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ÚLTIMO EDITORIAL

Diretoria da AdUFRJ

WhatsApp Image 2021 10 14 at 21.34.50Aqui encerramos um ciclo. Durante quase uma centena de vezes, o Jornal da AdUFRJ circulou com os nossos editoriais. Levaremos para sempre essa experiência, que poderia ter sido apenas muito interessante, mas que a pandemia transformou em um dos momentos mais marcantes de nossas vidas. Dividimos com a equipe de Comunicação a angústia diante do que nos era completamente desconhecido. A pandemia alterou de modo profundo e radical nossas formas de socialização, de trabalho e de participação política. A rigor, a nossa existência como sindicato se deu por aqui. As páginas de cada edição contaram em detalhes nossas ações, opiniões e reivindicações. As inúmeras e tristes despedidas daqueles que se foram e as alegrias por celebrarmos em cada número alguma conquista, pesquisa ou ação dos professores da UFRJ testemunharam quem somos, o que fomos e o que poderemos ser.
Durante todas as semanas fomos obrigados a repetir as piores notícias sobre a universidade pública, a Educação em geral e a desastrosa política de destruição nacional posta em movimento pelo governo federal. Não temos registro na história do país de ações tão sistemáticas e explícitas que afrontassem de forma tão direta as instituições nacionais, e que declarassem seus projetos autoritários, como o que vivenciamos nesse período. Buscamos espelhar nas páginas deste jornal o nosso compromisso inarredável em defesa da vida e da democracia, em defesa da Ciência e da Cultura, da liberdade e da autonomia universitária. Contra o brutalismo negacionista, nos mantivemos firmes na defesa dos princípios que regem e sustentam a vida acadêmica. Afinal, esse sempre foi o nosso maior projeto: que o jornal fosse cada vez mais um porta-voz dos professores da UFRJ, muito mais do que um instrumento da diretoria.
Para os que virão, desejamos não só sorte, mas ânimo e determinação para enfrentarem um outro desafio. Se nós não tínhamos a menor ideia de como seria fazer um sindicato funcionar integralmente em modo remoto, cabe à próxima gestão nos conduzir a uma nova vida presencial, com todos os desafios que ela contém. O cenário que se apresenta é o pior possível, com o escandaloso corte de verbas para o fomento à Ciência, que, se não for revertido, nos levará a um acelerado desmonte da vida científica brasileira. Entretanto, o dado novo é o desgaste e o isolamento político do governo federal. Bastante diferente do que havia há dois anos, quando tomamos posse. Isso não foi à toa e aumenta nossas chances de reversão de um quadro que seja menos desalentador e permita uma possível derrota no Congresso da PEC 32.        
Como um mantra, concluiremos o nosso mandato reafirmando a urgência das ações unitárias, das construções coletivas, dos gestos solidários. A vida sindical ainda pode ser um potente antídoto ao hiperindividualismo que enfrentamos, os laços comunitários podem ser o remédio de que tanto precisamos contra o isolamento e a solidão que nos confina. E o nosso jornal pode ser também um exemplo vigoroso e potente na era da pós-verdade, retomando valores fundamentais para o fazer jornalístico, consolidando uma relação de confiança e de credibilidade com o seu público.
À equipe de Comunicação da AdUFRJ, nossos enormes agradecimentos pelas lições de profissionalismo, pelo compromisso que muitas vezes atravessou o mero cumprimento do dever, que faz com que alcancemos hoje a incrível marca de 1.200 edições. E, principalmente, aos que nos leram até aqui, em especial aqueles que além de leitores foram críticos e parceiros, construindo com suas sugestões um jornal cada vez melhor, o nosso afetuoso muito obrigado, porque foram e sempre serão o sentido maior de todo esse trabalho.

WhatsApp Image 2021 10 08 at 21.32.00CCS: CORREDORES VAZIOS tornam mais inseguros os dias de quem precisa realizar atividades presenciais Kim Queiroz e Liz Mota Almeida

‘Era um terror de gritaria e ameaças, mas não recebi agressões”, relata um estudante, aluno de pós-doutorado da Biofísica, vítima de sequestro relâmpago, no dia 27 de setembro, quando estacionava seu carro nos fundos do Centro de Ciências da Saúde. O caso do aluno, que ficou aproximadamente duas horas em poder de três criminosos armados com revólveres, reacendeu o debate sobre segurança no campus da Cidade Universitária.
“Neste dia, os estacionamentos estavam vazios. Assim que cheguei vi um movimento de carro estranho, com o filme escuro”, narra o jovem, que pediu para não ser identificado. Era uma e meia da tarde, quando foi dominado, cobriram sua cabeça com uma touca e o levaram para o Complexo da Maré.
Os bandidos roubaram o veículo, cartões e o celular. E ainda forçaram o aluno a ceder o acesso às contas bancárias. “Fui liberado por volta de 15h30, na Maré, já próximo à Avenida Brasil, e me deram um dinheiro para pegar um táxi”, diz. Assim que chegou em casa, descobriu que os criminosos tinham conseguido transferir cerca de R$ 20 mil, recuperados parcialmente junto aos bancos, com exceção dos saques via Pix. A polícia ainda não conseguiu localizar o carro.
“Fica essa sensação de insegurança, dessas histórias que escuto há 10 anos e que não imaginava me tornar um personagem delas”, conta. “Hoje sou pós-doc. Me dediquei tanto a essa universidade, produzi tanto pela UFRJ, fiz biologia na graduação, mestrado e doutorado nela. Me doei tanto para, em troca, não receber o mínimo de proteção. Só o tempo vai me fazer esquecer a cena e ficar mais tranquilo”.

RESPOSTA DA
PREFEITURA UNIVERSITÁRIA
No dia 30, a Prefeitura Universitária lançou uma nota oficial em que lamentou os episódios de violência no campus, e pontuou algumas ações para evitar novos casos. Entre elas, a renovação do convênio com o projeto Rio + Seguro Fundão, custeado pela UFRJ. O projeto esteve desativado por cerca de quatro meses, e voltou a funcionar em setembro. “São profissionais de segurança (policiais militares e guardas municipais), que fazem o monitoramento de trânsito, do tráfego e o ordenamento público em geral”, explica Marcos Maldonado, prefeito da Cidade Universitária. Os policiais atuam diariamente em três turnos, realizando operações em áreas estratégicas, patrulhamento nas vias urbanas e abordagens a indivíduos suspeitos. A prefeitura não quis detalhar os números do convênio por questões de segurança.
O campus também conta com um sistema de câmeras, que vem sendo ampliado. “A gente faz a manutenção diária dessas câmeras. Hoje, 90% da Cidade Universitária está coberta por esse sistema de monitoramento”, enfatiza.
Mas e quanto ao caso do estudante? “A Prefeitura cuida das vias urbanas, mas os estacionamentos são de responsabilidade das unidades”, destaca o prefeito. Em reunião realizada com a decania do CCS e diretores de unidades no dia 6, a prefeitura propôs a implantação de um sistema de controle de acesso, com gravação de imagem. “Seriam portarias com cancelas eletrônicas, onde a pessoa, ao entrar, vai ter que abaixar o seu vidro e ser identificada. Isso inibe um pouco mais a entrada de criminosos”, afirma Marcos. Outra proposta apresentada foi a de fechar o perímetro na região à beira-mar, onde ocorreu o sequestro mais recente.
Para que a administração superior possa agir com mais eficiência, o prefeito apela para que todos os relatos de crimes sejam levados ao registro da Divisão de Segurança (Diseg). “A gente faz nosso índice de violência com base na mancha criminal do que foi registrado na Diseg”, reitera o prefeito.

CORTES IMPACTAM SEGURANÇA
A proposta apresentada pela prefeitura será discutida com as unidades na próxima semana, explica o decano Luiz Eurico Nasciutti. “Já temos o valor dessa cancela eletrônica. Não temos recurso da decania, mas se as unidades aceitarem contribuir, queremos implementar isso o quanto antes”, afirma. A pessoa precisará ser cadastrada e se identificar toda vez que for entrar nos estacionamentos. “Não impedirá totalmente a criminalidade, mas com certeza evitará muita coisa”.
O professor Bruno Diaz, diretor do Instituto de Biofísica, participou da reunião (IBCCF) com o olhar de quem já foi vítima de um assalto dentro da UFRJ, em 2018. “Fui rendido e o meu carro foi levado. Todas as vezes que saio do Fundão penso bem o que estou levando comigo, e entro em contato com minha família para acompanharem o meu trajeto”, confessa o professor. Contudo, ele reconhece que a prefeitura está trabalhando no limite do que as restrições orçamentárias possibilitam. “Precisamos aumentar a eficiência do quadro pequeno que temos, para conseguir direcionar o nosso pessoal para áreas que estão em situação mais aguda”, pontua.
A UFRJ precisou revisar todos os seus contratos com empresas terceirizadas por força dos cortes impostos pelo governo, nos últimos anos. O efetivo de segurança passou de 927 vigilantes em dezembro de 2020 para 731, em fevereiro deste ano.
O Jornal da AdUFRJ tentou contato com a 37ª Delegacia, localizada na Ilha do Governador, que é a responsável pelos casos na ilha do Fundão. A assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que o delegado não estava disponível para entrevista e orientou a checar os dados diretamente com o Instituto de Segurança Pública (ISP) do estado. Porém, as informações relativas à 37ª DP não especificam os crimes cometidos apenas no campus, o que impossibilita uma análise precisa se houve um aumento na criminalidade da Cidade Universitária.

FURTO DE TONELADAS DE MATERIAL INTRIGA DIREÇÃO DA COPPE

Silvana Sá

Em outro ponto do campus, a insegurança está dentro e fora dos prédios. O professor Ericksson Almendra, diretor de Planejamento, Administração e Desenvolvimento Institucional da Coppe, contou à reportagem que, nos últimos meses, foram contabilizados cerca de 30 furtos de cabos e tubos de cobre no entorno do Centro de Tecnologia 1 e 2. “O ponto crítico foi há dois meses, quando todos os dias havia pelo menos um caso que nos afetava ou que acontecia em outras partes do campus”, disse, em referência a um período em que não havia cobertura do convênio Rio + Seguro.
“Já houve furto de metal em obras, danos a subestações e aparelhos de ar-condicionado. E a gente vai tendo dificuldade de repor todos esses equipamentos que são danificados pelos furtos externos”, afirmou o docente.
Além desses crimes, a Coppe busca entender como um material armazenado para pesquisa sumiu do Laboratório de Ensaios Não Destrutivos, Corrosão e Soldagem (LNDC), do Programa de Engenharia Metalúrgica e de Materiais. O furto está sendo investigado pela Polícia Civil e por uma Comissão de Sindicância.
Os pesquisadores deram falta do material em agosto, mas ninguém sabe precisar quando eles foram retirados do local. As câmeras de segurança existentes armazenam imagens com autonomia de apenas um mês, o que dificulta a apuração do caso. “Pode ter acontecido há quatro meses, há três meses, há seis meses”, explicou Ericksson.
Os materiais consistiam em tubos de aço envelhecido em cerca de dez anos. Ericksson preferiu não detalhar o tamanho do prejuízo, mas afirmou que os objetos tinham “grande valor para a pesquisa, embora tivessem aparência de sucata”. Uma das linhas de investigação, inclusive, é a de que os materiais tenham sido confundidos com itens para descarte. “Todo o conjunto pesava algumas toneladas, era preciso de duas a três pessoas para o transporte de cada um dos tubos, já que alguns chegavam a pesar cem quilos”, descreveu o docente responsável por montar a comissão que investiga o sumiço. 

WhatsApp Image 2021 10 08 at 21.26.57O orçamento das universidades federais e do sistema nacional de Ciência e Tecnologia permanece em estado crítico para o ano que vem, segundo a proposta do governo em tramitação no Congresso Nacional. Os avanços pontuais em relação às receitas de 2021 são incapazes de alterar o quadro geral de subfinanciamento, avaliam representantes dos reitores, da SBPC e dos pós-graduandos.
A Proposta de Lei Orçamentária (PLOA) reserva R$ 5,1 bilhões para as despesas discricionárias — ou seja, sem contar gastos com pessoal — das universidades. Um pequeno acréscimo em relação aos R$ 4,5 bilhões de 2021. “Para a grande maioria das universidades, é absolutamente impossível tocar o ano de 2022, considerando o retorno de atividades presenciais, com este orçamento”, afirma o professor Marcus Vinicius David, presidente da Associação Nacional dos Reitores (Andifes). “As universidades não têm mais o que cortar, o que ajustar. O ajuste deste ano se deu pelo fato de não ser presencial, com o corte de terceirizados. Com o retorno presencial, vamos ter de contratar, há despesas de manutenção; e a tarifa de energia está disparando”, explica.
A Andifes já articula com parlamentares a recuperação do orçamento para valores de 2019, corrigidos pela inflação. Seriam aproximadamente R$ 6,9 bilhões, R$ 1,8 bilhão a mais do que o governo propõe. “Se a gente imagina que 2022 já será um ano com possibilidade de termos grande parte das nossas atividades presenciais, precisamos ter como referência 2019, que foi o último ano de funcionamento pleno. E solicitamos a correção dos valores pela inflação, que pesa muito sobre as nossas contas”, esclarece Marcus.
A negociação, por enquanto, está em melhores condições que a última. “O orçamento de 2021 foi uma loucura. A discussão foi adiada para começar só em fevereiro deste ano. Fizeram um trabalho em toque de caixa. Nós mal conseguimos falar com a Comissão Mista de Orçamento (CMO). Para a PLOA 2022, já fizemos duas reuniões com a presidente da CMO” (senadora Rose de Freitas, do MDB-ES).WhatsApp Image 2021 10 08 at 21.38.37
A SBPC também já conversa com os parlamentares para melhorar os números da Ciência. Após três anos de intensos cortes, os orçamentos da Capes e do CNPq apresentam ligeiro crescimento, de 4,35% e 6,87% respectivamente. As receitas da Capes sobem de R$ 3,01 bilhões este ano para R$ 3,14 bilhões na PLOA 2022. Mas a agência já teve orçamento previsto de R$ 4,96 bilhões em 2017. As verbas do CNPq sobem de R$ 1,23 bilhão para R$ 1,31 bilhão. Há quatro anos, a agência dispunha de R$ 1,67 bilhão. “Não tem perspectiva para o ano que vem. A proposta de orçamento prejudica a pesquisa, torna obsoletos os equipamentos e favorece a fuga de cérebros”, critica o presidente da SBPC, professor Renato Janine.
“Estamos junto ao Congresso, tentando passar emendas. Mas é um trabalho difícil, pois o ministério da Economia não tem demonstrado sensibilidade para esta situação”, lamenta o presidente da SBPC. “É curioso, porque o ministro tem negócios na área da Educação, mas ele não prestigia a Educação como área essencial para o crescimento econômico do Brasil”, completa.
Para o ano que vem, uma das grandes esperanças de desafogo dos pesquisadores residia na liberação completa do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), orçado em R$ 4,23 bilhões. Após muita pressão da comunidade científica, o Congresso aprovou uma lei que impede o bloqueio das receitas do fundo. “Mas o governo adotou uma série de artifícios. Entre os quais, o de canalizar metade das verbas do FNDCT para o chamado reembolsável. Isto é, para empréstimos. E nenhuma instituição universitária tem condições de pagar empréstimo”, afirma Renato Janine. Se o dinheiro não for utilizado, volta ao Tesouro. As entidades científicas reivindicam que, no máximo, 15% do FNDCT sejam reservados para recursos reembolsáveis, que poderiam ser utilizados em projetos de desenvolvimento tecnológico de empresas.
Na Capes, o recurso para bolsas de ensino superior teve queda de 2% e, no CNPq, houve aumento de apenas 6%, segundo levantamento da assessoria parlamentar da SBPC. Presidente da Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), Flávia Calé avalia que 2022 será mais um ano difícil para os estudantes, se a PLOA não for modificada. “Quem perde é o Brasil. Acontece um processo de elitização da produção científica”. A dirigente estudantil observa que se apenas os que tiverem dinheiro continuarem as pesquisas, isso poderá afastar a Ciência de resolver os problemas reais da maioria da população.
Flávia defende que os recursos do FNDCT deveriam ser investidos em uma agenda estratégica. “Defendemos um reajuste e a universalização das bolsas, especialmente no doutorado. São as pessoas que efetivamente fizeram a opção pela carreira científica”, argumenta. “Nossa defesa é que o FNDCT financie este tipo de agenda”, completa.

Ciência perde mais R$ 635 milhões

No dia 8, a comunidade científica foi surpreendida com mais um corte de R$ 635 milhões no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. A pedido da equipe econômica, o Congresso Nacional aprovou a operação que retira verbas de bolsas e ameaça o edital Universal do CNPq, para usar os recursos em outras áreas. “Apelamos a todos os parlamentares que seja dado um basta nos desvios de recursos da ciência brasileira. O Brasil precisa de ciência, precisa de tecnologia, precisa de inovação, precisa de educação”, diz uma nota da SBPC.

WhatsApp Image 2021 10 08 at 21.28.36

Predio CT 0005 1546Foto: Fernando SouzaA universidade vai voltar com todas as aulas práticas em novembro? Servidores e estudantes que rejeitam a vacinação poderão frequentar os prédios? Há orçamento para a UFRJ continuar funcionando até o fim do ano? As incertezas com um retorno fragmentado e inseguro às atividades presenciais guiaram uma reunião virtual entre a reitoria e o Fórum de Mobilização e Ação Solidária (Formas), que congrega AdUFRJ, APG, ATTUFRJ, DCE e Sintufrj, no dia 30.
Os representantes estudantis, além de perguntarem sobre verbas de assistência para contemplar as aulas presenciais, queriam saber como orientar os colegas que voltaram para suas cidades natais, durante a pandemia. “As pessoas não sabem se voltam para o Rio, que é uma cidade muito cara. Queremos conter essas agonias com boas informações”, disse Natália Trindade, da APG.
A reitora Denise Pires de Carvalho argumentou que, mesmo com os cortes orçamentários, a universidade ampliou as ações de apoio aos alunos mais vulneráveis. Informou ainda que a obra de um dos blocos do alojamento será concluída até dezembro, duplicando as vagas no local. “Vamos lutar juntos pela recomposição orçamentária”, afirmou a dirigente.
A administração superior não “bateu o martelo” para a volta de todas as aulas práticas em 16 de novembro, data de início do próximo semestre letivo, como circula em alguns grupos de mensagens e como constou como proposta da universidade na ação movida pelo Ministério Público Federal pelo retorno presencial de todas as atividades.
Mas há indicativos importantes. “O Centro de Triagem Diagnóstica (CTD) hoje apresenta um percentual baixíssimo de positivos”, informou a reitora. Os estudantes também vão completar o esquema vacinal, nas próximas semanas. “Haverá diminuição dos casos e entraremos nos critérios de médio para baixo risco. Aí não tem nada que justifique, do ponto de vista técnico-científico, que a gente não retorne com aula prática”, afirmou.
As ressalvas também foram pontuadas: “Se os critérios epidemiológicos permitirem, se uma nova variante não surgir. É tudo cheio de ‘se’, porque a gente não tem bola de cristal. O GT coronavírus acredita que será possível em novembro. Temos o mês de outubro inteiro pela frente”. Enquanto isso, o CTD prepara um projeto para fazer testes aleatórios para detecção da covid entre os que retornarem. “Vamos rastrear. Antes, só fazíamos dos sintomáticos e contactantes. Agora a gente quer fazer uma triagem de quem retornar”, informou Denise.
“No início da pandemia, fizemos muitas reuniões. Agora, para tratar do retorno, os encontros precisarão ser mais frequentes. A volta é um processo novo, mais complexo. Não sabemos como vai ser, mas tenho certeza de que a universidade saberá escolher o melhor caminho”, observou a presidente da AdUFRJ, professora Eleonora Ziller. Coordenadora do Sintufrj, Joana de Angelis também cobrou mais diálogo entre as diversas instâncias e grupos de trabalho que foram criados, não só pela reitoria, mas pelos Centros e unidades. “Isso vai ajudar muito a apaziguar as ansiedades”, disse
Nada do que está sendo feito, assegurou a reitora, tem relação com a pressão do MPF para a volta de todas as atividades acadêmicas aos campi. “Critérios técnico-científicos nos fizeram parar; critérios técnico-científicos nos farão voltar”, disse. “Mas não podemos perder o ‘timing’. Não podemos ser a última a voltar”, completou.
Os procuradores do Ministério Público cobram o retorno geral até 18 de outubro. “Está nas mãos da juíza. Mas se vier este 18 de outubro, a Procuradoria da universidade vai recorrer”, informou o vice-reitor da UFRJ, professor Carlos Frederico Leão Rocha.
Outro ponto que pode ser objeto de disputa na Justiça são os servidores e estudantes que rejeitam a vacinação contra a covid voltarem a frequentar os prédios da universidade. “Minha vontade é proibir, mas preciso de parecer jurídico”, explicou Denise. A Advocacia Geral da União está preparando um documento sobre o tema.
“É para ter liberdade dentro da biossegurança, sem assédio, e vamos precisar respeitar cada vez mais as ansiedades individuais. Há pessoas que, mesmo com três doses de vacina, não se sentirão seguras (para voltar)”, disse a reitora. Por outro lado, há alunos que querem muito voltar, porque só conhecem os colegas de turma pelas telinhas de computador. “O grande problema vai ser como atender todos que querem voltar”, concluiu.

Governo estabelece orientações para volta ao presencial

Uma instrução normativa do governo causou alvoroço entre os professores nesta sexta-feira, dia 1º. A IN nº 90 “estabelece orientações” para o retorno “gradual e seguro” ao trabalho presencial, a partir de 15 de outubro, quando entrará em vigor. Mas não deixou claro se todos os servidores federais são obrigados a voltar na data.
O artigo segundo diz que todos os servidores e empregados públicos “ficam elegíveis para fins de retorno”. E que deverão permanecer em trabalho remoto, mediante autodeclaração, os que apresentam condições ou fatores de risco, como os que têm idade igual ou superior a 60 anos ou gestantes. Aqueles que são cuidadores, em locais onde estejam suspensas as aulas escolares presenciais ou serviços de creche, também poderiam trabalhar a partir de suas casas.
A reitora da UFRJ, professora Denise Pires de Carvalho, disse que vai avaliar “com calma” o documento. “Não pretendo obrigar retorno presencial. Mas reitero que o trabalho presencial não está proibido. É facultativo”, pontua. Já para o vice-reitor Carlos Frederico Leão Rocha, a Instrução Normativa pode fortalecer a ação do Ministério Público Federal do Rio, que busca impor o retorno presencial obrigatório às instituições de ensino do estado. “O MEC sempre entendeu nossa autonomia em relação ao calendário e retorno gradual, mas essa não é a postura do MPF. Esse texto pode nos enfraquecer”, avalia. “Em relação à ação do MPF, nós continuaremos insistindo no nosso planejamento já apresentado à universidade”.
A presidente da AdUFRJ, professora Eleonora Ziller, entende que a norma não tem efeitos na universidade. “Não é uma lei. A resposta que a reitoria deve dar é essa: a universidade tem autonomia garantida pelo Artigo 207 da nossa Constituição”, afirma. Ela destaca o trabalho cuidadoso e responsável da UFRJ ao longo da pandemia. “A universidade tem seus critérios, tem seus parâmetros, há planejamento organizando esse retorno presencial”. A docente também cita a questão financeira como uma barreira para o retorno seguro. “Se o governo não repassa orçamento para que a universidade tenha, de fato, um retorno obedecendo todas as normas sanitárias, não há nem o que discutir”.
“Como toda instrução normativa, ela é facultativa”, esclarece a coordenadora do Sintufrj, Joana de Angelis. Na mesma linha da diretoria da AdUFRJ, a dirigente também destaca a atuação da universidade no planejamento do retorno “gradual e seguro”.  “O Sintufrj continua defendendo que esse retorno tem que acontecer considerando todas as condições estabelecidas pelos nossos especialistas que compõem o GT da UFRJ, as condições sanitárias do Rio de Janeiro e as condições estruturais da UFRJ”. (Silvana Sá e Kelvin Melo)

Unidades vão aprovar planos de atividades práticas

As unidades vão preparar e autorizar seus próprios planos de retorno gradual das atividades práticas, seguindo as diretrizes gerais da UFRJ. Até agora, ainda em caráter emergencial, era necessário que o planejamento passasse pelo crivo da pró-reitoria de Graduação e do Conselho de Ensino de Graduação (CEG). A mudança nas diretrizes da instituição foi anunciada na reunião da reitoria com as entidades sindicais e estudantis.
“Não tem como, numa universidade do tamanho da nossa, com a complexidade que temos, centralizar esses planos na administração superior”, afirmou a coordenadora do grupo de trabalho sobre o tema, professora Fátima Bruno. A nova versão do guia de retorno das atividades práticas deve ser divulgada até o dia 4. Fátima não adiantou outros detalhes do guia, que ainda dependiam de respostas dos especialistas. “Estão sempre me perguntando se o distanciamento (entre as pessoas) deverá ser de 2 metros, 1,5 metro ou 1 metro. Quem me responde isso é quem entende do assunto”.
A alteração na tramitação dos processos acompanha outra iniciativa do grupo de trabalho. Na última plenária de decanos e diretores, Fátima solicitou aos gestores o planejamento do retorno de aulas práticas, com prazo de resposta até 15 de outubro. “Porque a gente precisa orçamentar”, explicou a reitora Denise Pires de Carvalho. “Fizemos um pedido de verba suplementar ao MEC baseado em atendimento hospitalar, em testes, em EPIs (equipamentos de proteção individual), mas não ainda para a infraestrutura dessas salas. Para isso, precisamos do planejamento dos diretores. Quais salas serão utilizadas, quais precisam ser adaptadas, o que precisa fazer nos banheiros e assim por diante”, completou.

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