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Produtivismo acadêmico mata
Debate no IESC trata de problemas, que afetam a saúde da categoria, relacionados ao excesso de trabalho
Ambiente altamente competitivo prejudica professores
Elisa Monteiro. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
“‘Professor da UFRJ não fica doente, ele morre de repente’, foi o que ouvi, chocada, de um entrevistado”. O relato foi passado por Alzira Guarany, que dedicou sua tese de doutorado na Escola de Serviço Social à análise do adoecimento físico e psicológico de docentes da universidade nos últimos anos. Sua palestra representou a primeira atividade de greve docente do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC), no dia 22.
A hipótese inicial de Alzira era que os impactos das privatizações da década 1990 sobre as universidades haviam atingido a saúde dos docentes das universidades federais como a UFRJ. A intuição se confirmou no cruzamento de informações sobre afastamento por doenças e depoimentos pessoais. “Realmente, foi um período em que o ritmo de produção da universidade foi bastante acelerado pela criação de um ambiente competitivo. Para muitos, esperar pelo investimento público significaria parar atividades como pesquisa. “Então muita gente foi em busca de parceiros na iniciativa privada”, afirma.
No entanto, “tanto entre os que resistiram quanto entre os que apoiaram a mudança de estilo de vida universitária, houve adoecimento”, destaca. Mas Alzira observa que a aproximação e incorporação do modus operandi das empresas representou uma redução prática da autonomia docente: “O trabalho passa a ser cada vez mais prescrito sem margem (de liberdade) para o docente”. De acordo com a pesquisadora, é comum o relato de que, para garantir financiamento a um projeto que deseja, o docente se submeta a realizar outros que não considera interessantes.
Em sua visão, o critério quantitativo se sobrepôs ao qualitativo. “É preciso levar em conta que, para alguns campos do saber, reduzir o tempo produtivo foi OK; para outros, não”. De acordo com ela, embora a competição entre pares não seja uma novidade, “é preciso reconhecer que hoje é algo que pode, sim, ser considerado estrutural”. A introdução de mais tarefas relacionadas às novas tecnologias também foi lembrada, como responder aos alunos, por e-mail, nos horários de folga.
Na UFRJ, Alzira observou que nem sempre o docente relaciona o desenvolvimento da patologia às atividades laborais. Além disso, o afastamento não costuma ganhar publicidade: “Em um ambiente competitivo, as pessoas acabam preferindo um afastamento silencioso”, ou seja, sem notificar a universidade. “A saída individual”, contudo, segundo Alzira, dificultaria até mesmo uma tomada institucional de providências. “Sem registros, a UFRJ fica também sem as ferramentas para combater os problemas”.
Isolamento joga contra
Professores manifestaram preocupação em relação ao tema que se relaciona com um dos eixos principais da greve docente (a melhoria das condições de trabalho). E a importância de um estudo epidemiológico, na UFRJ, foi reafirmada.
Da plateia, Letícia Legay contou conviver há 20 anos com um problema reumático e admitiu nunca tê-lo registrado junto à universidade. “Fazemos tantas coisas ao mesmo tempo, que não nos damos conta. De repente, nos perguntamos ‘cadê fulano?’ E lá se vão cinco anos que o professor está na prateleira (afastado)”.
Em outro depoimento, Regina Simões observou que, “mergulhados nas próprias linhas de pesquisas”, os docentes perderam parte da vivência universitária. Em sua visão, o isolamento contribui também para que as pesquisas estejam cada vez menos voltadas para questões de interesse social.
Produtivismo acadêmico mata
Debate no IESC trata de problemas, que afetam a saúde da categoria, relacionados ao excesso de trabalho
Ambiente altamente competitivo prejudica professores
Elisa Monteiro. Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
“‘Professor da UFRJ não fica doente, ele morre de repente’, foi o que ouvi, chocada, de um entrevistado”. O relato foi passado por Alzira Guarany, que dedicou sua tese de doutorado na Escola de Serviço Social à análise do adoecimento físico e psicológico de docentes da universidade nos últimos anos. Sua palestra representou a primeira atividade de greve docente do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (IESC), no dia 22.
A hipótese inicial de Alzira era que os impactos das privatizações da década 1990 sobre as universidades haviam atingido a saúde dos docentes das universidades federais como a UFRJ. A intuição se confirmou no cruzamento de informações sobre afastamento por doenças e depoimentos pessoais. “Realmente, foi um período em que o ritmo de produção da universidade foi bastante acelerado pela criação de um ambiente competitivo. Para muitos, esperar pelo investimento público significaria parar atividades como pesquisa. “Então muita gente foi em busca de parceiros na iniciativa privada”, afirma.
No entanto, “tanto entre os que resistiram quanto entre os que apoiaram a mudança de estilo de vida universitária, houve adoecimento”, destaca. Mas Alzira observa que a aproximação e incorporação do modus operandi das empresas representou uma redução prática da autonomia docente: “O trabalho passa a ser cada vez mais prescrito sem margem (de liberdade) para o docente”. De acordo com a pesquisadora, é comum o relato de que, para garantir financiamento a um projeto que deseja, o docente se submeta a realizar outros que não considera interessantes.
Em sua visão, o critério quantitativo se sobrepôs ao qualitativo. “É preciso levar em conta que, para alguns campos do saber, reduzir o tempo produtivo foi OK; para outros, não”. De acordo com ela, embora a competição entre pares não seja uma novidade, “é preciso reconhecer que hoje é algo que pode, sim, ser considerado estrutural”. A introdução de mais tarefas relacionadas às novas tecnologias também foi lembrada, como responder aos alunos, por e-mail, nos horários de folga.
Na UFRJ, Alzira observou que nem sempre o docente relaciona o desenvolvimento da patologia às atividades laborais. Além disso, o afastamento não costuma ganhar publicidade: “Em um ambiente competitivo, as pessoas acabam preferindo um afastamento silencioso”, ou seja, sem notificar a universidade. “A saída individual”, contudo, segundo Alzira, dificultaria até mesmo uma tomada institucional de providências. “Sem registros, a UFRJ fica também sem as ferramentas para combater os problemas”.
Isolamento joga contra
Professores manifestaram preocupação em relação ao tema que se relaciona com um dos eixos principais da greve docente (a melhoria das condições de trabalho). E a importância de um estudo epidemiológico, na UFRJ, foi reafirmada.
Da plateia, Letícia Legay contou conviver há 20 anos com um problema reumático e admitiu nunca tê-lo registrado junto à universidade. “Fazemos tantas coisas ao mesmo tempo, que não nos damos conta. De repente, nos perguntamos ‘cadê fulano?’ E lá se vão cinco anos que o professor está na prateleira (afastado)”.
Em outro depoimento, Regina Simões observou que, “mergulhados nas próprias linhas de pesquisas”, os docentes perderam parte da vivência universitária. Em sua visão, o isolamento contribui também para que as pesquisas estejam cada vez menos voltadas para questões de interesse social.
Universidade e campo juntos
Debate na ESS tratou da importância da inserção dos movimentos sociais no espaço universitário
Mesa contou com presença do reitor eleito da UFRJ
Samantha Su. Estagiária e Redação
Discutir a função social da universidade, alinhando os saberes dos movimentos sociais e os conhecimentos acadêmicos. Este foi o ponto principal do debate que reuniu, no último dia 18, o reitor eleito da UFRJ, Roberto Leher, e o coordenador do setor de educação do MST no Paraná, Alex Verdelho.
O encontro fez parte da Jornada Universitária de Reforma Agrária, realizada no Auditório Manoel Maurício de Albuquerque, no campus da Praia Vermelha, para marcar a formatura da primeira turma de jovens assentados (leia quadro), na Escola de Serviço Social. A classe ganhou o nome de Carlos Nelson Coutinho em homenagem ao professor daquela unidade e apoiador da iniciativa, que faleceu em setembro de 2012.
“A problematização de questões de extrema importância para o futuro da humanidade, como a soberania alimentar e a questão da água, não vieram de artigos universitários. Elas chegam à universidade porque os movimentos sociais passam a tratá-las como questões políticas de relevância social e agem em torno delas. Só então, a universidade passa a produzir conhecimento sobre”, observou Roberto Leher.
Leher ainda avaliou a transformação estrutural pela qual a universidade passa, nesta interação: “A luta social dos movimentos tem trazido questões que repercutem de forma profunda na própria ética da produção do conhecimento. A denúncia, por parte dos movimentos, de que a Monsanto financia pesquisa na universidade, está levantando problemas de natureza ética aqui dentro. O caráter público da universidade só pode existir se a universidade for um espaço de produção livre de conhecimento frente aos interesses capitalistas”, finalizou o professor.
Para o representante do MST, a inserção dos movimentos sociais determina e modifica o ambiente acadêmico: “O objetivo do Movimento Sem Terra é a luta pela terra, a reforma agrária e a transformação social. Portanto, quem entra na universidade não são os sujeitos individuais, mas sim os sujeitos coletivos e, junto deles, vêm também crianças, idosos, músicas e isso vai tomando o espaço, transformando a educação”, afirmou Alex Verdelho
A relação entre movimentos sociais e universidade para combater o capitalismo também foi enfatizada: “A luta pela terra tem que nos levar ao diálogo com a cidade. Por exemplo, quando temos de pensar uma reforma agrária que garanta o abastecimento de alimentos para toda população, ou quando precisamos acumular as forças da luta camponesa com a luta da classe trabalhadora urbana. Na universidade, não é diferente, precisamos alinhar a educação e cultura do campo com o poder do conhecimento acadêmico e enfrentar o capital”, pontuou Alex.
Turma iniciou o curso em 2011
A Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro - ESS/UFRJ - em parceria com o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária vinculado ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - Pronera/Incra assinaram acordo em 2010 para a criação de uma turma especial com estudantes provenientes de assentados rurais de diferentes regiões do país, com o objetivo de formar assistentes sociais críticos, propositivos e comprometidos com a reforma agrária e a garantia e ampliação dos direitos sociais. Em março de 2011, a primeira turma iniciou o curso na ESS.
Somando-se às mais de 30 IFE paralisadas no país e aos estudantes e técnicos-administrativos da UFRJ em luta desde o mês de maio, a UFRJ aderiu à Greve Nacional dos Docentes das Instituições Federais no dia 23 de junho. A greve surge num momento crucial para a defesa do caráter público da educação e a mobilização dos professores é fundamental para reverter a contrarreforma educacional em curso.
O Comando Local de Greve, desde então, vem organizando reuniões em mais de 30 unidades em todos os campi da UFRJ, aprofundando o debate com centenas de professores sobre os problemas advindos das precárias condições de trabalho e construindo a relação da pauta nacional do ANDES-SN com a situação vivida pela categoria nas respectivas unidades, condição necessária para o aumento da mobilização.
A mobilização nacional do movimento grevista das IFE já conseguiu pressionar o governo federal a realizar audiência com o Andes-SN no último dia 23. A postura do MEC, no entanto, foi ignorar a concretude dos pontos da pauta dos docentes, reforçando a opção política do governo federal do ajuste fiscal, traduzido no corte de verbas para os direitos sociais em detrimento de favores à iniciativa privada tal como fez recentemente com o agronegócio ou mesmo com o próprio setor privado da educação. Em sua carta, o Ministério da Educação cria manobras contábeis ao afirmar que a categoria docente recebeu reajuste salarial, nos últimos anos, de 30% a 35% em média; ao mesmo tempo, afirma ter investido, entre 2008 e 2014, a quantia de 9 bilhões de reais na expansão das universidades, mas, curiosamente, não diz nada sobre o corte de mais de 9 bilhões no orçamento da educação realizado apenas este ano.
Este corte orçamentário é evidenciado de maneira bem conhecida pela comunidade da UFRJ. O começo das aulas em 2015 não foi garantido, dentre outras questões, pelo não pagamento de trabalhadores terceirizados da limpeza, o que, aliás, voltou a acontecer esta semana. Enquanto isso, bolsas de assistência e permanência estudantil são cortadas, auxílios e bolsas da pós-graduação não têm sido repassados e diversas atividades acadêmicas no curto e médio prazo se encontram profundamente comprometidas, e a situação só não é mais acentuada na UFRJ em razão da constante mobilização dos estudantes contra a redução dos seus hoje parcos recursos oriundos do PNAES.
A mobilização conjunta dos Servidores Públicos Federais, que se torna mais forte com o anúncio da adesão de mais categorias à greve, forçou o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) a convocar uma audiência em 25 de junho com diversos setores, dentre eles o Andes-SN, para debater a pauta salarial geral do servidor público. O MPOG, nesta reunião, apresentou um simulacro de proposta de reposição salarial escalonada em quatro anos (sendo 5,5% em 2016, 5,0% em 2017, 4,8% em 2018 e 4,5% em 2019) que sequer repõe a inflação do periodo anterior. Sobre esta reunião, o Comando Nacional de Greve informa que:
“O Secretário, embora tenha dito que se tratava de uma proposta para negociação, afirmou, em tom de ameaça, que a assinatura do acordo em torno da proposta de quatro anos seria condição para ter reajuste e para tratar dos demais pontos. As entidades, em expressiva unidade, rechaçaram a proposta do governo, afirmaram ser ela inaceitável e apresentaram a proposta de realização de nova reunião no dia 7 de julho, para a qual o Fórum trará a resposta das bases das entidades e que o governo deve trazer revisão da proposta e que não devam ocorrer reuniões setoriais antes da reunião do dia 07” (http://grevenasfederais.andes.org.br/2015/06/25/comunicado-no-18/)
O momento, portanto, é de necessária intensificação da mobilização para o fortalecimento da greve nacional. Devemos nos articular para pressionar o governo federal a apresentar propostas efetivas de negociação que respondam aos anseios dos docentes a partir dos eixos de nossa pauta: defesa do caráter público da educação, melhoria das condições de trabalho, garantia da autonomia, reestruturação da carreira e valorização salarial de ativos e aposentados.
Conclamamos todas as professoras e professores da UFRJ a participarem desta luta, organizando novas reuniões em suas Unidades em conjunto com o Comando Local de Greve da UFRJ!