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WhatsApp Image 2022 01 21 at 19.24.54 1Divulgação/AndesReajuste linear de 19,99%, revogação do teto de gastos públicos e arquivamento da proposta de reforma administrativa. Os dirigentes sindicais das principais entidades do funcionalismo federal protocolaram as reivindicações no Ministério da Economia, na terça-feira (18). A ação marcou o início da mobilização conjunta dos servidores em 2022.
“Estamos reivindicando um reajuste de 19,99%, que corresponde às perdas com a inflação apenas do período do governo Bolsonaro. Foi um dia importante, e agora estamos esperando que o governo nos chame para negociar”, explica David Lobão, coordenador geral do Sinasefe, que reúne trabalhadores da Educação Básica, Profissional e Tecnológica. Para Lobão, o balanço do dia 18 é positivo. “Janeiro é um mês de férias, e estamos no meio de um período de recrudescimento da pandemia, então já se esperava uma manifestação menor, feita por dirigentes sindicais”, avaliou.
Se o governo não sinalizar a negociação, já há um calendário de atividades decididas pelo Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais (Fonasefe) para o primeiro trimestre do ano. “Não vamos esperar o governo de braços cruzados. Queremos fazer, dia 14 de fevereiro, no Brasil todo, a maior rodada de assembleias de bases dos servidores federais”, contou David. Segundo ele, uma plenária nacional dos servidores públicos federais será convocada para o dia 27 de janeiro.
“E vamos convocar um ato nacional em Brasília, no começo de fevereiro, para uma manifestação no STF, para que o Supremo declare inconstitucional o reajuste apenas para algumas categorias do serviço público”, explicou. Bolsonaro pretendia dar reajuste apenas para servidores da área de segurança, incluindo os policiais federais e os policiais rodoviários, mas diante do protesto das demais categorias, o presidente recuou.
“Se até o dia 14 de fevereiro o governo não iniciar um processo de negociação sério ou não atender as nossas reivindicações, nós começamos um segundo momento da campanha, que chamamos de estado de greve, até o dia 25 de fevereiro, com atos nos locais de trabalho e atos de rua nas capitais”, contou David. A ideia é buscar apoio na sociedade. Neste caso, sempre considerando o momento da pandemia. “Nós não somos negacionistas, confiamos na Ciência, então vamos ter cautela nesse momento”.
O terceiro momento da campanha seria uma greve unificada, prevista para ser deflagrada a partir de 9 de março.

GOVERNO DE RETROCESSO
Os atos da última terça contaram também com a participação do Fonacate, fórum que congrega as carreiras típicas de Estado, como os auditores fiscais. “Estamos tendo que enfrentar um governo que acabou com as mesas de negociação permanentes. Uma coisa nova para nós. É um retrocesso de 20 anos”, explicou Rudinei Marques, presidente do Fonacate. “O governo tem se especializado em atacar o funcionalismo”, concluiu. O dirigente explicou que a luta por recomposição salarial deveria ter sido feita desde o ano passado, mas ganhou prioridade o enfrentamento da proposta de reforma administrativa elaborada pelo governo, a Proposta de Emenda Constitucional 32.
Até o momento, os servidores estão vencendo esta batalha. “Terminamos 2021 com uma vitória contra a PEC 32, que perdeu forças, mas não está totalmente enterrada”, contou a professora Rivânia Moura, presidente do Andes. A dirigente ressaltou a unidade formada na luta contra a reforma administrativa, e a sua importância na campanha pela recomposição salarial. O desafio, para ela, é pensar a construção de uma greve, considerando a pandemia. “O principal é manter a nossa construção, nossa unidade e nossa luta, que foi vitoriosa em 2021, e que a gente possa apostar nesse grande instrumento para a luta dos trabalhadores e trabalhadoras no âmbito do serviço público no Brasil”, defendeu.

AVALIAÇÃO DA ADUFRJ
A professora Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ, considera o momento oportuno para a reivindicação dos reajustes salariais, diante do aprofundamento da pobreza, o que aumenta a pressão sobre o governo. “Segmentos da classe média começam a ser atingidos por essa sensação de vulnerabilidade. Isso aumenta a nossa chance de conseguir adesão, ou pelo menos solidariedade, de outras camadas, de outros segmentos sociais, não só dos servidores públicos”, explicou.
A mudança na política econômica do governo é outro ponto que pode ser explorado. “O governo deu sinalizações ambíguas em relação aos seus primeiros discursos de disciplina fiscal”. Mayra exaltou a união dos servidores, representada na articulação do Fonasefe e do Fonacate, mas afirmou ser necessário aumentar a rede de apoio às demandas do funcionalismo. “Temos que atrair o máximo de segmentos pra fazer um movimento articulado, mas mantendo a clareza nas nossas reivindicações: reajuste salarial em virtude das perdas inflacionárias”, ressaltou.
Mayra questionou a greve como instrumento de mobilização, especialmente na atual conjuntura, entre os professores. “Há outras possibilidades, como paralisações pontuais, ações nas redes e na rua. Formas que talvez sejam mais eficazes do que fechar a universidade. Quando a universidade está fechada, ela não serve como espaço de mobilização e luta. Eu acho que podemos ter mais resultado com ela aberta e os professores fazendo essa agitação”, explicou.
A docente também defendeu que o assunto seja amplamente discutido entre os colegas, em assembleia. “É do nosso interesse ouvir os professores, não só os sindicalizados, mas também os não sindicalizados, para saber o que eles pensam sobre este assunto. Cada docente tem que avaliar qual é o melhor instrumento para termos a nossa demanda atendida”.

WhatsApp Image 2022 01 21 at 19.24.55O mundo enfrenta uma nova tsunami da covid-19. O maremoto, desta vez, é provocado pela ômicron, variante que já é a dominante no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde. No Brasil, as taxas de novos casos seguem em franca expansão e só devem atingir o pico em meados de fevereiro, segundo estimativas iniciais. Nesta semana, o país registrou o maior número de novos casos em 24 horas desde o início da pandemia, há quase dois anos. Foram 205 mil do dia 18 para o dia 19 de janeiro. Um aumento de mais de 500% na média móvel dos últimos 14 dias. Apesar dos dados preocupantes, há alentos no horizonte. As hospitalizações e óbitos não explodiram na proporção vista em outras fases da pandemia. “A maioria dos internados no momento está com esquema incompleto ou é de pessoas não vacinadas. Então, viva a Ciência!”, afirma virologista Clarissa Damaso, professora do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF-UFRJ). Ela é uma das entrevistadas pelo Jornal da AdUFRJ para falar da evolução e da eficácia das vacinas. Chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Vírus do IBCCF, a docente alerta sobre o risco de não se completar o esquema vacinal contra a covid-19. “Pior que baixa cobertura vacinal, é uma cobertura vacinal parcial. Isso é mais perigoso. A chance de uma variante escapar da vacina é muito maior quando se tem uma imunização incompleta”.
O segundo entrevistado é o professor português Miguel Castanho, da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. A exemplo das terras tupiniquins, Portugal também vive um repentino aumento de pessoas infectadas, cerca de 3% de sua população, neste momento. O país ibérico tem 10,31 milhões de habitantes, dos quais 90% estão completamente imunizados contra a covid-19. “A vacinação tem protegido contra mortes. Temos agora um pequeno aumento do número de vítimas fatais, infelizmente, mas não tem comparação proporcional com o aumento do número de casos”, afirma Castanho. O pesquisador do Instituto de Medicina Molecular (IMM), no entanto, defende a fabricação de uma nova geração de imunizantes contra a doença. “Acho que já estamos atrasados no desenvolvimento de novas vacinas. Elas foram criadas para a primeira variante, que surgiu em Wuhan (China). O ideal era que as doses de reforço já fossem dadas com vacinas adaptadas às variações”, sugere. O docente já foi professor visitante do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ e desenvolve fármacos contra vírus. Confira as entrevistas.

ENTREVISTA I Clarissa Damaso
Virologista, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Vírus e docente do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho

“A vacina está protegendo da ômicron”

Docente da UFRJ defende que imunizantes têm se mostrado eficazes no combate a casos graves e hospitalizações da nova variante da covid-19

WhatsApp Image 2022 01 21 at 19.23.31Jornal da AdUFRJ - Há semelhanças e diferenças entre os vírus da gripe e da covid-19?
Clarissa Damaso - São vírus bem diferentes. O que eles têm em comum é forma de transmissão, que acontece por via respiratória. Há padrões muito parecidos sobre como se evitar o contágio, como uso de máscaras, higienização frequente das mãos, distanciamento social. De resto, eles são bem diferentes. A biologia dos vírus é bem diferente em si. Se houve algum descuido do uso de máscara, por exemplo, você pode pegar um, outro, ambos ou outros mais de 300 vírus também transmissíveis por vias respiratórias.

A cada ano temos novas vacinas contra a gripe, para combater as cepas mais circulantes. O mesmo poderá acontecer com as vacinas contra a covid-19?
A vacina contra a gripe está muito bem estabelecida, mas ainda não é a vacina com maior eficácia, quando comparada com outras que nos protegem de outros vírus. Ela tem em torno de 80% de eficácia e o alvo dela é proteger contra casos graves, hospitalizações, pneumonia. E isso ela faz muito bem. É a melhor que a gente tem, mas não é a ideal, já que não protege por mais tempo e não oferece uma proteção mais robusta. A proteção vacinal da gripe cai após seis meses da aplicação. Não é uma surpresa, essa proteção não perene já foi vista em relação a outros vírus respiratórios e é um dos motivos pelos quais precisamos de campanhas anuais. Outra questão é que o vírus da gripe muta com muita velocidade. A cada vez que ele se reproduz no nosso organismo podem acontecer erros de replicação gerando variantes diferentes. Comparar com o SARS-CoV-2 é complicado porque o vírus da gripe muta muito mais, numa velocidade muito maior. O que está acontecendo com o SARS-CoV-2 é que há muita gente infectada, temos alta circulação do vírus. Essa alta taxa de infecção e circulação propicia mais erros e alterações no genoma viral. Imagina um grupo enorme de pessoas numa casa com apenas um banheiro para se arrumar: as chances de saírem mal arrumadas, com maquiagem borrada, é muito maior. Mal comparando, é o mesmo que acontece quando há essa alta taxa de circulação do vírus. As chances de falhas nessas replicações acontecerem, num cenário de altíssimo contágio, é muito maior. E isso dá origem a novas variantes.

Então a vacina da covid-19 não precisaria ser revisada?
Até o momento, as vacinas estão protegendo a população, com maior ou menor eficácia. A ômicron é um “teste ao vivo”. A vacina está protegendo da ômicron, está freando a gravidade da ômicron. Isso é bastante claro. A maioria dos internados no momento está com esquema incompleto ou são pessoas não vacinadas. Então, viva a Ciência! No momento, a gente precisa esperar para verificar se surgirão outras variantes que escapem da vacina, principalmente em relação a casos graves e mortes.

Chegará o momento em que o SARS-CoV-2 vai parar de se modificar?
A gente acredita desde o início que esse vírus entraria em equilíbrio com os seres humanos, como aconteceu com os outros coronavírus endêmicos, causadores do resfriado comum. Acredita-se que, em algum momento da história, da evolução, eles podem ter também gerado uma doença mais grave. Mas isso a gente não tem certeza, é uma hipótese. Há um número máximo de mutações que o genoma viral pode suportar. Quando se começa a mutar muito, há perdas do que chamamos de fitness do vírus, então a adaptabilidade dele começa a ficar reduzida, o que põe em risco sua existência. No SARS-CoV-2, o maior número de mutações se concentra no gene da Proteína S (que faz a ligação com a célula humana). Quanto mais hospedeiros saudáveis o vírus conseguir infectar, mais capacidade terá de se propagar, porque as pessoas vão continuar saindo e espalhando o vírus. Então, a gente acredita que haverá esse ponto de equilíbrio em algum momento. A outra face dessa redução de modificações é o aumento da cobertura vacinal no mundo. Quanto mais gente vacinada, menor a circulação do vírus. E uma ressalva: essa não é uma doença do Rio de Janeiro, que tem 90% de vacinados. É uma doença global, é preciso alta cobertura vacinal mundial.

Países com cobertura muito baixa podem se tornar celeiros de novas variantes?
Sim, e não por culpa dos países ou de suas populações, mas por culpa do mundo. Pior que baixa cobertura vacinal é uma cobertura vacinal parcial. Isso é mais perigoso. A chance de uma variante escapar da vacina é muito maior quando se tem uma imunização incompleta. Por isso é tão importante completar o esquema vacinal.

A senhora comentou sobre vacinas para outros vírus que são muito mais eficazes. Por que algumas são eficientes e outras precisam de constante revisão?
Depende das características do vírus a ser combatido. A gente usa a vacina da febre amarela, por exemplo, desde 1938. A mesma vacina. Cada vírus tem sua peculiaridade, tanto de replicação, quanto se ele varia muito ou pouco. A vacina contra o sarampo existe desde a década de 1960 e o vírus do sarampo é o mesmo. Ele muta, mas não escapa da vacina. Dentro de uma proteína de um vírus existem regiões específicas que são alvos majoritários dos anticorpos gerados pelas vacinas. No vírus do sarampo, são cinco principais regiões que são alvos desses anticorpos. O vírus não muta nessas regiões e, portanto, não escapa da vacina, porque essas regiões são cruciais para sua replicação no homem. Se mutar, ele até escaparia do imunizante, mas não teria sucesso replicativo. Isso é muito particular, cada vírus tem um sistema. O do SARS-CoV-2 ainda está sendo conhecido.

A vacina da covid-19 é então confiável, apesar da velocidade do desenvolvimento do imunizante?
A resposta da Ciência foi muito rápida, mas há muitos fatores para isso. A tecnologia já vinha sendo estudada há muito tempo, houve muito dinheiro envolvido, uma dedicação fenomenal de pesquisadores que trabalharam – e ainda estão trabalhando – em turnos de 12hx12h. Os testes clínicos são muito caros. É preciso fazer o estudo, o experimento, esperar os resultados, então dar início a uma próxima fase. Mas com o dinheiro investido em todas as fases, esse processo foi acelerado. Outro fator é que estávamos em plena pandemia, com muitas pessoas infectadas, alta circulação do vírus. Para testar se uma vacina funciona ou não, a gente depende do vírus circulando. Por exemplo, a poliomielite não existe mais no Brasil (porque ainda vacinamos). Mas se quiséssemos criar uma nova vacina hoje, como faríamos, se não há exposição ao vírus? Sem exposição ao vírus, não há como fazer testes. É um outro ambiente. Patógenos de alta circulação gerando doenças levam a um cenário de testes muito mais facilitado. É mais fácil saber se a vacina protege ou não. Portanto, houve uma conjuntura de fatores favoráveis à vacina e um investimento anterior para que essas vacinas pudessem prosseguir agora. O estudo de vacinas usando o mRNA (RNA mensageiro) já estava em andamento, já se sabia que essa tecnologia funcionava. Hoje sabemos que as vacinas são seguras e funcionam.

ENTREVISTA I Miguel Castanho
Professor de Bioquímica da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e pesquisador do Instituto de Medicina Molecular (IMM)

“Já estamos atrasados”

Especialista em desenvolvimento de fármacos para vírus, professor fala sobre a segunda geração de imunizantes contra a covid-19

WhatsApp Image 2022 01 21 at 19.23.30Jornal da AdUFRJ - Como está a situação da covid-19 em Portugal?
Miguel Castanho – Estamos no inverno. Vírus respiratórios, como a gripe e o próprio SARS-CoV-2, são sazonais e já há tipicamente esse aumento nesta época do ano. Essas condições têm levado a um aumento acentuado da covid-19 em Portugal. Cerca de 3% da população está infectada nesse momento.

Esse novo aumento de casos tem levado a hospitais lotados e mortes, como em outras fases da pandemia?
Estamos com cerca de 95% dos indivíduos vacináveis imunizados e acima dos 90% da população total. Portanto, essa crise no número de novos infectados não tem se traduzido num proporcional aumento de casos de cuidados intensivos e número de mortes.

O senhor observa que a vacinação está salvando vidas, então.
A vacinação tem protegido contra mortes. Temos agora um pequeno aumento do número de vítimas mortais, infelizmente, mas não tem comparação proporcional com o aumento do número de casos. Eu diria que há um duplo fator. Por um lado, a vacinação. Por outro, o fato de a ômicron ter se demonstrado menos perigosa.

A ômicron é mais uma de muitas variantes que se espalharam depois que o SARS-CoV-2 foi descoberto. Estamos diante de um vírus altamente adaptável?
Eu creio que sim. Os vírus com material genético de RNA são menos estáveis, portanto muito passíveis de alterações ou mutações. Grande parte dessas alterações se dá na proteína S, que é o domínio que faz a ligação com as células humanas. O vírus tem demonstrado uma capacidade de adaptação surpreendente, sobretudo considerando que a área de interação da proteína S com as células humanas é pequena, logo com menos capacidade de acomodar mudanças. É claro que se trata de um vírus que chegou há pouco tempo aos humanos e, como sempre acontece, a margem para adaptações é muito grande até uma interação otimizada. O mais provável é que a gente veja essa velocidade de transformação diminuindo, com um aparecimento mais espaçado de novas variantes.

O trabalho de monitorar o vírus, então, não pode parar.
Precisaremos ter observatórios de acompanhamento do SARS-CoV-2 como temos para a gripe. A Espanha já informou que vai constituir um observatório de acompanhamento, o que deverá ser seguido por outros países. E, eventualmente, a OMS também poderá montar um sistema de acompanhamento para o mundo.

Com essa velocidade de adaptação, novas vacinas já deveriam ter sido desenvolvidas?
Acho que já estamos atrasados no desenvolvimento de novas gerações de vacinas. Elas foram criadas para a primeira variante, que surgiu em Wuhan (China). Outras variantes, surgidas em diversos países, já apareceram depois do desenvolvimento da vacina. Todas essas variações foram ocorrendo ao longo do tempo, com alterações na estrutura da própria proteína S, na qual se baseiam os imunizantes. Esse debate deveria ter acontecido antes das doses de reforço. O ideal era que as doses de reforço já fossem dadas com vacinas adaptadas às variações.

O fato de termos uma vacina focada ainda no vírus original pode explicar por que grande parte de pessoas vacinadas com duas ou três doses desenvolvem sintomas da doença, quando são infectadas?
Quando se desenvolvem vacinas ou medicamentos tentamos prever com precisão o seu efeito principal, local de atuação principal e segurança toxicológica básica, mas não é possível prever tudo com detalhes. Por isso os testes clínicos são feitos por fases, são altamente escrutinados e são muito morosos. Ao redirecionar o desenvolvimento de vacinas inovadoras para o combate à covid-19, havia a esperança de que as vacinas fossem eficazes para bloquear o desenvolvimento da infeção viral, ou seja, a multiplicação do vírus no infectado, tão precocemente quanto possível. Um bloqueio muito precoce da multiplicação viral impede a progressão da doença no indivíduo e o torna menos infeccioso para outras pessoas. As vacinas atuais são muito eficazes para impedir a progressão da doença desde níveis moderados até formas mais graves, mas não tão eficazes a ponto de impedir que um infectado chegue a infectar outras pessoas. Daí termos muitos vacinados desenvolvendo sintomas e participando em cadeias de transmissão. Uma vacina atualizada para a variante ômicron provavelmente teria eficácia aumentada, quer no desenvolvimento de doença moderada, quer doença grave, mas não é garantido que chegasse ao ponto de impedir por completo que um infectado se torne parte de cadeias de transmissão.

Há uma cobertura vacinal muito desigual no mundo. É possível pensar em proteção global com tantas populações sem direito à imunização?
Existem zonas do mundo onde o vírus se multiplica mais ou menos livremente, porque há baixíssima cobertura vacinal, muito poucas pessoas imunizadas. E isso acontece nos países mais pobres. Então, a probabilidade de surgir novas variantes nesses locais é maior e, inclusive, variantes para as quais a eficácia da vacina será menor. As discrepâncias de vacinas em diferentes partes do globo são absurdas do ponto de vista humanista, mas também são irracionais do ponto de vista do combate global à pandemia. Não faz sentido não garantir acesso às vacinas às populações mais carentes do mundo.

Quebrar patentes seria a solução?
Acredito que não. Fabricar vacinas não é tão simples, tão trivial. Exige recursos, infraestrutura, fábricas especializadas. Praticamente todas as fábricas com capacidade de fabricar vacinas estão a fabricá-las neste momento. Creio que isso não mudará a oferta de vacinas. Além disso, há um custo de desenvolvimento intelectual que é muito grande. A proteção da ideia, do inventor, da instituição que desenvolve um fármaco ou vacina é muito grande. Ou seja, o sistema de patentes protege a todos, desde o inventor, empresas pequenas e intermediárias até as grandes empresas. Se quebrarmos as patentes, mas criarmos um sistema alternativo, tudo bem. As patentes podem não ser o melhor dos sistemas, mas simplesmente quebrá-las é destruir um sistema sem construir outro. Sequer haverá aumento substantivo na produção de vacinas. Se quebrarmos as patentes, quem vai investir na segunda geração de vacinas? Ninguém. O que é preciso é discutir mecanismos de distribuição das vacinas existentes sem colocar em xeque as garantias da inovação.

Toda essa velocidade de transmissão da ômicron pode indicar o fim da pandemia? Ou essa é uma análise muito precipitada?
Sabemos que a pandemia irá acabar, mas não sabemos nem quando, nem a dimensão do final da pandemia. O que podemos dizer é que vai ficar cada vez mais difícil para o vírus criar novas variantes que sejam ainda mais adaptáveis. A ômicron é altamente transmissível, fica difícil para o vírus criar novas variantes mais transmissíveis que a atual. Associado a isso, temos cerca de 20% da população de Portugal que têm ou já tiveram covid-19. Também há grande percentual de pessoas vacinadas. Logo, muita gente já está imune, o que torna mais difícil que apareça variante que tenha uma ação muito efetiva contra a população. Não podemos garantir que não vá existir uma nova variante com maior capacidade de espalhamento, mas à medida que o tempo passa, vai se tornando mais improvável que aconteça.

bandeira adufrjDiretoria da AdUFRJ

A explosão simultânea de casos da variante ômicron e de influenza traz de volta um risco já vivenciado pelos brasileiros na pandemia: o colapso do sistema de saúde. A possibilidade foi admitida até mesmo pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, conhecido por suas posições retrógradas no combate ao coronavírus, mais preocupado que está em agradar ao chefe do que em honrar o juramento de Hipócrates. Na quarta-feira (12), em fórum promovido pela Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19, o ministro afirmou que a ômicron pode trazer “um novo impacto no sistema de saúde, com a perspectiva de colapso e perdas de vidas”. Esse é o tema de nossa matéria na página 3, que também aborda a escassez de testes para a covid-19 no Brasil.
Diante desse novo cenário de recrudescimento da pandemia no país, a UFRJ está planejando estratégias para o início do próximo ano letivo, previsto para abril. Como acolher os mais de 9 mil novos estudantes dos cursos de graduação? Como manter a qualidade do ensino e reforçar medidas de segurança para evitar a propagação da doença? E como planejar tudo isso com recursos escassos para adaptar até mesmo seus espaços físicos? Essas e outras questões são analisadas pelas decanias dos centros da universidade em nossa reportagem às páginas 4 e 5. Ao que tudo indica, o ensino híbrido deverá ser a realidade em 2022.
Mesmo com o novo avanço da pandemia, o ano também deverá ser de mobilização para os servidores públicos federais diante de pautas como a reforma administrativa (PEC 32) e o reajuste salarial do funcionalismo — há setores com os salários congelados há cinco anos. Na quarta-feira (12), o Andes promoveu um encontro com representantes de associações docentes das instituições federais de ensino superior para começar a debater uma possível greve nacional unificada dos servidores públicos este ano. A AdUFRJ esteve presente ao encontro, considera prioritária a questão salarial e convocará uma assembleia — com a participação aberta a não filiados — até o dia 11 de fevereiro para aprofundar a discussão e debater uma pauta específica de reivindicações para a área de Educação. A convocação de uma rodada de assembleias foi um dos consensos da reunião, tema de nossa matéria da página 6.
A mobilização já começa agora. A próxima terça-feira (18) será um dia nacional de luta para os servidores públicos. A AdUFRJ vai participar dessa corrente por meio de seus veículos de comunicação e de suas redes sociais, incentivando amplamente o debate na sua base. O movimento ganhou força com a decisão do presidente Jair Bolsonaro de conceder reajuste salarial apenas para poucas categorias da área de segurança, uma de suas bases de apoio. No orçamento deste ano, ainda não sancionado, há previsão de R$ 1,7 bilhão que seria destinado ao reajuste de policiais federais, policiais rodoviários federais e carreiras do Departamento Penitenciário Nacional e do Ministério da Justiça.
Esta edição também dedica espaço, na página 7, a uma justa e sincera homenagem ao professor Ricardo Bicca de Alencastro, falecido pouco antes do Natal, e que deixou uma legião de admiradores por onde passou. Na página 8, a coluna Equilíbrio, assinada pela professora Mayra Goulart, sugere que o ano que se inicia é um momento propício para renovar propósitos por meio da técnica sankalpa. Que tal experimentar?
Boa leitura!

imagem materiaMédicos e profissionais de enfermagem atendem doentes de coronavírus em hospital de campanha em Manaus - Foto: Ingrid Anne/Fotos PúblicasNas últimas semanas, a escalada de casos da variante ômicron reacendeu todos os alertas de especialistas em saúde pública comprometidos com a vida e com a Ciência. O Brasil agora se vê diante do desafio de enfrentar uma variante com uma capacidade de transmissão altíssima e que já é dominante no país. A questão central é como lidar com essa nova variante no meio de um apagão de dados do Ministério da Saúde e sob o risco de o país ficar sem testes para a detecção da doença (leia matéria abaixo), e com o número de casos e de internações pressionando o sistema de saúde.
Na quinta-feira (13), o Observatório Covid-19 Fiocruz divulgou uma nota técnica alertando para o aumento da ocupação de leitos de UTI no SUS. Segundo o documento, o estado de Pernambuco e as cidades de Recife, Fortaleza, Belo Horizonte e Goiânia já estão operando com mais de 80% dos leitos ocupados (o caso mais grave é de Goiânia, onde a ocupação chega a 94%). Segundo a nota, os estados do Pará, Tocantins, Piauí, Ceará, Bahia, Espírito Santo, Goiás e Distrito Federal estão na faixa considerada de alerta médio. No Rio de Janeiro, a ocupação é de 12%.
“Estamos vendo alguns sinais, vindos de alguns estados e capitais, que podem servir de alerta para o resto do país”, explicou o pesquisador da Fiocruz Christovam Barcellos, um dos coordenadores do Observatório Covid-19. Ele pegou o exemplo do Rio de Janeiro. A taxa de positividade no município aumentou de 13% para 44%, ou seja, a cada 100 pessoas que fizeram o teste, 44 foram diagnosticadas com a doença. Em apenas um dia, a última terça-feira (11), a cidade registrou 10.489 novas infecções, mais do que o que foi registrado durante todo o mês de dezembro. O número de testes para covid-19 também cresceu 199% na primeira semana de janeiro em comparação com a última de 2021, passando de 21.023 para 62.923 novos exames. “O Rio está com uma positividade muito grande. Mas, infelizmente, nós temos hoje acesso a poucos dados, como os de internação, de que precisaríamos para ter um quadro mais detalhado da pandemia”, alertou Christovam.
Em 10 de dezembro, o Ministério da Saúde sofreu ataque cibernético que deixou fora do ar os sistemas de informações de notificação de casos, internações e mortes, além dos dados de vacinação. Desde então, os dados de testagens, casos e mortes por covid-19 estão defasados na plataforma do ministério, ou não são confiáveis. “A falta de dados atrapalha o planejamento dos governos. Como decidir se vai haver Carnaval ou sobre a volta às aulas presenciais sem dados?”, questionou o pesquisador da Fiocruz. E em um cenário como o brasileiro, onde não há uma política coordenada de combate à pandemia, a falta de informações atrapalha também decisões individuais, observou Christovam. “Como a pessoa vai poder decidir se é seguro ou não ir ao médico, ou mandar o filho para a escola?”.

RISCO DE COLAPSO
DO SISTEMA DE SAÚDE
A variante ômicron pode ser o vírus de mais rápida propagação já registrado pela Medicina, e isso coloca no horizonte enormes desafios. Mesmo considerando a taxa satisfatória de vacinação brasileira e a aparente menor agressividade da cepa, o número de contaminados pode chegar a uma proporção que colapse o sistema de saúde. A previsão foi feita por cientistas que têm atuado com seriedade no combate à pandemia, como a médica intensivista e professora da USP Ludmila Hajjar, para quem o colapso é iminente. Até o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que tem apoiado o negacionismo do presidente Bolsonaro, admitiu em entrevista que a variante pode gerar “um novo impacto no sistema de saúde com a perspectiva de colapso e perdas de vidas”.
Para a professora da UFRJ Ligia Bahia, especialista em saúde pública, o sistema público no Rio de Janeiro está, até o momento, respondendo bem à pressão gerada pela ômicron. “O sistema está conseguindo testar, internar, não estamos mais vendo pessoas esperando por internações”, disse. Mas se for mantida essa escalada de novos casos, o cenário pode mudar. “Já estamos vendo o sistema privado colapsar, especialmente nas testagens. Então esse equilíbrio entre os sistemas público e privado pode ficar ameaçado”, explicou Ligia. Para ela, é fundamental fazer a vigilância genômica da pandemia, daí a importância dos testes. “É importante saber quais são os vírus que estão circulando. Então é preciso continuar testando e fazendo essa ação de vigilância genômica para saber quais vírus estão prevalentes”, explicou.

Especialistas alertam para desabastecimento de testes

Se um novo colapso do sistema de saúde parece iminente, a possibilidade de falta de testes assombra os estados. Os novos casos da covid-19 já ultrapassaram a marca dos 80 mil por dia no país e devem atingir seu ápice em fevereiro. A procura por testagem já é bem maior do que a oferta de insumos para os exames. O alerta foi dado nesta quarta-feira (12) pela Abramed, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica.

Em nota técnica, a associação orienta a utilização “criteriosa de testes para evitar risco de redução de oferta de exames para detecção da covid-19”. Embora a entidade enfatize a importância da testagem para controle epidemiológico da doença, afirma que se “os estoques não forem recompostos rapidamente poderá ocorrer a falta de oferta de exames”, tanto de PCR, considerado padrão ouro, como de antígeno, que funciona por meio de reagentes.
“Quando avaliamos as notícias que vêm de outros países, de que eles já estão sem insumos, é certo que o problema chegará ao Brasil, não sendo possível mensurar nesse momento até quando poderemos atender, pois os estoques são variados dependendo do laboratório e da região, mas há um risco real de desabastecimento”, afirma a associação, na nota.
Na prática, o desabastecimento já começa a ser sentido em alguns lugares. Farmácias de São Paulo, por exemplo, registram falta de testes rápidos. No Rio de Janeiro, os testes – que antes podiam ser realizados na hora – agora só podem ser agendados num intervalo que varia de cinco a sete dias. Ainda assim, algumas unidades da rede de Drogarias Pacheco já alertam que há tipos de testagem em falta, como as que detectam infecção por covid-19 e influenza, além dos antígenos orais.

Trabalhadores da
saúde na UFRJ
Antes mesmo do alerta da Abramed, a UFRJ mudou sua política de testagem diante do expressivo aumento da procura por testes no Centro de Triagem e Diagnóstico (CTD). A reitoria da universidade emitiu nota, no dia 11, informando que a testagem “é prioritária para profissionais de saúde em atuação presencial”. A orientação é bem diferente daquela mantida pela instituição entre o final do ano passado e a primeira semana deste mês, quando os testes eram oferecidos para toda a comunidade acadêmica.
Agora, além dos profissionais de saúde, professores, estudantes e técnicos só poderão ser testados no CTD se estiverem em atividade presencial. “Na tentativa de evitar aglomerações e a disseminação do vírus, bem como garantir a segurança de todos, orientamos que, salvo os grupos acima especificados, a comunidade universitária realize a testagem para covid-19 próximo à sua residência”, continua a nota da reitoria.

Autoteste
No meio do caos, Ministério da Saúde e Anvisa são pressionados a normatizar o uso do autoteste, aquele que pode ser feito em casa pelo próprio indivíduo. A medida, segundo as autoridades, ajudaria a diminuir a pressão no sistema público e privado de diagnóstico.
“O autoteste é um complemento aos testes realizados profissionalmente, como o PCR, não é para substituir, mas com certeza é uma medida para facilitar a identificação imediata e isolamento dos casos, e isso tem impacto muito grande no controle da pandemia”, avaliou a epidemiologista Denise Garett, presidente do grupo Sabin Vaccine Institute, em entrevista à CNN nesta quinta-feira (13).
A Frente Nacional de Prefeitos e o consórcio de prefeitos Conectar enviaram pedidos formais ao Ministério da Saúde e à Anvisa para que farmácias e drogarias de todo o país sejam autorizadas a vender o autoteste. Uma resolução da Anvisa de 2015 proíbe esses exames para doenças com notificação obrigatória, como a covid-19. Mas a resolução pode ter exceções em caso de “políticas públicas e ações estratégicas”. Essas medidas precisariam ser instituídas pelo Ministério da Saúde e aprovadas pela agência. A Anvisa ainda aguarda um posicionamento do ministério para dar andamento ao processo.
A professora Leda Castilho, coordenadora do Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares da Coppe, desenvolveu no início da pandemia um teste sorológico para detecção de anticorpos, mais barato e preciso do que aqueles que existiam à época. Embora não seja o tipo de teste de que o país precisa neste momento, para detecção da doença ativa, a professora ilustra o quanto é importante o Brasil investir em tecnologias para testagem. “Para o nosso teste não está faltando insumo e não deve faltar, até porque o nosso principal insumo somos nós que produzimos, que é a proteína S”.

WhatsApp Image 2022 01 14 at 17.19.54 1Beatriz Coutinho, Estela Magalhães e Silvana Sá

Em dezembro, a UFRJ anunciou a abertura de 9.441 vagas para os cursos de graduação em 2022. A imensa maioria (9.250 vagas) será preenchida por meio do Sistema de Seleção Unificada do Ministério da Educação, o SiSU. São 5.223 para o primeiro semestre e 4.027 para o segundo semestre letivo. As outras 191 vagas se referem a cursos que exigem o Teste de Habilidade Específica (THE) e ao curso de Libras, que conta com mais uma modalidade de seleção, além da nota do Enem. O número é igual ao ofertado no ano passado. E um pouco maior do que a oferta para 2019 e 2020, quando 9.421 vagas foram oferecidas no total.
A notícia é muito boa, não fosse uma questão: como solucionar uma equação que combina estudantes atuais, novos alunos, espaços limitados, corte acentuado de recursos e uma pandemia que insiste em não acabar?
O Jornal da AdUFRJ fez um giro pelos centros para entender como a covid-19 impactou a universidade e quais os desafios para acolher os próximos estudantes, manter a qualidade do ensino e reforçar medidas de segurança para evitar a propagação da doença. Duas conclusões resumem o problema: não há verba para fazer todas as adaptações necessárias e isso forçará parte da universidade a se manter em ensino híbrido enquanto a pandemia durar.

CCS
“Temos em torno de 60 salas, mas algumas são no subsolo, sem janelas”, conta a coordenadora de Integração Acadêmica do Centro de Ciências da Saúde (CCS), professora Georgia Atella. “Nossas turmas são muito grandes. Mesmo numa sala que comporta cem alunos, não podemos alocar todos”, diz a docente. Só no Fundão, o CCS concentra 19 cursos de graduação.
Para o ano letivo de 2020, a prioridade do retorno presencial foi concedida aos formandos — e seus estágios — e aos cursos com aulas práticas desde o 1º período, como Odontologia. Para retornar, era necessário abrir pedido de autorização junto ao Conselho de Ensino de Graduação (CEG). “Seria irresponsabilidade formar nossos alunos sem aulas práticas”, afirma.
Na última quarta-feira (12), coordenadores de graduação do CCS se reuniram na Câmara de Graduação, que acontece mensalmente, para avaliar o momento e pensar estratégias para o próximo ano letivo, que começa em abril. Para o retorno presencial mais amplo, a vice-decana do CCS, professora Lina Zingalli, informou sobre a criação de uma matriz de disponibilidade de salas, para que os docentes possam escolher o melhor espaço de acordo com suas necessidades. Outro ponto importante para o retorno presencial pleno é a melhoria na ventilação das salas do subsolo por meio de dutos, ventiladores e purificadores de ar. “Mas tudo isso precisa de recurso. Essa é a parte complicada”, finalizou a docente.


Em Macaé, grande parte das disciplinas, no início da pandemia, aderiu ao ensino remoto. “O Período Letivo Excepcional foi um grande desafio, mas preparou os docentes para enfrentar esses períodos regulares que viriam”, explica a coordenadora geral de Graduação, professora Samantha Martins. Atualmente, há disciplinas nos três formatos: presencial, remoto e híbrido.
O centro registrou aumento da evasão por motivos financeiros, já que a pandemia afetou a renda das famílias. Em 2021, 205 dos 2.395 estudantes desistiram de seus cursos, o que representa 8,6% do total. Desses, 15%, ou 32 estudantes, alegaram questões financeiras. Para efeitos de comparação, nos dados registrados em 2019, que contabilizaram 8,5% de evasões (179 de 2.113 alunos), apenas 0,5% ocorreu por razão financeira.
Para o retorno mais amplo, em abril, Samantha adverte que Macaé não tem estrutura para receber todos os alunos respeitando os protocolos sanitários. “Teremos que manter o ensino híbrido”, afirma.

CAXIAS
Em relação ao impacto da pandemia nos cursos de graduação, o Campus Duque de Caxias, em resposta por e-mail, alega ter conseguido manter o número médio de disciplinas abertas por período com o número máximo de vagas ofertadas. A maioria das disciplinas práticas foi adaptada ao modelo remoto. “Isso nos garantiu que nossos discentes não ficariam sem a valiosa experiência prática em sua formação”, explica o documento enviado pela direção do campus.
Segundo a nota, houve trancamentos e evasões, mas os números foram pequenos e há até uma reversão de trancamentos. Desde 2015, os números de discentes ativos vêm aumentando e encontram seu ápice em 2021, com quase 800 alunos. Nesse mesmo período, os cancelamentos de matrícula vêm caindo. “Muitos discentes que estavam com o curso trancado encontraram no amplo ensino remoto uma possibilidade de avançar na graduação”, interpreta a direção.
Com a nota da reitoria que recomendou a suspensão das atividades até dia 31 de janeiro, o campus retornou com suas aulas práticas para o formato remoto de maneira provisória. Porém, 14 atividades essenciais foram mantidas presencialmente, segundo a diretora Juliany Rodrigues. “Definimos e estamos definindo o que é essencial à medida que vai surgindo a necessidade”, afirma a dirigente.
CFCH
No Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), a grande adesão ao Período Letivo Excepcional pelos estudantes facilitou a regularização dos semestres posteriores. O PLE tinha o objetivo de atender aos concluintes após seis meses sem aulas no centro, mas foi cursado por alunos de diversos períodos.
Marcelo Macedo Corrêa e Castro, decano do CFCH, explica que, por mais que o atraso tenha sido mitigado nesse período, outros fatores pesaram na retenção de estudantes na grade curricular. Uma parcela dos alunos, por exemplo, adiou seu desligamento da universidade porque passou a depender mais de bolsas para seu sustento, por conta da pandemia. O centro ofereceu matérias teóricas e práticas por meio do ensino remoto.
A falta dos laboratórios físicos e da presença dos servidores técnico-administrativos, na avaliação do decano, dificultou a adaptação ao novo modelo. “Não é um ensino a distância, porque ele não foi projetado para isso. Ele é um ensino basicamente presencial que a gente tentou adaptar do jeito que dava. Agora talvez possamos começar a pensar em mudanças”, sugere o professor. “Nós conseguimos lidar (com o momento) com dignidade, inteligência, criatividade e sofrimento”, analisa.
Com a aproximação do SiSU 2022, o CFCH começa a se preparar para receber novos estudantes num possível retorno presencial previsto para abril. São 1.210 vagas disponíveis no ano para este centro. “O grande desafio academicamente é continuar uma história de formação com a memória recente dos dois anos de interrupções e de improviso. Não vai se instalar uma normalidade imediatamente”, explica Corrêa e Castro.
Para um retorno seguro, é preciso garantir a ventilação dos ambientes e o distanciamento social, demandas relacionadas à infraestrutura dos campi. O decano explica que o Palácio Universitário, na Praia Vermelha, se torna ideal nesse contexto, por conta de suas salas bem ventiladas. Entretanto, muitas reformas ainda precisam ser feitas para garantir a segurança e a qualidade de vida nos domínios do CFCH. “Não se sabe quando acaba a reforma do telhado, as obras da elétrica e da hidráulica. Estamos muito preocupados em ter minimamente essa condição de um acolhimento físico”, conclui.

CLA
A adaptação dos cursos oferecidos no Centro de Letras e Artes (CLA) para o ensino remoto dependeu do improviso da comunidade acadêmica e impossibilitou a realização de diversas disciplinas práticas. A professora Cristina Tranjan, decana do CLA, destaca as dificuldades de oferecer aulas necessárias para os cursos da Escola de Belas Artes. “Por exemplo, a EBA tem um ateliê de cerâmica que tem forno, mas a professora está se virando para dar uma aula remota. Os alunos não têm forno em casa, eles fazem adaptações com o que têm. As aulas teóricas até estão funcionando, mas a maior parte das aulas práticas não está sendo dada”, admite.
Em outubro, por conta de ação movida pelo Ministério Público Federal, a reitoria da UFRJ autorizou o retorno presencial em todos os campi. Então, o CLA voltou a ofertar disciplinas práticas por meio do agendamento de salas e especificação do número de alunos, pelos professores. “De todas as unidades, a que mais voltou com a aula presencial foi a Música. Como há muitas turmas de um só aluno, fica fácil botar numa sala o professor e o aluno sem aglomeração”, explica a decana. Entretanto, com o avanço da ômicron, o CLA aderiu à recomendação da reitoria de suspender as atividades presenciais não essenciais.
A questão da infraestrutura também assombra o centro. O prédio que abriga a EBA e a Faculdade de Arquitetura ainda não tem condições de receber novas turmas, desde que dois incêndios atingiram a estrutura. “Quando voltarem as atividades presenciais, talvez o problema seja sala de aula, porque nós temos um problema sério que é o nosso prédio”, explica a decana. “Estamos correndo com as obras para o prédio estar habitável em abril, mas não sei se vai dar tempo”.
CT
No Centro de Tecnologia (CT), a adesão ao ensino remoto foi plena na Escola de Química, mas ficaram faltando laboratórios da Escola Politécnica, segundo informa o decano, professor Walter Suemitsu. “Foi assim de uma hora para outra, não houve uma preparação, todas as disciplinas teóricas passaram a ser remotas, e os professores e alunos se adaptaram”, conta o dirigente. A pandemia também contribuiu para uma alta no índice anual de cancelamentos de matrícula no centro: 7% maior que em 2019.
Sobre o breve retorno de algumas atividades presenciais no fim do ano, o decano explica que foi possível aplicar as medidas de prevenção da covid-19 no centro, já que as aulas práticas mobilizavam um número bem menor de pessoas. Esse mês, o CT seguiu a recomendação da reitoria sobre a volta das atividades administrativas e de ensino remotamente. “Tem aluno que vai para o quinto período e não conhece a universidade, nunca foi à universidade presencialmente”, lamenta o decano.
O CT também se prepara para a chegada de novos alunos com o próximo SiSU: são 1.472 vagas para os cursos oferecidos pelo CT no Fundão, em Macaé e Xerém. “Não sei se vai dar para receber todo mundo, vai ter que ser parcial. Talvez a gente tenha que fazer um ensino híbrido, não sei. Isso tudo é um planejamento que vai começar a ser feito agora”, finaliza.
CCMN
A decana do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN), professora Cássia Turci, destaca que a prioridade de sua equipe é trabalhar o acolhimento de todos os estudantes a partir da volta presencial ampla. “A gente não está pensando só nos calouros que chegam em abril, mas em todos que entraram na UFRJ na pandemia. Eles não têm nenhuma familiaridade com a universidade. Isso é comum a todos eles”, analisa a docente.
Durante seis meses do ano passado, o CCMN se reuniu com todos os coordenadores de graduação para debater os desafios para esse segmento do ensino universitário, tão importante para a vida acadêmica. Os encontros desaguaram no I Congresso de Graduação do centro, que aconteceu em dezembro. “Trabalhamos seis temas: evasão, políticas de permanência, estruturas curriculares dos cursos de graduação, acesso à universidade, licenciaturas e ensino remoto. Foi uma discussão riquíssima”, comemora a dirigente. “Agora em 2022 vamos começar a implementar algumas ações que foram definidas ao longo dessas discussões. A gente precisa ter bons estudantes de graduação, com boas políticas de permanência, bons locais de convivência”, exemplifica.
Um dos graves problemas a ser combatido pelo seu centro, segundo a docente, é a evasão. “Encontramos índices em alguns cursos que variam entre 30% e 50% na pandemia. Isso é muita coisa”, aponta a dirigente. “Muitos alunos têm problemas de acesso, a rede é ruim, outros tiveram perdas de entes para a covid-19, seus pais perderam emprego. São muitos fatores”, aponta Cássia. Outro problema é a retenção de alunos em cursos cujas disciplinas práticas não puderam ser adaptadas para o ensino remoto. “A Física montou kits e enviou aos alunos para realizarem seus experimentos em casa. Mas a Química não pode fazer isso, pelo risco da manipulação de vários reagentes”, compara.
Com alunos retidos e novos alunos que em breve serão parte da UFRJ, a professora reconhece que tem muitos desafios pela frente. “Estamos seguindo todas as recomendações dos grupos de trabalho da UFRJ. Tenho esperança de podermos retornar plenamente ao presencial, mas o ambiente ainda é de muitas incertezas”, admite. “Vamos ter prejuízos para 2022, mas estamos trabalhando para que nossos alunos tenham a melhor formação possível. Vamos continuar estudando para encontrar alternativas de fazer todo mundo se formar, fazer disciplinas experimentais e de campo, com qualidade”, finaliza.

CCJE
Até o fechamento da edição não foi possível contato com a decania do CCJE.

EaD também precisou se adaptar

WhatsApp Image 2022 01 14 at 17.19.54 2Não foram só os cursos presenciais que sofreram forte impacto da pandemia. As graduações na modalidade de ensino a distância (EaD) da universidade também não passaram ilesas por esses dois anos de privações provocadas pelo coronavírus. “A UFRJ oferece cursos de graduação EaD na modalidade semipresencial, na qual algumas atividades acadêmicas são realizadas de forma presencial”, explica o professor Bruno Souza de Paula, assessor da pró-reitoria de Graduação e coordenador do Núcleo de Educação a Distância da UFRJ. “Dessa forma, os cursos EaD também precisaram sofrer adaptações durante a pandemia”, afirma.
As tutorias presenciais precisaram ser convertidas em tutorias a distância, segundo informa o professor, assim como as avaliações presenciais, “que passaram a ser realizadas de forma remota”. Em dezembro de 2021, o Conselho de Estratégia Acadêmica do Consórcio Cederj — que coordena os cursos EaD das universidades públicas do estado do Rio de Janeiro — decidiu pelo retorno das atividades presenciais nos polos regionais a partir de fevereiro deste ano, “mas com limitação de ocupação dos espaços seguindo as diretrizes das universidades pertencentes ao consórcio”, conta o docente.
A previsão é que as avaliações continuarão sendo feitas de forma remota no primeiro semestre letivo de 2022. “A medida é necessária pela impossibilidade de todos os alunos realizarem as avaliações presenciais simultaneamente, obedecendo ao distanciamento necessário”, explica Bruno.
Desde 2019.2, a cada semestre são oferecidas pela UFRJ 1.150 vagas para os cursos EaD via consórcio Cederj, mas no ano passado nem todas as vagas foram preenchidas. “Em 2021, houve uma diminuição considerável no número dos ingressantes, fato este que pode ser atribuído à pandemia. A seleção para o acesso aos cursos EaD da UFRJ é realizada de forma presencial, o que pode ter dificultado o preenchimento de todas as vagas”, avalia o professor. (Silvana Sá)

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