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WhatsApp Image 2021 10 22 at 15.20.10Os recorrentes ataques cibernéticos enfrentados pela UFRJ expõem a insegurança que assola a comunidade no campo virtual. No último mês, a Câmara de Políticas Raciais esteve na mira de hackers, tanto em sua conta no Youtube, quanto em grupos de organização no WhatsApp. “Temos um grupo da Comissão de Heteroidentificação que foi vazado e printaram conversas. Recentemente, depois deste ataque que aconteceu no mês passado, entraram na nossa conta do YouTube e colocaram vídeos de pornografia”, conta Denise Góes, coordenadora da Câmara de Políticas Raciais.
Algumas medidas de proteção foram tomadas. “Acabamos com todos os grupos das comissões, agora nos comunicamos pelo privado. E estamos pensando na reorganização. Conseguimos recuperar os vídeos, mas perdemos a conta do YouTube por uso indevido de conteúdo pornográfico”, explica Denise. Outra conta foi criada no Youtube, para que os servidores tenham acesso aos vídeos explicativos sobre a conduta nas comissões. “Isso é grave porque estamos atuando na entrada das pessoas na universidade. E outro ponto é a vulnerabilidade e a ameaça aos membros”, opina Denise.
A coordenadora conta que a Ouvidoria da UFRJ foi acionada. “Vamos fazer uma explanação de tudo que aconteceu e uma notificação. É importante que a comunidade universitária saiba o que está acontecendo”, diz. Para Denise, as invasões são uma tentativa de silenciar a Câmara de Políticas Raciais. “Isso pode ser uma tentativa de nos silenciar, e não é o que vai acontecer. Mas precisamos de respaldo institucional, até porque estamos desenvolvendo uma política institucional. A política de cotas é uma lei, não somos nós que instituímos”, afirma.
No último Consuni, a ouvidora da UFRJ, Cristina Riche, fez um relato sobre o problema e pediu que a universidade criasse condições de proteção física e moral da Comissão. “Este ano é o ano de avaliação das políticas de cotas, e precisamos fortalecê-las. Trabalhamos para dar suporte a isso, que é tão importante, para que os direitos cheguem aos mais vulneráveis. A política existe para dar efetividade a um direito negligenciado”, lembra a ouvidora. “É uma política que precisa ser reafirmada, e precisa ter condições de trabalho para as Câmaras de Heteroidentificação, que combatem as fraudes”, conclui.

AMEAÇAS E MEDO
O servidor Vitor Matos, membro de uma comissão, está sendo pessoalmente atacado no WhatsApp por um homem que não foi considerado apto a adentrar a universidade pela Lei de Cotas. “Um rapaz chamado L. R., na identificação do WhatsApp, vem fazendo ameaças não só a mim, mas a outros membros da Comissão. Nós o ignoramos”, revela o assistente em Administração. “Ele disse que a Comissão está deliberadamente excluindo os pardos. Conseguiu se infiltrar num grupo de WhatsApp, fez prints de nossas conversas”, conta. Entre as ameaças, o homem diz que está observando o grupo e que está fazendo uma petição para a Justiça. “Vai pegar mal para a UFRJ. É só a UFRJ admitir o erro que vocês se salvam. Vocês quem sabem”, intimida o jovem. “Não respondi e bloqueei, porque para mim não faz sentido”, relata Vitor.
Embora tenha até agora suportado as ameaças, Vitor admite o temor quanto à sua segurança. “É complicado porque vivemos num contexto de agressões físicas e morte, e quando alguém leva uma situação como essa adiante a ponto de fazer ameaças, ficamos assustados. Temo por mim e ainda mais por minhas colegas mulheres”, completa. Ele acredita ser necessário o mínimo de segurança para continuar atuando na Comissão. “Institucionalmente, não temos nada. A Diseg não aparece na intenção de nos proteger. E já houve casos passados. Uma professora de uma Comissão teve o pneu do carro furado, além de situações ameaçadoras”, relata. “Chegamos no Fundão, que já é um lugar fragilizado, e temos medo que qualquer dia, de forma inesperada, a gente possa ser abordado na chegada ou na saída do campus”, confessa.
A ouvidora Cristina Riche foi procurada pela comissão para uma conversa sobre a vulnerabilidade do grupo. “É de fundamental importância que a instituição consolide esse relevante trabalho da Câmara de Políticas Raciais, criando medidas de proteção à integridade física de nossos colegas. Essa prática de invasão online tem acontecido com certa frequência na UFRJ”, afirma Cristina. Ela sugeriu que fosse feita uma notificação à pró-reitoria de Graduação (PR-1), explicando o que está acontecendo de maneira ampla. “E que também solicitassem condições de mais proteção durante o desenvolvimento dos trabalhos”, completa.
Outra sugestão da ouvidora é o contato com a Safernet, uma associação civil brasileira de direito privado, com foco na proteção de direitos humanos na internet. “Devemos cobrar até do Legislativo políticas que protejam as instituições. É uma situação que não depende apenas da nossa vontade. A universidade deve analisar quais políticas deve propor ao Legislativo em relação a isso”, reflete a ouvidora. Para ela, outra questão que agrava a situação é a infodemia, ou seja, o grande fluxo de informações que se espalham pela internet sobre um assunto específico, que se multiplicam de uma forma muito acelerada em um curto período devido a um evento específico. “O trabalho da Câmara é sério, e eles se sentiram vulneráveis. É preciso dar visibilidade ao que está acontecendo”, reflete. “Sugeri que fizessem uma notícia à Procuradoria da universidade, para saber quais medidas jurídicas podem ser tomadas. Talvez denunciar à Polícia Federal, porque estavam sendo incomodados em pleno trabalho. E à Prefeitura da UFRJ também, que é quem cuida da segurança do campus”, conta.

WhatsApp Image 2021 10 22 at 15.14.28Fotos: Fernando SouzaJuntar forças para combater o ódio, o retrocesso e a destruição do país, marcas do governo Bolsonaro. Esse é o foco da nova diretoria da AdUFRJ, empossada no Dia dos Professores, na primeira assembleia geral presencial do sindicato desde março de 2020, quando teve início a pandemia da covid-19. Ao receber o bastão de sua antecessora, a professora Eleonora Ziller, o novo presidente da AdUFRJ, o professor João Torres, do Instituto de Física, deixou claro que derrotar o bolsonarismo e todas as suas mazelas é o ponto central do grupo que vai comandar a entidade no período 2021-2023. “Não há espaço para divisões na frente ampla a ser formada em defesa dos marcos civilizatórios contestados pela extrema-direita reacionária”, disse o professor, que defendeu a articulação do movimento docente. “O papel da AdUFRJ é atuar junto às demais forças progressistas e sindicais na luta para vencer esta ameaça, somando esforços com partidos e movimentos sociais engajados na derrota do bolsonarismo”.
As prioridades, de acordo com o dirigente, são a luta contra a PEC 32 (reforma administrativa) e a retomada do ensino presencial de forma segura na UFRJ. “O atual governo agiu fortemente contra os critérios científicos e vem dificultando a liberação de verbas destinadas à volta às aulas presenciais. Precisamos lutar por mais verbas para preparar os espaços e inclusive realizar a manutenção de prédios vazios há tanto tempo”, pontuou. A vacinação é uma das preocupações. “É preciso pensar como encaminhar a questão da exigência de vacinas para este retorno, pensar quais critérios são essenciais para proteger a vida das pessoas, debater como lidar com posturas negacionistas na universidade”.
Outros desafios indicados pelo presidente como centrais em sua gestão são a ênfase na defesa da Ciência e na articulação com sociedades científicas nacionais a partir da atuação do Observatório do Conhecimento; o envolvimento do corpo docente da UFRJ no debate dos grandes temas nacionais, como mudanças climáticas, desigualdade, inteligência artificial; a discussão da estrutura salarial da carreira docente, sobretudo os baixos salários dos jovens professores. “Queremos que a carreira para o jovem docente seja promissora. Queremos que os jovens bem formados continuem sua carreira no Brasil e que o êxodo que acontece hoje não perdure”, afirmou.
A professora Mayra Goulart, do IFCS, que assumiu o mandato como 1ª vice-presidente, sublinhou a responsabilidade de manter a universidade como espaço de mobilidade social e de igualdade. E defendeu uma gestão comprometida com a diversidade. “Isso é uma conquista que precisa ser preservada dos ataques, cada vez mais fortes, à universidade e à própria ideia de igualdade e inclusão social”, disse. “Porém, essa é uma igualdade que pode dificultar a percepção de outras conquistas e desafios que a minha presença aqui também representa. Pois o meu corpo e a minha trajetória enquanto mulher, jovem e suburbana destoam e desafiam a normatividade que estrutura o ingresso, a permanência e o reconhecimento nesse lugar”, afirmou a professora. “Gostaria que meu mandato servisse como espaço de empoderamento, troca e visibilidade para todos aqueles que, como eu, são lembrados a todo momento que não pertencem, não merecem, que não serão tolerados nos seus corpos, nas suas linguagens e nas suas vivências”.

DEPOIMENTOS

João Torres
Presidente
“Conclamo a todos os colegas, todos os segmentos da universidade, todos os coletivos para que tentemos trabalhar juntos no que nos unifica, que certamente é muito mais importante e muito mais urgente do que o que nos divide”.

Mayra Goulart
1ª vice-presidente
“A universidade ainda é um espaço de mobilidade e de igualdade. Eu gostaria que esse momento fosse o ponto de partida de  uma relação de escuta e aprendizado recíproco para todos aqueles que conseguiram e não conseguiram estar aqui hoje”.

Ricardo Medronho
2º vice-presidente
“Temos um inimigo comum e precisamos nos unir para destruir esse inimigo. Precisamos de todos para vencer o obscurantismo. Vamos fazer tudo o que for preciso por essa união e pela transformação deste país naquilo que ele já foi. Precisamos reconstruir este país”.

Ana Lúcia Fernandes
1ª secretária
“A gente vai precisar da ajuda de todos vocês para continuar lutando pela carreira docente, pela UFRJ, pelas universidades públicas, pela Educação e pelo sistema de Ciência e Tecnologia. Então, contamos com vocês”.

Karine Verdoorn
2ª secretária
“Sabemos que não vai ser fácil, mas o entusiasmo e a diversidade do grupo me contagiaram. Espero um sindicato de diversidade, de muito diálogo, de união e na defesa daquilo que acreditamos, pela melhoria da carreira docente e pela universidade gratuita e pública, acima de tudo”.

Nedir do Espirito Santo
1ª tesoureira
“Sindicato é um projeto. Ele não é uma ideia de um grupo, é uma continuidade de um trabalho. Agradeço a todos que estão depositando confiança em mim, aos apoios, às palavras de carinho. Espero retribuir e atender às demandas que vocês tenham em relação à nossa equipe”.

Eleonora Kurtenbach
2ª tesoureira
“Desejo que consigamos uma ampliação do quadro de docentes ligados à AdUFRJ em todos os campi, em especial dos mais jovens. Também precisamos alcançar os docentes não associados, discentes, servidores e a comunidade do entorno e extramuros da UFRJ”.

WhatsApp Image 2021 10 22 at 15.14.281A noite também foi de lançamento. O livro “Diários da Pandemia”, uma seleção dos jornais entre março de 2020 e agosto de 2021 que narra como a UFRJ enfrentou o drama da covid-19, foi distribuído a todos os presentes e será encaminhado às residências dos sindicalizados.

Lucas Abreu e Liz Mota Almeida

A pandemia marcou uma geração de alunos da educação básica, mas também vai marcar uma geração de futuros professores. Campo de estágio de aproximadamente 500 licenciandos, o Colégio de Aplicação vive os dois lados desta experiência inédita e tenta se adaptar da melhor forma possível para manter a qualidade do ensino.
“O contato com crianças foi escasso”, lamenta o graduando em Pedagogia, Vitor Fuchs. “Era um estágio nas séries iniciais, com 100 horas presencialmente; e, no remoto, foram apenas 25 horas. A carga horária abaixou drasticamente, porque não dá para ficar horas e horas com crianças numa tela de computador”, explica.
Por ter realizado estágios presenciais antes da pandemia, Vitor acredita que não perdeu tanto. “O CAp dá uma atenção maior para os estagiários, mas sinto que, se não tivesse feito um estágio não obrigatório anteriormente, talvez tivesse uma dúvida de como ser professor dentro da sala de aula”, diz.
Natalia Barros, licencianda em Ciências Biológicas, não teve a mesma sorte do colega. “Diferente de muitos da licenciatura, eu nunca tinha tido experiência em sala de aula. Para mim, era um peso muito grande, porque, ao longo da graduação, me dediquei bastante à pesquisa”, conta.
A aluna estava no último ano do curso, que costuma ser destinado às práticas de ensino, quando a pandemia começou. “Foi um momento que esperei muito, experienciar de verdade o que é visto ao longo do curso”, diz. A bióloga afirma ter se surpreendido com as práticas de ensino de maneira remota. “Uma questão que fica muito marcada para mim é que não sei dizer o que perdi, por não ter outras experiências presenciais. Mas foi um momento muito desafiador, em que a gente teve que repensar o que já estava estabelecido e senti que foi uma experiência enriquecedora”, pontua.
Jaqueline Pontes Domingos, graduada em Letras-Literatura durante a pandemia, começou o estágio no CAp em setembro de 2019, o que deu a ela experiência do ensino presencial e remoto no mesmo local. “Eu senti muita falta do chão da escola, do contato direto com os alunos. Na sala de aula, os alunos podiam chamar a gente, conversar. Uma aproximação que gerava confiança nos estudantes”, conta.
A licencianda já está dando aulas em uma escola particular na Baixada Fluminense, e consegue fazer um balanço da sua formação como professora no CAp. “Eu tive a experiência que todos os professores tiveram no momento de pandemia, que foi de dúvida e de trabalho redobrado”, explica.
Desde a semana passada, o CAp retomou as atividades presenciais para os alunos da educação básica, mas, por medida de segurança, os licenciandos continuam nas atividades remotas.
“A supervisão do estágio obrigatório manteve a estrutura que já tínhamos, mas adaptada ao modelo remoto”, conta a professora Raquel Fonseca, diretora adjunta de Licenciatura, Pesquisa e Extensão do colégio. “Por ser, essencialmente, um colégio de formação de professores, o CAp não poderia se esquivar da responsabilidade de continuar oferecendo, mesmo em um contexto tão difícil, o estágio supervisionado para os nossos futuros professores”, explica.
Segundo Raquel, o plano de adaptação para as atividades remotas foi construído com um amplo debate. O estágio é normalmente dividido em três etapas: observação, coparticipação e regência, e todo o processo é supervisionado por professores responsáveis pelo estágio. “Tudo isso permaneceu garantido aos licenciandos com a adaptação para o ensino remoto emergencial”, afirma.
Raquel reforça os depoimentos dos licenciandos em relação à falta de contato com os alunos da educação básica. “Atravessados pela pandemia e pela imposição do distanciamento social, experimentamos o maior desafio docente: viver os processos de ensino e aprendizagem sem a escola, espaço fundamental de convívio e partilhas”, reforça.
A professora do CAp elenca outros prejuízos para a formação dos futuros colegas: falta de continuidade no acompanhamento das turmas — resultado das diferenças nos calendários do CAp e da graduação —, o prolongamento dos estágios, que atrasa a formatura dos licenciandos e a falta de infraestrutura para acompanhamento das atividades remotas, problema que afetou alguns estudantes da graduação. “São muitas as perdas que estamos vivenciando na educação brasileira, mas estamos também aprendendo a lidar com as dificuldades e a transformar essa experiência em oportunidades para a construção de conhecimento”, avalia a diretora adjunta.
Para a professora Nedir do Espírito Santo, especialista em formação de professores no Instituto de Matemática e diretora da AdUFRJ, os prejuízos para os licenciandos são terríveis, mas existem atenuantes e formas de mitigar as perdas posteriormente. “Estes alunos, que recebem uma orientação constante de atividades, estão aprendendo como trabalhar remotamente em conjunto com os seus coordenadores”, explica.
Um dos caminhos para diminuir o impacto na formação desta geração de estudantes é a aplicação de um processo de formação continuada. “A vocação profissional ajuda muito, mas a vivência e a experiência da estrutura presencial é fundamental”, defende a professora.

WhatsApp Image 2021 10 22 at 15.26.37CAp LITERÁRIO: ANTES E
DEPOIS DA PANDEMIA
A licencianda Jaqueline Domingos experimentou a organização de um evento literário anual do colégio, o CAp Literário, em dois momentos bastante distintos: antes da pandemia, em 2019, em formato presencial; e, em 2020, participou da adaptação do festival para o formato remoto. “Eu tive uma jornada dupla, e acho que isso acrescentou muito na minha formação, porque alguns colegas não puderam ter essa experiência”, avaliou.

WhatsApp Image 2021 10 22 at 15.18.11No Dia dos Professores, Bolsonaro foi Bolsonaro.  Sacrificou a ciência brasileira e sancionou a lei que cortou R$ 690 milhões do Fundo Nacional Para o Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia (FNDCT) . Desde que a redução foi anunciada, no último dia 7, a comunidade científica brasileira tem reagido publicamente com críticas à decisão. Segundo o presidente do CNPq, Evaldo Vilela, caso não haja restituição dos valores até 1º de novembro, não há certeza de que a chamada universal de bolsas de pesquisa, que envolve 30 mil pesquisadores, possa ser realizada.
A Associação Nacional de Pós-graduandos convocou atos para o dia 26 de outubro. A APG UFRJ participa da organização da manifestação no Rio, e conta com o apoio da AdUFRJ, Sintufrj e DCE. “ É importante que toda a comunidade acadêmica compareça, para defendermos a ciência e a tecnologia no Brasil”, contou Natália Trindade, vice-presidente da APG. Para ela o momento é crítico, e é preciso que a sociedade se movimente em defesa da pesquisa. “Todos nós vamos pagar muito caro por essa decisão política do governo, porque é a pesquisa que projeta o futuro. É preciso denunciar o processo de sucateamento da pesquisa nacional”, defendeu a pós-graduanda.
Para o presidente da AdUFRJ, João Torres de Mello Neto, o corte é o mais forte golpe que o financiamento da pesquisa científica no Brasil já sofreu. “No passado, os governos, mesmo os que promoviam cortes, respeitavam o CNPq. Nunca o Conselho foi ameaçado de morte como está sendo agora”, disse o professor. “O CNPq é indispensável.Já tivemos cortes significativos, mas não com essa magnitude”, avaliou João, que lembrou das reiteradas quedas no orçamento da ciência brasileira. O orçamento do CNPq passou de R$ 3,14 bilhões, em 2013, para R$ 1,2 bilhão neste ano, o menor valor dos últimos 21 anos.
João reafirmou que o combate aos cortes e a defesa da pesquisa são fundamentais, e reforçou a participação da AdUFRJ no ato do dia 26. “Certamente estaremos lá para apoiar os pós-graduandos e professores. A manifestação é fundamental”, defendeu o novo presidente da AdUFRJ e professor titular do Instituto de Física.
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência também participará dos atos do dia 26. Ligia Bahia, professora da UFRJ e secretária regional da SBPC, classificou o corte como “um deboche” por parte do governo. “Essa provocação feita aos setores progressistas compromete o futuro do país. O que significa isso? O Brasil fechou as portas, passou a chave no cadeado e se jogou no mar? Qual é o futuro do país?”, questionou Lígia, que criticou duramente o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, pela sua falta de iniciativa na defesa da pasta. A SBPC agora articula com parlamentares maneiras de reverter o corte ou direcionar mais recursos para a pesquisa. “Reverter esse quadro é a prioridade zero para a SBPC. Estamos juntos com a ABC, com associações de docentes e de pós-graduandos. Esperamos obter vitória”, contou a professora, que ainda lembrou que os cortes também têm um caráter simbólico, já que foram feitos durante a pandemia, quando a Ciência tem sido de muita importância.
Os cortes afetam duramente o cotidiano da UFRJ, alerta a professora Denise Freire, pró-reitora de Pós-Graduação e Pesquisa da universidade. “É contingenciamento do descontingenciamento”, ironizou. “Tínhamos a esperança de recompor o nosso orçamento para o equivalente a 60% do orçamento de 2015, agora é ladeira abaixo”, explicou a professora. Com a decisão do governo, que Denise chamou de “fim do mundo”, não só não haverá verba para a recomposição esperada, mas futuros projetos e renovações de fomento a pesquisas correntes estão sob ameaça. “Todos os programas de pós-graduação da UFRJ, se não tiverem as suas bolsas recompostas, podem ser afetados, porque todos eles têm bolsas”, contou a pró-reitora.
Os efeitos da diminuição do investimento em pesquisa dos últimos anos já são sentidos na UFRJ há muito tempo. É o caso do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Fármacos e Medicamentos (INCT-INOFAR) da UFRJ. “Hoje os INCTs são referência, mas nesse cenário, os estados que não tiverem fundações de apoio que possam financiar pesquisas, verão todo esse trabalho ser perdido”, disse o professor Eliezer Barreiro, coordenador do INCT-INOFAR. Ele contou que a asfixia orçamentária já interrompeu pesquisas importantíssimas que estavam sendo desenvolvidas pelo seu instituto. Uma delas era o desenvolvimento de cinco medicamentos genéricos, cujas patentes das substâncias tinham caducado, que poderiam ser adotados por indústrias brasileiras e fabricados e comercializados com menor custo para a população. “Estou há quase 40 anos trabalhando com pesquisa. Eu não esperava, no final da minha carreira, ver tantos maus tratos à ciência brasileira. Não tenho dúvidas de que o desenvolvimento e a soberania científica do país vão ficar abalados”, desabafou Eliezer.

WhatsApp Image 2021 10 22 at 15.10.271Marcos (FND), Camila (CAp), Bruno (Biologia) e Rodrigo (Letras)Kelvin Melo e Kim Queiroz

Marcos de Souza Paula é professor da Faculdade Nacional de Direito, mas nunca deu aulas no histórico prédio do Centro do Rio. A inusitada situação, porém, não é um caso isolado entre os docentes da UFRJ. Marcos faz parte de um grupo de 500 substitutos da universidade contratados após 16 de março de 2020, data de suspensão das atividades acadêmicas não emergenciais, segundo levantamento da Pró-reitoria de Pessoal.
“A minha contratação foi precedida de uma prova, realizada antes do período pandêmico, por volta de fevereiro de 2020. Chegamos a ser convocados em março, mas, com a pandemia, tudo foi suspenso”, lembra Marcos.
O grande volume de contratações de substitutos, que só deveriam “atender a necessidade temporária de excepcional interesse público”, conforme a legislação federal, revela a urgência de novos concursos públicos. Enquanto isso não ocorre, a professora Gisele Pires, pró-reitora de Graduação, não tem dúvidas sobre a importância dos substitutos.
“Os profissionais que optam por ingressar na carreira docente na UFRJ, quer seja para um contrato transitório ou não, passam por um criterioso processo seletivo gerenciado pelas unidades ou campi, permitindo, assim, que os mais qualificados sejam selecionados”, diz. “Mesmo durante todo o período de completa atipicidade — a pandemia de covid-19 —, as unidades e campi primaram pela manutenção da excelência do ensino de graduação”, completa.
Só que preservar a excelência no ensino tem sido uma experiência mais desafiadora para os substitutos, que tiveram pouco ou nenhum tempo para construir laços presenciais com seus alunos e colegas docentes. Marcos assinou o contrato de dois anos em dezembro de 2020. Hoje, dá aula para três turmas de Direito Civil, cada uma com cerca de 60 alunos. Durante este período, viu muitas câmeras fechadas nas atividades síncronas. Mas também colecionou pequenas vitórias em sua primeira experiência formal como professor. “Vários alunos têm feito elogios e comentários positivos, dizendo terem se interessado pela matéria, e que se sentiram estimulados pelas aulas”, orgulha-se.WhatsApp Image 2021 10 22 at 15.22.401
Já a professora Camila Costa de Oliveira, do Colégio de Aplicação, precisou se reinventar como professora para ensinar artes cênicas. “Como trabalhar com o corpo e jogar através das telas, diante de um grande número de câmeras fechadas? Seguimos experimentando, descobrindo e aprendendo junto com os estudantes”, diz.
A docente acredita que o maior desafio está na construção e manutenção do vínculo afetivo com esses alunos. “Isso foi se dando pouco a pouco, por meio de propostas pedagógicas baseadas no afeto e na troca. Acredito que sem essa troca afetuosa não existe processo de ensino-aprendizagem”.
Um momento marcante foi o espetáculo “Estação Terror e Miséria”, com estudantes do 1º e 2º anos do ensino médio, desenvolvido e apresentado inteiramente online. “Foi muito bonito ver o fazer teatral na escola se apropriando dos meios de criação disponíveis no momento atual. A força e a importância do teatro como disciplina curricular na escola é imensa, e não seria diferente agora”, afirma.
Camila só conheceu os alunos em carne e osso, nesta semana. “Foi muito emocionante estar com os estudantes. Dava para ver a alegria nos olhos deles, e nos nossos também”, disse. O colégio retomou o ensino em formato híbrido desde o dia 13.
 O CAp é a unidade da universidade com mais substitutos (79), mas a professora quer ajudar a diminuir o número, participando de um concurso para ser efetivada no Setor de Artes Cênicas. “Aprendi muito desde a minha chegada ao CAp e, ao longo desse ano, tive a oportunidade de delinear mais fortemente minha identidade docente e o sentido da profissão”.

UMA ÚNICA AULA PRESENCIAL
O contrato de professor temporário tem duração máxima de 24 meses. “Portanto, alguns foram contratados sim, antes do início da pandemia, em março de 2020, e ainda estão em atividade”, informou a pró-reitoria de Graduação. Ao todo, a UFRJ possui 628 substitutos: os 500 contratados durante a pandemia e mais 128, com vínculos anteriores a 16 de março do ano passado.
É o caso do professor Bruno Clarkson Mattos, do Instituto de Biologia, que chegou a participar de apenas uma reunião presencial, antes da suspensão das atividades não emergenciais.
Enquanto aguardava o início do ensino remoto, o docente se voluntariou para trabalhar no combate à pandemia. “Como eu tenho experiência com biologia molecular, trabalhei no Centro de Triagem Diagnóstica (CTD), fazendo a triagem dos profissionais de hospitais públicos que iam à UFRJ para fazer o teste de PCR”, lembra. Em julho, ele se desligou do CTD para se dedicar integralmente à preparação das aulas para o Período Letivo Excepcional (PLE), que começaram no final de agosto.
Bruno já teve 23 turmas, distribuídas entre as disciplinas de Zoologia I e II, e duas eletivas. “Houve turmas com 60 alunos e outras, com menos de 20. Essa variação ocorre muito também em razão de a Zoologia ter uma carga horária considerável de aulas práticas”, explica.
O professor destaca que a experiência tem sido enriquecedora, mas ainda não chega nem perto daquilo que os docentes podem oferecer presencialmente. “Dentro da sala de aula, existe uma percepção muito maior de como os alunos estão recebendo o conteúdo. A realidade no ensino remoto é que quase nenhum aluno liga a câmera, então não sabemos nem se eles realmente estão ali”, completa.
Rodrigo Octávio Cardoso, da Faculdade de Letras, também deu uma única aula presencial na UFRJ, em março do ano passado. Depois disso, só voltou a encontrar os alunos no PLE, em agosto de 2020. Atualmente, ele dá aula para três turmas de Teoria Literária I, matéria obrigatória para todas as habilitações de Letras, e passará a lecionar também Teoria Literária II no próximo período.
“As aulas sem o contato presencial tornam-se muito mais cansativas. É difícil acompanhar o progresso dos alunos e é preciso fazer mais atividades, o que torna o curso mais cansativo para eles e pra mim”, ressalta Rodrigo. “A principal dificuldade talvez seja a de estabelecer debates mais fluidos, o que é uma característica importante dessa disciplina”, diz.
O contrato de Rodrigo será finalizado em março de 2022. Pela lei, não poderá mais trabalhar como substituto pelo período de dois anos. Até lá, o docente alimenta o esperança de muitos desses 628 temporários: o de seguir carreira na maior universidade federal do país. “Seria um sonho conseguir passar um dia num concurso de efetivo na UFRJ, que tem um excelente departamento de Ciência da Literatura”, completa.

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