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Em artigo, os diretores Carlos Frederico Leão Rocha e Tatiana Roque observam que a ciência básica, fundamental para o progresso e inovação tecnológica, depende de recursos do governo em todo o mundo Ganha força o argumento de que o investimento na pesquisa em ciência e tecnologia deveria ser feito por empresas privadas. Professores e cientistas têm mostrado o impacto dos cortes no financiamento público das universidades, das agências de fomento e dos centros de pesquisa no Brasil. Jornalistas, gestores e economistas mais afinados com a defesa do enxugamento da infraestrutura pública respondem que o investimento em ciência e tecnologia deveria ser privado. Para corroborar essa tese, um dos exemplos citados é o de Israel. Ora, Israel é um país pequeno, em uma conjuntura geopolítica bastante específica e com 50% dos recursos para P&D (pesquisa e desenvolvimento) provenientes do exterior. O país atingiu um patamar de alto nível em tecnologias estimuladas pela indústria de armamentos, como aponta o Unesco Science Report de 2015. Contudo, esse mesmo relatório alerta para o fato de que o declínio nos investimentos em ciência básica em Israel, feita sobretudo nas universidades, pode ter consequências negativas para o país já que “as próximas ondas de altas tecnologias devem emanar de disciplinas que incluem biologia molecular, biotecnologia e farmacêuticos, nanotecnologia, ciências dos materiais e química, em íntima sinergia com tecnologias da informação e da comunicação.” Tais disciplinas são realizadas em laboratórios de pesquisa básica de universidades e dependem de políticas nacionais de incentivo, o que a Unesco aponta como sendo um ponto fraco de Israel. Quando falamos de investimentos em P&D, é necessário separar o P (de pesquisa) do D (de desenvolvimento). Um dos maiores desafios do Brasil é justamente como consolidar o caminho de uma etapa a outra. Os investimentos para pesquisa em ciência básica são feitos com verbas públicas, no mundo todo; há vasta literatura sobre o assunto. Já com relação às pesquisas aplicadas ao desenvolvimento de determinados produtos existe, em geral, complementaridade entre gasto governamental e recursos privados; a proporção de cada um varia de um país a outro. No caso brasileiro, o governo, em suas diferentes esferas, investia entre 0,6% e 0,7% do PIB (Produto Interno Bruto) em pesquisa e desenvolvimento (até 2014). A maior parte desses recursos era para a ciência básica, com forte participação das universidades. Esse percentual é semelhante ao investimento do governo dos EUA e, inclusive, ao de Israel. A diferença é que, no Brasil, o gasto público representava, em 2014, cerca de 50% do investimento total em P&D, ao passo que, nos EUA e em Israel, esse percentual gira em torno de 20%. No entanto, países com níveis de desenvolvimento próximos ao do Brasil mantêm a mesma relação brasileira entre investimento público e privado. A literatura especializada demonstra também que não existe inovação isolada, mas que bons resultados surgem da interação entre diferentes atores de um sistema. Nas universidades estão os saberes, as habilidades e os recursos humanos para as indústrias do futuro, que serão intensivas em conhecimento científico e tecnológico. A interação entre esse conhecimento e a indústria possibilita a produção de tecnologias de alto nível, que, por sua vez, conduzem à inovação. Isso é o que ocorre em países desenvolvidos, como mostra a experiência do Vale do Silício, nos EUA, tão conclamada pela mídia. É o encontro entre o conhecimento produzido nas universidades e os segmentos privados que abre caminhos para um novo modelo de desenvolvimento. Foi assim com inovações como o touch screen na indústria de celulares e é essa a lógica dos grandes projetos Mission Oriented nos EUA, que promovem a interação entre o Departamento de Defesa e a Indústria Armamentista, entre o National Health Service e a indústria farmacêutica, entre outros exemplos. O esforço brasileiro em ciência básica já obteve resultados impressionantes. Em vinte anos, multiplicou-se por dez o número de nossas publicações em revistas científicas, tendo mais do que triplicado o impacto científico médio dessas publicações, segundo dados da Academia Brasileira de Ciências. Essa trajetória permitiu ao país alcançar a liderança científica em áreas como doenças tropicais, pouco exploradas por outros países, mas centrais para o bem-estar da população. Esses esforços também levaram ao sucesso na produção de aviões ou na exploração de petróleo, setor em que há forte interação entre laboratórios de pesquisa e desenvolvimentos privados e públicos. No estágio atual de nossa área de P&D, pregar o investimento privado é aderir a um discurso mágico e pouco informado, que acredita na geração espontânea de investimentos privados em pesquisa. A experiência internacional contradiz essa tese. Países como Coreia, China e Estados Unidos, entre outros, mostram que o investimento público é condição necessária para o desenvolvimento, inclusive para atrair os investimentos privados. Se o Brasil quiser apostar em um novo modelo de desenvolvimento, mais afinado com as tendências de nosso tempo, não poderá abrir mão de sua estrutura pública de pesquisa. * Publicado originalmente no Nexo Jornal

O gramado em frente ao Congresso será palco de uma ação cenográfica em defesa da Ciência e do ensino superior público, no dia 9. A atividade faz parte da campanha Conhecimento Sem Cortes O gramado em frente ao Congresso Nacional será o palco de uma ação cenográfica em defesa da Ciência e das universidades, na segunda-feira, dia 9. Promovida pela campanha Conhecimento Sem Cortes, a instalação contará com cinco livros gigantes simbolizando diferentes áreas de interesse social. A proposta é derrubar os volumes em “efeito dominó”, ilustrando as consequências devastadoras para a sociedade da retirada de mais de R$ 12 bilhões destinados ao ensino superior e à pesquisa. A cifra representa as perdas nos orçamentos de universidades e institutos federais, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pesquisa de Nível Superior (Capes) e do Ministério da Ciência e Tecnologia, desde 2015. O cálculo, em tempo real, está exposto em três painéis digitais conhecidos como “tesourômetros”: um no campus da Praia Vermelha da UFRJ; outro, na Universidade Federal de Minas Gerais; e outro, na Asa Sul, em Brasília. A atividade na capital ocorre na véspera de uma audiência pública, na Câmara dos Deputados. Convocada pela Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática, a audiência do dia 10 vai discutir os impactos dos cortes já sentidos por professores e pesquisadores e as perspectivas para o orçamento de 2018, que deve ser votado pelo Congresso ainda em outubro. À tarde, será realizado um ato público no Salão Nobre da Câmara. Neste momento, serão protocoladas as mais de 82 mil assinaturas coletadas online e presencialmente pela campanha Conhecimento sem Cortes. A iniciativa, da qual a Adufrj é uma das entidades organizadoras, foi lançada em junho e mobilizou estudantes, docentes e cientistas do país inteiro.

Secretária de Desenvolvimento, Emprego e Inovação do Rio, Clarissa Garotinho afirmou que está “saindo do forno” a Lei municipal de Inovação. O objetivo é divulgar o texto no fim de outubro, durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. O anúncio foi feito em debate  realizado no Parque Tecnológico da UFRJ, no dia 4. A secretária contou que a legislação conta com mais de 50 artigos, ouvindo vários setores, mas não podia dar mais detalhes. O documento ainda vai passar pela Procuradoria do município e pela aprovação do prefeito Marcelo Crivella. Segundo ela, além do Brasil, a própria capital fluminense ocupa posições muito ruins nos rankings da área: “A lei é mais um passo para ajudar nossa cidade a empreender, a caminhar rumo à inovação”, disse. Clarissa acrescentou que o Rio possui todas as condições para avançar, “mas falta organizar nosso ambiente regulatório”. No mesmo debate, o subsecretário estadual de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Social, Augusto Raupp, assumiu compromisso público para ativar o conselho estadual de Ciência e Tecnologia até o fim do ano. O colegiado foi instituído por um decreto de 2010, mas nunca entrou em funcionamento. O fórum, que deve ter um representante das universidades federais sediadas no Rio, tem a função de assessorar a secretaria na formulação e a implementação da política estadual de desenvolvimento científico, tecnológico e da inovação. Marco Legal “sem pernas e braços” O encontro no Parque Tecnológico tinha como tema central o Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação federal. Representante da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), Raimar van den Bylaardt fez uma leitura bastante pessimista da legislação, que sofreu vetos ainda no governo de Dilma Rousseff: “Estamos na estaca zero. Cortaram os braços e as pernas da lei”, afirmou. Ele observou que a comunidade científica deve se mobilizar em torno de todos os instrumentos possíveis para obter apoio no Congresso, como as consultas públicas sobre projetos de lei, no site do Senado. Deu como exemplo o PLS 226/2016, do senador Jorge Vianna (PT-AC), que recupera o projeto original do marco legal, sem os vetos. O texto tinha apenas 26 votos favoráveis até aquela data. “Quem não grita não vai conseguir nada. Temos que usar todas as ferramentas”, concluiu. Diretor do Parque, José Carlos Pinto mostrou a importância do desafio de fazer o país inovar mais: “Quem vai bem na inovação vai bem na competitividade econômica”, disse, mostrando a correlação entre os indicadores. Ele completou: “Temos uma concentração de instituições de pesquisa na Região Metropolitana do Rio que, ouso dizer, existe em poucos lugares do mundo. Nós estamos vocacionados a fazer Ciência, Tecnologia e Inovação”.

Um ano após o incêndio que destruiu parte do oitavo andar do prédio da reitoria, a comunidade acadêmica não vê mudanças significativas no local. Paredes permanecem chamuscadas, andares inteiros continuam interditados, cursos estão sem casa. Até o fatídico 3 de outubro do incidente, o edifício Jorge Moreira Machado abrigava a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, a Escola de Belas Artes, o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, salas da administração, bibliotecas e o Museu D. João VI. Com o bloqueio dos andares superiores, 11 cursos ainda funcionam em salas improvisadas. A reitoria também se espalhou por outros espaços da universidade. Com aproximadamente 2,8 mil estudantes, a direção da EBA precisou transferir disciplinas para o Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza, para o Centro de Tecnologia e para a Letras. A vice-diretora Madalena Grimaldi explica que o objetivo era manter alguma proximidade entre as turmas para a realização das atividades acadêmicas. Apesar disso, o segundo semestre de 2016 só acabou no início deste ano. “A EBA ficou muito esfacelada”, lamenta Grimaldi. A professora aponta as dificuldades de mudança devido às especificidades do curso. Ela cita o laboratório de fotografia, que ficava no sexto andar. “Não é somente realocar para outra sala; ele depende de tanques, bancadas, equipamentos de revelação, etc”, explica. O Museu D. João VI não atingido pelas chamas, mas sofre as consequências da interdição. Localizado no sétimo andar, apresenta cupins e mofo: “Caso houvesse um investimento na parte elétrica, poderíamos energizar o museu, com ventilação adequada para manter o acervo”, aponta Carlos Terra, diretor da EBA. Madalena completa: “Já foi sugerido retirar o acervo, mas para onde iríamos?”, questiona. A reportagem não conseguiu falar com as direções da FAU e do IPPUR. Reitoria responde Com intervenções emergenciais na parte elétrica, o terceiro e o quarto pavimentos foram reabertos para aulas. Para a reforma, a UFRJ solicitou ao Ministério da Educação um montante de R$ 25,5 milhões, no ano passado. Mas afirma ter recebido apenas R$ 6,5 milhões. Por isso, “não foi possível iniciar a segunda etapa (da reparação), que inclui projetos e leiautes, reformas interiores e exteriores, e recuperação de casas de máquinas“, disse em nota. A reitoria diz que estão em andamento as licitações de obras de reparo, reforma estrutural e alvenaria, reforma da rede elétrica e da rede hidrossanitária do prédio. A perspectiva é “investir, ainda este ano, cerca de R$ 3,5 milhões”. Não há previsão de novos recursos por parte do MEC. Evento lembra incêndio Para marcar o 3 de outubro, estudantes e professores realizaram eventos e manifestações artísticas durante a semana. Hannah Luz, estudante do curso de Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social — vinculado, entre outras unidades, ao IPPUR —, participou do primeiro dia de atividades. Original de Itaguaí (RJ), ela foi duplamente afetada por incêndios em instalações da UFRJ: Hannah também morava no bloco B do alojamento, que pegou fogo no início do mês de agosto. “A universidade vai fazer cem anos em 2018 e qual o legado que vamos deixar para os próximos cem?”, questiona. As chamas começaram entre as salas 827 e 829, onde funcionava a Pró-Reitoria de Gestão e Governança (PR-6), como apontou um laudo do corpo de bombeiros liberado à época. O documento, no entanto, afirmava não ser possível apontar, “categoricamente”, a causa do acidente, devido à intensa destruição provocada.  

Não pude deixar de pensar na morte do Aloisio ao tomar conhecimento, no dia 2 de outubro – por coincidência o seguinte ao do aniversário dele – de dois acontecimentos tristes relacionados com reitores de universidades federais: o trágico falecimento do reitor da UFSC, Luiz Cancellier, e a decisão tomada pelo professor Naomar Almeida de afastar-se da reitoria da UFSB. Duas situações muito diferentes (e diferentemente danosas), mas, nem por isso, destituídas de pontos em comum. Duas ocorrências diversas e distantes daquela que, em grande medida, levou Aloisio a sair de cena, mas, nem por isso, alheias ao que com ele sucedeu. O professor Cancellier sucumbiu ao peso letal da humilhação pública provocada pela prisão, arbitrária e espetaculosa, que deu sequência a uma condenação sem julgamento visando enlamear sua dignidade pessoal e profissional. Naomar, ex-reitor da UFBA e há quatro anos à frente de um projeto universitário extremamente inovador – a meu ver, uma tentativa séria de compatibilizar inclusão social e excelência acadêmica - sucumbiu à força das tradições de particularismo e aversão à diversidade que continuam a atuar na universidade brasileira. Situações muito diferentes, é óbvio. Afetadas ambas, contudo, pelas marcas da intolerância e da dificuldade que instituições e pessoas têm, ainda hoje no Brasil, de agir sob regras democráticas. Marcas de um conservadorismo que, reanimado pela crise vigente (econômica, política, institucional, ética, etc) vem, mais uma vez, proclamar como salvação a substituição da política pelas decisões técnicas (dessa feita, as jurídicas). Propaganda enganosa cujo enredo conhecemos: de toga ou de botas, o autoritarismo se alia rapidamente ao privatismo desenfreado. Universidades públicas se tornam presas fáceis. Aloisio não tirou a própria vida nem abdicou da liderança que exercia na UFRJ. Levou-o fulminante parada cardíaca para a qual contribuíram, não tenho dúvidas, as pressões e ameaças advindas de suspeitas infundadas sobre sua integridade. Como contribuiu, de certo, a desidratação das iniciativas que deslanchou com vistas ao aprofundamento do caráter público e integrado da universidade e à elevação da qualidade de seu desempenho. “A história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. Seguindo Marx, podemos, apesar de tudo, ser otimistas. Vivenciamos, com pesar, a primeira repetição e fomos abatidos. Na próxima, porém, com risos, vamos vaiar o espetáculo. Maria Lúcia Werneck Presidente eleita da Adufrj

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