 80 espécies, ficará localizada atrás da Faculdade de Letras. “Vimos a oportunidade de criar este ponto de ocorrência para algumas espécies nativas para que elas não sumam completamente”, diz a professora.
Por último, o projeto também vai fortalecer os manguezais existentes ao longo do Canal do Cunha. “Aqui não haverá introdução de novas espécies. Queremos fazer um enriquecimento genético desses manguezais para que eles não sejam tão frágeis. Quando há chuvas fortes com ventos, o evento climático derruba as plantas mais fracas”, afirma Dulce.
A recuperação das restingas e manguezais será acompanhada pelo professor Eduardo Almeida, também do Instituto de Biologia. “Meu papel principal é acompanhar mudanças nas populações de crustáceos, principalmente caranguejos semiterrestres, como o guaiamum, o uçá e os pequenos chama-maré”, explica.
Hoje, em função da poluição da Baía de Guanabara, especialmente do lado oeste, onde fica a Cidade Universitária, há uma pequena diversidade de caranguejos. “Temos até nove espécies, mas só três ou quatro são abundantes”, diz Eduardo. A expectativa é que o projeto melhore este cenário. “O lado oeste vai continuar recebendo águas poluídas , mas, pontualmente, essas ações podem aumentar a quantidade e a diversidade de caranguejos, de praia e de mangue”, completa.
A Prefeitura Universitária é parceira da pesquisa. “Nosso horto vai abrigar as etapas da pesquisa e da escolha das espécies a serem plantadas”, afirma a coordenadora de Operações Urbano-Ambientais, Vera do Carmo. “O projeto é de grande relevância para a implantação do Plano Diretor Ambiental Paisagístico para a Cidade Universitária”, informa Beatriz Emilião, diretora da Divisão de Paisagismo.
Com financiamento da Petrobras, o projeto deve ser concluído até 2030.
Fotos: Fernando SouzaA Faculdade de Educação da UFRJ prestou uma comovente homenagem a uma de suas mais influentes docentes na tarde de sexta-feira (8). A professora Maria de Lourdes Fávero, de 88 anos, agora dá nome à sala do arquivo do Programa de Estudos e Documentação Educação e Sociedade (Proedes) da FE no campus Praia Vermelha.
Nada mais justo. A docente está diretamente ligada à história do Programa, do qual é fundadora e pesquisadora honorária. Foi ela que coordenou os trabalhos de investigação sobre os documentos da antiga Faculdade Nacional de Filosofia, a FNFi, entre 1987 e 1990, que deram origem ao Proedes. Instalado oficialmente em 1994, o programa é hoje um centro nacional de referência no campo da História da Educação.
“Não fosse a sensibilidade e o conhecimento dela, essa documentação poderia ter ido para o lixo. Ela é um exemplo para todos nós”, lembrou a professora Ana Lúcia Fernandes, ex-diretora da AdUFRJ e coordenadora do Proedes. “O Proedes surgiu pelas mãos da Lurdinha, como carinhosamente a chamamos”.
A homenagem reuniu dezenas de docentes, funcionários, dirigentes e ex-dirigentes da FE. “As pessoas que estão aqui são a história da Faculdade de Educação. Esse encontro expressa essa história, e só temos a agradecer à professora Lurdinha”, destacou a diretora da FE, Ana Paula Moura. A vice-reitora Cassia Turci ficou impressionada com a homenagem. “É muito bonito ver tanta gente reunida para homenagear alguém tão especial”. Estavam lá, entre outros, o ex-diretor da FE Marcelo Corrêa e Castro, as ex-diretoras Maria Muanis, Marlene Carvalho e Ana Maria Monteiro, e os professores Roberto Leher, ex-reitor da UFRJ, e Hélio Mattos, chefe de ganinete da reitoria.
Em seu agradecimento, a professora Lurdinha lembrou de todo o trabalho de investigação que resultou na criação do Proedes. “Classificamos cerca de 20 mil documentos, encontrados sem nenhuma conservação ou organização e com grandes falhas. Por exemplo, livros de atas de reuniões da Congregação retirados pelos militares nos IPMs realizados após o golpe de 1964 e nunca devolvidos”, recordou a docente.
Lurdinha também fez questão de saudar a memória do professor Jader Britto, falecido em setembro passado, que com ela organizou o Dicionário de Educadores no Brasil, uma obra de referência com a marca do Proedes. “Foi dele a lembrança do dicionário ser uma das propostas de Anísio Teixeira, com quem Jader trabalhou muitos anos no Inep”, disse ela.
Muito emocionada, Lurdinha inaugurou a placa com seu nome ao lado do marido Osmar, dos filhos Marcos, André e Ana Beatriz e da neta Mariana.
Criada em 1939, no âmbito da então Universidade do Brasil, a FNFi incorporou cursos da antiga Universidade do Distrito Federal e se destinou, entre outros, a preparar universitários para o magistério e realizar pesquisas em diversos campos. Com sua extinção, entre 1967 e 1968, suas atividades foram desmembradas em diferentes unidades da estrutura da UFRJ: a Escola de Comunicação, as faculdades de Educação e de Letras, e os institutos de Biologia, de Física, de Geociências, de Filosofia e Ciências Sociais, de Matemática, de Psicologia e de Química, além do Colégio de Aplicação.
Atualmente, o Proedes guarda 38 coleções e arquivos relacionados à temática da Educação. Estão lá, por exemplo, os arquivos institucionais da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação e da Universidade do Distrito Federal, além dos da FNFi. Entre as coleções temáticas, encontram-se as do Acordo MEC-USAID e os da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O acervo tem ainda coleções de educadores como Anísio Teixeira, Antonio Carneiro Leão e Darcy Ribeiro.
Durante o ano passado, as consultas ao acervo ficaram suspensas por causa de uma infestação de cupins, o que inviabilizou o manejo do mobiliário onde está depositada a maior parte da documentação do Proedes. Graças ao empenho da equipe e de obras realizadas no final de 2023, o espaço foi reaberto este ano.
Uma livraria movida por um lema: mais livros e menos farmácias. A aconchegante Casa 11 é um sebo em Laranjeiras em que o lucro não é o objetivo. Muito além de vender livros, a missão é espalhar o amor pela literatura, a promoção da cultura e de iniciativas que promovam a inclusão por meio da leitura. Aberta em 2023, a pequena livraria é mantida por 129 sócios, entre eles 29 médicos e professores da UFRJ.
A professora Ana Lucia Fernandes, da Faculdade de Educação, é uma das sócias da Casa 11. A docente destacou o papel social de valorização da cidadania que o espaço desempenha. “A livraria virou um ponto de referência no bairro, as pessoas passam por aqui, trazem os filhos. Queremos ser uma referência cultural, estreitar laços com a população e os territórios que existem aqui no entorno”, disse.
“Mais que vender livros, queremos ser um centro onde diferentes iniciativas são integradas”, defendeu a professora.
A vontade de transformar a livraria em polo cultural do bairro alcançou as vizinhas favelas Cerro Corá e Guararapes. Em parceria com o coletivo Potencializa, a Casa 11 criou o projeto Madrinha Literária, que oferece livros para as crianças que visitam a livraria. Alguns sócios também se juntaram para pagar um mediador que trabalha na única biblioteca do Guararapes.
Priscilla do Nascimento, professora da rede municipal de educação e moradora do Guararapes, é a idealizadora do Potencializa e também faz parte do coletivo Cerro Corá Moradores em Movimento. Ela comentou a primeira visita das crianças à livraria. “A livraria tem algo mágico e gerou um encantamento no olhar das crianças assim que entraram. Elas desenharam, compuseram uma música e saíram felizes com livros”.
“Essa parceria é uma forma de aproximar a favela do asfalto. Tem a ver com o direito à cidade. É uma mudança de referencial, de saída do território para explorar outros locais”, concluiu.
A livraria promove encontros de discussão e mediação de leitura. “Começamos lendo Antonio Candido sobre o direito à leitura. As pessoas devem ter direito à comida, à habitação, mas o direito à leitura também é fundamental”, explicou Ana Mallet, médica do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho e idealizadora da iniciativa. “O sebo é um espaço muito mais democrático porque os livros estão muito caros. Aqui temos livros a partir de R$ 10”.
A maior parte do acervo do sebo foi doado pela professora Carla Rodrigues, do IFCS. A livraria aceita doações, compra livros novos e tem um espaço dedicado às obras ali lançadas.
O professor aposentado do CAp Américo Freire é coautor da biografia de Frei Betto e foi convidado para uma conversa. “Fiquei contente com o convite. É um espaço fundamental para o bairro, para trocar ideias e falar de livros. O Rio está perdendo as livrarias de rua e essa iniciativa é excelente”. Ele comentou sobre a diferença entre os lançamentos em grandes livrarias e as rodas de conversa na Casa 11. “Aqui é mais intimista, é olho no olho, como um show de jazz”.
LITERATURA QUE CURA
Durante 18 anos, Ana Mallet manteve com outros 16 sócios a livraria Largo das Letras, em Santa Teresa. Após a pandemia da covid-19, a livraria fechou em 2022. Foi durante uma caminhada próximo de casa, em Laranjeiras, que a médica viu o anúncio de aluguel de uma pequena loja em uma galeria e pensou em retomar o sonho.
A Medicina e a Literatura dividem espaço no coração de Ana, que tem doutorado em Cardiologia na UFRJ e um pós-doutorado em Literatura Comparada na Uerj. A médica é coordenadora do projeto de extensão Arte na Veia, que pintou paredes do HUCFF com frases de Saramago e Conceição Evaristo. Ana crê que a literatura pode ajudar a formar médicos mais empáticos.
“Existem trabalhos que mostram que a empatia de um aluno de Medicina cai durante a formação. A gente trabalha com os colegas tentando mostrar que a literatura é importante para ampliar os horizontes, para conhecer coisas novas, para aproximar médico e paciente”.
Em pouco mais de um ano de vida, a Casa 11 já dobrou de tamanho. No entanto, os sonhos dos sócios seguem não cabendo entre as quatro paredes da livraria. Em junho, organizaram a primeira edição da Flila, a Festa Literária de Laranjeiras, que reuniu mais de 2.000 pessoas.
A professora Maria do Socorro de Carvalho, do Instituto de Microbiologia, foi uma das últimas sócias a embarcar no projeto. Conhecida pela organização, é chamada pelos colegas na Casa 11 de “superintendente Socorro”. “Crescemos muito desde a inauguração. A expansão foi uma conquista, a organização da Flila foi um trabalho enorme, mas é muito recompensador”, celebrou. “Para mim esse é um espaço terapêutico. Aqui a gente foge daquela estrutura rígida da UFRJ e tem contato com leituras e debates que vão além do nosso campo de trabalho”, explicou a docente.