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Comunidade critica violência no Fundão
Texto e fotos: Valentina Leite
Estudante da ECO-UFRJ e estagiária da Adufrj
Insegurança. Esta é a palavra que melhor define o estado de quem trabalha, estuda ou circula pela Cidade Universitária. O recente sequestro de um professor da Coppe ampliou a sensação entre docentes, funcionários e alunos.
Pesquisador Ivo Gersberg diz que o clima de tensão é constante no campus
Ivo Gersberg, pesquisador em engenharia civil na Escola Politécnica, confirma que o clima de tensão é constante. “É um problema muito sério um professor passar horas na mão de um bandido. Isso não pode acontecer. Esse trauma deixa uma marca”, afirma. “Precisamos falar sobre segurança! Mexer na ferida. Do jeito que está, não pode ficar. Não podemos viver assim”.
O pesquisador diz que prefere se deslocar para o CT de moto. “Já tive experiências desagradáveis em ônibus”, conta. “No caso do carro, uma professora quase foi assaltada há alguns dias aqui no estacionamento”.
Já o professor José Ricardo de Almeida, do Instituto de Geociências, conta que usa o carro para ir trabalhar. Desistiu do ônibus quando foi assaltado há alguns anos, na linha 485. “Fui abordado por três homens armados. É uma situação terrível”, diz. Apesar de se sentir mais seguro de carro, fica receoso quando sai tarde da noite do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza, onde dá suas aulas, e precisa andar pelo estacionamento.
 Para o professor José Ricardo de Almeida, não houve melhoras no sistema de segurança
Para o professor José Ricardo de Almeida, não houve melhoras no sistema de segurança
Para ele, não houve melhora no sistema de segurança ao longo dos anos. “Eu trabalho aqui desde 1994 e sempre me senti inseguro. Em relação a isso, nada mudou”, comenta. José Ricardo acredita que o policiamento no campus funciona de maneira sazonal. “Só vejo polícia circulando quando acontece algo”.
A professora Marta Tapia, da Engenharia Naval e Oceânica, trabalha há 30 anos no Fundão e enxerga uma evolução recente da segurança. “Antes, entrava qualquer um aqui. Agora, pelo menos no Centro de Tecnologia, temos câmeras, um patrimônio mais bem cuidado e preservado”, opina. Ela nunca sofreu nenhuma situação de risco, mas ouve histórias diárias de seus alunos. “Tem assalto às 9h no ônibus. Isso é absurdo”, critica. Para evitar problemas, ela toma algumas precauções, como não carregar itens de valor. 
Professor da Coppe foi sequestrado no campus
Kelvin Melo*
Um professor do programa de Engenharia Oceânica da Coppe passou quatro horas de terror na terça-feira, 29. Ele foi sequestrado no estacionamento dos fundos do Centro de Tecnologia, na ilha do Fundão, ao meio-dia. O carro, celular, aliança, cartões bancários e mais de R$ 20 mil foram roubados. Os bandidos usaram os cartões de crédito e débito. Quando os saques e compras deixaram de ser autorizados, o docente foi liberado, em Bonsucesso.
O professor registrou ocorrência na polícia. A 37ª Delegacia, na Ilha do Governador, está investigando o caso. A polícia ainda não sabe a identidade dos criminosos, mas reconheceu que uma quadrilha tem agido no Fundão, sempre da mesma forma. Os docentes são os principais alvos.
Há mais de 30 anos estudando e trabalhando no Fundão, o professor da Engenharia Oceânica sonha com dias mais calmos na universidade e planeja uma campanha contra a insegurança no campus. Ele foi sequestrado perto da entrada do estacionamento dos fundos do CT quando parava seu carro. O docente foi abordado por quatro homens encapuzados e armados. Eles saíram de um veículo preto, que já estava no local. Sob a mira de pistolas, foi levado ao carro dos bandidos, onde ficou amarrado e encapuzado durante todo o tempo. O celular teve o mecanismo localizador desligado. Não houve agressão física. Após o carro rodar por alguns minutos, o professor sofreu ameaças até entregar as senhas bancárias.
Liberado nas imediações da Avenida Brasil, o professor entrou em uma loja de onde conseguiu ligar para a Coppe. Os colegas o buscaram e partiram para a 21ª Delegacia, em Bonsucesso, onde foi feita a primeira comunicação da ocorrência.
Investigação em curso
Sobre o sequestro do professor da Coppe, o inspetor-chefe da 37ª Delegacia de Polícia, da Ilha do Governador, limitou-se a dizer que “há uma grande investigação em curso”, que envolve outras delegacias e que “trabalha com inteligência”, para desbaratar grupos que atuam com “roubos”. Ele se recusou a chamar o caso de sequestro, apesar de a vítima ter sido mantida em cárcere privado por quatro horas sob a mira de pistolas. Também não quis comentar casos semelhantes ocorridos entre os meses de abril e novembro deste ano, com médicos do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG).
 
O 17º Batalhão de Polícia Militar, responsável pelo policiamento ostensivo no Fundão, disse que realiza rondas constantes na Cidade Universitária para coibir crimes no campus. Já a Secretaria de Segurança Pública, por meio de sua assessoria, disse que o órgão vai elaborar um conjunto de ações a partir das demandas apresentadas pelo reitor Roberto Leher, em reunião no dia anterior ao sequestro.
*colaborou Elisa Monteiro e Silvana Sá
Procura-se segurança
Jan Niklas Jenkner
Estudante da ECO-UFRJ e estagiário da Adufrj
Após o sequestro de um professor da Coppe, ocorrido no estacionamento do CT na terça (29), o prefeito da Cidade Universitária, Paulo Mário Ripper comprometeu-se com o reforço da segurança na Ilha do Fundão. "Vamos trabalhar de forma integrada com a 37ª DP, da Ilha do Governador, e a Front, empresa de vigilância, para apurar o caso e melhorar a patrulha da região", garantiu. As imagens das câmeras de segurança do dia do crime “estão sendo levantadas”. No entanto, ainda não foram repassadas à polícia.
Paulo Mário marcou reunião com o delegado da 37ª DP para a próxima semana, quando deverá ser entregue o material. Segundo ele, a pressão da Light pelo corte de energia na universidade atrasou o trabalho com as imagens. Há um plano para aumentar o monitoramento, sem prazo para sair do papel.
Após encontro na segunda (28) com o secretário de segurança do Rio, Roberto Sá, em resposta aos crescentes assaltos em linhas de ônibus que passam pelo Fundão, o prefeito também agendou reuniões para a próxima semana com os comandantes do 2º, 4º, 5º e 17º batalhões da Polícia Militar.
O prefeito informou já ter cobrado a PM para realizar mais rondas ostensivas na área. Mais um carrinho elétrico de vigilância - totalizando três viaturas deste tipo — vai entrar em circulação na Cidade Universitária.
A prefeitura disponibiliza o WhatsApp (21) 99413-3385 para receber informações e demandas sobre a segurança na UFRJ.
Leia mais: Prefeitura universitária promete melhorar segurança
Sequestro: Coppe cobra providências
A Coppe, unidade do professor Tsequestrado dia 29, no estacionamento do CT, emitiu na quarta-feira (30) uma nota considerando “revoltante a crescente insegurança e violência que atingem a sociedade do Rio de Janeiro, em particular o campus da Cidade Universitária”. A diretoria da Coppe está enviando um ofício ao secretário de segurança do Estado do Rio de Janeiro, Roberto Sá, no qual reitera a solicitação de reforço da segurança pública no campus da Cidade Universitária.
Querem apagar a UFRJ
Light corta luz da reitoria e interrompe aulas da Escola de Belas Artes e da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Pesquisas também estão ameaçadas
Matéria atualizada em 30/11
Silvana Sá                    
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A Light cortou a luz do prédio da reitoria da UFRJ por volta das 10h do dia 29. A empresa justificou a medida pela falta de pagamento das faturas de junho a novembro. São aproximadamente R$ 18 milhões de débito, no total.
O desligamento prejudicou o funcionamento do gabinete do reitor, da Procuradoria da universidade e do Sistema de Tecnologia da Informação e Comunicação. Também forçou nova suspensão das atividades acadêmicas da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Escola de Belas Artes e do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, unidades que já sofreram atrasos no calendário letivo deste ano por conta do incêndio no último andar do edifício, no início de outubro. As aulas só serão retomadas após o restabelecimento da energia.
À prefeitura da UFRJ, a companhia teria ameaçado deixar no escuro outros locais, como a Escola de Educação Física e Desportos e a Prefeitura Universitária. O que pode acabar com o esforço de anos de pesquisa. “Os impactos na Educação Física são perda de biotérios e prejuízos acadêmicos pela falta de aulas. No caso da (subestação da) Prefeitura, apaga também o CT 2 e toda a iluminação pública do Fundão”, diz Paulo Mário Ripper, prefeito dos campi. A assessoria de imprensa da Light, no entanto, só confirma o corte de energia para a parte administrativa da universidade, no Fundão.
Mas se o apagão ocorrer, o prefeito universitário não vê outra solução: “Vou ter que fechar o campus. Sem luz, não tenho como garantir a segurança das pessoas. A Light vai fechar a maior universidade do país”.
Em nota divulgada no site da UFRJ, a reitoria informa que busca, na Justiça Federal, o imediato restabelecimento do fornecimento da energia. O modo de agir da empresa é considerado “antirrepublicano e antiético”. Além disso, afirma que serão intensificadas negociações junto ao MEC para liberação de recursos.
*colaborou Jan Niklas Jenkner
