Ao longo das últimas semanas, o Jornal da AdUFRJ questionou as chapas sobre temas sensíveis para os professores da UFRJ. Carreira, condições de trabalho, propostas para aposentados, democracia, orçamento e financiamento das universidades estiveram entre os assuntos aprofundados pelos grupos a cada semana. Nesta última edição especial, queremos saber mais sobre como as chapas compreendem a política sindical e suas propostas para fortalecer a participação de professores na AdUFRJ. Veja abaixo as respostas encaminhadas pela Chapa 2 – ADUFRJ de luta: dignidade nas condições de trabalho e defesa da universidade pública.
As eleições para a diretoria e Conselho de Representantes serão presenciais e estão marcadas para os dias 10 e 11 de setembro em todos os campi. Haverá 22 urnas no Rio, Caxias e Macaé. Participe!
1. Há uma crise no movimento sindical? Por quê?
A organização de trabalhadoras/es é um desafio permanente. Poderíamos considerar numerosos aspectos que compõem a crise do mundo do trabalho e que atingem diretamente a organização sindical. Mas o aspecto que mais nos interessa, já que alcança parte importante dos sindicatos e centrais no Brasil, é sua perda de autonomia e conversão em transmissoras de demandas institucionais. Determinações fortes do afastamento das bases e da perda da capacidade de ouvi-las. A Adufrj é um caso agudo e, não à toa, tem sido apelidada de PR-8.
Por sua vez, o Andes-SN tem mantido sua autonomia a partidos e governos e estados e convoca a luta de acordo com o que a categoria decide. A pedagogia do respeito ao regimento não é uma formalidade, e respeitar formulações democraticamente construídas em fóruns coletivos garantem a independência decisória, inclusive, em relação à própria diretoria. A militância no ANDES tem atraído docentes que encontram seus direitos corroídos e percebem que só a luta histórica do sindicato conquistou vitórias. Entre 2023 e 2025, por exemplo, houve o aumento de uma Adufrj inteira em suas bases – foram quase 4 (quatro) mil docentes. As greves, além de alcançarem conquistas trabalhistas, reforçam os espaços decisórios coletivos.
As diretorias da Adufrj, pelo contrário, tem afastado a base, deixando a categoria entregue aos assédios e a doenças do trabalho. Segundo dados oficiais da seção, obtidos de relatórios dos Congressos do Andes, há uma tendência à redução de filiações, sobretudo se considerarmos que a base potencial de docentes tem aumentado com a realização de concursos – ainda que insuficientes. Ademais, a base da Adufrj tem diminuído seu impacto proporcional na base nacional, caindo aproximadamente 10% nos últimos 10 anos.
Este apequenamento da Adufrj significa que a maior Instituição Federal de Ensino Superior do país não tem atuado junto às lutas nacionais e sequer estimula docentes a participarem das formulações dos rumos do sindicato em seus Grupos de Trabalho. A política atual da Adufrj está diminuindo o potencial de formulação e solidariedade que a UFRJ possui!
2. O que a AdUFRJ pode fazer para fortalecer o movimento sindical docente no país e ampliar a articulação com entidades nacionais sindicais e científicas?
A Adufrj pode fazer muita coisa, mas precisa de outra direção. O potencial de ação, formulação e capilaridade do movimento docente na UFRJ é proporcional ao tamanho de nossa universidade. Porém, ao construir uma atuação isolada, na forma de lobby junto a instituições, mandatos, reitorias e governos, as diretorias da Adufrj esvaziam este potencial. O resultado – inevitável – desta política tem sido perdas, derrotas e aumento da precarização das nossas condições de trabalho:
Internamente, é necessário estimular a realização dos Grupos de Trabalho do ANDES, capazes de ecoar a pluralidade de saberes e lutas da UFRJ: ciência e tecnologia, comunicação, artes, educação, seguridade social, políticas de memória (e a comissão da verdade do sindicato), etc. Os GT são abertos para receber as contribuições de nossas/os colegas docentes a partir de seus estudos e pesquisas para que o sindicato formule sua intervenção política. O Conselho de Representantes deve servir como termômetro sobre as demandas, avaliações e insatisfações docentes. A participação docente em Congressos e Conselhos do Andes deve ser ampliada. Isso demanda muito trabalho organizado: assembleias, proposição de textos e resoluções, debate dos temas que são preocupações dos/das docentes em todo o Brasil. Isto significa, acolher docentes que desejam conhecer, participar e incidir, de forma organizada pela seção sindical, nas principais instâncias do ANDES para a superação das dificuldades nas Universidades públicas.
3. Que ações a AdUFRJ pode realizar, continuar ou retomar para aumentar a sindicalização e a participação sindical dos professores da UFRJ?
Conforme indicamos nas respostas anteriores, a prática atual de recuo e isolamento e a opção por campanhas performáticas de lobby no Congresso Federal, repetem um estilo condenado pela prof Maria Lúcia T. Werneck Vianna em seu importante livro “A Americanização (perversa) da seguridade social no Brasil”. Este modelo estadunidense de lobby junto ao parlamento tem por resultados orçamentos secretos e afastamento dos interesses das maiorias das pautas do congresso, configurando um caráter substitucionista e antidemocrático, capaz de enterrar conquistas da classe trabalhadora.
Nas visitas que a Chapa 2 tem realizado a unidades de ensino é comum encontrar docentes que se desfiliaram da Adufrj por considerá-la um espaço despolitizado e sem perspectiva de atuação coletiva.
Para romper com este ciclo, as diretorias não devem temer trabalhar com os diferentes perfis docentes. A luta em defesa da categoria é a melhor receita para ampliar a sindicalização e participação de professoras e professores.