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WhatsApp Image 2020 10 16 at 14.46.09“Ser pesquisador no Brasil é mais ou menos como ser artista de circo. É preciso fazer várias coisas diferentes, e todas com qualidade. É preciso fazer pesquisa de qualidade, dar aulas de qualidade, fazer difusão científica de qualidade e lutar para aumentar recursos para a pesquisa”, compara o professor Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências.
Davidovich é docente do Instituto de Física. A maior federal do país é a quarta instituição brasileira em produção científica e responde por 6,5% da ciência nacional. Os números são de 2019. O levantamento feito pela USP traduz a atuação da UFRJ entre 2014 e 2018. “Aqui se ensina porque se pesquisa”, resume o professor. “A frase de Carlos Chagas Filho sintetiza nossa missão. O ensino tem que estar sintonizado com o que acontece na pesquisa mundial”, defende o docente.
Se a ciência avança de maneira tão rápida, o ensino precisa mudar, analisa. “Na graduação há uma compartimentalização do ensino. Em outras partes do mundo isso não acontece mais. Temos exemplos fantásticos, como Havard. Aqui, temos a Universidade Federal do ABC. Um dos centros deles se chama Centro de Ciências Naturais e Humanidades, olha que maravilhoso?! As trocas que possibilita são imensas. A UFRJ precisa olhar para frente nesse sentido e tem gente capacitada para isso”, afirma.“A ideia é trabalhar percursos, não os cursos”.WhatsApp Image 2020 10 16 at 14.46.08Luiz Davidovich
Aos 12 anos, Luiz Davidovich viu um anúncio no jornal para um curso de rádio por correspondência. “Eu recebi o material pelos Correios, tinha muitas analogias entre eletricidade e rede hidráulica, o que me levou a buscar outros materiais sobre os assuntos. Eu montava circuitos, era um curso mão na massa mesmo”, relembra. Justamente por ter começado a se aventurar por experimentos desde tão jovem, ele acredita que ciência deve ser aprendida na escola. “Crianças têm curiosidade natural e precisam ser incentivadas. Muitas vezes, a pergunta certa é mais importante do que a resposta”, defende o professor, que não acredita na teoria vocacional. “A história da vocação aqui no Brasil acaba fazendo muito poucos se direcionarem para essa área. Desperdiçamos cérebros que estão nas favelas, nas periferias. Há uma ligação direta com nossa desigualdade social, em que o encaminhamento para a pesquisa ainda está relacionado à estrutura familiar da pessoa”.

CORTES E BUROCRACIAS
WhatsApp Image 2020 10 16 at 14.46.081Pedro LagerbladDe acordo com o professor Pedro Lagerblad, do Instituto de Bioquímica Médica, a burocracia excessiva e a queda nos investimentos geram consequências graves. “Ineficiência, desmonte, superdimensionamento da burocracia, tudo isso tem um custo. É como o custo das doenças. Muitos gestores só visualizam o custo da prevenção, mas não enxergam a economia da prevenção. O não funcionamento sai muito caro”, critica.
Para o docente, que é Pesquisador 1A do CNPq e diretor da AdUFRJ, a burocracia brasileira está sendo usada contra a universidade. “A lei deve servir para garantir a nossa função social. Nossa burocracia é gigantesca. Os órgãos de controle hoje veem todo pesquisador como culpado a priori. São questionários intermináveis, repetitivos”, reclama.
Além de sobrecarregar, as questões administrativas tiram o tempo para a pesquisa. “Eu gasto mais tempo buscando recursos e justificando financiamentos do que trabalhando no meu objeto de pesquisa”, compara. “Quando um pesquisador é colocado numa função burocrática para economizar dinheiro, o efeito é oposto. Esse pesquisador está deixando de gerar conhecimento e recursos”, observa. “Ciência e tecnologia se pagam muitas vezes quando há investimento”.
Alguns exemplos são impressionantes. A transmissão da doença de Chagas pelo vetor barbeiro foi controlada no Brasil na década de 90. Uma análise feita para avaliar os impactos do custo-benefício do programa no Brasil indica que para cada US$ 1 utilizado nas medidas de combate, eram economizados US$ 17. “Só foi possível porque cientistas brasileiros descobriram que o vetor era sensível ao princípio ativo de inseticidas comuns”. Outro exemplo aconteceu em Jaboticabal, São Paulo. Pesquisa para controlar pragas nos laranjais evitou perdas, entre 2002 e 2012, na ordem de US$ 1,3 bilhão. “Foi uma pesquisa da USP. E, sozinha, pagou todo o investimento feito em ciência e tecnologia no Brasil em muitos anos”.

SEM COMEMORAÇÃO
WhatsApp Image 2020 10 16 at 14.46.082Suzy dos SantosAs múltiplas funções no ensino, pesquisa e extensão também fazem parte do cotidiano da professora Suzy dos Santos, da Escola de Comunicação. Além das atividades acadêmicas, a docente também é diretora da ECO. “Nossa carreira, apesar de tantas perdas, ainda é o resultado de muitas lutas e são lutas de uma vida, um trabalho permanente e muito sub-remunerado. Ao mesmo tempo que você faz pesquisa, ensino e extensão, tem que dar conta de manter o funcionamento mínimo. E num momento de falta de recursos, esta não é uma tarefa simples”, descreve.
A sobrecarga é inevitável. “Não há tempo para tudo isso. Há claramente uma sobrecarga mental, um peso excessivo”, analisa. A maternidade é mais um desafio que se soma a todos os outros. “Sou mulher, mãe de duas crianças e fiquei viúva recentemente. Moro no Rio de Janeiro, onde não tenho parentes, então crio os dois sozinha. Existe toda uma responsabilidade na criação da criança que é da mãe. A sociedade como um todo tem esse olhar distinto e isso acaba virando mais uma militância”, diz.
Os filhos transformaram a atuação da professora e gestora. “Assim que assumi a direção da ECO comprei com recursos próprios trocadores e almofadas de amamentação que ficam localizados nas estruturas da Escola, mas disponíveis para todo o campus da Praia Vermelha. A maternidade humanizou mais o meu trabalho”, reconhece.
Os desafios do presente, para a professora, estão associados a lutar pela manutenção da universidade. “A gente não está em tempos de incerteza só pela pandemia. Mas porque a universidade está sob ataque. Infelizmente, neste dia dos professores, não temos o que comemorar. Há muito para se lutar. É uma necessidade de defesa do espaço, da universidade”.

WhatsApp Image 2020 10 16 at 16.41.32ATUALIZAÇÃO (19/10): Previsto para amanhã (terça, 20), o lançamento de uma iniciativa da Adufrj em apoio aos professores durante o ensino remoto foi adiado. Ainda não há uma nova data para o evento.

A pandemia do novo coronavírus, que infelizmente ainda assola o Brasil de forma impiedosa, impôs mudanças radicais em nosso convívio social e práticas de trabalho. A comunidade universitária, claro, não foi poupada: a única maneira segura de continuarmos com algumas de nossas atividades foi através do chamado Ensino Remoto Emergencial. Essa ideia foi recebida de forma bastante desigual na UFRJ, o entusiasmo jovial de alguns contrastando com uma rejeição desgostosa de outros, mas após meses de debate a universidade decidiu iniciar o seu ensino remoto (na graduação) em 24 de agosto.
A implementação do ensino remoto numa universidade do tamanho da UFRJ é uma empreitada causticamente desafiadora, e nós professores estamos sentindo isso: a montagem de cursos inteiros nas plataformas virtuais, as infindáveis horas na frente de variadas telas, o atendimento aos alunos com menos acesso; tudo isso está gerando uma estafa no corpo docente como poucas vezes se viu na universidade. Muito embora não haja muito que possamos fazer contra o vírus, podemos fazer a nossa parte para tentar ajudar nossos e nossas colegas a lidar com o ensino remoto. É nesse espírito que apresentamos nossa iniciativa de auxílio ao docente para o Ensino Remoto Emergencial: o lançamento será na próxima terça-feira (dia 20/10), às 18h30, com uma apresentação da consultora educacional Cristina Mendes sobre ensino remoto. Ela ficará disponível durante algumas semanas (em horários a serem definidos) para sessões de “assistência técnica”, e faremos alguns vídeos curtos com as dúvidas mais frequentes. Estamos um pouco atrasados, mas esperamos que esse auxílio seja de alguma valia.

Esperamos você no lançamento!
Felipe Rosa
Vice-presidente da AdUFRJ

No fechamento desta edição fomos surpreendidos pelo envio de uma mensagem da Pró-reitoria de Pessoal (PR-4) com um comunicado de corte do ganho judicial dos 26,05% (Plano Verão de 1989) da folha de pagamento de novembro, a ser paga em dezembro.
“Informamos que o Supremo Tribunal Federal (STF) cassou decisão da Justiça do Trabalho que manteve o pagamento do plano econômico no percentual de 26,05%, aos associados da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro”, diz o trecho inicial da nota. Essa decisão foi tomada no dia 25 de setembro e a AdUFRJ imediatamente apresentou recurso ao Tribunal Regional Federal e vai adotar todas as medidas jurídicas cabíveis para tentar reverter a medida mais uma vez.
Embora soubéssemos que o corte poderia ocorrer a qualquer momento, a notícia foi recebida com surpresa e grande desconforto pela forma como foi veiculada. Em todas as vezes que a universidade precisou tomar alguma atitude em relação à folha de pagamento ou a qualquer direito dos professores, se dirigiu à AdUFRJ para comunicar a decisão. Na última vez que isso ocorreu, conseguimos a intervenção da Justiça do Trabalho poucas horas antes do fechamento da folha e mantivemos por mais um ano o pagamento desse percentual. Dessa vez não conseguiremos sustar a medida, pois o recurso que impetramos não terá nenhum efeito suspensivo em relação à decisão do STF. Entretanto, reafirmamos que além de ser incomum, o procedimento da reitoria indicou uma total falta de sensibilidade. Qual a urgência de se fazer um comunicado de corte, que só vai ocorrer em dezembro, exatamente no Dia do Professor, em 15 de outubro? Já temos notícias ruins de sobra, já temos um governo que nos ataca permanentemente, só estamos reivindicando mais cuidado e a atenção com a forma com que a reitoria se dirige aos professores e como trata as entidades representativas.  

Histórico
Os 26,05%, recebidos por quase 5 mil docentes — ativos e aposentados — que ingressaram na UFRJ até 2006, são resultantes de uma ação antiga da AdUFRJ. O Plano Verão de 1989 congelou os salários e extinguiu o reajuste baseado na variação da unidade de referência de preços (URP), utilizada à época. A consequência foi a retirada do percentual dos salários. Diversos sindicatos entraram com ações na Justiça para recuperar o valor. Em 1993, a Seção Sindical obteve decisão favorável na Justiça do Trabalho. Por diversas vezes esse percentual, que teve seu valor congelado desde então, esteve para ser retirado, mas os recursos impetrados o mantiveram até hoje na folha de pagamento. Nacionalmente, somos das últimas universidades que ainda mantinham esse pagamento.

WhatsApp Image 2020 10 16 at 14.41.46COLÉGIO DE APLICAÇÃO forma novos professores há 68 anosA universidade ensina, pesquisa, faz extensão. Só na graduação, atende a 50 mil estudantes. Cinco mil deles se formam todos os anos nos 176 cursos da UFRJ. Este grande corpo discente é a força motriz para 4.198 docentes. Parte deste contingente tem uma tarefa ainda mais especial: transformar 9,5 mil alunos em novos professores das mais diferentes áreas de atuação. Da Química à Literatura. Da Educação Física à Matemática.
A tarefa de ensinar a ensinar não é simples e envolve diferentes estratégias pedagógicas. Embora o ensino de graduação tenha sofrido uma pausa forçada na pandemia, a formação de professores também acontece por meio do estágio supervisionado no Colégio de Aplicação, atividade que não parou. “Por um lado, o estágio remoto é muito prejudicial, pela perda das relações presenciais na sala de aula. Mas, por outro lado, a gente avaliou ser muito importante para o estudante que está se formando como professor vivenciar uma escola em transformação”, explica Anna Thereza de Menezes, diretora adjunta de licenciatura, pesquisa e extensão do CAp-UFRJ.
No ambiente escolar, os futuros professores podem participar da elaboração de materiais pedagógicos, dos encontros síncronos com as turmas da educação básica e, em alguns casos, até mesmo dos processos de avaliação. Anualmente, o CAp costuma receber em média 500 licenciandos. Um número que caiu neste ano letivo especial. “Durante esse momento de pandemia, 401 estudantes se cadastraram para o estágio no CAp. Mas nós reforçamos aos que ainda não fizeram estágio, e que não vão se formar nesse momento, que priorizem fazer o estágio presencial”, pontua Anna. “O estudante que quer estagiar com a alfabetização, por exemplo, é melhor aguardar para poder vivenciar isso no espaço da sala de aula”, aconselha.
O colégio não está sozinho na tarefa. Oficializado na Estrutura Média da UFRJ no final de 2018, o Complexo de Formação de Professores (CFP) é uma política institucional que organiza a formação inicial e continuada de professores da Educação Básica. “O CFP foi um primeiro passo no sentido de se haver uma ‘casa comum’ para olhar a formação de professores de uma forma mais cuidadosa”, explica Anna.
O Complexo reúne não só os docentes da UFRJ, mas também professores das redes municipal e estadual na tarefa de pensar e desenvolver estratégias de formação continuada. “O Complexo não tem um projeto pronto único. É quase um trabalho artesanal, em que a gente vai às escolas e ouve os professores e o diretor para saber o que cada uma das nossas 48 parceiras precisa”, descreve a ex-diretora da Faculdade de Educação da UFRJ, Carmen Teresa Gabriel. Atual coordenadora do Comitê Permanente do Complexo, a professora ressalta o objetivo da iniciativa de valorizar o docente da educação básica, para a formação de profissionais com qualidade e pensamento crítico.
A responsabilidade da universidade, portanto, não se restringe ao ensino superior. “A UFRJ forma professores. O potencial de transformar a educação básica é imenso”, defende o presidente da Academia Brasileira de Ciências, Luiz Davidovich. “É fundamental que os novos docentes sejam ensinados a conduzir seus alunos para uma educação emancipadora, que os leve a perguntar. Essa responsabilidade é nossa, enquanto universidade”.

DIFICULDADES
Mesmo dentro da universidade, a formação de professores ainda sofre com a falta de prestígio. “Em muitos cursos, o estágio é feito apenas na conclusão da graduação, quando muitas vezes essa orientação prática precisaria de um desenvolvimento maior”, exemplifica Anna.
Foi o que aconteceu com ela. Formada na Escola de Belas Artes da UFRJ, Anna estagiou no CAp, onde hoje é professora. “Na minha formação, só fui ter contato com essa concretização de que seria professora quando cheguei ao CAp”, conta.
A docente destaca também a falta de políticas de assistência estudantil para os estagiários de licenciaturas. “Não conseguimos até hoje ter uma linha de ônibus que ligue o CAp-UFRJ da Lagoa ao Fundão ou à Praia Vermelha. O metrô também não chega tão perto. O bairro é extremamente caro”, reclama. “Nós não temos um bandejão. Se o licenciando não levar a própria quentinha, precisará pagar caro por alguma refeição nas redondezas”, critica.
A formação dos novos professores esbarra também num outro desafio a ser superado: a desigualdade social. O estágio no CAp não é remunerado, algo que afeta principalmente aos alunos em maior vulnerabilidade econômica e social. “A gente sabe que os cursos de licenciatura congregam muitos estudantes de baixa renda. E nem todos conseguem a bolsa de permanência”.

 

ENTREVISTA I Carmen Teresa Gabriel, Coordenadora do Complexo de Formação de Professores

“Licenciaturas não são bacharelados de segunda ordem”

WhatsApp Image 2020 10 16 at 14.41.461Professora Carmen Teresa GabrielCoordenadora do Complexo de Formação de Professores e ex-diretora da Faculdade de Educação da UFRJ, a professora Carmen Teresa Gabriel explica os princípios que norteiam a iniciativa de formar docentes de maneira continuada pela universidade. A tarefa exige um constante movimento de atualização. “A universidade precisa, principalmente, mudar a sua cultura profissional, no sentido de acolher a importância dessa sua função como formadora”, aponta a docente.

JORNAL DA ADUFRJ: Qual a importância do Complexo de Formação de Professores?
Carmen Gabriel: O Complexo traduz o reconhecimento da UFRJ do seu papel como formadora de profissionais da educação básica. Ele mexe com a cultura universitária para que a universidade pública assuma a sua responsabilidade nesse processo, de maneira que a formação de professores seja algo tão importante quanto a de médicos. O Complexo também articula um espaço comum onde todos os sujeitos envolvidos interagem de forma horizontal, plural e integrada. Universidade e Escola pensam e concebem juntas as políticas de formação de professores.

Quais os principais desafios da UFRJ  na formação de novos docentes?
A universidade precisa, principalmente, mudar a sua cultura profissional, no sentido de acolher a importância dessa sua função como formadora. Durante muito tempo, as licenciaturas foram consideradas como um bacharelado de segunda ordem, o que se traduz nos próprios currículos e em toda uma discussão de teoria e prática. Outro desafio é construir formas de superar as fragmentações nas diferentes experiências de formação. O Complexo pressupõe que os problemas não estejam nos níveis do indivíduo, e sim da instituição. O que a gente quer é criar uma operacionalização dessas questões, que há muito tempo já vêm sendo discutidas.

Quais são os princípios do Complexo de Formação de Professores?
O Complexo é norteado por três princípios. Um é o da horizontalidade, que existe entre todos os saberes, sujeitos e territórios. A gente dá tanta importância às ações da cultura universitária, que envolvem pesquisa, extensão e ensino, quanto aos saberes produzidos nas escolas. O segundo é o da pluralidade, pois a gente entende que não existe um modelo único. O Complexo não quer homogeneizar todas as ações. Ele se vê como uma grande rede de formação de professores. E entende essa riqueza da troca de experiências de formação que ocorre entre a UFRJ e as instituições parceiras. E o terceiro ponto é a integração, pois o CFP tem como função articular todas as suas experiências de formação para potencializar ações que já acontecem. É um novo arranjo institucional na UFRJ que traduz a política de formação inicial e continuada dos docentes da Educação Básica.

IMG 20201010 WA0019PONTES disse que não haverá complementação de recursos para bolsas em 2021 - Foto: NEILA ROCHA - ASCOM/MCTIUm contraditório Marcos Pontes visitou a UFRJ na segunda-feira (5). Para a imprensa, discurso de loas às universidades e elogios ao governo pelos investimentos em infraestrutura de pesquisa. Em um encontro mais reservado com dirigentes da instituição, a exposição da dura realidade da Ciência no país gerido por Bolsonaro.
Depois da agenda aberta à cobertura dos jornalistas, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação participou de uma conversa com representantes do Consuni e parte da equipe da reitoria, na sala dos Colegiados Superiores. A questão orçamentária dominou a reunião de quase uma hora. Nela, o ministro informou que o corte de 15% do orçamento previsto para 2021 impactará as bolsas de pesquisa. Até aí, nenhuma novidade. Mas, segundo ele, as complementações conseguidas nos últimos dois anos com o Ministério da Economia, desta vez, estarão fora do radar.
O ex-astronauta Pontes parece não ter voltado do espaço, quando destacou “um Congresso Nacional favorável à Ciência”. Citou como exemplo a tramitação amigável do Projeto de Lei Complementar (PLP 135) que transforma o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) em um fundo financeiro, proibindo o contingenciamento dos recursos. O PLP foi aprovado por 71 votos a 1 no Senado e agora depende da Câmara. Só “esqueceu” de mencionar todos os outros projetos que desmontam o serviço público, como a PEC da reforma administrativa.
Não há dúvidas de que o ministro valoriza a pasta que comanda. Mas, egresso do meio militar, não entende como funcionam as universidades, responsáveis pela maior parte da produção científica nacional. Pontes defendeu um ajuste de “linguagem” e “sinergia” entre a pasta e a universidade e expressou o desejo do governo de mais engajamento “no desenvolvimento de inovações para produtos, empregos e empresas”. Parecia um Abraham Weintraub citando o malfadado Future-se.
O vice-reitor Carlos Frederico Leão Rocha ressaltou que “universidade contribui para a inovação, formando alunos inovadores e com ideias que podem ser utilizada pelo setor privado”.

PARA A IMPRENSA
Diante dos microfones da mídia, Pontes tinha virado rapidamente a “chave”. O ministro acompanhou o início dos primeiros ensaios clínicos com a vacina BCG para prevenção da Covid-19. Em seguida, participou da inauguração de um laboratório de campanha com capacidade para análise de 300 testes moleculares, do tipo PCR, o mais preciso, por dia. Afirmou que aposta alto no retorno da pesquisa brasileira. “Com o conhecimento que temos aqui, somos um país capaz de desenvolver e produzir uma vacina,” declarou.  Segundo Pontes, atualmente, 15 protocolos de vacinas são desenvolvidos por cientistas brasileiros. E outros 12 laboratórios de campanha estão em vias de ser inaugurados.
Foi a primeira visita do ministro a instalações da universidade na atual reitoria. Durante a agenda, a reitora Denise Pires de Carvalho lembrou outras ações da UFRJ de combate à pandemia, como a atuação do GT Coronavírus e a produção de mais de 80 toneladas de álcool.
Na ocasião, a reitoria considerou que a presença do ministro confirma o protagonismo da UFRJ no “movimento que coloca as universidades públicas como motores do desenvolvimento científico, artístico, cultural e tecnológico do nosso país”.
 
PESQUISA DE PONTA,
APESAR DO GOVERNO
Apesar dos reduzidos investimentos em Ciência, os professores fazem pesquisa de excelência. Uma delas relacionada à vacina BCG. A professora Fernanda Mello, diretora do Instituto de Doenças do Tórax explica que a vacina — geralmente aplicada na infância para prevenir casos graves de tuberculose — não substituirá uma eventual imunização específica contra o novo coronavírus. Contudo, uma segunda dose — já que ela perde força ao longo dos anos — poderá oferecer benefícios de profilaxia, aumentando a imunidade.
“A vacina BCG atuaria estimulando o sistema imunológico do organismo, especificamente a imunidade inata”, explica a pesquisadora. “Além disso, vários estudos demonstram o efeito heterólogo da vacina BCG, ou seja, um efeito além do seu propósito principal, com redução das  taxas de infecções respiratórias bacterianas e virais em crianças”, acrescenta. O aprofundamento da linha de investigação, no Brasil, é facilitado pelo fato de a BCG fazer parte do calendário vacinal, tal como em países europeus e EUA.
Mil profissionais de saúde serão recrutados, nos próximos dois a três meses. Eles serão vacinados com a BCG e acompanhados pelos próximos seis a 12 meses. Nunca ter tido Covid-19 está entre os critérios para resultados confiáveis e seguros. O aporte de R$ 1 milhão destinado à pesquisa pelo MCTI foi aplicado na aquisição de insumos para a realização dos testes laboratoriais. “Entre eles RT-PCR e sorologia para coronavírus, além de dosagem de biomarcadores que auxiliam na compreensão da resposta imunológica contra o SARS-Cov-2”, descreve Fernanda. Também foram adquiridos equipamentos que darão suporte ao processo de vacinação, como equipamentos para a conservação das vacinas.
Já o laboratório de campanha da UFRJ tem como objetivo aprimorar os diagnósticos dos testes no estado, além de aumentar a segurança biológica. Coordenador da iniciativa, professor Amilcar Tanuri, destacou, à imprensa, a importância científica de um laboratório deste tipo em funcionamento na universidade: “Neste laboratório, o teste se transforma em pesquisa também. A vantagem de se colocar um laboratório em estrutura de universidade é que o teste auxilia o paciente e também movimenta a pesquisa na área”. Segundo informou, a UFRJ já realizou mais de 30 mil testes diagnósticos de coronavírus.

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