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A UFRJ ainda não sabe quanto terá em caixa para enfrentar 2022. A lei orçamentária anual só deverá ser aprovada no início da próxima semana. Mas, entre os rebaixados números apresentados pelo governo e uma eventual recomposição conquistada no plenário do Congresso, a tendência é que a universidade tenha mais um ano bastante difícil. Na última sessão do ano, dia 16, o Consuni aprovou, por unanimidade, a proposta da reitoria que indica um déficit de R$ 93 milhões para o próximo exercício fiscal.
A administração central trabalhou com a proposta orçamentária do governo (PLOA), enviada em agosto ao Congresso. É, até o momento, o último documento legal disponível. “Todo dia, há alterações (nos debates do Congresso). Não poderíamos nos basear nas discussões”, explicou o pró-reitor de Planejamento e Finanças, professor Eduardo Raupp.
A montanha-russa dos números pode ser demonstrada em dois momentos. Na semana passada, o relator da Comissão Mista de Orçamento, deputado Hugo Leal (PSD-RJ), indicou um corte de 6% na PLOA das universidades, o que representaria menos R$ 16 milhões nos cofres da UFRJ. Já na véspera do Consuni, a presidente da comissão, senadora Rose de Freitas (MDB-ES), disse ter assegurado junto ao Ministério da Economia uma recomposição de 80% dos valores nominais de 2019 destinados às universidades, o que poderia trazer mais R$ 40 milhões para a maior federal do país. Mas, ainda assim, seriam insuficientes. As universidades reivindicam 100% dos valores de 2019, com correção pela inflação.
Pela PLOA 2022, o orçamento da UFRJ cresce 7,23% em relação a 2021 (R$ 320,8 milhões contra R$ 299,1 milhões). “Porém, o de 2021 já vem de uma redução de 20%. Na verdade, ele confirma uma redução muito brutal para a nossa gestão orçamentária”, disse Raupp. A realidade, porém, obriga a instituição a trabalhar no vermelho. “Nossa demanda de gastos em 2022 seria de R$ 413 milhões. O que consolida em relação à PLOA de R$ 320 milhões um déficit de mais de R$ 90 milhões”, completou. O pró-reitor informou que não seria possível fazer mais ajustes. “A avaliação técnica das nossas equipes é que os cortes que fizemos em 2020 nos levaram ao limite operacional”, afirmou.
COMO FICAM OS
GASTOS INTERNOS
O texto da PLOA 2022 prevê uma pequena verba para investimento (R$ 6,3 milhões), mas Raupp enfatizou que nem isso está garantido. Ano passado, havia a previsão, mas o investimento foi cortado por sanção presidencial. O único item recomposto nominalmente aos valores de 2019 é o do Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), que passa de R$ 42,1 milhões para R$ 54,4 milhões. O Museu Nacional, já há dois anos, ganhou uma rubrica própria de apoio à reconstrução do prédio (prevista em R$ 1,5 milhão para 2022).
Verbas que chegavam aos hospitais por transferências ao longo do ano passam a constar do orçamento. Só que com valores bastante rebaixados. O Programa Nacional de Reestruturação dos Hospitais Universitários Federais (REHUF) reservaria apenas R$ 10 milhões para o Complexo Hospitalar da universidade. E os recursos para enfrentamento da pandemia, também incluídos na peça orçamentária, despencaram: estão previstos R$ 15 milhões no orçamento contra R$ 64 milhões de 2020 e os R$ 34 milhões deste ano. “É positivo ser contemplado no orçamento. Permite fazer um planejamento melhor desde o início do ano, mas os valores reduzidos são preocupantes”, disse Raupp.
O dirigente também sinalizou uma preocupação com uma diminuição inédita. O orçamento de pessoal perde R$ 73.912.973,00 (-2,02%). “Não temos nenhuma explicação oficial do governo. A folha (de salários) tende ao crescimento vegetativo”, observou.
Apesar de tudo, duas boas notícias para a comunidade. A reitoria decidiu ampliar o aporte para capacitação dos servidores (de R$ 1,1 milhão para R$ 2 milhões). E, além de aumentar os recursos do chamado orçamento participativo (de R$ 7,6 milhões para R$ 18 milhões) — partilhado entre decanias e unidades —, irá liberar as verbas de uma vez só. “Estamos abandonando a tradicional divisão por cotas e trabalhando com um valor global, que está sendo incrementado em 136%. Será liberado logo no início do ano, assim que for liberado para a universidade”, disse.
A Comissão de Desenvolvimento do Consuni recomendou a aprovação da proposta da reitoria, mas apontou a necessidade de a UFRJ retomar a análise de prioridades e custos em obras paradas. “Sem dúvida, o Escritório Técnico da Universidade (ETU) poderá desempenhar um papel importante nesta tarefa”, diz um trecho do documento.
PREOCUPAÇÃO COM INCÊNDIOS
Os conselheiros também apresentaram suas preocupações. Representante dos professores titulares do CCMN, Claudio Lenz lembrou o histórico de incêndios da universidade. O docente solicitou mais cuidado com a manutenção das redes elétricas da UFRJ. “Não sou especialista, mas acho que o valor previsto para manutenção predial e obras está muito pequeno”. O pró-reitor de Planejamento informou que as verbas destinadas à manutenção, muitas vezes, estão dispersas em diferentes itens da planilha orçamentária. “Mas, claro, ainda são insuficientes”, disse.
Decano do CT, o professor Walter Suemitsu elogiou a proposta de liberar o orçamento participativo de uma só vez, mas acredita que a divisão entre unidades precisaria ser discutida. “Acho que há algumas incongruências. Houve o surgimento de novas unidades. Essa divisão precisa ser revista”.
Já a decana do CCMN, professora Cássia Turci, observou a necessidade de aumento das diárias dos estudantes, hoje de apenas R$ 42. “Há uma preocupação muito grande em relação ao retorno dos trabalhos de campo, principalmente nos cursos de Geologia e Geografia”, disse.
CRISTINA RICHE SE DESPEDE DA OUVIDORIA DA UFRJ
Debaixo de uma chuva de elogios dos representantes de diferentes centros e unidades, a professora Cristina Ayoub Riche se despediu da Ouvidoria-geral da UFRJ, na sessão do Consuni do dia 16. A docente apresentou um balanço dos 12 anos em que ocupou o posto.
No período, a ouvidoria atendeu mais de 20 mil manifestações das mais diferentes naturezas. “Dos pacientes das unidades hospitalares buscando orientação para o seu tratamento ao estudante com dificuldades para cumprir os trâmites da entrega do seu trabalho de final de curso”, disse Cristina. Foram, em média, 125 ocorrências por mês. “Cada gestor tem a possibilidade de traçar estratégias de ações a partir destas manifestações individuais”, ressaltou. É também na ouvidoria da UFRJ que se concentra, desde 2019, o atendimento da Lei de Acesso à Informação (com respostas a 1.244 solicitações, nesses três anos).
A professora enfatizou que o órgão é muito mais que um canal para receber reclamações, elogios ou sugestões. “Eu costumo dizer que as ouvidorias são verdadeiros remédios constitucionais com capacidade para prevenir, combater, tratar e enfrentar as patologias sociais. Sua existência nas instituições públicas pode garantir o fim da apatia e da descrença na prestação adequada e eficiente dos serviços”, disse. “A ouvidoria é a voz do cidadão na UFRJ e o seu propósito é o de garantir direitos. É muito gratificante olhar para trás e ver como a ouvidoria participou de tantos processos coletivos para tornar a universidade sempre mais democrática, diversa, inclusiva, aberta, acessível, comprometida com o desenvolvimento e a soberania do país”, disse, emocionada.
A reitora Denise Pires de Carvalho informou que a professora só deixou a função por conta de uma recente portaria da Controladoria-Geral da União, que limitou os mandatos nas ouvidorias dos órgãos públicos. “Você fez mais que a escuta. Fez a escuta sensível. Parabéns por ser a empatia em forma de gente”, destacou. “Nestes dois anos de pandemia, Cristina não deixou de atender a comunidade acadêmica em nenhum momento”. A dirigente revelou ter convidado a professora para a coordenação de uma estrutura, ainda em estudo, para combate às violências e discussão de direitos humanos.
Ao final da sessão, por unanimidade e aclamação, o Consuni aprovou uma moção de agradecimento ao trabalho realizado pela professora. Cristina Riche foi substituída na ouvidoria pela ex-pró-reitora de Pessoal, Luzia Araújo.
Car@ colega,
Adeus, Ano Velho; feliz Ano Novo. Jamais um surrado bordão traduziu um sentimento tão especial. Encerramos 2021 com o gosto amargo de que atravessamos uma das piores jornadas de nossas vidas pessoais e coletivas. Não foi fácil para cada um e para todos. Perdemos mais de 600 mil brasileiros na pandemia, assistimos ao presidente da República debochar da morte, boicotar a Ciência, estrangular o orçamento das universidades e transformar o governo na antessala do inferno.
Mas o balanço dos quase 365 dias terríveis que deixamos para trás pode apontar algumas boas novas. A primeira delas é que a presidência de Bolsonaro vai acabar e podemos ajudar a varrê-lo para o subsolo da História, de onde jamais deveria ter saído. E, caro coleg@, aqui queremos te garantir que a AdUFRJ estará firme nesse propósito de derrotar Bolsonaro e participar da retomada da democracia e da política como exercício civilizatório. Dentro dos parâmetros da ética e da responsabilidade, a diretoria do sindicato dos professores da UFRJ se desdobrará para colaborar com a unidade das forças progressistas nas eleições de 2022. Estamos convictos de que esse é o único caminho da esperança. Não dispersaremos nem desperdiçaremos energia com sectarismo, divisionismo e outros ismos de menor importância. O que está em jogo no ano que se avizinha é o que a docência mais preza: a valorização do conhecimento, a democratização do saber, o humanismo como princípio e meio.
2022 será o ano de mudar a política e de retomar o olho no olho em nossa rotina de trabalho. A UFRJ terá o enorme desafio de construir o retorno presencial com um orçamento deficitário, aprovado por unanimidade na última sessão do Consuni, como mostramos na reportagem da página 4. De nossa parte, estaremos ao lado dos professores, estudantes e técnicos para mitigar a dificuldades, acolher cada um e cada uma da comunidade acadêmica e cobrar dos responsáveis melhores condições de trabalho.
Car@ colega, vamos juntos, conte conosco, contamos com você nessa jornada, nos procure em nossas redes, em nossa sede, em nossas atividades. Sua participação será fundamental para a construção de um 2022 em que a esperança vença o medo.
PS: Esse é o último editorial do ano. Nosso jornal entra em um rápido recesso e volta a circular na primeira semana de janeiro.
Boa leitura. Boas Festas, feliz Ano Novo!
O governo Bolsonaro tem uma única e velha política para a universidade e a Ciência: cortar recursos. Fazia isso nas temporadas da panaceia ideológica de Weintraub e repete a mesma toada em tempos de pandemia. Claro que tirar recursos agora é mais grave do que nunca. As universidades são espaços estratégicos para combater a covid-19 e preparar o país para evitar novas investidas do coronavírus. Mas para um governo que flertou com o vírus, foi leniente na compra de vacinas e debochou da morte de quase um milhão de cidadãos, valorizar o conhecimento jamais seria prioridade. Isso fica claro na última maldade orçamentária dos bolsonaristas. No dia 6, a Comissão Mista de Orçamento aprovou parecer com corte de 6% de todas as universidades. O relator foi o deputado Hugo Leal, do PSD-RJ. A tesourada significa, na prática, menos R$ 16 milhões para a UFRJ. Car@ colega, como podemos planejar um retorno presencial ainda mais sucateados?
Estamos nos desdobrando para voltar aos campi, mas a situação está longe de ser razoável. A Faculdade de Farmácia já tornou com atividades presenciais práticas, mas as salas do subsolo não possuem ventilação nem exaustão e, por isso mesmo, as aulas teóricas precisam seguir remotas.
Esses e outros “detalhes” que ameaçam a saúde de professores, estudantes e técnicos não aparecem nas laudas do desembargador Marcelo Pereira da Silva, que decidiu pelo retorno das atividades presenciais na UFRJ e outras instituições federais de ensino do Rio de Janeiro. Muito pelo contrário. O magistrado assinou sua sentença sem sequer ouvir a universidade. Se tivesse visitado uma única vez o edifício Jorge Machado Moreira, que abriga o gabinete da reitoria, no Fundão, perceberia a imprudência de sua sentença e, quem sabe, cerraria fileiras conosco para evitar mais cortes e pedir mais recursos.
O prédio era a casa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Escola de Belas Artes e do Instituto de Pesquisas em Planejamento Urbano e Regional. Era. Desde 2016, quando oitavo andar foi destruído por um incêndio, a situação do prédio – tombado pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade – só se deteriorou. Em abril deste ano, um novo incêndio, desta vez no segundo andar, tornou ainda mais dramática a crise de infraestrutura do local. A administração central corre para recuperar as instalações nos andares superiores.
Mas as salas de aula, prontas para receber novos alunos, esbarram num problema: falta energia elétrica. Além disso,
há pilares de sustentação do prédio condenados pela Defesa Civil. As áreas interditadas no térreo impedem que os andares superiores sejam amplamente ocupados.CESTAS RECHEADAS DE SOLIDARIEDADE A AdUFRJ doou 100 kits de alimentação para trabalhadores terceirizados da universidade - Foto: Alessandro CostaNossas fragilidades, no entanto, não fazem os recursos chegarem mas nos fortalecem naquilo que temos de melhor: a solidariedade. Foi com empatia que a AdUFRJ doou 100 kits com 22 itens alimentícios para trabalhadores terceirizados da universidade. A entrega das cestas ocorreu na última quarta-feira, 8, no Centro de Tecnologia, no Fundão, e atendeu a pedido da ATTUFRJ, a associação de terceirizados da UFRJ.
Seguiremos assim, lutando por mais recursos e menos injustiças.
Boa leitura!
Durou pouco mais de três meses a expectativa da UFRJ por uma mínima recomposição financeira em 2022. Em 31 de agosto, o governo enviou proposta ao Congresso reservando R$ 320,8 milhões para as despesas da maior federal do país — valor ainda insuficiente, mas com pequeno avanço em relação aos R$ 299 milhões deste ano. No último dia 6, porém, a Comissão Mista de Orçamento (CMO) aprovou parecer com corte de 6% de todas as universidades. A tesourada significa, na prática, menos R$ 16 milhões para a UFRJ.
“Ainda não é definitivo. Precisa ser apreciado pelo próprio plenário do Congresso. Mas é um indicador extremamente preocupante para nós. Isso nos aponta ficar em 2022 praticamente com o mesmo orçamento de 2021”, explica o pró-reitor de Planejamento e Finanças, professor Eduardo Raupp. O problema é que as receitas atuais já não dão conta do funcionamento da UFRJ, que ainda está com a maioria das aulas em meio remoto. “É o orçamento de um ano completamente atípico que, tudo indica, será mantido para um ano que tenderia à retomada da nossa normalidade”, completa.
A estimativa da reitoria é chegar ao fim de 2021 com um déficit de aproximadamente R$ 48 milhões. Número que pode diminuir com algumas confirmações de gastos nos próximos dias, como contratos de fornecimento com valores que podem ficar abaixo do previsto. “Em função do retorno ainda não ser 100%”, explica Raupp. “Vamos conseguir pagar todas as nossas contas até o mês de novembro. Já boa parte do mês de dezembro teremos que carregar para o ano que vem”.
O pró-reitor diz que é importante mobilizar para a recuperação e ampliação do orçamento. Mas a experiência da tramitação da proposta, no ano passado, não é nada positiva. “Foi ao contrário. Os cortes só foram aumentando”, observa Raupp.
DEBATE NO CONSUNI
Todos os anos, o Conselho Universitário discute o orçamento interno do exercício seguinte. No documento que será apreciado pelo colegiado ainda este mês, a administração superior trabalha com os números da proposta original do governo. “Sem esse corte da comissão, que é uma indicação do relator (deputado Hugo Leal, do PSD-RJ). Mesmo com o valor original, nós já apontávamos um déficit na casa dos R$ 90 milhões, no exercício do ano que vem. Com mais cortes, o déficit se aprofundaria”, esclarece o dirigente. O corte do relator retira R$ 12,5 milhões para despesas do funcionamento da UFRJ e mais R$ 3,5 milhões de assistência estudantil. Apenas as verbas dirigidas ao Complexo Hospitalar da UFRJ foram poupadas.
E não existe mais possibilidade de ajuste. “Nós estamos com todos os contratos no limite. Operamos uma série de reduções a partir de análises técnicas. Tudo que era possível fazer em termos de otimização da gestão foi feito”, afirma Raupp. “Mais que isso seria reduzir serviços que são essenciais para o nosso funcionamento”.
Apesar dos sucessivos cortes nos últimos anos, a nova tesourada nas universidades não deixou de ser uma surpresa. Em um encontro do Fórum de pró-reitores de Planejamento (Forplad), na semana passada, o próprio MEC participou e também apontou expectativa de alguma recomposição para as universidades. “É uma surpresa totalmente negativa”, conclui o pró-reitor da UFRJ.
NO CONJUNTO DAS
UNIVERSIDADES,
PERDA DE R$ 300 MILHÕES
A Proposta de Lei Orçamentária (PLOA) do governo reserva R$ 5,1 bilhões para as despesas discricionárias — ou seja, sem contar gastos com pessoal — das universidades. “Do jeito que estava a PLOA, 2022 já estava comprometido. Com o corte, não tem a menor possibilidade de conseguirmos operar”, diz o presidente da Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), professor Marcus David. O conjunto das universidades, calcula o reitor, perde quase R$ 300 milhões pelo corte indicado pelo relator.
O orçamento deve ser votado até o início do recesso parlamentar, em 22 de dezembro. A Andifes reivindica a recuperação do orçamento para valores de 2019, corrigidos pela inflação. Seriam aproximadamente R$ 6,9 bilhões, R$ 1,8 bilhão a mais do que o governo propõe.
NA CIÊNCIA, MAIS CORTES
O sistema federal de Ciência e Tecnologia também sofreu na caneta do relator da CMO. A SBPC registrou um corte de R$ 126,7 milhões na verba do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). O CNPq perderia R$ 60,2 milhões, sendo R$ 52,7 milhões destinados ao pagamento de bolsas.
Na Capes, o corte sugerido é de R$ 33,2 milhões, sendo R$ 2,3 milhões das bolsas. O relator quer tirar ainda R$ 7,5 milhões da Fiocruz e mais R$ 8 milhões da Embrapa.
Entidades de apoio à ciência, como a própria SBPC e a Academia Brasileira de Ciências (ABC), também tiveram suas contribuições reduzidas em R$ 210 mil e R$ 240 mil, respectivamente, o que prejudicaria a divulgação científica.
“Eu me senti chocado ao saber de mais um corte no orçamento da Ciência”, diz o presidente da SBPC, professor Renato Janine. “Devemos lembrar que, se tivéssemos investido na Ciência na hora certa, teríamos tido pelo menos uma, talvez duas ou três vacinas brasileiras, economizando muito dinheiro que gastamos comprando vacinas do exterior”, completa.
A SBPC, a ABC e a Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento — movimento organizado da comunidade brasileira de ciência e tecnologia para atuação permanente junto aos parlamentares — se mobilizam para reverter os cortes. “Vamos continuar lutando, mobilizando a comunidade científica”, afirma Janine.
O orçamento também foi o principal tema do último programa AdUFRJ no Rádio deste ano. Convidado, o professor Eduardo Raupp, pró-reitor de Planejamento, Desenvolvimento e Finanças da UFRJ, explicou os impactos do corte aprovado na Comissão Mista de Orçamento do Congresso. O professor emérito Ricardo Medronho, diretor do sindicato, participou do programa e fez um balanço do retorno das aulas presenciais na universidade. O AdUFRJ no Rádio vai ao ar todas as sextas-feiras, às 10h, com reprise às 15h, pela Rádio UFRJ (www.radio.ufrj.br) e também está disponível em seu agregador de podcasts favorito.
Um dos pilares condenados pela Defesa Civil, no bloco C do prédio da reitoria. Trecho está interditado - Fotos: Alessandro Costa
A universidade vem se desdobrando para atender à determinação judicial de retorno das aulas presenciais. Mas não é fácil voltar. Quem percorre os corredores dos edifícios do Fundão percebe que faltou ao desembargador Marcelo Pereira da Silva, do Tribunal Federal da 2ª Região, conhecer a realidade. A precária infraestrutura e o subfinanciamento da instituição não foram considerados na sentença e ajudam a explicar os ainda tímidos números de disciplinas presenciais oferecidas neste semestre.
A pró-reitoria de Graduação informa que 42,7 mil alunos se inscreveram para 2021.2, mas 41,5% das disciplinas continuam sendo remotas. Apenas 2,6% são integralmente presenciais e a maioria, 55,9%, é composta por disciplinas híbridas, que conjugam aulas remotas e aulas presenciais.
Passados 24 dias do início do semestre letivo, ainda há espaços da universidade sem condições mínimas para receber um grande volume de pessoas. É o caso, por exemplo, do edifício Jorge Machado Moreira (JMM), que abriga o gabinete da reitoria. O prédio era a casa da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Escola de Belas Artes e do Instituto de Pesquisas em Planejamento Urbano e Regional. Era. Desde 2016, quando o oitavo andar foi destruído por um incêndio, a situação do prédio – tombado pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, da prefeitura carioca – só se deteriorou. As unidades precisaram buscar abrigo em outros locais para suprir a falta de salas de aula.
De transitória, a situação se tornou permanente. Há cinco anos, esses cursos necessitam de instalações cedidas para exercerem suas atividades. “Nós alocamos mais de 600 horários para aulas por semestre sem termos uma sala de aula para chamar de nossa”, reclama a diretora da Escola de Belas Artes, professora Madalena Grimaldi. Antes do incêndio, a EBA ocupava as salas do sexto e sétimo andares do JMM, além dos ateliês e oficinas do térreo e segundo andar. “Desde 2016 dependemos da acolhida da Faculdade de Letras, do CT, do CCMN e da Educação Física para conseguirmos atender aos nossos alunos”, conta a docente.Sala no sexto andar do JMM não pode ser utilizada
A EBA voltou presencialmente com disciplinas práticas, nos ateliês localizados no Bloco D do edifício. “É uma volta parcial e as turmas estão divididas em pequenos grupos. As disciplinas teóricas, por enquanto, seguem remotas”, diz. Mesmo com os empréstimos de salas em outras unidades, a diretora afirma que não há condições de retomar as aulas integralmente presenciais, caso o distanciamento social permaneça necessário no ano que vem. “Sem o JMM, não tenho como alocar 15 cursos nas atuais condições de biossegurança. Não há espaço para isso”. Além das salas, a diretora reforça a necessidade de impermeabilização do bloco D, por conta das graves infiltrações que atingem os ateliês. “Quando chove, molha tudo”.
IMPOTÊNCIA E ABANDONO
“O Jorge Machado Moreira é o edifício que concentra o maior número de problemas estruturais, resultado do abandono de décadas”, reconhece o vice-reitor da UFRJ, professor Carlos Frederico Leão Rocha. “Vamos gastar R$ 11 milhões com as obras prioritárias, mas eu precisaria de R$ 50 milhões para deixar o prédio adequado para o uso. Eu não vejo de onde tirar esse volume de recursos. A sensação que tenho é de impotência”, lamenta o dirigente.
As obras avançam na lentidão em que os recursos chegam até a universidade. Em abril deste ano, um novo incêndio, desta vez no segundo andar, tornou ainda mais dramática a crise de infraestrutura do local. O custo para a reforma do Núcleo de Pesquisa e Documentação da FAU, atingido no incidente, foi de R$ 562 mil. A obra deve ser encerrada até o final deste mês. Nos andares mais altos, há salas de aula prontas para receber alunos, mas falta energia elétrica.
Ainda há obras em andamento no sexto, sétimo e oitavo andares, que começaram em 2020 e serão concluídas em abril de 2022. Em paralelo, acontece a reforma das instalações elétricas desses andares e da subestação de energia. O prazo para a recuperação da rede, que era outubro deste ano, está ultrapassado e em revisão. Só essas frentes já custaram cerca de R$ 3 milhões, segundo informações fornecidas pela assessoria de imprensa da reitoria. Outros R$ 3 milhões foram utilizados no reforço estrutural do oitavo andar, reforma da rede hidráulica e impermeabilização da biblioteca. Essas obras foram concluídas entre 2018 e 2021.
Mas os problemas não param por aí. Alguns pilares de sustentação do prédio, no bloco C, foram condenados pela Defesa Civil e precisam de recuperação urgente para permitir a ocupação ampla do edifício. O projeto está pronto, mas ainda aguarda dinheiro para a licitação. A reitoria estima um custo inicial de R$ 309 mil. Outro projeto também urgente busca recuperar as instalações elétricas do terceiro, quarto e quinto andares. O custo estimado é de R$ 1,2 milhão.
A administração central pretende entregar as salas de aula do sexto e sétimo andares em abril. Os demais andares ainda precisam de licitações, que ela pretende escalonar para liberar gradativamente cada pavimento, na medida em que as obras ficarem prontas. “Precisamos mexer na fachada, precisamos resolver o problema grave dos pilares, precisamos de brigada de incêndio, mas sem energia, não tem como as aulas voltarem. Então, eu diria que a prioridade é religar toda a energia do prédio para devolver as aulas para os blocos A e D, enquanto as outras obras acontecem em paralelo”.
CCS TAMBÉM SOFRE
O edifício principal do Centro de Ciências da Saúde também enfrenta problemas. As instalações do subsolo, sobretudo as salas de aula, não são adequadas para serem utilizadas durante a pandemia. “As aulas presenciais da pós-graduação e as aulas práticas da graduação retornaram. Mas as aulas teóricas, ainda não”, relata a professora Julia Clarke, da Faculdade de Farmácia. “Precisaríamos utilizar as salas de aula do subsolo, que não têm ventilação alguma. Temos 160 novos alunos a cada semestre, não temos espaço”.Sala do subsolo do CCS não pode ser utilizada
Vice-decana do CCS, a professora Lina Zingali reconhece as dificuldades. “As salas não estão sendo usadas no subsolo e o nosso aulário, o bloco N, está ocupado pelo Centro de Triagem e Diagnóstico para covid-19. Por isso, estamos com uma grande limitação de salas de aula”, explica. O planejamento do CCS é devolver o bloco N para aulas teóricas no início do ano que vem. “O CTD será transferido para outro espaço e as salas serão reformadas para receber os alunos até o meados de janeiro”, afirma.
IFCS SEM AULAS PRESENCIAISARTE para recepcionar a comunidade acadêmica, no IFCSOs problemas também atingem unidades isoladas da universidade. No Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, não haverá aulas presenciais no período atual. “Temos um calendário acadêmico da graduação e pós-graduação com aulas e turmas previstas ainda no modo remoto. Os professores e estudantes se prepararam para isso. Você não pode alterar no meio do caminho uma disciplina que foi prevista no modo remoto”, explicou o diretor, professor Fernando Santoro.
A unidade ainda estuda a adaptação dos espaços. “Não podemos retornar a um espaço sem tomar cuidados com os protocolos de biossegurança. É preciso ter muito cuidado nessa transição”, afirmou Santoro. “É preciso saber qual é a ocupação segura das salas, garantir que todos os espaços tenham dispositivos de higiene e ventilação adequada”, completou.
As dificuldades orçamentárias são o principal entrave para finalizar a adaptação. “Nós não temos orçamento. Quando assumimos a direção, em outubro, já não tínhamos mais orçamento”, alertou. O professor destaca que o IFCS tem a peculiaridade de ser um prédio antigo e tombado, o que dificulta reformas. “O prédio é muito antigo, e precisa de uma conservação que independe da própria pandemia”.
No último dia 3, Santoro dirigiu a performance “Desembarque das Bacantes”, que misturou música, dança e filosofia, e contou com a participação do Teatro das Ideias Vivas. Os participantes realizaram uma lavagem das escadarias do prédio histórico para fazer uma abertura simbólica do IFCS. “A universidade está aberta de novo, não apenas para que os seus estudantes, professores e técnicos retornem, mas para que a cidade também entre na universidade”, explicou o professor. Mas, por enquanto, apenas para atividades acadêmicas como reuniões de orientação e de grupos de pesquisa, eventos e atividades de extensão. (colaborou Lucas Abreu)
DESEMBARGADOR
AINDA NÃO
AVALIOU RECURSOS
Enquanto organiza o retorno presencial possível nas atuais condições de pandemia e infraestrutura, a comunidade da UFRJ monitora o processo em tramitação no Tribunal Regional Federal da 2ª Região. Em 25 de outubro, o desembargador Marcelo Pereira da Silva determinou a volta das aulas aos campi da universidade — e de outras seis instituições de ensino no estado — UniRio, Pedro II, UFRRJ, Instituto Nacional de Educação de Surdos, Cefet e IFRJ. Mas, até o fechamento desta edição, o magistrado não se manifestou sobre os recursos apresentados pela defesa das instituições ou pela AdUFRJ.