Diretoria da AdUFRJ
Nada mais definidor das políticas públicas para a Ciência e a Arte do atual governo do que a semana que se encerra: CNPq fora do ar, com um servidor queimado e a notícia de que teria se perdido todo o seu enorme banco de dados (incluindo aí os nossos Lattes) e o incêndio em um dos galpões da Cinemateca Brasileira, com a possibilidade de perdas irrecuperáveis da memória do cinema nacional. Junte-se a isso o achado da antropóloga Adriana Dias, divulgado em matéria do Intercept, que, por acaso, se deparou com as conexões entre grupos neonazistas e o atual presidente da República datados de 2004. Alguém ainda tem dúvida sobre o horror que nos governa? O bafo imundo da besta sopra no Planalto Central, desafia, mente e escarnece as instituições do país. Institui do alto de suas prerrogativas a mentira e a falsificação como norma, e reduz o já vergonhoso toma-lá-dá-cá, ou o famoso “é dando que se recebe” da fisiologia parlamentar, ao mais abjeto colaboracionismo. “O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera”, drummondianamente falando. Mas não só. Porque sábado foi dia de rua, ato, grito e muitos “Fora, Bolsonaro!”. Nem tão grande nas capitais como gostaríamos, mas surpreendente em tantas cidades pelo país.
O que fere e queima num país que convive com mais de meio milhão de mortos na pandemia? Não queremos explosões descontroladas, dispersas e pouco efetivas. Precisamos de organização, sensatez, persistência e disciplina para nos mantermos no jogo. Aproveitemos a semana olímpica e o belo baile da favela que entrou pela casa de tantas pessoas em todo o mundo. Rebeca entrou com tudo, Daiane lembrou que faz muito pouco diziam que ali não era lugar para elas. Mas elas foram e ocuparam. E Rebeca ocupou sem concessões: mulher, negra, favelada finca o pé na festa esportiva de todos os povos, queimando na pira olímpica mais um tanto de racismo e preconceito. Tivemos até fadinha, com direito a esperança num mundo melhor.
E, no meio do caminho, uma estátua incendiada. Muita polêmica em torno dela, porque roubou a cena dos atos organizados, porque deu argumentos para os conservadores, porque foi uma decisão autoritária de um pequeno grupo. E também porque não se queimam monumentos, não se queima a história... E por aí segue o fio de uma grande lista de argumentos contra o ato da autointitulada Revolução Periférica. Mas não é do passado que estamos falando, pois a questão é que Borba Gato está mais vivo do que nunca. Escravista e aventureiro, predador extrativista, parece que seu espírito volta a nos assombrar, rondando a vida política brasileira, hoje sustentada por madeireiros ilegais, garimpeiros e toda sorte de contrabandistas e atravessadores. Por isso a discussão é urgente, mas ela é muito maior do que refutar o passado colonialista, é ainda lutar desesperadamente para que ele seja de fato um passado a ser criticado.
Sigamos nessa conjuntura cada vez mais complexa, sem perder o rumo da prosa: unidade de todas as forças democráticas, em defesa da vida. Não é pequeno o que temos pela frente, não cabe qualquer ilusão que projete para um futuro próximo uma eleição redentora de todos os males. Cada dia é preciso conter o avanço desse projeto autoritário, em todas as frentes, onde for possível. Estamos iniciando o processo eleitoral para a nova diretoria da AdUFRJ. As inscrições de chapas estão abertas até o dia 12 de agosto. Que este seja um momento de reorganizarmos nossas forças. Vamos fortalecer o nosso sindicato. A velha máxima ainda está valendo: todos juntos somos fortes.