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WhatsApp Image 2023 11 22 at 20.26.21 3ENTREVISTA I RACHEL AGUIAR, DIRETORA DO NEABI

As ações afirmativas transformaram o perfil da graduação da UFRJ. Dos 56.197 estudantes, pelo menos 38,6% são pretos ou pardos — oito mil pessoas não informaram a etnia à pró-reitoria de Graduação. E, aos poucos, as cotas também estão mudando outros segmentos da universidade: um terço dos ingressantes nos cursos da pós no primeiro semestre deste ano e 16% dos professores são pretos ou pardos (veja números ao lado e abaixo). Para contribuir com a consolidação desta mudança, a instituição conta com o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI). Criado em 2021 e com regimento recém-aprovado no Consuni, o órgão suplementar do Fórum de Ciência e Cultura inicia no próximo ano a inserção de disciplinas vinculadas à questão étnico-racial no currículo de quatro unidades. Além disso, pretende expandir suas atividades de divulgação e interação com a sociedade. “Isso está apenas começando”, afirma a professora Rachel Aguiar, diretora do NEABI.

Jornal da AdUFRJ - Como a senhora avalia a transformação da universidade pelas cotas?
Rachel Aguiar
- Agora estamos vendo nas instituições federais de ensino uma nova cara: a nossa cara, da população negra. São famílias que, pela primeira vez, estão vendo os filhos fazer essa ascensão, com muito esforço. Agora é necessária uma ampliação das políticas de ação afirmativa, que precisam ser interdisciplinares e articuladas, para garantir essa juventude na graduação. Em seguida, garantir a continuidade de seus estudos na pós-graduação e que também tenham a oportunidade de ingressar nos espaços da universidade na condição de docentes.

O que mudou para o NEABI com a aprovação do regimento em setembro?
A aprovação do regimento interno garante essa chancela para termos um corpo social do NEABI em que haja divulgação de pesquisa vinculada à questão étnico-racial no Brasil, de uma troca de conversas com os movimentos sociais fora da UFRJ, de uma troca de conversa com instituições internacionais, principalmente as africanas. São mais de 500 universidades na África. Também podemos organizar disciplinas NEABI. Defendemos uma universidade antirracista, com currículo e pesquisas antirracistas. Isso está apenas começando.

O que são disciplinas NEABI?
Nós nos articulamos com os cursos parceiros e desenhamos uma ementa que tem a ver com o nosso projeto político-pedagógico. Serão disciplinas vinculadas com a chamada Teoria Contemporânea Antirracista. Vamos começar na Escola de Música, na Escola de Enfermagem, no NEPP-DH e na Escola de Educação Física e Desportos. Na Música, por exemplo, a disciplina vai desconstruir uma interpretação eurocêntrica sobre notas e cantos e vai valorizar a cultura africana.

Serão obrigatórias?
No primeiro semestre de 2024, serão optativas. Mas o ideal — e a gente vai ter essa conversa com a pró-reitoria de Graduação — é que se construa um planejamento como na Federal da Bahia para que os cursos de graduação reformulem seus projetos curriculares e coloquem a obrigatoriedade das disciplinas étnico-raciais conforme as leis 10.639 e 11.645.

E o que mais podemos esperar do NEABI em 2024?
Vamos lançar editais para se criar um corpo social oficial no NEABI. Nesses editais, professores, técnicos e estudantes vão submeter seus projetos para realizá-los dentro do núcleo. Teremos atividades de conversa, de laboratório de pesquisa, divulgação de revista acadêmica, divulgação de trabalho, seminários, congressos e aulas.

Pode nos dar um exemplo de atuação do NEABI?
Organizamos no ano passado as Temporadas Artenegríndias. É uma ação que faz um contraponto à Semana de Arte Moderna por invisibilizar a cultura negra e indígena. No dia 24 de novembro, agora, teremos a segunda edição nos pilotis do antigo prédio da reitoria.

O NEABI tem recursos suficientes para esta missão?
Dificuldades de pessoal e de recursos existem em toda a universidade e ainda mais para quem está começando agora. É muito importante termos orçamento para que o NEABI possa expandir suas atividades com a criação de sites, de revistas, eventos, para fazer convites para pesquisadores renomados do exterior. Já que estamos na maior universidade do Brasil, o convite não é tão difícil. O problema é o recurso para custear o deslocamento de pesquisadores e ativistas importantes.

E pessoal?
No NEABI, somos eu, o vice-diretor, dois coordenadores de extensão, dois coordenadores de pesquisa, dois coordenadores de educação básica, dois coordenadores de ensino e dois coordenadores de comunicação. São professores e servidores técnicos lotados nas unidades deles e que exercem uma carga horária extra no NEABI. Não temos servidores técnicos-administrativos por enquanto. Há esta demanda e o NEABI é uma das prioridades da administração central

Estar no Fórum ajuda o trabalho do NEABI?
O Fórum de Ciência e Cultura é interdisciplinar. Perpassa todos os centros e essa é a intenção do NEABI: não ficar focado só nas ciências humanas. Tanto que teremos agora as disciplinas na Música, na Enfermagem e na Educação Física. A perspectiva é que a gente crie disciplinas e faça essas entradas também com Jornadas NEABI e eventos em outros centros. As Jornadas NEABI serão iniciadas no Centro de Tecnologia, a partir do primeiro semestre de 2024.

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