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Na próxima semana, entre os dias 27 e 31 de janeiro, a cidade de Vitória (ES) receberá o 43º Congresso do Andes. O Sindicato Nacional prevê a participação de 600 a 650 professores de universidades federais, estaduais, municipais e CEFETs de todo o país. Os números consolidados do encontro serão conhecidos apenas ao final do primeiro dia de atividades, quando será encerrado o credenciamento das delegações.
O Congresso deste ano terá a inscrição de chapas que irão concorrer às eleições para a diretoria do Andes, em maio. Em paralelo às discussões das plenárias, os grupos políticos que disputam as forças da direção nacional do sindicato vão se articular para a corrida eleitoral.
Ao menos três grupos têm condições de apresentar chapas: o Andes de Luta e Pela Base, que atualmente dirige o Sindicato Nacional e é composto por professores ligados a correntes políticas do PSOL e PCB; o Fórum Renova Andes, até o momento o principal grupo de oposição à diretoria nacional, que reúne docentes ligados ao PT, PSOL, PDT e PCdoB; e o Coletivo Rosa Luxemburgo, responsável por articular a votação para a entrada em greve ainda no início do ano passado (vencendo a posição da diretoria nacional em plenário), cujos integrantes são alinhados com setores mais à esquerda do PSOL, PCB e PSTU.
Luis Acosta, professor da UFRJ e 2º vice-presidente nacional, acredita que o tema central do encontro será o modelo de carreira de professor federal. “O congresso eleitoral ‘esquenta’ as discussões, mas acredito que o principal tópico será a carreira única”, diz. A conjuntura nacional e internacional é outro ponto de preocupação. “Também acho que haverá centralidade no debate sobre o novo governo dos Estados Unidos e como ele vai direcionar as ações da ultradireita no mundo, inclusive aqui no Brasil”, aponta o dirigente.
O docente prevê, ainda, que as discussões em torno do reajuste salarial deste ano, fruto de acordo firmado em 2024 e ainda não efetivado em folha, trará mais tensão aos debates. “Há um mal-estar na categoria, porque o início do pagamento foi adiado até que se aprove a Lei Orçamentária Anual”, avalia. “Ainda que haja um certo compromisso do governo nessa efetivação do acordo, esse processo acontece de forma muito lenta”. acredita. “É um governo que está sendo muito atacado pelo setor financeiro e se mostra vulnerável e fraco do ponto de vista político nessas disputas ante o mercado”, considera. “Essas questões certamente atravessarão os debates”.
Ricardo Medronho, professor emérito da UFRJ e um dos eleitos pela assembleia para compor a delegação, também concorda com Acosta sobre o assunto central do congresso. “Um tema que considero relevante e acredito que poderá ser a tônica do encontro é a carreira docente”, avalia.
“É um tema sobre o qual o Andes vem se debruçando, mas a proposta que eles lançam não é bem aceita pela maioria dos professores com quem eu tenho conversado”, avalia Medronho, que já foi diretor da AdUFRJ entre 2021 e 2023.
A proposta do Andes prevê uma carreira única, que deixe de separar o Magistério Superior do Magistério do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico. Além disso, indica a possibilidade de progressão e promoção na carreira por tempo de serviço e sem avaliações recorrentes por pares. “O problema não é a carreira única, mas a possibilidade de um docente chegar ao nível de titular sem doutorado, por exemplo. A maioria dos professores da UFRJ não concorda com isso”, afirma. “A gente quer que os docentes sejam avaliados para que a universidade siga como produtora de conhecimento, referência nas pesquisas. Se essa produção mínima não for cobrada dos docentes, não teremos mais pesquisa, nem produção do conhecimento”.
Presidenta da AdUFRJ e delegada indicada pela diretoria ao Congresso, a professora Mayra Goulart também destaca a conjuntura política como ponto sensível dos debates. “Esse congresso acontece num momento de recrudescimento e regozijo da extrema direita global, que é muito forte também no Brasil”, aponta. Ela faz um alerta.“Infelizmente, ainda há certo solipsismo no debate, que ignora esse contexto e só enxerga a categoria e o governo como atores que estão em oposição”, conclui.
VEJA QUAL É A DELEGAÇÃO ELEITA AO 43º CONGRESSO
A delegação da AdUFRJ ao 43º Congresso foi votada em assembleia geral presencial, no dia 16 de dezembro. Foram eleitos 12 delegados e 11 observadores. Presidenta da AdUFRJ, a professora Mayra Goulart é a delegada indicada da diretoria e por isso não foi votada na assembleia. Veja quem são os delegados e os observadores.
Delegados
1. Mayra Goulart (diretoria)
2. Nedir do Espirito Santo
3. Antonio Mateo Solé Cava
4. Verônica Miranda
Damasceno
5. Rodrigo Nunes da Fonseca
6. Marcio Marques Silva
7. Carlos Augusto
Domingues Zarro
8. Cláudia Rocha Mourthé
9. Eleonora Ziller
Camenietzki
10. Jorge Ricardo Santos Gonçalves
11. Renata Baptista Flores
12. Fernanda Maria
da Costa Vieira
13.Alessandra Nicodemos
Observadores
1. Claudia Figueiredo
2. Bruno Reys
3. Tatiana Oliveira Ribeiro
4. Maria Fernanda Elbert
Guimarães
5. Ricardo Medronho
6. Maria Tereza Leopardi
7. Maria Auxiliadora
Santa Cruz
8. Alice Coutinho da Trindade
9. Leonardo D’Angelo
10. Cláudio Ribeiro
11. Aline Caldeira
EVENTO VOLTA AO ESPÍRITO SANTO APÓS 40 ANOS
O 43º Congresso será realizado em Vitória. A anfitriã será a Adufes, a Seção Sindical dos Docentes da Universidade Federal do Espírito Santo. As plenárias acontecerão no Campus Goiabeiras. O congresso volta à capital capixaba depois de 40 anos.
“É uma grande alegria ter conosco mais uma vez as delegações de todo o país para realizar o mais importante evento deliberativo da nossa categoria”, comemora a professora Ana Carolina Galvão, presidenta da Adufes. “Estamos colocando todo nosso empenho para fazer um grande Congresso”, garante.
A organização do evento começou ainda no primeiro semestre do ano passado e envolve as diretorias da Adufes e do Andes, além de dezenas de profissionais de diversas áreas. “É um evento grande.Tudo foi preparado com muita atenção, profissionalismo e carinho. Cada detalhe, desde os materiais gráficos e informativos, até as instalações e demais estruturas. Está tudo sendo cuidado para oferecer o melhor Congresso que podemos fazer”, afirma. “Estamos ansiosos e ainda temos muito trabalho nos próximos dias!”.
Iniciar um detalhado levantamento energético em todos os prédios da universidade e fomentar a introdução de disciplinas ligadas ao tema da sustentabilidade nos cursos de graduação são duas ações imediatas da recém-criada Política de Sustentabilidade e Educação Regenerativa (SER/UFRJ), aprovada em dezembro pelo Conselho Universitário. Mais do que buscar formas de reduzir o consumo e os gastos com energia elétrica e água — uma demanda urgente da reitoria —, a nova política tem como foco uma mudança de comportamento em todo o corpo social da UFRJ, com a pretensão de que essa mudança se espalhe pela sociedade.
“É um desafio muito grande? Sim, é uma utopia. Mas é viável e ela tem que ser perseguida. Não temos outra opção. Se não reduzirmos a emissão de gases de efeito estufa e encontrarmos formas de sequestrar o carbono da atmosfera, nós vamos ter catástrofes num futuro próximo. Fortes ondas de calor, enchentes e queimadas, por exemplo. Temos que nos reeducar. A educação é o motor dessa transformação. Nosso foco é uma mudança de comportamento na UFRJ, por meio da sensibilização, e daí para a sociedade”, acredita o professor Francisco Esteves (Nupem/CCS), coordenador da SER/UFRJ.
LEVANTAMENTO
Vinculada diretamente à reitoria, a coordenação da SER/UFRJ vai atuar com o apoio de seis câmaras técnicas (veja abaixo), que vão gerar conteúdos e recomendações relacionados às ações de sustentabilidade e educação regenerativa. Uma delas, sob a coordenação da professora Susanne Hoffmann (EQ/CT), é a Câmara Técnica de Planejamento e Gestão Ambiental. Caberá a ela a elaboração de um diagnóstico sobre as condições de uso de energia elétrica em toda a UFRJ.AFINADOS Susanne e Francisco integram a equipe da SER/UFRJ e querem sensibilizar para a mudança - Foto: Alexandre Medeiros
É um trabalho e tanto, mas experiência não falta. A professora Susanne vem trabalhando há muitos anos no Plano de Logística Sustentável (PLS), um programa governamental criado em 2012 e obrigatório para órgãos federais. “Quem estava com essa incumbência aqui na UFRJ era um grupo pequeno na prefeitura, sem estrutura e pessoal suficiente para essa tarefa. Cheguei à equipe da SER/UFRJ por conta desse histórico e do diagnóstico que temos do consumo de água e energia elétrica, ainda bem inicial”, diz a professora.
De acordo com as informações mais recentes levantadas no âmbito do PLS, a UFRJ tem acentuadas desigualdades no consumo de energia elétrica entre suas unidades. Se o Restaurante Universitário Central, pelo uso intensivo, tem alto consumo, prédios como o IFCS e o JMM têm baixo consumo. “Esses prédios estão em situação precária, não têm climatização e até iluminação adequadas. Nesses lugares é preciso aumentar o consumo para garantir um bom ambiente para o estudo. Por outro lado, temos prédios onde há excessos ou desperdício, onde é preciso cortar. Temos que equilibrar isso, ter um olhar mais cuidadoso. Deixar um ar-condicionado ligado, por exemplo, pode passar despercebido aqui, jamais passaria em uma residência”, exemplifica Susanne.
Segundo a docente, a inspeção energética pode identificar gargalos e apontar soluções, algumas simples e de baixo custo. “Esse levantamento pode ser feito com equipes também compostas por alunos, estagiários, bolsistas. No CT, por exemplo, há várias salas com somente um interruptor para diferentes gabinetes. Era uma sala grande que foi dividida. Às vezes uma só pessoa trabalha com vários gabinetes com a luz ligada, algo simples de ser corrigido, e barato. A inspeção pode detectar isso e sugerir correções”.
Susanne Hoffmann sustenta que o consumo de energia elétrica na UFRJ não pode ser considerado “exagerado”. “A conta parece muito alta, mas quando a gente olha a conta per capita, a quantidade de alunos que atendemos, essa conta não é muito além do que se espera para uma universidade do nosso tamanho. Isso precisa ser desmistificado. Temos problemas internos, sim. Temos que aumentar nossa rede de medidores de energia. Temos 70 mil pessoas para 65 medidores, aproximadamente. Não é possível mensurar quem exagera ou não no consumo. Precisamos fazer análises mais detalhadas dentro dos prédios, identificar onde é possível usar a energia elétrica de forma mais inteligente. Não vamos reduzir pela metade a conta de energia da UFRJ, pois há lugares em que o consumo precisa subir para garantir condições adequadas, e outros onde ele vai diminuir. Mas talvez consigamos reduzir em 10% ou até 20%”.
No ano passado, os gastos da UFRJ com energia elétrica e água bateram R$ 136 milhões e as concessionárias chegaram a suspender o fornecimento por falta de pagamento. Em 7 de janeiro, o reitor Roberto Medronho reuniu-se com integrantes da coordenação da SER/UFRJ, além do ETU e da Prefeitura Universitária, para definir ações de uso racional da energia elétrica e da água. A inspeção energética foi uma das ações propostas no encontro.
MODELO
Ao mesmo tempo em que uma inspeção pode indicar soluções para o uso racional de energia elétrica nos campi, a SER/UFRJ vai trabalhar nas instâncias de decisão da universidade para introduzir disciplinas ligadas à sustentabilidade e à educação regenerativa nas grades curriculares. “O reitor Roberto Medronho procurou o Instituto de Biologia com o intuito de montar um grupo de trabalho para propor uma política para a UFRJ, uma das poucas universidades brasileiras que não tinha uma diretriz estabelecida nesse tema. Fizemos um levantamento e percebemos que as políticas de sustentabilidade de muitas universidades tinham como foco a gestão dos recursos, mas que não tinham um componente que nós incorporamos na nossa política: a educação”, contra o professor Francisco Esteves.
O coordenador da SER/UFRJ acredita que a universidade poderá quebrar paradigmas com mudanças curriculares. “Fizemos apresentações em todos os centros. No CT, um professor da Escola Politécnica veio me procurar após a apresentação e disse assim: ‘A ideia é fantástica. Mas aqui formamos engenheiros que não têm ideia do que é isso. Temos várias disciplinas de Cálculo e nenhuma de Sustentabilidade’. Esse é o desafio. O currículo precisa ser mudado. Vamos induzir essa discussão e mostrar que há necessidade de introduzir a Sustentabilidade em todas as áreas do conhecimento, mudando as grades curriculares, algumas mantidas como eram nas décadas de 60 e 70 do século passado. Temos que mostrar aos alunos, ao longo da graduação e da pós-graduação, que o homem se afastou da natureza e que tem que se reconectar com ela”, defende Esteves.
Na visão da SER/UFRJ, a Ilha do Fundão, maior campus da universidade, tem tudo para se tornar um modelo de sustentabilidade. “Temos aqui um potencial enorme. O Fundão é um lugar maravilhoso para ser um campus sustentável. Temos grandes áreas verdes, interface com o mar. Poderíamos ter um grande pátio de compostagem aqui para aproveitamento de resíduos. Temos a Ilha do Catalão, um espaço incrível. Podemos tornar o Fundão um modelo de sustentabilidade”, vislumbra Susanne Hoffmann.
POR DENTRO DA SER/UFRJ: ESTRUTURA, RECURSOS E EQUIPE
A nova Política de Sustentabilidade e Educação Regenerativa deu seu pontapé inicial em outubro de 2023, quando a reitoria reuniu especialistas no tema e instituiu um grupo de trabalho para definir os parâmetros da diretriz. A partir de oficinas ampliadas, esse grupo chegou ao modelo da política aprovada pelo Consuni em 12 de dezembro do ano passado, em que a educação está no centro da gestão ambiental da universidade.
A SER/UFRJ prevê que os conceitos e práticas voltados para a sustentabilidade e para a educação regenerativa devem ser integrados às atividades de ensino, pesquisa, extensão, inovação, gestão, governança, planejamento e gerenciamento de projetos e obras da UFRJ. Além da Coordenação Geral, pilotada pelo professor Francisco Esteves, a SER/UFRJ tem um Comitê Executivo, um Fórum e seis câmeras técnicas.
O Comitê Executivo é composto por um representante docente de cada centro e por dois alunos indicados pelo DCE Mário Prata e pela Associação de Pós-Graduandos (APG), além da Coordenação Geral. Já o Fórum é um órgão consultivo que reúne a Coordenação Geral, o Comitê Executivo e as câmaras técnicas.
As seis câmaras temáticas vão municiar a Coordenação da SER/UFRJ com propostas em várias áreas. “Estamos abertos para receber adesões de alunos, técnicos e professores para nos ajudar na execução da política”, convoca o professor Francisco Esteves. São elas:
Ambientalização Curricular e de Pesquisa: será dela a tarefa de propor mudanças curriculares na graduação e também na pós-graduação e extensão.
Planejamento e Gestão Ambiental: ficará com a missão de fazer a inspeção energética e sugerir planos de ação para mitigar e evitar passivos ambientais, além de contribuir para a elaboração do Plano Diretor e do Plano de Logística Sustentável.
Transição e Futuros Sustentáveis: tem a missão de fomentar uma cultura de sustentabilidade nos campi e unidades externas da UFRJ, inclusive estimulando a formação de parcerias.
Comunicação, Escuta Socioambiental e Cultural: vai trabalhar para fortalecer os laços de comunicação, participação e integração dentro da comunidade universitária, contribuindo para a construção de uma universidade mais democrática, sustentável, inclusiva e diversa.
Prevenção e Enfrentamento de Desastres Naturais e Emergências Ambientais e Sanitária: vai auxiliar na elaboração de metas e planos de adaptação e mitigação frente às mudanças climáticas, assim como no enfrentamento de situações de desastres.
Estratégia de Implementação da Política SER/UFRJ: vai coordenar a elaboração do plano de implementação da política.
A SER/UFRJ terá uma estrutura de apoio para captação de recursos por meio de editais de fomento como os do Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica), do Ministério de Minas e Energia.
EDUCAÇÃO REGENERATIVA É DIFERENCIAL DA NOVA POLÍTICA
A inserção da Educação Regenerativa na SER/UFRJ é um “pulo do gato” em relação a diretrizes da mesma temática de outras universidades brasileiras e mesmo do exterior. Um amplo levantamento feito pela equipe da SER/UFRJ mostrou que esse é um diferencial, já que as políticas existentes têm foco na gestão dos recursos.
“A articulação entre ensino, pesquisa, extensão e inovação será prioritária para que a Educação Regenerativa passe a vigorar nos currículos, no pensamento e na ação da comunidade universitária”, defende Francisco Esteves.
Foi fundamental para a conceituação de Educação Regenerativa o estudo feito pelo professor Guto Nóbrega (EBA), vice-decano do CLA, a partir do qual ficou evidente a necessidade de introduzir a temática da Sustentabilidade nos currículos da UFRJ.
“Ao pensarmos no ambiente da UFRJ devemos considerar a sua força motriz, que é a produção de conhecimento. Estamos falando de práticas educacionais que muitas das vezes são operadas por uma lógica de pesquisa pautada na produtividade e a eficiência. São valores que talvez mereçam ser parametrizados por uma outra temporalidade, menos quantitativa e maquínica, mas mais próxima da natureza e seus ciclos. Para tal feito necessitamos reorientar nossos currículos”, sustenta Guto Nóbrega.
ROMPER BARREIRAS
O professor da EBA argumenta que os saberes tradicionais, como os dos povos originários, devem ser incorporados à lógica da academia. “Temos o saber científico, mas também os saberes locais, tradicionais, ancestrais. É papel de uma educação regenerativa e sustentável resgatar tais saberes e reintegrá-los ao lugar de fala da produção de conhecimento”.
Guto Nóbrega sabe que não será fácil incorporar essa visão aos rígidos padrões da academia, mas acredita que a SER/UFRJ possa romper barreiras. “O que é imperativo é uma nova filosofia que promova a mudança necessária no indivíduo, para que possamos a partir nosso lugar de ação transformar nosso ambiente comum. São pequenas mudanças que, somadas pouco a pouco, podem desencadear a transformação comportamental que desejamos para benefício da planeta. Isso se dá no domínio da educação, uma educação regenerativa”.
O professor Francisco Esteves reforça a crença. “Nosso objetivo é efetivamente fortalecer o legado da UFRJ na sociedade com nossas ações e, para tanto, a formação de nossos estudantes, da educação básica à pós-graduação, precisa ter como cerne a sustentabilidade”, diz ele.
Além de Francisco Esteves, Susanne Hoffmann e Guto Nóbrega, integram a equipe de coordenação da Política SER/UFRJ os professores Laísa Freire (IB/CCS), Thiago Gomes (Instituto Politécnico/UFRJ-Macaé), Andrea Borde (FAU/CLA), Jussara Lopes (IQ/CCMN), Fátima Bruno (FACC/CCJE) e Marcelo Côrtes (CAp/CFCH).
Fotos: Fernando SouzaSensível, comovente, espontânea, intensa, plural. Adjetivos que caberiam tão bem para descrever a professora Maria Lucia Teixeira Werneck Vianna se encaixam perfeitamente para contar um pouco do que foi a potente cerimônia de homenagem à docente, que faleceu em 16 de dezembro, aos 81 anos. A iniciativa foi do Instituto de Economia, casa de Maria Lucia por décadas, com apoio da AdUFRJ, e aconteceu na noite de 13 de janeiro, no Salão Pedro Calmon, na Praia Vermelha.
Ex-presidente da seção sindical entre 2017 e 2019, Marilu — como era conhecida pelos mais próximos — colecionou afetos. Filhos, netos, amigos, orientandos e admiradores se revezaram ao microfone para apresentar manifestações de carinho e gratidão sobre a importância dela em suas vidas e o legado de suas reflexões sobre o Brasil.
A mesa da cerimônia foi dirigida pelo professor Carlos Frederico Leão Rocha, diretor do Instituto de Economia, e contou com as presenças da presidente da AdUFRJ, Mayra Goulart, e da reitora em exercício da UFRJ, Cássia Turci.
Mayra, que herdou a construção política iniciada na AdUFRJ em 2015 e consolidada por Maria Lucia a partir de 2017, enalteceu a contribuição política de Marilu. “Construiu um movimento sindical diferente, atento às questões nacionais, comprometido em combater a extrema direita, que pensa um desenvolvimento voltado para as classes populares e que também está preocupado com o cotidiano da universidade”.
Reitora em exercício, a professora Cássia Turci destacou a preocupação de Marilu com a docência e seu compromisso com a sala de aula e com a universidade. “Precisamos de mais pessoas que vejam a universidade como ela, de forma holística. Os valores que Maria Lucia deixou vão continuar. Ela queria uma universidade mais humana, antirracista, não misógina. Deixou muitas sementes”.
O professor Carlos Frederico lembrou da força de Maria Lucia na campanha para a AdUFRJ. A gestão dela sucederia a dele (Fred foi vice-presidente do sindicato de 2015 a 2017). “Quando fui convidá-la, ela já estava com problemas respiratórios sérios, mas assumiu a campanha e passou dois anos na presidência. Inteira! Isso me marcou profundamente”, disse. “Ela era extraordinária”.
VIDA ACADÊMICA
Coube à professora Lígia Bahia, amiga pessoal e companheira de gestão de Marilu na AdUFRJ, destacar a atuação intelectual da amiga. “Maria Lucia é uma das principais pensadoras sociais do nosso país e, a meu ver, a maior pensadora das políticas sociais brasileiras”, afirmou, sem esconder a admiração. “Os cadernos de anotação dela são verdadeiros livros. Cada caderno pode ser editado como um livro e talvez nós tenhamos que fazer isso mesmo”, sugeriu, ao elogiar a eloquência da amiga, a solidez de seus textos e o português impecável. “Suas aulas tinham uma profundidade impressionante. Ela não apresentava um só autor. Era o oposto do pensamento único”.
Outras características marcantes na universidade, e destacadas por Ligia, eram sua generosidade e o compromisso com os orientandos. Mesmo com aqueles que não eram seus alunos. “Todo mundo chamava a Maria Lucia para consertar suas teses. Ela dava um jeito em tudo. Era a fada das teses. Uma espécie de Avatar que dobra fogo, que dobra vento”, brincou. “Ela era o nosso avatar”. ORGULHO. O neto Miguel mostra fotos familiares publicadas na edição do Jornal da AdUFRJ que homenageou Marilu. Pôsteres contam a vida da docente e ficaram em exposição
“Sinto muita falta de conversar com ela”, confessou Ligia Bahia. “Certamente eu não seria a pessoa que sou sem a Maria Lucia”. Ligia aproveitou o momento para agradecer aos familiares que a permitiram ir até o quarto do hospital onde estava Marilu para a despedida. “Muito obrigada. Eu precisava muito disso”.
TRAJETÓRIA PESSOAL
Quem contou sobre os momentos da vida pessoal de Maria Lucia foi sua prima, a professora Beatriz Resende, titular da Faculdade de Letras da UFRJ. Maria Lucia vinha de uma família de outros dois irmãos: Aloisio (ex-reitor da universidade por oito anos) e Raul. “Com eles aprendi a necessidade da participação política na luta contra a desigualdade e injustiça em nosso país e na busca por um mundo melhor”, resumiu Beá, no início de seu discurso.
Ela contou que a militância de Maria Lucia começou ainda na UNE. Com o golpe de 1964, a alegre casa dos Teixeira foi invadida. “Os militares chegaram para prender o tio Francisco (pai de Maria Lucia), comandante da Zona Aérea do Galeão no governo Jango. Minha avó enfrentou os oficiais que vieram para levá-lo”, recordou. “Quando os golpistas voltaram para buscar outros envolvidos, nossa avó Carmen Teixeira passou mal e morreu. Ao ódio e ao nojo que tenho da ditadura, acrescento a culpa por esse homicídio”.
Um fato curioso destacado pela professora Beatriz foi que, durante a prisão, em 1971, Maria Lucia fez uma bonequinha de pano com fiapos de lençol para a então filha caçula Marina (na época, ela tinha três filhos: João Pedro, Juliano e Marina. O quarto filho, Salvador, nasceu anos depois) . “Depois de solta ela ria, contando que os milicos queriam saber como aquilo havia entrado no cárcere. Ela nunca, nunca mesmo, se queixou da vida”.
MÃE ZELOSA E AVÓ AMOROSASALVADOR: ”Sentimos uma falta imensa. Um pedaço de nós se foi”Dois dos filhos contaram um pouco mais sobre quem era Maria Lucia na intimidade. O caçula, Salvador, fez parte da mesa da cerimônia. “Piscamos o olho e quatro luas se passaram. Temos sentido uma falta imensa. Um pedaço de nós se foi”. Economista de formação e pesquisador do Ipea, ele destacou como foi conviver com a mãe no Instituto de Economia. “O Lattes da minha mãe não faz jus à sua carreira. Eu convivi muito intensamente com mamãe quando eu era aluno aqui desta casa. Eram cinco, seis orientandos por ano de graduação, mestrado e doutorado. Multipliquem isso por 30 anos”, disse. “Tinha um compromisso prioritário com os estudantes”, elogiou.
Marina destacou o perfil de luta de sua mãe e contou episódios engraçados envolvendo as duas. Um deles, enquanto moravam no Bairro Peixoto. “Nos anos 1980, havia um ônibus da Fundação Leão XIII que passava recolhendo a população em situação de rua. Uma vez, ouvimos uma gritaria. Ela foi para a janela. As pessoas gritavam pedindo socorro”, lembrou. “Minha mãe desceu e fomos as duas parar o ônibus. Minha mãe adentrou o veículo, começou a tirar as pessoas desse ônibus. Foi uma loucura. Uma revolução! Ela adorava uma briga boa”.
O neto caçula Antônio, de seis anos, abriu a homenagem dos netos e emocionou a plateia com a pureza de seu relato e o choro sentido, abraçado às irmãs. “Ela era minha avó. Uma avó bem querida minha”.
“Falar sobre a vovó Lucia é muito difícil, justamente pela quase impossibilidade de descrever em palavras todo afeto que ela depositava em nós”, afirmou o neto Miguel. “Todos os netos eram amados igualmente, mas ela sempre teve uma relação especial com cada um de nós”, contou. “Nossa avó era nossa maior confidente e conselheira. Sempre disposta a nos ouvir, corrigir, ensinar e mimar”, lembrou.
Tomás, que herdou da avó a paixão pela música, também deu seu depoimento. “Meus pais contam que foi ela quem escolheu o meu nome. Ela foi a pessoa que eu mais amei, em quem eu confiava para falar tudo”, confidenciou. O músico não conseguiu comparecer à despedida da avó e revelou que a última vez que esteve com Maria Lucia foi após o Botafogo, seu time do coração, ter conquistado os títulos no fim do ano passado. “Ela, uma flamenguista, estava com a camisa e a faixa do meu time, sorrindo para mim e dizendo que me amava. Obrigado, vó, por tudo”.
“A casa da minha avó era o lugar onde a gente podia fazer tudo”, emendou a neta Aurora, aluna de Biomedicina da UFRJ. “A gente podia usar o quarto da sucata para construir coisas. Ela guardava rolo de papel higiênico para a gente pintar e construir robô”, lembrou. “Minha avó era a minha pessoa favorita no mundo. A pessoa que me introduziu no ambiente da universidade federal. Enquanto eu tiver uma casa, ela será aberta a todos, como era a casa da minha avó. Esse legado eu vou levar para sempre”.
Muito emocionada, a neta Estela, estudante de Engenharia Química da UFRJ, ratificou a cumplicidade que Maria Lucia cultivava com cada um dos netos. “A gente ria juntas, a gente chorava juntas. Eu falava que ela era minha alma gêmea e ela ficava rindo de mim. Achei engraçado quando a Ligia disse que ela não falava mal de ninguém, porque comigo ela falava e eu falava junto”, brincou. “Sinto muita falta”.
UM POUCO ÓRFÃOS
Foram muitas as manifestações públicas de admiração, carinho e agradecimento. Uma delas, da professora Eleonora Ziller, ex-presidente da AdUFRJ, para quem Maria Lucia passou a gestão, no final de 2017. “Quando fui convidada para a AdUFRJ, eu não queria ser presidente. Queria ser do Conselho de Representantes, porque entendia que era urgente combater aquele governo (Temer) e o mundo que estava se formando. Mas negava com todas as forças e argumentos estar na disputa sindical”, lembrou. “Até que, conversando com a Beá (Beatriz Resende), eu disse que estava cansada e ela me respondeu: ‘A atual presidente é a Maria Lucia’. Foi o suficiente para me convencer. Era o exemplo”, disse. “E agradeço muito. Aquele foi um período que salvou a minha vida. Não sei o que seria de mim na pandemia se não tivesse um lugar para lutar”.
Maria Malta, professora do Instituto de Economia, conviveu com Marilu como estudante e enquanto docente. “Maria Lucia foi quem me estendeu a mão e me orientou. Professora instigadora, mostrava essa profunda conexão entre a economia, a política e o caráter sociológico da pesquisa”, disse. “Ela assumiu a tarefa de ser decana do CCJE momentos antes de se aposentar e depois ainda encarou uma eleição da AdUFRJ”, elogiou. “Esse sentido da Maria Lucia, do diálogo, a gente precisa recuperar. Andar mais junto, de mãos dadas, nessa universidade que ela ajudou a construir e para a qual dedicou a vida”.
Muito emocionada, a professora Denise Gentil, importante pesquisadora sobre Previdência no Brasil e colega de Maria Lucia no IE, também fez questão de se pronunciar. “Ela foi muito importante na minha carreira. Entrei na UFRJ nos anos 1990 e fui dar aulas na FACC. Um dia, Maria Lucia me chamou para o Instituto de Economia e então eu consegui adentrar o universo da pesquisa”, revelou. “Desculpem a emoção, mas eu me sinto um pouco órfã. Ela era uma mãe intelectual para mim. Tudo que eu estudei e publiquei, se algum valor tem, eu devo a ela”.
Um dos grandes desafios da UFRJ para os próximos anos, a recuperação da infraestrutura, acaba de alcançar uma cifra impactante. Levantamento do Escritório Técnico da Universidade (ETU) estima em R$ 1.059.184.000 o custo da reabilitação total dos espaços avaliados até agora. O valor é mais de três vezes superior ao orçamento de R$ 324 milhões previsto para despesas de funcionamento básico da instituição em 2025 e que ainda aguarda aprovação no Congresso. O estudo de 2023 apontava um custo de R$ 795,7 milhões para recuperar 52% de toda área construída.
Chamado de REAB, o levantamento de 2024 analisou 95 prédios, o que equivale a 76% (ou 754.337 m²) da área construída da universidade. Sobre os 24% não analisados, a expectativa do ETU para a próxima edição é a inclusão dos dados do prédio do Centro de Ciências da Saúde e da Escola de Educação Física e Desportos.
“Sabemos que a infraestrutura física da UFRJ é muito precária e conhecer a dimensão real desta situação e ter projetos para cada uma das edificações avaliadas são pontos cruciais que levarão à sua recuperação”, analisou a professora Cassia Turci, reitora em exercício — o professor Roberto Medronho está de férias.
O cenário é caótico. Do custo total de reabilitação, 74% (ou R$ 778.639.000) são para intervenções consideradas emergenciais, anomalias graves que podem colocar em risco a integridade física de quem frequenta os campi da universidade.
Já considerando os recursos escassos que inviabilizam obras maiores, uma novidade da mais recente edição do estudo foi a inclusão de uma estimativa de investimento em manutenção dos imóveis, de forma a frear a degradação e aumentar sua vida útil. O valor estimado para cobrir esses custos de manutenção é de R$ 29.637.400 por ano.
“Quanto pior está o prédio, mais cara é a manutenção. Queremos incluir na próxima edição uma previsão de quanto seria esse valor se as edificações estivessem nas condições ideais para saber quanto dinheiro é jogado fora”, explicou o arquiteto Christiano Ottoni, do ETU.
A professora Cássia disse que a reitoria está empenhada em garantir a conservação dos prédios. “Estamos trabalhando em um contrato de manutenção para todos os setores de forma a atender serviços básicos nas redes elétrica, hidráulica e conservação mínima das edificações. Um grupo de trabalho foi formado para este fim, envolvendo servidores de todos os centros e da reitoria”, disse.
CT
A inclusão dos dados referentes aos 215.221 m² de área construída do Centro de Tecnologia aumentou a abrangência do levantamento. O CT agora corresponde a 28,5% de toda a área avaliada pelo REAB.
A imensidão no tamanho é refletida nos custos para reabilitação do prédio. Apesar do estado de conservação ser considerado “regular”, o imóvel saltou para o primeiro lugar no quesito custo para reabilitação total, com R$ 202,3 milhões. O edifício Jorge Machado Moreira, no estado de conservação “muito ruim”, mas com uma área três vezes e meia menor, aparece em segundo lugar com custo estimado de R$ 198,1 milhões. Já o custo de manutenção de todo o prédio foi avaliado em R$ 8,1 milhões anuais.Entre as intervenções prioritárias no prédio estão as instalações de esgoto e elétricas, revestimentos externos, cobertura e fundação.
E poderia ser pior, não fosse o esforço dos servidores do setor. O arquiteto Ivan Carmo, diretor do Escritório de Planejamento do CT, exaltou o trabalho da equipe responsável pela manutenção. Entre 2023 e 2024, 1.600 ordens de serviço foram abertas e 90% concluídas. “Durante os últimos dois anos de regime de manutenção organizado, conseguimos recuperar devagarinho alguns problemas no CT”, explicou.
Ivan elogiou o levantamento feito pelo ETU. “O REAB é uma ferramenta de planejamento fantástica. Por meio do levantamento, já identificamos onde priorizar os esforços para ter um prédio razoavelmente controlado quanto à manutenção”, disse Carmo.
OUTRAS UNIDADES
Alguns prédios registraram piora no índice de reabilitação na comparação entre os levantamentos de 2023 e 2024. Foram os casos do IPPMG, do Palácio Universitário, do Restaurante Universitário Central e do prédio do Instituto de Matemática. Mas a maior discrepância aconteceu com a Escola de Serviço Social, que despencou da classificação “Regular” para “Ruim”. A causa principal foi a identificação de problemas graves na estrutura da caixa d’água que não foram observados no levantamento anterior.
Para Ottoni, avaliações melhores e mais detalhadas são resultado da boa aceitação do trabalho. “Com a repercussão dos resultados de 2023, muitos servidores entenderam a funcionalidade e a importância desse trabalho e dedicaram mais tempo e atenção nas vistorias de 2024”, avaliou o arquiteto. “A cada ano, com a consolidação do sistema de gestão REAB UFRJ e a repetição do trabalho, a tendência é que as vistorias abranjam cada vez mais detalhes da real situação”, completou.
Já o CAp UFRJ foi uma das unidades que registraram uma melhora na classificação. Antes considerado “Regular”, o prédio localizado na Lagoa evoluiu para “Bom”. O prédio passa por reformas para solucionar problemas de infiltrações e na rede elétrica.
Apesar da melhoria na classificação do levantamento, a professora Cassandra Pontes, diretora da escola, listou algumas demandas estruturais que preocupam a comunidade do colégio. Entre os pontos destacados estão reformas na quadra esportiva, no muro ao redor da escola, a pintura interna e externa do prédio, além da construção de uma cozinha industrial.
“A direção geral da escola, em suas diferentes gestões, sempre teve o forte compromisso com a promoção de ações de conservação predial. No entanto, as limitações orçamentárias constituem o maior desafio”, afirmou a docente.
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Foto: Kelvin MeloUm lugar repleto de histórias e afetos, mas com problemas estruturais que colocam em risco milhares de pessoas que por lá circulam todos os meses. Para valorizar a primeira parte dessa descrição e ajudar a combater a segunda, um grupo de amigos e ex-alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) arregaçou as mangas e buscou uma solução que já se mostrou promissora: uma campanha de doações para melhorar a infraestrutura do edifício Jorge Machado Moreira, o JMM, que abriga a faculdade e a Escola de Belas Artes da UFRJ (EBA), além do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR). A iniciativa quase dobrou a meta prevista para 2024 e entra em 2025 com fôlego renovado.
“Conseguimos aprovar um projeto de recuperação dos sistemas do JMM na Lei Rouanet, sobretudo para prevenção e combate a incêndios. E ultrapassamos a meta em 2024 só com doações de pessoas físicas. Vamos este ano avançar na captação também de pessoas jurídicas”, se entusiasma o arquiteto Carlos Fernando Andrade, ex-aluno da FAU e presidente da AMEAFAU-UFRJ (Associação dos Ex-alunos e Amigos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ), associação de direito civil fundada em 13 de junho de 2022 que reúne egressos do corpo discente, docentes e técnicos da faculdade. A associação foi reconhecida e oficializada pela Congregação da FAU em 3 de agosto de 2022.
AFETO E AFLIÇÃO
Em seu segundo mandato à frente da AMEAFAU — 2022-2024 e 2024-2026 —, Carlos Fernando conta que a associação nasceu para preservar a memória da FAU e mobilizar recursos para restaurar o JMM. As doações para o projeto de recuperação dos sistemas do edifício fecharam 2024 em R$ 50 mil — superando com folga os R$ 27 mil previstos como meta para o ano. “Com o projeto, nós temos condição de propor a obra que é necessária. Sem projeto, a gente não consegue fazer nada”, diz Carlos Fernando. O objetivo final é arrecadar R$ 300 mil.
O projeto é crucial para a execução de obras emergenciais para redução de riscos, como a dos sistemas de prevenção a incêndio, pânico e descargas atmosféricas. “O prédio da FAU sofreu pelo menos dois incêndios recentes e a gente via isso com muita aflição. Então criamos a associação e começamos a batalhar usando a internet. Já conseguimos fazer algumas coisas pequenas na FAU, coisas que para uma entidade pública é difícil fazer, como pintar uma parede, trocar um vidro, comprar uma tomada. Temos uma ótima parceria com o Centro Acadêmico (CAFAU) e a direção”, relata Carlos Fernando.
No dia 3 de outubro de 2016, um incêndio atingiu o oitavo andar do JMM. O fogo, a fuligem e a água colocaram em risco o mais completo arquivo relacionado à Arquitetura e ao Urbanismo brasileiros, com 300 mil itens, incluindo 50 mil documentos e cinco mil fotografias. Em 20 de abril de 2021, outro incêndio destruiu dependências administrativas e parte das instalações do Núcleo de Pesquisa e Documentação da FAU, levando à destruição de documentos.
“MUITO RUIM”
O mais recente levantamento sobre as condições estruturais do JMM confirma a aflição descrita por Carlos Fernando Andrade. Segundo o relatório da vistoria REAB-2024 do Escritório Técnico da Universidade (ETU), divulgado em dezembro passado, o edifício foi classificado como “muito ruim” em termos de estado de conservação (veja matéria sobre o relatório completo nas páginas 4 e 5). O documento indica a necessidade de uma reabilitação estrutural do tipo “profunda” nas três partes que compõem o imóvel: estrutura e cobertura; fechamentos e acabamentos externos e internos; e instalações.
“Pode-se analisar também que as anomalias de conservação e desempenho do tipo grave estão distribuídas entre os três grupos que compõe a edificação, indicando que há anomalias que representam situações de risco imediato para os usuários em todos os grupos do imóvel”, alerta o relatório. Entre as 92 avaliações realizadas pelo ETU em toda a UFRJ no período 2023/2024, o JMM é o segundo imóvel com estado de conservação mais deteriorado, atrás apenas do Museu Nacional, totalmente destruído pelo incêndio de 2018. O investimento estimado para a reabilitação total do edifício é de R$ 198 milhões.
PARCERIA
Para o professor Guilherme Lassance, diretor da FAU, as falhas de estrutura do JMM são motivo de apreensão constante. “Quando voltamos da pandemia de covid-19 identificamos muitas carências de investimentos na UFRJ e, mais especificamente, no edifício JMM”, afirma. “Veio nesse contexto a criação da associação de ex-alunos, que era um antigo desejo nosso. A campanha de doações para o projeto de recuperação dos sistemas é muito importante para nós. Esse projeto pode garantir melhores condições de segurança às pessoas”, avalia Lassance.
O diretor lembrou que o edifício é tombado pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, da Prefeitura do Rio, desde 2016. E que os dois incêndios recentes ligaram um sinal de alerta em relação à segurança de alunos, professores e técnicos. “A campanha de doações é uma possibilidade que se abriu para nós. A associação é de amigos e de ex-alunos da FAU, mas conversei com a diretora da EBA, a professora Madalena Grimaldi, que está empenhada em nos ajudar a captar as verbas. É de interesse de todos que ocupam o prédio. Em outra frente, estamos em processo de negociação com o Corpo de Bombeiros para a instalação de escadas de escape de incêndio externas”.
A diretora da EBA também enxerga na campanha uma possibilidade de melhorar a infraestrutura do JMM. “A iniciativa é excelente. A gente vive num momento muito difícil de custeio para fazer qualquer obra, então arrecadar verbas externamente é positivo. Isso pode ajudar a resolver parte dos problemas do JMM, que são muitos. Há hoje uma parceria muito forte entre a EBA e FAU. Temos projetos coletivos, como o da biblioteca integrada do segundo andar. Eu ainda tenho pouco mais de um ano de direção, fico até fevereiro de 2026, e pretendo fortalecer essa parceria com a FAU”, diz a professora Madalena Grimaldi.
A mudança da sala da direção da EBA do sétimo para o segundo andar do JMM — onde fica a direção da FAU — é outro movimento concreto dessa parceria. “Há um impacto político importante nessa mudança, sinaliza essa parceria. Durante muito tempo, a EBA se sentiu como uma inquilina indesejável no JMM, mas hoje há uma sensação de pertencimento”, acredita a diretora.
Para mais informações sobre a campanha de doações da AMEAFAU acesse https://ameafau.org.br/ ou https://www.instagram.com/ameafau/