O clima entre a reitoria e a diretoria do Hospital Clementino Fraga Filho azedou nos últimos meses. Os gestores se desentenderam sobre a responsabilidade quanto ao pagamento dos trabalhadores sem vínculo empregatício com a instituição, conhecidos como extraquadros. O controle das verbas com origem no Sistema Único de Saúde também virou ponto de divergência. O diretor Eduardo Côrtes solicitou formalmente arbitragem da Advocacia-Geral da União para resolver a pendência, no último dia 15.
Com 39 anos de existência, o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho está no limite. Para compreender a crise da unidade, a terceira edição da Revista da Adufrj oferece um dossiê com 34 páginas Já circula na universidade a terceira edição da Revista da Adufrj. O tema principal é o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. Um dossiê de 34 páginas destrincha, sem tabus, os problemas da unidade. Professores renomados da UFRJ contribuem para o debate com artigos de fôlego sobre temas como: pessoal, orçamento, formação e assistência. Alguns dados são alarmantes e demonstram que os problemas não são de fácil explicação. A reportagem descobriu, por exemplo, que o hospital tem mais de mil médicos para atender a apenas 260 leitos. O número reduzido de pacientes causa impactos na formação de profissionais. Não à toa, a Medicina, melhor curso do país até 2008, despencou para o sétimo lugar no ranking da Folha. Além do dossiê, há artigos sobre a Reforma do Ensino Médio e o projeto Escola sem Partido. Um ensaio fotográfico das esculturas dos campi traz beleza à revista, de 48 páginas. Outra matéria sinaliza para o futuro, com o Maglev. Todos os sindicalizados receberão em casa seus exemplares. Mas a publicação já pode ser conferida em http://bit.ly/2xXTROl.
A universidade consolidou sua excelência na avaliação quadrienal da Capes sobre os cursos de pós-graduação. Em 116 programas da instituição, 55% alcançaram as notas mais altas do sistema A universidade consolidou sua excelência na avaliação quadrienal da Capes sobre os programas de pós-graduação. Em 116 cursos da instituição, 55% alcançaram as notas mais altas do sistema, entre 5 e 7. Dezessete cravaram o conceito máximo, um a mais que no resultado anterior. Sem os 22 mestrados profissionais, o índice sobe para mais de 65%: 62 em 94. Os números finais serão divulgados em 20 de dezembro. Também entre os programas acadêmicos, 23 melhoraram o desempenho, 52 mantiveram o conceito anterior e 19 caíram. A pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa, professora Leila Rodrigues, ressaltou que o desempenho da UFRJ foi positivo, principalmente se considerados os cortes de orçamento sofridos nos últimos anos. “A mensagem fundamental é que a pós da universidade se mantém como excelente”, afirmou. Ela informou que o Conselho de Ensino para Graduados (CEPG) desta sexta-feira (22) vai discutir os resultados. A professora destacou o salto de dois níveis, de 4 para 6, do programa de Administração do Instituto Coppead, algo muito raro de acontecer. Professora do Instituto de Bioquímica Médica e pró-reitora da Pós-graduação de 2011 até 2015, Débora Foguel também fez um exame preliminar dos resultados da UFRJ. Segundo ela, houve mudanças sutis no quadro geral da universidade. Mas também considerou que este “congelamento” é bom, no contexto dos recentes cortes orçamentários. “Que ficaram mais intensos a partir de 2016. Esta avaliação talvez ainda não espelhe a situação”. Foguel viu, com orgulho, um crescimento muito importante dos programas do Centro de Ciências da Saúde. “Aqui está a excelência da área de saúde do país”, observou. Melhor do Brasil Outra boa notícia para a UFRJ foi a divulgação do ranking da Folha de S. Paulo. Pelo segundo ano consecutivo, a universidade foi eleita a melhor do país. A instituição obteve uma pontuação final de 97,42. Em segundo e terceiro lugares, ficaram a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade de São Paulo (USP) com notas 97,31 e 97,24, respectivamente.
O presidente da Academia Brasileira de Ciências conversou com a reportagem da Adufrj sobre os efeitos dos cortes do governo federal na educação, ciência e tecnologia O presidente da Academia Brasileira de Ciências, Luiz Davidovich, conversou com a reportagem da Adufrj sobre os efeitos dos cortes do governo federal na educação, ciência e tecnologia. Ele considera um equívoco a Emenda Constitucional 95, que limita os gastos sociais por 20 anos. Para o dirigente, que também é professor do Instituto de Física da UFRJ, o futuro do país está comprometido.Qual deveria ser a postura do governo federal para lidar com a crise?Luiz Davidovich A postura do governo brasileiro deveria ser a mesma adotada por outros países que pretendem ter protagonismo internacional. Suécia e China já investem 3% do Produto Interno Bruto em pesquisa e desenvolvimento. Estados Unidos, Japão e outras potências também decidiram investir em ciência. Esta é a postura dos países em épocas de crise. Por que é importante aumentar os investimentos nessa área? É a forma de superar e enfrentar a crise de maneira inteligente. Para se ter uma ideia, vamos economizar este ano R$ 15 bilhões porque não vamos precisar importar fertilizantes nitrogenados. Isto é resultado de pesquisa. Uma pesquisa da Embrapa permitiu adaptar o clima da serra brasileira para uma série de culturas diferentes. Isso é fundamental para a nossa segurança alimentar. Mas não podemos viver de glórias do passado. O investimento precisa ser constante para haver desenvolvimento. Como o senhor vê essa limitação dos gastos públicos por 20 anos? Eu sou da Física, trabalho com sistemas dinâmicos não lineares e sei que a possibilidade de prever o que vai acontecer no futuro é limitada, mas isto não foi considerado quando fizeram uma PEC por 20 anos. Essa Emenda está corrigindo o orçamento pela inflação, sem considerar aumento do PIB. Num cenário de inflação zero e aumento real do PIB, para onde vai esse superávit? O Brasil não vai poder investir? Educação, pesquisa e desenvolvimento não são gastos. São investimentos. Os cortes no orçamento do MCTIC impactam a pesquisa como um todo. Na UFRJ, esses impactos já aparecem? No laboratório do nosso grupo de Ótica Quântica, temos um laser pulsado quebrado há três anos porque não temos recursos para manutenção e conserto. Nosso doutorando precisou mudar seu tema de pesquisa por conta disso. Temos que usar equipamentos obsoletos e muita massa cinzenta para contornar os problemas. Isso nos tira da primeira linha de pesquisa e desenvolvimento mundiais. O senhor tem notícia de laboratórios que estão reduzindo as pesquisas? Muitos laboratórios estão sofrendo até com falta de material de limpeza. Além do meu laboratório, sei de laboratórios do Centro de Ciências da Saúde, que têm pesquisas relacionadas ao Zika e ao Alzheimer com muitos problemas. Dependem de insumos importados. São pesquisas na área de saúde com impacto direto na vida da população. E a perda de talentos? Conheço jovens que estão procurando sair do Brasil e isso é consequência direta desse clima no país. O governo desestimula a atuação de jovens pesquisadores. Até na Embrapa isso está acontecendo. Pós-doutores estão indo trabalhar fora porque aqui não há incentivo ao desenvolvimento e ao pensamento. Como a ABC está atuando nesse quadro de crise? Estamos atuando de várias formas. Primeiro, através da imprensa. Grandes veículos estão nos contatando por conta dessa política de cortes e das graves ameaças à pesquisa brasileira. Este é um dos meios de sensibilizar a nossa sociedade. Além disso, temos atuado no Congresso Nacional, conversando e pressionando parlamentares, porque o orçamento será votado em outubro. Esta é uma importante frente. Também temos conversado com o Executivo, mas o diálogo é muito difícil, sobretudo fora do Ministério de Ciência e Tecnologia.
Comunidade do Clementino Fraga Filho realizou uma manifestação, na manhã do dia 20. O ato ocorreu no dia seguinte ao assalto a dois médicos da unidade, em um dos estacionamentos próximos Professores, médicos, estudantes e técnicos do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho realizaram uma manifestação, na manhã do dia 20, reivindicando mais segurança para o local. O protesto ocorreu no dia seguinte a mais um episódio de violência no Fundão: o assalto a dois médicos da unidade, em um dos estacionamentos próximos. Eles foram feitos reféns por vários bandidos armados de fuzis, que roubaram os carros e pertences pessoais. Um vigilante foi rendido durante a ação. As vítimas só foram liberadas fora do campus: uma em comunidade da Maré; outra na avenida Brasil, perto da Linha Amarela. “Não podemos mais negociar nossa segurança”, afirmou Carlos Almeida, presidente da Associação de Médicos Residentes da UFRJ, que liderou o ato. “Queremos pressionar a direção do hospital e a reitoria para conseguirmos medidas concretas de proteção. Ficamos bastante transtornados com a situação do assalto”, completou. Os residentes cobram: aumento da segurança no entorno do hospital, instalação de sistema de câmeras e melhoria do sistema de identificação de funcionários e pacientes. “O que temos hoje é muito falho. Muitas pessoas sem crachá acabam transitando no hospital”, disse. Carlos explicou que nenhuma das pautas é novidade. “Já vínhamos dialogando com a direção do HU e com a reitoria, mas sempre temos a mesma resposta, de dificuldades orçamentárias”, reclamou. Ainda na campanha por mais segurança, a associação colheu nomes para um abaixo-assinado da comunidade do hospital. O documento será entregue à direção. Os residentes também indicaram uma paralisação para a próxima terça-feira (26). Pedido de reforço Em nota, a assessoria do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) disse que enviaria um novo ofício para o Secretário de Estado de Segurança, Antonio Roberto Cesário de Sá, solicitando reforço do policiamento no local, “reiterando pedido de apoio feito em fevereiro deste ano pelos mesmos motivos”. O HUCFF também fará um convite formal à reitoria, aos representantes da Prefeitura do campus e da Divisão de Segurança da Universidade Federal do Rio de Janeiro para esclarecer à comunidade as providências que estão sendo tomadas para garantir a segurança no entorno da unidade.