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04WEB menor1134A avaliação é um dos aspectos mais preocupantes da adaptação emergencial ao ensino remoto na UFRJ. O que fazer? Como fazer?
“O bom senso deve prevalecer e as pessoas devem entender que o momento exige adaptação de todos os lados. É uma experiência inesperada e única”, afirma o coordenador do Núcleo de Educação a Distância (NEAD) da Pró-reitoria de Graduação, professor Bruno Souza de Paula.
O docente, um dos integrantes da comissão criada pela reitoria para pensar o ensino remoto na UFRJ, observa que haverá liberdade para o docente avaliar seus alunos, assim como já existe no ensino presencial. “Já é assim. Se olhar como funciona no presencial, as avaliações já são diferentes em muitos cursos”, observa.

Bruno explica que os professores poderão aplicar provas por plataformas de ensino remoto que já estão sendo ensinadas às unidades (leia mais na página 3). Haverá possibilidades como entrega de trabalhos ou questionários que ficam disponíveis por um determinado tempo. A partir do momento que são acessados pelo aluno, existe um prazo de resposta. Também pode ser criado um banco de questões, evitando que os alunos façam exatamente a mesma prova.

MODELO SEM PROVA
Designer instrucional do Cederj, Bruna Werneck conta que o próprio consórcio, referência de educação a distância há 20 anos, está se adaptando aos novos tempos. Ela explica que todos os cursos faziam avaliações presenciais em polos espalhados pelo estado. Estas provas, que valiam mais para a nota geral do aluno, também passaram a ser virtuais.
Na primeira rodada, no final de abril, houve problemas de vazamento de provas, que foram canceladas. “Como não há como garantir que o aluno vai ter conexão em uma hora determinada, deixamos a prova disponível por mais tempo para o aluno acessar”. Mas, a partir do primeiro minuto de exame disponível, um aluno podia resolver as questões e fazer uma live no instagram sobre o assunto. Quem acessasse horas depois, já estava com toda a “cola”.
“Passamos a utilizar outras ferramentas. Alguns professores ajustaram a forma de dar prova, como limitar mais o tempo, com bancos de questões, de forma que os alunos não tivessem acesso exatamente às mesmas provas, mas de mesmo nível”, informa Bruna, sobre os exames aplicados no fim de maio. “Mas ainda não chegamos a um modelo que consideramos ótimo”, completa.
A designer, no entanto, não recomenda a aplicação de provas para avaliação do ensino remoto. “Não há como fiscalizar prova a distância. Mesmo que seja possível, por exemplo, todo mundo na mesma hora, com câmera ligada e professor olhando a cara do aluno”, diz. Fora do ângulo da câmera, outra pessoa pode estar resolvendo o teste pelo estudante. “O que a literatura da educação a distância recomenda são outros tipos de avaliação que não são provas, como uma produção ao longo do semestre”. Uma alternativa é solicitar aos alunos fazerem vídeos ou podcasts.
Outra possibilidade é pedir que cada aluno da turma estude um ponto específico da matéria de forma aprofundada e escreva sobre o tema. Os textos seriam compartilhados por toda a turma. “Vai criando uma cultura que é muito comum na Ciência, que é a da avaliação pelos pares. Na graduação, isso não é feito”, observa. “Isso vai fortalecendo também os vínculos da comunidade, o que é outra preocupação nestes tempos de distanciamento. Mas isso não é simplesmente entregar videoaulas e esperar alunos façam provas ou trabalhos individualmente”, enfatiza.
Bruna também defende que os encontros síncronos, em que alunos e professor estão conectados ao mesmo tempo, devem ser usados com parcimônia. “É importante, neste momento que está muito difícil para todo mundo, escolher a hora de poder estudar. É muito importante pensar em oferecer o ensino remoto num modelo que não seja excludente”.

PÓS-GRADUAÇÃO
A pós-graduação já está bastante próxima do modelo recomendado pela designer do Cederj. “Dar aula para 15, 20 alunos é muito diferente de dar aula para 100 alunos. A pós-graduação dificilmente tem prova. São seminários, discussões”, afirma a professora Denise Freire, pró-reitora de Pós-graduação. “Um professor da pós-graduação está, em geral, tratando com profissionais que já estão no mercado de trabalho e estão se especializando. Com isso, claro que o processo para aulas remotas na pós-graduação vai andar mais rápido, porque é mais fácil. São menos alunos por disciplinas, possibilidade de avaliação mais tranquila. Flexibilidade de calendários (semestral, trimestral, bimestral)”.

Diretora Acadêmica da Coppe, a professora Lavínia Borges segue o mesmo entendimento. “Na pós, essa questão é mais fluida. Nem toda disciplina faz avaliação regular, prova. Há seminários, apresentações de trabalhos, trabalhos escritos”.

ALUNOS QUEREM MAIS DEBATE
Já a secretária-geral da Associação de Pós-Graduandos, Kemily Toledo, defende que especialistas do campo educacional sejam convocados para o debate. “As aulas remotas não podem ser mera adaptação das aulas presenciais. Essa é uma questão curricular que deve ser discutida e planejada para garantir a qualidade das aulas, o que inclui as avaliações”.
Natália Borges, do DCE, também entende que o ensino remoto, incluindo as avaliações, deveria ser mais discutido pela comunidade acadêmica. “Um estudante que estaria na universidade assistindo às aulas, fazendo seus trabalhos, estudando, agora estará de 6 a 8 horas parado em frente a uma tela”. Ela completa: “Precisamos pensar em outros métodos. Uma proposta que não tenhamos uma perda na qualidade de ensino e que o aluno não saia devastado de um semestre que já é atípico”.

CONCEITO “SUFICIENTE”
Presidente licenciado da Associação de Docentes da Unicamp, o professor Wagner Romão compartilha a experiência de quem já vive o ensino remoto. Poucas semanas após a suspensão das aulas presenciais em março, a universidade paulista promoveu uma rápida migração das atividades didáticas para o ambiente virtual e deve encerrar o primeiro semestre letivo em 31 de agosto. O Conselho Universitário local determinou que as atividades desenvolvidas serão creditadas aos estudantes que cumprirem os critérios de avaliação definidos por cada docente.
Romão, que é docente do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, disse que sua unidade decidiu aplicar um conceito “S” de “suficiente” para os que conseguem acompanhar as atividades virtuais. E “F”, de “falta de informação”, para os demais.
“Na plataforma, só consigo interagir com metade de uma turma de 54 alunos”, diz. Os que não estão participando terão até o fim do semestre para cumprir alguma atividade que o docente vai estabelecer e passar do conceito F para o S. E assim lograr o crédito. “Vou estabelecer um trabalho final que vai tentar dar conta deste conteúdo. E que, claro, será menos exigente do que se estivéssemos em um período normal”.
(Colaboraram Lucas Abreu e Liz Mota Almeida)

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