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A semana foi de transição. Nas reuniões que tivemos, estavam conosco os integrantes da nova diretoria que tomará posse em 15 de outubro. Juntos ouvimos as representantes do Colégio de Aplicação, e também estivemos na reunião do Formas, o fórum das entidades da UFRJ que debateu com a reitoria os desafios para um retorno presencial seguro e que respeite as normas sanitárias. Nos dois encontros, um único tema de fundo: como afirmar nossa autonomia, nossos princípios e nossa cultura diante das pressões e ameaças do Ministério Público, que vem servindo (ao menos no Rio de Janeiro) de caixa de ressonância para os desmandos e a perseguição ideológica em curso desde que o atual ocupante do Palácio do Planalto tomou posse. Há ali um movimento legítimo, que expressa as reivindicações de setores da sociedade sobre o funcionamento presencial das escolas e cursos. Não é esse o problema. Como instituição pública devemos dar transparência aos nossos atos e sermos capazes de justificá-los. Mas o que está em curso nas ações que a universidade está respondendo é a flagrante violação do princípio constitucional da autonomia. A universidade possui um plano, possui um grupo de especialistas, está planejando, avaliando e executando ações que possibilitem o retorno gradativo de suas atividades. O que queremos, e o reivindicamos, é respeito pelas nossas decisões, que são emanadas pelos nossos colegiados superiores, após detalhado e cuidadoso exame. Que seja necessário produzir documentos, apresentar planos e justificativas, comparecer às audiências, enfim, não estamos acima nem fora da vida social e de seus regramentos.
Ao mesmo tempo em que somos pressionados judicialmente, assistimos ao circo de horrores em que se transformou a CPI da Pandemia. As últimas graves denúncias envolvendo a Prevent Senior corroboram e fundamentam as nossas primeiras preocupações com o andamento da votação pela Câmara de mais um ataque direto ao Estado brasileiro e a sua frágil rede de proteção social. Saúde e Educação são importantes demais para serem submetidas à “regulação do mercado”. A PEC 32, a caminho do plenário para apreciação e votação, desfigura e desorganiza os fundamentos do Serviço Público e suas instituições, insere instabilidade e atalhos perigosos ao sistema, sem, no entanto, enfrentar nenhum dos privilégios que diz combater.
O resumo da ópera: exigências descabidas, desmonte de direitos, destruição dos instrumentos de elaboração e implementação de políticas públicas. O resultado do despreparo e da incompetência instalada no governo já nos salta aos olhos: inflação, fome, desemprego.
E o que há para fazer? Encerraremos a semana com mais um ato de rua (e nas redes), mas que dessa vez está trazendo uma nova perspectiva. O movimento #ForaBolsonaro cresceu, se ampliou, e ganhou novos atores. Cresceu o número de partidos políticos que convocam o ato, cresceu também a nossa indignação. O caminho está traçado, e mesmo diante de nosso espanto pela complacência criminosa que ainda é dominante em nosso país, vamos percorrê-lo. Com a mais ampla unidade das chamadas forças progressistas, vamos mais uma vez reafirmar nosso compromisso com a luta pela democracia, pela dignidade humana, em defesa da ciência, da cultura e da liberdade, contra a desigualdade social e a destruição nacional. Estaremos lá, sábado, 2/10, pela manhã, na Candelária. Estaremos todos e todas: a atual e a futura diretoria, e esperamos que muitos mais professores e professoras da UFRJ também!
Há dois anos, a atual diretoria da AdUFRJ era eleita para comandar o sindicato entre 2019 e 2021. Tomaram posse em 15 de outubro. Vieram as festas de dezembro, as férias de janeiro, o congresso do Andes em fevereiro. No final daquele mês, acontecia o primeiro caso confirmado de covid-19 no Brasil. Em março, cinco meses depois da posse, as aulas presenciais e diversas atividades não emergenciais foram suspensas na universidade. Desde então, foi enorme o esforço de reinventar a atuação sindical em meio remoto. “Eu tinha o sonho de recuperar essa alegria de estarmos juntos pessoalmente, de retomar eventos, de fazer da AdUFRJ um lugar de encontro para além da atuação sindical. Então, para mim, foi muito traumático fazer um mandato remoto”, lamenta a presidente do sindicato, professora Eleonora Ziller.
Diante de uma universidade privada de sua maior riqueza — a diversidade das trocas presenciais entre professores, estudantes, servidores e terceirizados — e de tantas incertezas diante do presente e do futuro, o jeito foi buscar mitigar os prejuízos desse afastamento forçado. “A gente já tinha introduzido as assembleias multicampi, reuniões por Zoom, já falávamos sobre novas formas de luta. E colocamos em prática aquilo que já vinha sendo amadurecido”, analisa Eleonora. Daí surgiram inúmeras iniciativas, como o Formas (Fórum de Mobilização e Ação Solidária), que congrega todas as entidades representativas da UFRJ, o CineAdufrj, o Sextou — Tamo Junto.
“O Tamo Junto foi uma de nossas melhores iniciativas. Foi algo gestado no início da pandemia, em uma tentativa meio improvisada de manter o sindicato funcionando, de manter as pessoas em contato, mesmo que à distância, e se mostrou esse sucesso estrondoso”, avalia o professor Felipe Rosa, 1º vice-presidente da AdUFRJ. “As pessoas esperavam para entrar no Tamo Junto, pediam para que acontecesse. As discussões foram de altíssimo nível e muito diversificadas”, orgulha-se o dirigente.
Outra importante ação foi a ampliação do plantão jurídico. Antes da pandemia, os atendimentos dos advogados aos sindicalizados aconteciam às terças e, a cada 15 dias, às sextas-feiras. Desde novembro do ano passado, os atendimentos passaram a ser todas as terças e quintas-feiras, com quatro horas de duração, em vez das tradicionais três horas. “Foi acertada a iniciativa de ampliar esse serviço. A nossa assessoria tem se mostrado bastante eficiente ao longo dos mais de 20 anos em que a AdUFRJ oferece esse atendimento”, elogia Felipe.
O fortalecimento do Jornal da AdUFRJ, a criação do programa AdUFRJ no Rádio e as lutas pelos direitos dos professores, como a campanha da insalubridade, também foram pontos importantes da atuação sindical. A associação fez uma série de reuniões com a reitoria para resolver as injustiças cometidas contra muitos docentes que tiveram seu direito ao adicional ocupacional negado ou cortado. Houve campanhas para identificar as pessoas que estavam nessa situação e ações individuais na Justiça. “Desde novembro do ano passado temos realizado reuniões com a reitoria. Houve tendência de mudança na conversa, do ponto de vista daquilo que pode ser resolvido administrativamente, mas os passos são sempre muito lentos”, critica o professor Pedro Lagerblad, 1º tesoureiro da atual gestão. “Os avanços substantivos infelizmente estão acontecendo por conta das decisões judiciais”.
Nesta edição e nas duas próximas do nosso jornal, você pode conferir em detalhes o balanço dos dois anos de mandato da atual diretoria, com ações que mantiveram a AdUFRJ viva e atuante, apesar da pandemia. (Colaborou Liz Mota Almeida)
FORMAS
“De tudo o que a gente fez e participou, o Formas (Fórum de Mobilização e Ação Solidária) foi a coisa mais bacana. Destaco a maturidade da garotada e a força das mulheres na condução da maioria das entidades. Foi crucial essa unidade, principalmente no início da pandemia”, avalia a presidente da AdUFRJ, professora Eleonora Ziller. O fórum reúne as entidades representativas da universidade: AdUFRJ, Sintufrj, DCE, APG e ATTUFRJ. O lançamento ocorreu no dia 4 de maio do ano passado. “Estávamos num momento de perplexidade, as pessoas muito vulneráveis. Quando fizemos a proposta, todo mundo abraçou”, conta Eleonora.
Para a dirigente, a coesão do grupo foi fundamental, não só para atuar nas ações de solidariedade, como também para costurar assuntos importantes, como o início do ensino remoto e a defesa da universidade, quando chegou o anúncio de que a UFRJ precisaria fechar as portas em julho, por falta de orçamento. “Os estudantes decidiram ir para a rua, para o Largo do São Francisco, e todas as entidades estavam presentes. Ali se consolidou a construção de um ano anterior inteiro. Foi um momento de unidade muito poderosa, que impulsionou para o ato nacional de 29 de maio”.
INSALUBRIDADEEm setembro do ano passado, o STF decidiu que os servidores podem converter em tempo comum o tempo especial trabalhado sob condições de risco à saúde. O fator de multiplicação varia de acordo com o adicional recebido. A partir disso, a AdUFRJ iniciou um movimento para identificar os professores que, apesar de terem direito aos adicionais, tinham seus pedidos negados. A campanha foi lançada no dia 23 de novembro. No mesmo mês, aconteceu a primeira reunião entre a diretoria e a reitoria para resolver o problema pela via administrativa.
“É errado a universidade não dar a insalubridade, sequer parcial, alegando que não há condições de medir os elementos químicos nocivos. Também não aceitam a nossa perícia técnica. Há erro de avaliação inclusive porque pessoas tiveram o direito negado mesmo trabalhando com elementos cuja medição quantitativa não é necessária”, reclama o professor Pedro Lagerblad, diretor da AdUFRJ. “Entregamos a listagem há um mês, com cerca de 60 pessoas que têm direito, mas não recebem, e ainda não tivemos retorno. Por enquanto, as ações na Justiça estão sendo encaminhadas individualmente. Mas, se essa morosidade continuar, não vejo outra alternativa a não ser a AdUFRJ entrar com uma ação coletiva”.
TAMO JUNTO
Ainda nas primeiras semanas da pandemia, como forma de manter o sindicato ativo durante o isolamento social, surgiu o “Sextou - Tamo Junto”, um bate-papo virtual entre os professores da UFRJ. Foram 28 encontros, desde março do ano passado, com temas ligados às áreas de Política, Educação, Saúde, Música e História, entre outros. A iniciativa ficou ainda mais atraente quando as conversas passaram a ter um professor como “puxador de conversa”.
“Acho que foi um sucesso em qualquer aspecto que possa ser mencionado. E isso graças a um investimento relativamente módico: uma certa organização, e contando com o capital humano da UFRJ, que é gigantesco”, avalia o professor Felipe Rosa, 1º vice-presidente da AdUFRJ. Para ele, o “Tamo Junto” foi uma das mais bem-sucedidas ações da gestão. “Conseguimos um resultado melhor do que esperávamos, uma iniciativa que funcionou muito bem para manter o nosso sindicato coeso e vibrante”, afirma.
PLANTÃO JURÍDICO
A oferta do atendimento jurídico remoto, pelo Zoom, foi ampliada na atual gestão, assim como o tempo mensal de atendimento, que passou de 18 para 32 horas. A medida teve bons resultados. O número de professores atendidos cresceu 45%: hoje, entre 60 e 65 professores são atendidos por mês, em média, sem contar os atendimentos feitos diretamente por e-mail.
Na avaliação da diretoria, o aumento da procura foi um reflexo da facilidade de conseguir o atendimento remoto. “Disponibilizar o serviço online durante a pandemia foi essencial”, conta Felipe Rosa. “O atendimento jurídico é um dos principais ativos que temos, uma das principais funcionalidades do sindicato que os associados procuram”, explica. Para Felipe, o acerto da medida deveria ficar de exemplo para as próximas gestões do sindicato. “Se eu puder dar uma sugestão, seria a de manter parte do atendimento online, mesmo quando houver uma volta ao presencial. Ou fazer o atendimento presencial em mais de um lugar”, propõe.
CINEADUFRJA primeira sessão do CineAdUFRJ aconteceu no dia 29 de abril de 2020, com a exibição do filme “Sorry we missed you”, seguido de debate. Desde então já foram realizadas 23 sessões. A próxima será no dia 30, com o tema “Infodemia, fake news e sociedade”. Os principais temas abordados foram racismo e democracia, com cinco edições reservadas à discussão; a questão do direito à cidade, abordada em duas sessões; e fascismo no cinema, também com duas sessões.
A ideia surgiu como forma de unir a atuação sindical a uma experiência cultural e política. “Há um grupo de extensão que eu coordeno, o Grupo de Educação Multimídia, então propomos uma parceria com os alunos”, conta Eleonora Ziller. A iniciativa cresceu e envolveu outros atores. “Em geral, se discute nas próprias sessões os temas das próximas, as pessoas vão propondo coisas. Deixou de ser um projeto da diretoria”. Professores de diferentes áreas e cineastas especializados em variados temas já participaram do CineAdUFRJ. No site do projeto (www.grupodeeducacaomultimidia.com.br/cine-adufrj) estão listadas todas as sessões e filmes. “Acabou se criando um curso de cinema contemporâneo. Espero que frutifique”, deseja a professora.
ANDES
A relação com o sindicato nacional se estreitou no último período. A AdUFRJ esteve presente em todos os congressos e Conads ocorridos desde o início de 2020. “A gente se comprometeu que a AdUFRJ sempre tivesse uma delegação representativa dos movimentos da UFRJ”, afirma a professora Eleonora Ziller. “É importante destacar a postura da Rivânia (Moura, presidente do Andes) e do Markos (Klemz, da Regional Rio) na busca do diálogo. Temos uma relação mais próxima, mais colaborativa”, sublinha Eleonora. “Mesmo a gente tendo apoiado uma chapa de oposição, isso não se transformou num problema. Somos uma representação que integra uma das maiores ADs do país e a relação com o Andes melhorou muito”.
JORNAL DA ADUFRJA diretoria também decidiu fortalecer o jornal nesse período. Desde a posse da atual gestão foram editados 95 jornais, sendo 78 de modo remoto, desde que a pandemia começou, com a mesma regularidade de antes e ainda mais conteúdo. “Era preciso dar mais força para nosso jornal. Nossa categoria tem mais idade e é muito marcada pelo papel do jornal na formação das pessoas”, avalia Eleonora Ziller. “A pandemia transformou o jornal numa linha que liga a UFRJ e teve papel fundamental quando até o Conselho Universitário estava sem se reunir. Esse foi um período histórico. A vida da universidade, os impasses da pandemia, há um relato bem diversificado no nosso jornal. Quando tentarem entender o que foi a pandemia na universidade, o Jornal da AdUFRJ vai ser uma fonte muito preciosa”.
Foto: Ana Marina Coutinho (Coordcom/UFRJ)Os professores do Colégio de Aplicação divulgaram nota de repúdio contra uma ação civil pública do Ministério Público Federal, ajuizada em maio deste ano. O MPF tenta impor controle de frequência, por ponto eletrônico, na escola. Para os docentes, a “medida alteraria profundamente a natureza do trabalho na instituição e prejudicaria a realização das atividades de excelência em ensino, pesquisa e extensão que a têm caracterizado ao longo de sua história”.
Confira a nota, na íntegra, abaixo:
EM DEFESA DA CARREIRA DOCENTE:
nota de repúdio à implantação de ponto eletrônico para controle de frequência no Colégio de Aplicação da UFRJ
Vimos por meio desta expressar nossa indignação e extrema preocupação com a ação civil pública do Ministério Público Federal para implantação de controle de frequência, por ponto eletrônico, dos docentes efetivos da carreira de Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT) no Colégio de Aplicação (CAp) da UFRJ. Essa medida alteraria profundamente a natureza do trabalho na instituição e prejudicaria a realização das atividades de excelência em ensino, pesquisa e extensão que a têm caracterizado ao longo de sua história.
A carreira EBTT é regida pela Lei Nº 12.772/2012, que a coloca em relação de isonomia à carreira do Magistério Superior (MS), de forma que ambas se caracterizam pela indissociabilidade entre as atividades de ensino, pesquisa e extensão. Como unidade universitária de Educação Básica voltada para a formação inicial e continuada de professores, atuamos não apenas em atividades de ensino de estudantes do ensino básico; também desempenhamos tarefas voltadas para estudantes da graduação em formação docente inicial nas mais diversas licenciaturas da UFRJ e de instituições parceiras, bem como em variados cursos de pós-graduação, ministrando disciplinas e orientando Trabalhos de Conclusão de Curso, Dissertações e Teses.
Associadas a essas atividades, nosso corpo docente: compõe bancas de concursos públicos, de titulação e de conclusão de cursos de graduação e de pós-graduação; realiza pesquisa dentro e fora da escola, contando inclusive com um Núcleo de Iniciação Científica Jr. voltado para estudantes de Ensino Médio em parceria com diferentes instituições, para além da própria UFRJ; participa e desenvolve projetos de Pesquisa na área de educação, com resultados que têm se mostrado muito importantes para reflexões sobre a educação pública no nosso país; e compromete-se com a sociedade civil pela destacada atuação na Extensão Universitária, ofertando para o público externo ao corpo social da Universidade um expressivo número de ações e projetos de extensão ativos. Por meio desses, promovemos a realização de cursos e eventos nos quais se estabelecem trocas e elaborações conjuntas com outras escolas públicas, especialmente dentro do Complexo de Formação de Professores da UFRJ.
Além disso, orientamos um grande número de estudantes extensionistas e bolsistas nos projetos de extensão e de pesquisa, assim como professores em formação continuada. Para troca e maior produção de conhecimentos, nosso trabalho em pesquisa e extensão inclui ainda a participação em congressos, seminários e outros encontros de divulgação científica. Entre nossas atividades docentes, cumpre observar que no âmbito da administração pública desempenhamos funções de representação em órgãos colegiados da Universidade, como o Conselho de Ensino de Graduação, o Conselho de Extensão, o Conselho do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, o Conselho Universitário, dentre outros, bem como assumimos cargos de diretoria, chefia e de coordenação do próprio Colégio de Aplicação. Consequentemente, a realização de todas essas atividades exige nossa frequência em diferentes campi da UFRJ, em outras universidades públicas e em outros espaços, como escolas públicas de diversos locais do país, secretarias de educação, etc., além de transitarmos entre as duas sedes de nossa unidade, Lagoa e Ilha do Fundão.
Saliente-se ainda que professores da carreira do MS também atuam no CAp como mais um campo de trabalho, orientando estudantes de licenciatura e acompanhando a realização de atividades do estágio curricular obrigatório. A atuação de docentes de ambas as carreiras no espaço da escola é almejada e em muito enriquece o trabalho desempenhado no âmbito do Colégio de Aplicação; não obstante, o controle eletrônico de frequência aplicado exclusivamente aos docentes EBTT acirraria, de maneira ainda mais conflitante, a ausência da isonomia entre as carreiras.
Isso posto, afirmamos com toda a propriedade que nos é conferida que um controle eletrônico de ponto fixo no Colégio de Aplicação é incompatível com a natureza do trabalho desenvolvido por seu corpo docente. O Colégio de Aplicação é uma unidade da UFRJ; como tal, requer de sua gestão e organização o indispensável princípio da autonomia universitária. Portanto, submeter docentes EBTT ao controle de ponto eletrônico não só fere um princípio fundador da própria UFRJ, como também rompe com a isonomia entre as carreiras de docentes que atuam na universidade, subalternizando a carreira EBTT em relação à carreira do MS.
Como última questão, esclarecemos que a direção da escola, como parte de sua função gestora, controla e garante a realização do trabalho pelo seu corpo docente em todas as suas atividades. O Plano Individual de Trabalho Docente (PLANIND) elaborado no Colégio de Aplicação é entregue anualmente pelo seu conjunto de professores e acompanhado com cuidado pela direção. Este documento inclui não só os horários semanais dedicados às aulas na educação básica, graduação e pós, como também os horários para: planejamento, acompanhamento e avaliação das atividades de ensino; realização dos projetos de pesquisa e extensão; orientação de estudantes de licenciatura, extensionistas e bolsistas; participação em reuniões pedagógicas e em Conselhos e Órgãos de Representação. Pelo intenso trabalho desenvolvido por nosso quadro de professores, a carga horária do trabalho docente é distribuída em até três turnos. Cabe ainda mencionar que nos relatórios para progressão docente, equiparados aos da carreira do MS, descrevemos toda a nossa produção acadêmica e realizações em ensino, pesquisa e extensão. Ante o compromisso que temos com nosso trabalho, é simplesmente afrontosa a ideia de controle de nossa frequência pelo preenchimento de um ponto -- seja ele eletrônico ou de qualquer outra espécie.
Por isso, reafirmamos: a implantação de ponto eletrônico de frequência aos docentes do Colégio de Aplicação da UFRJ significaria atingir profundamente toda a estrutura organizativa e a natureza do nosso trabalho, o qual, pela realização de Projetos de Pesquisa e Extensão, reflete-se nas atividades pedagógicas de Ensino e constroem a qualidade da nossa escola. Essa implantação abriria precedentes para uma verdadeira derrocada na construção histórica e pioneira dos Colégios de Aplicação de todo o Brasil como espaços de formação docente, bem como aprofundaria ainda mais o controle do trabalho docente que tem ferido a autonomia da profissão de professores das escolas públicas de todo o nosso país. Por todos os motivos expostos acima, e contando com amplo reconhecimento e apoio do corpo social da Universidade ao trabalho desenvolvido em nossa unidade, posicionamo-nos veementemente contrários à instalação de ponto para controle de frequência em nosso Colégio de Aplicação.
Ass: Docentes da carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico lotados no Colégio de Aplicação da UFRJ
Se fôssemos um filme, o roteiro da semana que se encerra seria inverossímil, exagerado e caricaturado ao extremo. A participação de Bolsonaro na ONU mais parecia um espetáculo bufônico mal interpretado, com diálogos de péssima qualidade, uma viagem à irrealidade, ou melhor, ao mundo da pós-verdade. Piada de mau gosto, vergonha internacional, vexame diplomático são avaliações dos críticos mais generosos. Mas o verdadeiro filme de horror se desenrolou no Congresso Nacional quando, após alguma dificuldade e adiamentos, a Comissão Especial aprovou o relatório da PEC 32, que destrói o Estado brasileiro. É o preço pago pelo passaporte e a manutenção de Bolsonaro no poder? Para alguns analistas, sim. É uma parte do custo das bravatas do 7 de Setembro. O que explica a manutenção desse celerado na cadeira presidencial? A implantação de medidas altamente antipopulares é o serviço mais importante que a familícia oferece àqueles que ainda se consideram proprietários das capitanias hereditárias. A aprovação de uma reforma constitucional dessa magnitude, com um poder destrutivo incomensurável, só pode ser viabilizada por quem já não tem nada a perder, ou está recebendo muito dinheiro para isso (no caso, os deputados). É quase o crime perfeito.
Mas, voltando à metáfora do filme, precisamos entrar em cena e escrever um novo desfecho. Vamos meter a mão nesse roteiro. É chegada a hora de uma grande mobilização nacional para pressionarmos o Congresso de todas as formas. Mais uma vez, o nosso jornal faz uma reportagem consistente sobre o significado das medidas contidas na propalada reforma administrativa. Não há nenhum ganho para a sociedade, não há qualquer proteção para quem já está no Serviço Público e, para a população mais vulnerável, ela representará mais desalento e abandono por parte do Estado. A agudeza da crise que enfrentamos não tem paralelo na nossa história. Por tudo isso, precisamos dizer não à PEC 32, integrar o calendário de mobilizações nacionais e gritar Fora Bolsonaro no ato unificado de 2 de outubro.
Estamos vivendo um momento de renovação, com uma nova diretoria eleita para a AdUFRJ, assim como o Conselho de Representantes, num processo histórico, com a mais ampla participação dos docentes. A posse será em outubro. Mas, até lá, trabalharemos juntos para garantir que todas essas questões não ficarão sem resposta. No balanço de perdas e danos, ao menos nesse quesito, temos saldo positivo. O nosso sindicato sobreviveu, cresceu e se renovou. Estamos publicando nessas últimas edições sob a nossa responsabilidade uma avaliação de nossas ações e sua repercussão na vida universitária. Pode ser um lugar comum, mas expressa bem o sentimento que nos domina nesse momento: não conseguimos fazer tudo que gostaríamos, mas fizemos tudo que nos foi possível. E a alegria de entregar uma AdUFRJ com mais sindicalizados, com uma vida cultural apesar das restrições, com as edições semanais ininterruptas do jornal, e também de nosso programa no rádio, enfim, com uma importante história de participação conjunta com as entidades da UFRJ no Formas, nosso Fórum de Mobilização e Ação Solidária, reforçam a esperança de que dias melhores estão por vir.
Sobrevivemos. E estamos prontos para honrar a memória daqueles que perdemos, que se foram precocemente nesses tempos sombrios. Nos próximos lances, estará em risco a universidade e toda a educação pública e o SUS, os órgãos de fomento, o sistema nacional de pesquisa, as instituições públicas que até aqui, ainda que timidamente, conseguiram frear a avalanche de destruição nacional que o atual governo vem promovendo. É verdade que sofremos grandes derrotas, perdemos direitos, a vida se tornou muito mais difícil. Mas o cenário teria sido ainda mais desolador se tivéssemos entregado os pontos. Não vamos parar nem voltar atrás! Foi o slogan que nos moveu quando fomos eleitos, e é ele que permanecerá em nosso horizonte até o último minuto!