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WhatsApp Image 2020 09 07 at 12.24.50PALÁCIO UNIVERSITÁRIO Construído na primeira metade do século XIX, foi inaugurado em 1852 e abrigou o Hospício Pedro II. Foi incorporado ao patrimônio da UFRJ em 1949, quando a reitoria instalou-se no local“Estimular a cultura das ciências, estreitar entre os professores os laços de solidariedade intelectual e moral e aperfeiçoar os métodos de ensino”. Estes eram os objetivos da UFRJ quando nasceu, em 7 de setembro de 1920, com o nome de Universidade do Rio de Janeiro. Os professores eram homens, brancos e ricos. Os alunos também. Um perfil bem diferente do que a UFRJ apresenta um século depois.
“Não podemos avaliar aquela universidade a partir de hoje”, enfatiza o professor emérito Luiz Antônio Cunha, da Faculdade de Educação. Autor do livro “A universidade temporã: da Colônia à Era Vargas”, o docente argumenta que é preciso pensar a Universidade do Rio de Janeiro com base nas discussões educacionais que ocorriam naquela época na jovem República do Brasil, ávida pela formação de profissionais qualificados.
A frágil modernidade brasileira queria engenheiros, médicos e advogados. Os anos 20 eram tempos conturbados dentro e fora do Brasil. A Europa lambia as enormes feridas da Primeira Guerra Mundial. No Brasil, as cicatrizes da escravidão ainda estavam – estão até hoje – abertas. A capital era o Rio, uma cidade efervescente, animada pelo samba, conturbada pela política oligárquica do café com leite, e massacrada pela gripe espanhola que um ano antes levou a vida de 50 mil moradores, entre eles o presidente Rodrigues Alves, homem que emoldurara a cidade com ares renovadores e reformas sanitárias e urbanísticas.
Com a morte de Alves, o país ficou nas mãos de Delfim Moreira, um vice atormentado por transtornos mentais, e que, em 1919, passou a faixa presidencial para Epitácio Pessoa. Paraibano, formado em Direito em Pernambuco, ele vencera a eleição presidencial do célebre Rui Barbosa, mais conhecido como Águia de Haia.
É nesse contexto que surge a Universidade do Rio de Janeiro, nascida pela junção de três faculdades que já existiam na época – Medicina, Direito e Politécnica. “Em 1920, tivemos a reunião de três unidades de ensino — duas muito antigas, que eram a Escola Politécnica, de 1792, e a Faculdade de Medicina, de 1808, e uma, improvisada, muito recente, de duas instituições privadas de direito que foram estatizadas e fundidas”, diz Luiz Antônio Cunha. “Naquela época, universidade significava instituição de ensino”, completa. WhatsApp Image 2020 09 07 at 12.24.501VELHA MINERVA Reprodução do primeiro brasão da UFRJ, ainda Universidade do Rio de JaneiroA nascente universidade também não era gratuita – a gratuidade só foi instituída em universidades federais nos anos 50 – nas estaduais paulistas foi em 1947. “Quem era pobre tinha um padrinho que pagava, como o escritor Lima Barreto, quando foi aluno da Escola Politécnica”, explica Luiz Antônio.
Carreira universitária não existia. “Isso é muito recente. Havia os catedráticos, encarregados de uma área de saber”. E os livres-docentes, que ministravam disciplinas fora daquela área do conhecimento. “Eles tinham o direito de usar as instalações da instituição para ministrar um curso adicional, fora daquele programa mínimo do curso”, esclarece o professor emérito. As taxas cobradas eram repartidas com a faculdade.
Os catedráticos não viviam dos minguados pagamentos recebidos pelo governo com as aulas.  “De jeito nenhum. Era um grande médico, um grande engenheiro, um grande advogado”. A função era disputada em concursos públicos por conferir prestígio aos seus ocupantes. “Ou a pessoa dava aula porque gostava de ensinar”, resume Luiz Antônio Cunha.

FRAGMENTADA
Andrea Queiroz, historiadora e diretora da Divisão de Memória Institucional da UFRJ, destaca que a Universidade do Rio de Janeiro surge por influência do pensamento positivista no início da República. O que também vai induzir à escolha da data de 7 de setembro — ainda não era um feriado nacional — para a assinatura do decreto de fundação pelo então presidente Epitácio Pessoa. A relação com as ciências, que abre o regimento da universidade, explica Andrea, é uma característica positivista.
Mas a classificação como “universidade” ficou apenas no papel. “Na verdade, só é universidade pelo dispositivo legal. Não existia uma relação orgânica entre esses cursos. O que se entende por universidade, na prática, ela ainda não era”, argumenta Andrea.
A fragmentação inicial da instituição, no ponto de vista da historiadora, ainda não foi superada. E Andrea não se referia à atual discussão do calendário acadêmico. “Vemos o reflexo disso nas relações entre as unidades e na dispersão de seu vasto patrimônio e acervo. Apesar de hoje já existirem sistemas integrados tanto de arquivos, de museus e de bibliotecas, ainda assim existe uma autonomia de cada espaço para gerenciar esse patrimônio”, informa Andrea.
Outra marca da embrionária UFRJ era o elitismo, que se apresentou na escolha dos três cursos iniciais para sua constituição, considerados de maior prestígio. “É uma universidade da elite feita para a elite”, afirma. Não por acaso, observa a historiadora, professores desses três cursos vão se revezar na gestão da universidade até 1985, quando ocorre a primeira eleição direta para reitor. “Traduz muito essa perspectiva elitizada que marca a trajetória da universidade”.
WhatsApp Image 2020 09 07 at 12.24.51BARÃO DE RAMIZ Professor da Faculdade de Medicina e primeiro reitor da universidade Em 1920, o primeiro reitor veio da Faculdade de Medicina: o professor Benjamin Franklin de Ramiz Galvão, o Barão de Ramiz. Escolhido por ser o presidente do Conselho Superior de Ensino da época (cargo que, por sua vez, era nomeado livremente pelo presidente da República) . Pelo regimento, o reitor devia prestar contas de cada ano ao ministro da Justiça e Negócios Interiores — o MEC seria fundado apenas 10 anos depois.
A participação do Barão de Ramiz nas atividades que saudaram a visita do rei da Bélgica ao Brasil, em setembro daquele mesmo ano, suscitou uma fake news: que a universidade teria sido constituída às pressas para conferir um título honorífico ao monarca Alberto I.
Em artigo publicado no site da Sociedade Brasileira de História da Educação, a professora Maria de Lourdes Fávero afirmou não ter encontrado registro desta homenagem da Universidade do Rio de Janeiro. A docente da Faculdade de Educação pesquisou em atas do Conselho Universitário e em periódicos da época. E encontrou um dado que pode ter contribuído para a confusão. Entre vários títulos, o rei belga ganhou o de “presidente honorário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro”, do qual Ramiz era diretor.
Ao receber a honraria do IHGB, o rei belga proferiu um belo vaticínio, de acordo com o discurso reproduzido pela professora: “O ano de 1920 será uma data para sempre memorável nos fatos intelectuais de vosso país. Vós tendes já na maioria das capitais dos Estados, altas escolas e faculdades notáveis, cuja reputação transpõe vossas fronteiras. Possuireis, contudo, uma universidade integral que será digna do Brasil e que se tornará, não duvido, um cenáculo brilhante, cuja influência será um fator considerável à vida científica de Vossa Pátria”.
O rei não poderia estar mais certo.

minerva assanhadaCriado durante a gestão do ex-reitor Carlos Lessa, o bloco carnavalesco Minerva Assanhada fez uma apresentação virtual de gala na tarde de domingo (30). A introdução coube a ninguém menos que Noca da Portela, baluarte do samba e mais novo Doutor Honoris Causa da universidade. Noca interpretou a canção “UFRJ, 100 Anos de Arte, Ciência e Balbúrdia”, que compôs ao lado do professor Roberto Medronho, da Faculdade de Medicina. Em seguida, houve a live com mais de duas horas de folia, animada por alguns componentes do bloco, e entrecortada pelas saudações da reitora, do prefeito universitário e de representantes do Formas, fórum que reúne as entidades sindicais e estudantis da UFRJ. O vídeo, com mais de 870 visualizações, pode ser encontrado no canal do Sintufrj no Youtube.

05WEB menor1144A AdUFRJ PREPARA UMA EDIÇÃO ESPECIAL para celebrar o centenário da universidade. O sindicato também vai participar da abertura oficial das comemorações, em 7 de setembro. No dia seguinte, a associação docente ajuda a contar a história de lutas da comunidade ao lado das entidades representativas dos técnicos-administrativos, estudantes e terceirizados.

cartaz 100 anos

 

reforma administrativaMais um ataque aos funcionários públicos federais, estaduais e municipais. O governo Bolsonaro enviou ao Congresso, no dia 3, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Nova Administração Pública. A PEC modifica o Regime Jurídico Único: transforma o estágio probatório em uma etapa do concurso público e acaba com a estabilidade de boa parte das carreiras. Também acaba com progressões e promoções baseadas exclusivamente em tempo de serviço. E dá poderes ao presidente da República para extinguir cargos, funções, gratificações e até mesmo órgãos federais. Militares, magistrados, procuradores, promotores e parlamentares ficam de fora da reforma administrativa. A estabilidade e os vencimentos dos que já ingressaram no serviço público continuam nos mesmos termos da Constituição atual.

04WEB menor1143Silvana Sá e Kelvin Melo

Às vésperas de completar 100 anos, a UFRJ vive a incerteza de como será o amanhã. Literalmente. Ao longo da semana, entre uma aula remota e outra do Período Letivo Excepcional, os professores avaliaram as propostas de calendário acadêmico para os próximos semestres. A decisão caberá ao Conselho de Ensino de Graduação na próxima quarta-feira, dia 2. Nove propostas foram apresentadas ao CEG na reunião do dia 21. A reitoria também voltou atrás e divulgou sua segunda proposição. A anterior previa períodos muito curtos e não permitia intervalos entre os semestres letivos.
A segunda sugestão de datas assimilou parte das críticas feitas à primeira proposta: dilatou os semestres e colocou intervalos entre os períodos. Mas passou a considerar uma sobreposição entre o PLE e 2020.1, de setembro a novembro. A intenção dos centros é apresentar propostas que melhor atendam às realidades de suas unidades e, a partir daí, tentar ajustes no CEG. A tarefa não é fácil e reflete a enorme diversidade da instituição. Há questões que vão desde a exaustão provocada pelo trabalho remoto e as consecutivas mudanças no PLE, até a necessidade de adaptação entre disciplinas obrigatórias e eletivas ofertadas no perído excepcional antes do início de um semestre regular.
No Centro de Ciências da Saúde, o decano Luiz Eurico Nasciutti explicou que as 14 unidades, que reúnem os 28 cursos de graduação da área, estão realizando reuniões ao longo de toda a semana em busca de consensos que possam ser defendidos no Conselho de Coordenação, marcado para o dia 31. “Não deliberamos ainda sobre o tema, mas discutimos princípios. Somos favoráveis a que quem aderiu ao PLE seja liberado de um dos períodos regulares. Além disso, não é possível que haja período com menos de 12 semanas. Este é o mínimo aceitável”, argumentou.
O professor Walter Suemitsu, decano do Centro de Tecnologia, também informou que o CT ainda não tem posição fechada, mas que a sobreposição de períodos não seria um problema para os professores do CT. “Sabemos que há uma diversidade grande, mas essa justaposição nos atende”, disse.
Na sua visão, a melhor saída para a universidade seria montar um calendário flexível, para se ajustar aos diferentes níveis de adesão ao PLE. “A maior parte das disciplinas do CT foi oferecida. Na Escola de Química, 100% dos calouros se inscreveram. Mas esta não é a realidade de todos os centros. Por isso, acredito que deveria haver algumas datas como marcos em torno dos quais as unidades poderiam se organizar, mas com alguma flexibilidade para não penalizar nem quem aderiu nem quem não aderiu ao período excepcional”, explicou.
Diretora da Faculdade de Letras, a professora Sonia Reis afirmou que a unidade apoia a proposição formulada pela Escola de Comunicação. A ECO sugere um planejamento até 2022.1, com períodos sequenciais, sem concomitância, com duração mínima de 12 semanas, férias de 48 dias e intervalos administrativos de 22 dias entre os semestres. “Entendemos que é a mais equilibrada, que leva em conta todas as decisões tomadas pelo CEG”, argumentou. A Letras tem mais de quatro mil alunos em 26 cursos de graduação. Desses, 600 aderiram ao PLE. “Este é um considerando importante para nós. Portanto, não apoiamos que o PLE se transforme em 2020.1, nem concordamos com períodos simultâneos. Não temos como iniciar um novo semestre em setembro”, disse a docente.
A proposta da reitoria repercutiu também na plenária de decanos e diretores do dia 25. Diretor do Instituto de Biofísica, o professor Bruno Diaz enfatizou que as unidades ofertaram vagas no PLE sem saber que, depois, haveria a possibilidade de sobreposição com 2020.1. Para Bruno, seria impossível conciliar as atividades dos dois períodos. “A maior parte dos professores está optando por fazer atividade síncrona gravada, que tem sido também o formato preferido dos alunos”.
O diretor lembrou que a inscrição no PLE era facultativa e questionou a ideia da PR-1 de o professor não ministrar a mesma disciplina em 2020.1, se tiver feito uma oferta “adequada” de vagas no PLE. Segundo o docente, alunos que decidiram aguardar um período regular ficariam sem ter como cursá-la em 2020.1. “A proposta que fiz ontem no Conselho de Centro é que se tome a decisão de acabar o PLE e tenhamos apenas o período regular para evitar que alunos e professores sejam prejudicados”, disse.
A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo promoveu adaptações de algumas disciplinas teórico-práticas para oferecimento no PLE. O diretor Guilherme Lassance citou a necessidade de criação de turmas menores e uso de atividades síncronas para favorecer a orientação dos alunos nestes casos. “Temos um PLE começando a funcionar e preocupa, no meio do caminho, sermos obrigados a voltar a uma oferta obrigatória, de março, sem conseguir compatibilizar com as adaptações que fizemos agora”, disse.
Diretora da Escola Politécnica, a professora Cláudia Morgado informou que a unidade ofertou 98% de toda a grade de 2020.1. E defendeu a concomitância. “Se não, teríamos três períodos até maio”. Mas explicou que o primeiro período de 2020 sobreposto ao PLE deve ser considerado como complementar. “Na verdade, não podemos dizer que esses períodos são regulares. Não estamos numa situação regular”, completou. A professora defendeu que os professores devem ser obrigados a dar pelo menos dois PLEs – de três – até maio, fazendo com que os alunos integralizem um ano letivo nos currículos. “Na minha equação, PLE1 mais PLE2 mais PLE3 é igual a 2020.1 mais 2020.2”, concluiu.

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