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O dramático impacto dos cortes orçamentários e as cobranças aos políticos deram o tom dos debates da 70ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, que acontece até sábado em Maceió. Houve sessões com candidatos ao Planalto ou seus representantes. Na quarta, Rafael Resende, ministro de Ciência e Tecnologia no governo Lula, representou o petista, que está preso. Para hoje eram esperadas participações, por vídeo, de Marina Silva e Geraldo Alckmin. Foi lançada a publicação “Políticas Públicas Para o Brasil que Queremos”, que reúne pontos a serem debatidos com presidenciáveis e candidatos ao Legislativo.  “A ideia é que essas proposições sirvam de parâmetro para discussões”, explicou o presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira. Ele lamentou o corte de recursos e citou como exemplo as pesquisas sobre a relação entre Zika e a microcefalia, que hoje correm risco de estagnação. Na abertura do encontro, no domingo, o ministro da Educação, Rossieli Soares, foi vaiado. Na sessão comemorativa dos 70 anos da SBPC, segunda-feira (23), o físico Sergio Mascarenhas questionou  o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab: “O senhor falou que a inovação está crescendo, mas ela está sendo destruída. Seria maravilhoso se Vossa Excelência fosse o herói que poria fim à destruição do setor”.  Para o professor Felipe Rosa, diretor da Adufrj que participa do evento, o diferencial é a reflexão sobre a redução orçamentária: “Mesmo em palestras em que esse não é o assunto central, o cenário de cortes aparece como principal fonte de preocupação”. A SBPC homenageou  Elisaldo Carlini, professor  da Unifesp que estuda uso medicinal da maconha e foi acusado de apologia às drogas. Os outros homenageados foram o físico  José Leite Lopes, a psiquiatra alagoana Nise da Silveira e a socióloga Ana Maria Fernandes, os três já falecidos.

Um dos rankings universitários mais prestigiados do mundo, o THE (Times Higher Education) mostrou a UFRJ fora das dez  melhores universidades latino-americanas Um dos rankings universitários mais prestigiados do mundo, o THE (Times Higher Education) mostrou a UFRJ fora das dez melhores universidades latino-americanas. É a primeira vez que isso acontece. A UFRJ era a 5ª do ranking em 2016, caindo para a 8ª colocação em 2017 e para a 12ª este ano, segundo dados divulgados na semana passada. Para tentar entender o fenômeno, que preocupa a comunidade universitária, o Boletim da Adufrj analisou os números, olhou outras publicações do gênero, ouviu especialistas e professores da UFRJ. A primeira coisa a dizer é: a UFRJ não piorou. A nota da universidade foi 74,8, quase a mesma de 2017 (74,6) e maior que os 73,3 que garantiram o 5º lugar de 2016. A nota segue estável, com ligeira elevação. Mas, para decifrar rankings, é preciso olhar o desempenho individual e o do conjunto. Num setor a cada dia mais competitivo, ser estável não garante posição, e outras universidades avançaram mais. Em 2016, só as três primeiras tinham pontuação acima de 80; em 2018, as sete primeiras superavam essa marca. A PUC-Rio, 6ª em 2016, com 70,5 pontos, foi a 7ª em 2018, com 80 pontos.  Na comparação entre as federais, Unifesp, UFMG e UFRGS melhoraram suas notas e superaram a UFRJ. Unicamp e USP, com mais de 85 pontos, se revezam na ponta. CRITÉRIOS PARA NOTA O ranking THE tem credibilidade internacional consolidada, segundo especialistas ouvidos pelo Boletim da Adufrj. Analisa tanto indicadores subjetivos (reputação e prestígio), como objetivos, tais como publicações e pesquisa. As notas são distribuídas em cinco eixos: ensino (36%), pesquisa (34%), citações (20%), perspectiva internacional (7,5%) e renda da relação com a indústria (2,5%). Em 2018, as notas da UFRJ cresceram em pesquisa e citações, se mantiveram estáveis em internacionalização (embora menores que em 2016). Houve uma pequena queda em ensino e uma redução maior na transferência de conhecimento para indústrias. “Rankings não são absolutos, mas é preciso saber o que houve. Não tenho clareza. Talvez possamos criar uma comissão para analisar isso”, afirma Luiz Pinguelli Rosa, professor e diretor de Relações Institucionais da Coppe. A diretora da Escola Politécnica, Claudia Morgado, considera que cada universidade tem seus pontos fortes.  “Públicas são diferentes das particulares, e grandes são diferentes das pequenas”, pondera. Por outro lado, diz a docente, é bom ser avaliado para saber o que pode melhorar. “Também é preciso saber se a UFRJ forneceu adequadamente os dados solicitados”, lembra. Para especialistas em avaliação, é consenso que a UFRJ precisa estar atenta a temas como inovação e internacionalização – decisivas numa área de grande competição como a universidade. É o que destaca a professora do IFCS Maria Celina de Oliveira Barbosa, coordenadora do Lapes, Laboratório de Pesquisa em Ensino Superior, formado por pesquisadores de vários estados. Segundo ela, a internacionalização não é tratada como deveria, o que prejudica contratos e projetos. “Ficar parado na nota, quando todos competem para melhorar, não é uma coisa boa”, afirma. A docente associa a queda no quesito renda da indústria à crise da Petrobras, com quem a UFRJ tem parcerias variadas. Coordenador da Rankingtacs – Rede Brasileira de Pesquisa em Rankings, Índices e Tabelas Classificatórias na Educação Superior –, Adolfo Ignacio Calderón diz que a UFRJ se mantém como uma universidade de alta qualidade, com problemas proporcionais a seu tamanho, modelo de financiamento e gestão padronizada. “Em tempos de restrições orçamentárias, é premente maior eficiência na utilização dos recursos, diversificar fontes de financiamento e construir uma cultura empreendedora na captação de recursos e prestação de serviços”, avalia Calderón, professor titular da PUC-Campinas. Segundo ele, universidades estrangeiras estão oferecendo serviços no Brasil, enquanto as nossas não se inserem de modo agressivo na economia do conhecimento. Existem cerca de 60 rankings nacionais e mais de 20 internacionais. A posição da UFRJ varia em cada um deles. No QS, britânico, ela está em 7º na América Latina. No ARWU, chinês, entre as 400 primeiras em todo o mundo. No RUF, realizado pela “Folha de S.Paulo” com universidades brasileiras, a UFRJ está em 1º. Para Sabine Righetti, coordenadora do RUF, professora de Gestão Pública da FGV-SP e pesquisadora da Unicamp, os rankings têm pela frente o desafio de incorporar critérios novos, como diversidade. Ela lembra que as universidades brasileiras dominam rankings latino-americanos, mas estão longe do topo nos internacionais. A UFRJ informou que repassou dados ao THE e que a Pró-Reitoria de Pós-Graduação analisará os resultados. Destacou que, mesmo com redução expressiva de verbas, seus pesquisadores venceram prêmios e houve melhora de indicadores relevantes, como o aumento de 25% da produção intelectual.
 

ENTREVISTA LUIZ DAVIDOVICH, presidente da Academia Brasileira de Ciências Ciência dá audiência? Tivemos uma festa mostrando o interesse do público pela ciência. Mas há um contraste com o desinteresse que autoridades desse governo demonstram, um panorama desastroso no nível federal e no nível estadual, com desprestígio da Faperj. Esse é um dia de resistência. As altas autoridades do país cortam violentamente o orçamento para ciência e tecnologia, que caiu mais de 50% em relação a 2013. Se tirarmos o custeio, a verba é um terço da de 2013. Qual o impacto disso para a pesquisa? A ciência está por trás dos alimentos que comemos, da água que tomamos, da energia que usamos. É a ciência que garante qualidade de vida dos brasileiros. Ao mesmo tempo que a gente tem um motivo de celebração do que a ciência brasileira já fez pelo país, tem indignação diante do que está sendo feito com a ciência. Perdemos a Copa do futebol, mas temos que vencer a Copa da ciência. É essa Copa que vai garantir a qualidade de vida da população. O que é possível fazer? Pressionar os parlamentares de cada estado, cobrar posicionamento. A votação do orçamento é agora. Eleitores e associações têm que pressionar.

UFRJ pediu à Justiça retirada de moradores e comércio, e pertences tiveram de ser levados para depósito da Prefeitura Universitária. Famílias estavam ali desde anos 20
Oito famílias com cerca de 50 pessoas, moradoras da Praia do Mangue, no Fundão, tiveram que abandonar suas casas e pequenos comércios na manhã da última quinta-feira. A UFRJ pediu à Justiça a reintegração de posse da área, centro de uma contenda jurídica desde 1996. Seis oficiais de Justiça e 18 agentes da Polícia Federal participaram da ação. Desesperados e decepcionados, os moradores tentaram negociar um adiamento da retirada. Sem sucesso. Os pertences foram levados para um depósito próximo ao alojamento estudantil. Havia a ameaça da demolição das casas. Estudantes, técnicos e professores acompanharam a movimentação e buscaram intermediar o conflito. A Adufrj esteve presente para buscar uma saída mais humana para os moradores. A história de muitas famílias é mais antiga que a criação da Cidade Universitária. João Batista da Silva conta que seu pai construiu uma casa no local em 1928. “Estamos aqui muito antes de existir a UFRJ aqui. Essa era a Ilha do Bom Jesus”, lembrou o comerciante e servidor aposentado. “Vivo aqui desde que nasci. Sou fundador da Prefeitura Universitária, e é justamente ela que está me expulsando”, contou emocionado. Reitoria e moradores chegaram a criar um projeto de financiamento coletivo para a construção de casas legalizadas na Vila Residencial, também dentro da Cidade Universitária. Foi constituído um projeto de extensão, com a participação de docentes da universidade, para elaboração do projeto. Não houve tempo, porém, para iniciar a captação dos recursos. “O acordo com a reitoria era que migraríamos para a Vila Residencial assim que as novas casas ficassem prontas. Não esperávamos essa reintegração hoje”, lamentou Mario Luiz Tosta, liderança local. Técnicos da Diseg e da PR-6 (Pró-Reitoria de Gestão e Patrimônio) acompanharam a operação. Por nota, a reitoria informou que o cumprimento do mandado se deu por conta da permanência de comércio de bebida e que assistentes sociais da Prefeitura do Rio teriam oferecido abrigo a quem não tivesse para onde ir. “A reitoria não esteve aqui oferecendo nada. Estão nos expulsando como cachorros”, afirmou Valéria Cristina Nery da Silva, moradora há 50 anos. Às 16h30 o fornecimento de energia elétrica foi cortado e a Polícia Federal começou uma negociação com os estudantes para que deixassem o terreno. Depois da pressão do movimento estudantil e de docentes, a reitoria mudou de posição e decidiu não derrubar os imóveis. Estudantes e moradores permaneceram em vigília no lugar. Não houve confronto. Até o fechamento desta edição, as casas seguiam desocupadas.

Professora Ligia Bahia, vice-presidente da Adufrj, afirma que planos de saúde empurram cidadão a desempenhar o papel de Joseph K. , personagem de Kafka enredado num processo sem chance de defesa   Ligia Bahia*   Um dos planos de saúde de professores da UFRJ (Unimed) aumentou 42,5%. A péssima notícia atinge uma categoria com salários estagnados e gastos crescentes para trabalhar. Além de ter que tirar do bolso ajudas diversas às atividades de ensino e pesquisa, estamos gastando mais com transporte, livros e até com medicamentos. O reajuste oito vezes maior que a inflação da economia e quatro vezes superior ao concedido pela Agência de Saúde Suplementar causou espanto e indignação. O que poderia justificar essa discrepância com outros índices de preços? Diversos professores procuraram a Adufrj. A pergunta que está pairando no ar é: o que faremos? E quem questionou já adiantou: ficar de braços cruzados, nem pensar. Para quem estuda o tema há muito tempo, um valor tão elevado também surpreendeu. Nem todas as evidências acumuladas sobre reajustes abusivos poderiam ter nos preparado para lidar com esse fato como mais um ponto. O entendimento geral da dinâmica do mercado contribui para saber de onde vem uma política tão agressiva, mas não foi suficiente para antecipar, evitar o problema. O plano que está abrigado na Unimed, na realidade, está subalocado na Asparj e é operacionalizado (em termos de negociação dos contratos) pela IBBCA, uma administradora de saúde. Assim mesmo muito confuso. Traduzindo: o plano tem a rede credenciada e própria da Unimed, nossos professores foram inseridos em um pool com outros servidores públicos e o corretor trabalha para diversas empresas, inclusive para a IBBCA. Na hora de contratar parece meio difícil entender, mas fica claro que o atendimento tem a Unimed por trás. Contudo, quando se trata de contestar o reajuste é diferente. As responsabilidades se evaporam. Ao interpelar a diretoria da Unimed Rio soubemos que o valor só poderia ser negociado com a administradora e que não existe um contrato com a Adufrj e sim com a Asparj. É a administradora e não a Unimed que pode “dar desconto”. Foi exatamente como o corretor agiu: propôs para os mais jovens um aumento de “apenas” o dobro daquele definido pela ANS e para quem tem acima de 65 anos, ônus integral. Uma crueldade que sequer preserva princípios básicos da solidariedade intergeracional de qualquer mutualismo. Desde a semana passada, a atenção de toda a equipe da Adufrj, inclusive dos assessores jurídicos, está voltada para impedir esse assalto (sem violência física, mas portador de ameaças objetivas à organização da vida) aos professores. Estamos reunindo informações para arguir o aumento pela via judicial. Por exemplo, planos de servidores públicos como o dos fiscais da Receita Federal não aumentaram ou tiveram reajuste máximo de 7,2% (uma categoria também constituída fundamentalmente por profissionais de nível de idade média). Paralelamente, divulgamos entre especialistas o que está ocorrendo na UFRJ. Temos sido procurados por pessoas interessadas em apresentar esquemas assistenciais que garantam estabilidade assistencial e financeira para os usuários. Consideramos que características tais como: existência de concursos e admissão permanente de novos associados, adimplência e estabilidade no plano devem ser consideradas nos processos de precificação. Encarar a briga pela saúde em um contexto de forte expansão de negócios é uma tarefa árdua. Certamente foi na seguradora na qual trabalhou que Kafka se inspirou para escrever “O Processo”. Os planos de saúde, a seu modo, nos empurram para desempenhar o papel de Joseph K. O que oferecemos para contrarrestar as tendências de expansão da mercantilizarão da saúde não é pouco. A população brasileira, quando consultada por diversas pesquisas, declara peremptoriamente sua insatisfação com a privatização da educação e saúde e atesta má qualidade de serviços inclusive das operadoras de planos. A justiça está repleta de ações contra planos e tem se manifestado majoritariamente a favor dos pacientes. E a Adufrj tem de sobra esperanças e compromissos para encontrar melhores perspectivas para a saúde.   * Vice-presidente da Adufrj e pesquisadora em saúde coletiva

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