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Liz Mota Almeida e Silvana Sá

04WEB menor1138Uma das atividades organizadas pela AdUFRJ no Festival do Conhecimento foi mediada pela professora Christine Ruta, vice-presidente da associação, no dia 23. O debate discutiu as inseguranças jurídicas que afligem professores que precisarão começar a dar aulas remotas a partir de agosto. “A educação não pode parar. Mas estamos preparados para esse mundo virtual? Como viver melhor a experiência da educação nesse contexto?”, questionou a dirigente.
Para dirimir dúvidas jurídicas sobre o uso dessas ferramentas e meios de proteção dos professores, a advogada Fernanda Vick levantou algumas reflexões sobre o ensino remoto. A primeira coisa a reconhecer, segundo a especialista, é que questões coletivas ficam prejudicadas quando solucionadas no âmbito individual. “Não se trata apenas de falar do direito de imagem do professor, ou da produção e reprodução de seu conteúdo, do que ele produz de material didático e pedagógico. É parte de um conflito muito maior”, pontuou.
A advogada acredita que o diálogo e acordos prévios entre instituição, professores e estudantes são o melhor caminho para minimizar problemas de mau uso de aulas e materiais produzidos pelos docentes. “É preciso informar aos estudantes sobre os direitos. A educação para esta forma de interação remota faz parte também do direito à informação”, defendeu. Ela advertiu que a reprodução da gravação de aulas precisa de autorização prévia dos professores.
Sobre direitos autorais, Fernanda Vick reconheceu que embora sejam patrimoniais, num aspecto, eles têm também um aspecto moral. “São direitos fundamentais e que os professores das instituições públicas podem argumentar, sim, sem receio”, garantiu. Mas ressaltou que o principal risco em relação aos alunos ou terceiros é que o material fornecido pelos professores seja usado para fins difamatórios ou ganhos financeiros. “Relacionar esses direitos e deveres jurídicos de forma clara, com linguagem acessível, pode evitar a maior parte dos conflitos jurídicos. Todo esse processo valeria ser colocado no papel, descrito para os estudante em detalhes, para que os alunos entendam o que pode e o que não pode”.
A jornalista e mestranda em Ciências Sociais, Jamila Venturini, procurou responder sobre o que significa a migração de grandes instituições de ensino e pesquisa para plataformas virtuais. Ela coordena a ONG Derechos Digitales, que atua na defesa e promoção dos Direitos Humanos na internet. Plataformas comerciais de ensino remoto, ela explicou, usam o modelo de negócios que se alimenta da coleta de dados dos usuários. “Quanto mais dados essas empresas possuem, mais elas podem treinar os seus sistemas para fazer previsões de comportamento mais precisas e capazes de vender produtos. Por outro lado, elas também dispõem de grande quantidade de dados para inovação, ou seja, para desenvolver novos sistemas”, disse.
O incentivo ao uso dessas ferramentas – e da própria internet – gera lucro. “Qualquer bit de dados, mesmo que ele seja aparentemente trivial, tem um valor potencial para as empresas”, afirmou a pesquisadora. Para ela, plataformas digitais impõem “certo modelo de ensino e aprendizagem”, o que interfere, necessariamente, na liberdade dos professores. “Caso a instituição imponha uma determinada plataforma, isto pode afrontar a liberdade de cátedra dos docentes”, alertou.
Há algumas ferramentas e materiais para ajudar os professores a se protegerem neste cenário de interações virtuais. Um deles é o Manual de Defesa das Escolas, que aborda estratégias político-pedagógicas e jurídicas para os professores e instituições se defenderem de acusações que firam sua imagem. O documento pode ser acessado em: www.manualdedefesadasescolas.org. Já o site educacaovigiada.org.br apresenta uma discussão sobre a exposição de instituições, professores e alunos às plataformas de ensino e traz recomendações de uso desses sistemas. Também a UFRJ elaborou um documento com orientações gerais para o ensino remoto, que pode ser acessado em: https://conexao.ufrj.br/wp-content/uploads/sites/6/2020/07/guia-ERE.pdf.

video conference 5167472 640Imagem de Alexandra_Koch por PixabayO Conselho de Representantes da AdUFRJ do dia 16 não esgotou o debate sobre o ensino remoto. Após um longo diálogo com convidados do DCE e da Associação de Pós-graduandos e novos argumentos apresentados por alguns conselheiros, ficou decidido que o tema será retomado em reunião já marcada para o dia 28.
Também contribuiu para a decisão um documento recém-elaborado pela assessoria jurídica do sindicato sobre direitos autorais e de imagem docente em atividades pedagógicas não presenciais. O texto, uma avaliação preliminar, chegou às mãos da diretoria no início da reunião do Conselho, e foi imediatamente compartilhado com os conselheiros. Os docentes solicitaram mais tempo para ler o material. “Já estamos trabalhando na organização de uma reunião exclusivamente com um especialista em direito autoral”, acrescentou a presidente da AdUFRJ, professora Eleonora Ziller.
Uma das observações da assessoria jurídica é que os docentes informem aos alunos, por exemplo, sobre a permissão ou não de reprodução de suas aulas.
A proibição colide com uma demanda estudantil. Representante do DCE , Lili Anjos enfatizou o posicionamento da entidade de que o ensino remoto tenha “marcos mínimos”. Um deles é a solicitação de que os professores gravem as aulas e disponibilizem o conteúdo para quem não puder participar das atividades em tempo real. Lili deu exemplos de colegas que moram com muitas pessoas e que precisam dividir o único computador da residência. “Sabemos que muitos não vão conseguir assistir às aulas no horário fixado”, completou.
Igor Alves, pela APG, informou que uma pesquisa realizada com quase 100% dos pós-graduandos da UFRJ revelou a vontade da maioria pela volta às aulas em ambiente virtual. A APG defende a criação de uma comissão de acompanhamento do ensino remoto para verificar se os direitos dos colegas estão sendo respeitados. “Precisamos avançar para não deixar ninguém para trás”, concluiu.
Durante o debate do conselho, vários professores manifestaram receio que a não participação no ensino remoto, mesmo opcional, se torne uma “armadilha”, diante do momento político de ataque às universidades. Outros estão preocupados com a contagem do tempo de serviço e a avaliação para progressão na carreira.
Estes elementos e muitos outros debatidos nas reuniões realizadas no dia 13 com diversas áreas da universidade serão incorporados ao documento que a diretoria apresentou na edição anterior do Jornal da AdUFRJ. A presidente Eleonora Ziller fez uma avaliação bastante positiva da plenária do início da semana:  “Um total de 113 professores participou do processo. Isso é importante. Há uma vontade de discutir “, afirmou.

ASSEMBLEIA
O Andes convocou um conselho das seções sindicais (Conad) extraordinário para debater a prorrogação do mandato da diretoria nacional — a pandemia causou a suspensão do processo eleitoral que ocorreria este ano. O Conad ocorre nos dias 30 a 31 de julho.  
A diretoria da AdUFRJ estuda a melhor forma de realizar sua primeira assembleia virtual para eleger os representantes ao evento. Os encontros virtuais promovidos até agora na quarentena, como o Conselho de Representantes, não exigiam uma votação formal dos sindicalizados. Uma proposta de organização será enviada para avaliação dos representantes do CR na segunda, 20. A assembleia ficou marcada para o dia 27.

08WEB menor1137O dia de abertura do Festival do Conhecimento UFRJ finalizou com uma noite inesquecível. Programado para realizar apresentações musicais diárias, o Festival convidou Elza Soares para encerrar as atividades do dia 14, em uma live comemorando os 100 anos da Universidade, e os 90 da cantora. “A gente escolheu a Elza porque ela é um símbolo de resistência da militância racial, das questões de gênero, em um país atravessado pelo machismo, e também por ser uma cantora extraordinária”, afirmou Ivana Bentes, pró-reitora de Extensão da UFRJ e uma das organizadoras do evento.
O show virtual, realizado em um acústico voz e violão com acompanhamento do músico JP Silva, foi uma importante celebração para a instituição. “É uma grande honra e um privilégio ter conosco a mulher do milênio, Elza Soares, um ícone da cultura brasileira”, declarou Denise Pires de Carvalho, reitora da UFRJ, no início do evento. Em seguida, a artista agradeceu, parabenizou a Universidade e destacou a importância da educação. “Educação é a nossa única saída. O que o Brasil precisa para melhorar? Educação”, pontuou Elza.
O espetáculo começou com “Juízo Final”, um clássico de Nelson Cavaquinho que ganhou recentemente um clipe animado oficial no canal do Youtube da cantora. Com um repertório mesclando canções de seus discos mais recentes, como “Mulher do fim do mundo”, e músicas de outros artistas que se eternizaram na sua voz, como “O Meu Guri”, de Chico Buarque, a apresentação de Elza foi dotada de sua característica presença política. “É gente, o tempo não para, mas a Terra teve que parar. Nós vamos superar essa pandemia, mas pra isso precisamos de muita união”, disse após cantar a famosa canção de Cazuza.
Os 90 anos de Elza Soares são carregados de luta e superação. Para além do talento musical, a força da sua carreira sempre esteve em refletir as questões sociais que a artista viveu na pele. “Mulher, chega de sofrer calada. A violência cresceu nessa pandemia. Horrível. Ligue e denuncie qualquer violência”, lembrou Elza após cantar “Maria da Vila Matilde”, uma canção emblemática sobre violência doméstica. “Não queremos mais ver mulheres agredidas, como aconteceu em São Paulo, com uma mulher negra com botas em seu pescoço, tirando seu ar. Que absurdo, gente”, criticou.
Contando com mais de 700 espectadores ao vivo, o show de conclusão do primeiro dia de Festival do Conhecimento foi uma linda homenagem à cultura. Em menos de uma hora de apresentação, a “mulher do fim do mundo” deixou seu recado para estes tempos de pandemia, evidenciando o porquê desse apelido. Elza Soares tocou em pontos cruciais à contemporaneidade e, apesar da idade, encantou com a sua voz. “Adorei essa noite com vocês. Parabéns à Universidade Federal do Rio de Janeiro por esse evento gratuito e pelos 100 anos. Que venham outros mais”, finalizou

7aWEB menor1137Como o racismo se manifesta na história da Ciência e o que pesquisadores negros fazem para combater esta realidade? As questões alimentaram o debate “Ciência e tecnologia em afroperspectiva”, o primeiro organizado pela AdUFRJ durante o Festival do Conhecimento, no dia 15. O diretor Felipe Rosa fez a mediação do encontro.
“Quando me percebi mulher, negra e cientista, fui buscar referências que se assemelhassem a mim”, contou Eliade Lima, professora da Unipampa e doutora em astrofísica. A busca, porém, revelou-se infrutífera. “Os meus referenciais estão voltados apenas para o continente europeu e para as descobertas europeias. Se me pedirem o nome de uma mulher negra na Astronomia antiga, não saberia dizer”, lamentou.
O racismo epistêmico, como Eliade explicou, fez com que a Astronomia surgisse como Ciência apenas quando os europeus decidiram observar o céu. “Quais são os referenciais de grandes astrofísicos e astrônomos? Rapidamente, lembro de Tycho Brahe (1546-1601), Newton (1642-1727), Galileu Galilei (1564-1642)… Estou falando de homens brancos europeus”, disse. “Como se o povo do continente africano não observasse o céu”, criticou.
Bernardo Oliveira, professor de Filosofia da Educação da UFRJ, apresentou as contribuições de Cheikh Anta Diop (1923-1986) para o tema. Diop foi um historiador, antropólogo, físico e político senegalês que estudou as origens da raça humana e cultura africana pré-colonial. Usou os conhecimentos ocidentais para reconfigurar o panorama histórico em que as conquistas civilizatórias são atribuídas apenas ao homem branco. “A Ciência não cansou de afirmar sua pretensa origem branca. O racismo científico é apenas uma expressão dessa crença”, disse Bernardo.
O professor Antônio Carlos, do Instituto de Física da UFRJ, levou para a mesa as teorias do psiquiatra e filósofo francês Frantz Fanon (1925-1961).“Fanon argumenta que a pessoa negra se submete a vestir ‘máscaras brancas’, como estratégia de convivência e sobrevivência de suas relações sociais”, disse. “A simulação dos padrões brancos de comportamento cria doenças psíquicas, como, por exemplo, o sentido de inferiorização”, completou.

AdUFRJ NO FESTIVAL
A AdUFRJ organiza mais duas mesas no festival: “A pandemia e a participação das mulheres na produção acadêmica e na vida política das universidades”, dia 20, às 9h; e “Aulas remotas em tempos de fakes e as inseguranças jurídicas para a prática docente, dia 23, às 17h.

04e05WEB menor1137A AdUFRJ organizou um grande evento virtual na segunda-feira, 13, para debater os desafios do ensino remoto durante a pandemia.  Para amparar as discussões, a diretoria preparou texto com diversas propostas e reflexões sobre o assunto, todas focadas na garantia da qualidade acadêmica, no acolhimento dos estudantes e na valorização do trabalho docente.  As reuniões mobilizaram 113 professores das mais diversas áreas. Os professores foram divididos em quatro grupos: Humanas, Artes, Saúde e Tecnologia. O encontro suscitou novas inquietações e propostas que foram apresentadas e debatidas com o Conselho de Representantes da AdUFRJ na quinta-feira, 16.

 

HUMANAS
Alternativas para reduzir sobrecarga

A plenária da AdUFRJ que reuniu os professores de Humanas refletiu algumas das principais preocupações dos docentes da UFRJ com a adoção do ensino remoto. A oferta de plataformas digitais para realização das aulas, a adaptação do conteúdo das disciplinas para a modalidade remota e o desgaste causado pelo trabalho em confinamento foram alguns dos temas abordados na reunião. Mas ponto central da discussão foi a insegurança manifestada por muitos professores sobre a individualização da decisão de dar ou não aulas remotas.
A plenária foi coordenada pelo diretor Josué Medeiros, professor do IFCS. Na abertura, Josué apresentou os principais pontos do texto da diretoria sobre o ensino remoto. “O texto expôs, de maneira introdutória, o que achamos que são os princípios que devem nortear a atuação da AdUFRJ”, disse Josué. “Esperamos as contribuições dos colegas para acrescentar ao material”.
A reunião foi um grande espaço para a troca de ideias sobre como implantar um modelo de aulas remotas adaptado ao programa de cada disciplina. A professora Marta Castilho, do Instituto de Economia, relatou como está sendo a preparação para o Período Letivo Excepcional na sua unidade. “Na Economia estamos discutindo bastante sobre todas as questões que envolvem o ensino remoto, e os temas que estão no documento da AdUFRJ contemplam bastante as nossas preocupações”, disse a professora,  que também contou que no IE os docentes tiveram a ideia de criar turmas grandes, mas com mais de um professor. “Ajuda na administração durante a aula, mas diminui um pouco a carga dos professores”, explicou. “A ideia acabou se difundindo, e várias turmas nossas serão compartilhadas desta forma”, relatou a professora.
O professor Sandro Torres, da Escola de Comunicação, contou como o processo tem sido tranquilo também em sua unidade. A direção da ECO consultou os alunos sobre a oferta de aulas remotas, com uma resposta majoritariamente positiva, e propôs desde o começo uma ampla discussão com os professores, trazendo-os mais para perto das decisões. A professora Ana Lúcia Cunha Fernandes, da Faculdade de Educação, também relatou a experiência na sua unidade. “Fizemos uma série de rodas de conversa, e agora temos um grupo de trabalho pensando em questões mais concretas, de ordem mais objetiva. Fizemos um questionário, destinado aos professores, para tentar captar as suas dificuldades e necessidades”, contou a professora, que sugeriu que a AdUFRJ seja, sobretudo neste momento, o espaço para que essas conversas aconteçam.
A professora Júlia Ávila Franzoni, da Faculdade de Direito, lembrou que é importante ressaltar que o trabalho remoto é um direito. “É preciso entender que desde que foi deflagrada a pandemia todos os professores da UFRJ estão trabalhando”, disse a docente, que se mostrou preocupada com como as chefias vão entender isso, para evitar punições a quem não aderir ao PLE. Ela também se mostrou preocupada com os professores substitutos, os que estão em período probatório e com as progressões de carreira, entendendo que não pode haver nenhum prejuízo aos docentes. Em resposta, o professor Josué convidou a professora Júlia a escrever sobre o tema, para que seja incluído no texto final. Josué também colocou a AdUFRJ à disposição de professores que estejam se sentindo pressionados por suas unidades a dar aulas durante o período excepcional.
Outra inquietação debatida na reunião foi sobre a gravação das aulas e os direitos de imagem dos professores. “Minha maior preocupação é com a própria segurança dos docentes em relação aos vídeos gravados. Não vivemos uma conjuntura política muito fácil”, ponderou Ana Cláudia Tavares, do NEPP-DH. “Temos casos recentes de invasões de salas de aula”, disse. A gravação das aulas, lembrou Josué, é uma reivindicação dos alunos para facilitar o acesso daqueles estudantes que não possam assistir à aula sincronamente, e que a AdUFRJ vai conversar com o DCE para que haja um entendimento sobre o tema.
A professora Fernanda Vieira, do NEPP-DH, fez uma fala manifestando sua preocupação com a decisão de dar ou não aulas remotas ficar a cargos dos professores. Para ela, uma vez que a universidade vai informar ao MEC que a UFRJ está oferecendo aulas, abre-se um perigoso precedente para que docentes que optem por não aderir ao Período Letivo Excepcional sejam prejudicados de alguma forma. A docente defende que a decisão, da maneira que foi tomada pela UFRJ, não dá garantias jurídicas, frente ao governo, de que os colegas poderão escolher não dar aulas sem ter eventuais prejuízos.
Em sua resposta, Josué reafirmou a importância dos conselhos superiores da universidade, mostrando que existe uma estratégia para lutar contra eventuais ataques do governo. “Não tenho dúvidas de que com um governo fascista não há garantias jurídicas. Justamente por não termos garantias jurídicas, precisamos contar com garantias políticas. E não há garantia política maior do que contar com os conselhos superiores da universidade. Ali está a garantia da autonomia universitária”, disse Josué. A decisão sobre aulas remotas foi amplamente discutida, ao longo de meses, pelo CEG, CEPG e Consuni, que de maneira democrática ouviram todos os segmentos da universidade.
A presidente da AdUFRJ, Eleonora Ziller, encerrou a reunião lembrando que é um período muito difícil para todos, em que “nossas vidas estão empobrecidas de experiências afetivas”, e defendeu a posição da UFRJ. “A universidade teve muita calma na hora de discutir as aulas remotas. O Conselho Universitário dedicou uma sessão inteira a ouvir os estudantes, e a proposta foi aprovada praticamente por unanimidade, com apenas 3 abstenções. Essa votação é o ganho político que conquistamos nesse processo, e é por esse caminho que enfrentamos o fascismo. Com muita coragem. Combater governos fascistas exige coragem”, disse.(Lucas Abreu)

CIÊNCIAS DA SAÚDE
Preocupação com as aulas práticas

A reunião da área de saúde foi intensa e bastante representativa. Participaram docentes da Farmácia, Medicina, Fisioterapia, Psicologia, Fisioterapia, Biologia, Gastronomia, Terapia Ocupacional. Foi demonstrada uma preocupação quanto à oferta de disciplinas práticas no PLE - Período Letivo Excepcional. "Minha preocupação é com as aulas práticas em laboratório, trabalho de campo, atividade docente assistencial. Não foram contempladas nesse PLE essas modalidades sob a forma remota", disse o professor Hélio de Mattos, da Farmácia. "Várias aulas práticas podem serem ministradas sob a forma remota. Mas a resolução do CEG não obriga, deixou isso a critério das unidades", completou.
Pedro Lagerblad, diretor da AdUFRJ, lembrou que o PLE não foi uma opção, e sim uma necessidade. “Socialmente e politicamente falando, não temos escolha quanto ao PLE”, ponderou. Para o professor titular do Instituto de Bioquímica Médica, apesar da adversidade, os docentes devem procurar soluções para ministrar seus cursos. “Estamos com um problema. Vamos ver o que se pode fazer de bom com ele.”
Lúcia Azevedo, professora de Medicina, afirmou que existe um esforço do seu curso em adiantar algumas atividades práticas pelo ensino remoto, como teleconsulta e medicina da família. “Alguns componentes dessas matérias podem ser facilmente colocados no método remoto”, explicou Lúcia. Para ela, o maior desafio é ensinar aos professores a usar as ferramentas tecnológicas para auxiliar na aprendizagem. “Muitos não estão acostumados a usar videoaulas, gravar conteúdo online. Eu e um grupo de alunos vamos fazer um tutorial para ajudar esses professores”, completou.
Na Biologia, não existe um consenso sobre as aulas práticas, segundo o professor Paulo Paiva. “Vamos trabalhar na precariedade, mas é possível pensar em soluções”, afirmou. Ele acredita que algumas respostas podem ser encontradas nas universidades brasileiras que mantiveram o semestre de modo remoto, como é o caso da USP e Unicamp. “É necessário pensar nas universidades que estão passando pelo mesmo processo, nesse momento o planeta inteiro está funcionando remotamente”, lembrou.
David Majerowicks, professor da Farmácia, disse que o seu departamento está à procura de profissionais com experiência em ensino remoto. “Existe gente que estuda o EAD e que sabe mais do que a gente como fazer”, sugeriu.
Alguns professores relataram que o curso de formação ofertado pela UFRJ, sobre as plataformas digitais para o PLE, foi dado de maneira rasa. Mario Gandra, professor da Faculdade de Farmácia, já possui familiaridade com essas plataformas, devido a uma experiência anterior na UFBA. Ele percebeu a urgência do tema e resolveu disponibilizar tutoriais sobre o googleclassroom e o AVA no seu canal do YouTube, para que outros professores possam aprender. O canal se chama Professor Mario Gandra e também estão disponíveis videoaulas para os estudantes de Farmácia. (Liz Mota Almeida)

EXATAS E TECNOLÓGICAS
AdUFRJ quer ressarcimento de docentes por aula remota

Mais de 40 docentes do CCMN e do CT participaram do encontro da AdUFRJ sobre ensino remoto, O professor Felipe Rosa mediou o debate. “O ensino remoto não é mais uma questão de ‘se’, mas uma questão de ‘como’, já que a universidade decidiu implantá-lo”, afirmou o vice-presidente do sindicato. “A ausência de aulas exclui muito mais os estudantes que o ensino remoto emergencial”, defendeu o professor. A AdUFRJ, ele explicou, prioriza dar suporte e proteção aos docentes, neste momento.
Uma das bandeiras levantadas pela diretoria da AdUFRJ é que os professores sejam ressarcidos dos custos que se elevaram em casa e na aquisição de equipamentos para as atividades remotas. A assessoria jurídica da seção sindical vai produzir parecer sobre direito autoral e propriedade intelectual em relação às aulas preparadas de maneira remota e disponibilizadas como conteúdos gravados. “Nossa posição é que o direito do professor sobre o material de suas aulas vai além do entendimento da Procuradoria da UFRJ”, disse Felipe Rosa.
No parecer da universidade, o procurador Renato Vianna afirmou que as aulas não são criações de interesse privado dos docentes e que, por isso, o direito autoral seria “exclusivo da Administração Pública, não podendo auferir quaisquer benefícios privados” aos professores. Em relação à imagem, diz o procurador, a lei protege o docente de violação e “mau uso, que lhe cause dano material ou moral”. A disponibilização de aulas gravadas aos alunos, completa Vianna, “não causa dano material ou moral ao professor”.
Outra preocupação da AdUFRJ – também expressada por alguns professores – diz respeito à necessária integração com todos os estudantes. A AdUFRJ pretende encabeçar um movimento nacional em defesa da democratização da internet e a inclusão digital. E pretende iniciar o debate por meio do Observatório do Conhecimento.
A professora Thereza Paiva, do Instituto de Física, reforçou o cuidado necessário com os estudantes e o quanto a falta de aulas pode impactar inclusive economicamente os mais vulneráveis. “Há muitos estudantes de fora do Rio que se planejaram para passar um determinado período na cidade, que é uma das mais caras do Brasil. Não dar aulas é fazer os estudantes aumentarem essa permanência na cidade. Muitas famílias não têm condições financeiras de ampliar este tempo”.
As disciplinas e teses que dependem de experimentos foram um dos temas levantados pelos professores. Enquanto não há protocolo para retorno seguro das atividades nos laboratórios, muitos trabalhos estão parados. Mas alguns laboratórios das áreas exatas estariam retomando pesquisas. “A pior coisa que pode acontecer são esses laboratórios voltarem de forma presencial, sem protocolos de segurança”, criticou o professor Fernando Rochinha, da Coppe. “Boa parte dos laboratórios do CCS estão funcionando desde o dia zero da pandemia. Temos protocolos nesses locais que podem ser estabelecidos para os demais laboratórios”, disse.
Yraima Cordeiro, professora da Farmácia, defendeu o uso do  AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem – desenvolvido pelo Instituto Tércio Pacitti) e da plataforma Moodle para as aulas, já que a UFRJ deu liberdade às unidades de escolherem e organizarem de forma autônoma suas aulas remotas. Em relação às metodologias de ensino, a docente criticou a demora de os professores se prepararem para esta migração de conteúdos para o ambiente virtual. “Tivemos a chance de nos preparar desde março. Eu me programei pra fazer curso de AVA já prevendo que a única forma de retorno possível seria essa, por atividades a distância”.
Do Instituto de Química, o professor Rodrigo Almeida reconheceu que a universidade tem conseguido dar boas respostas à crise, mas salientou a necessidade de avaliar constantemente as decisões sobre o ensino remoto “É fundamental que esta experiência não seja naturalizada. É importante que seja bastante reforçado que o nosso tripé de ensino, pesquisa e extensão está muito sustentado pelo contato físico, pelo presencial.Nossas práticas pedagógicas são baseadas nisso”, disse.
Também houve críticas de professores da Escola Politécnica sobre o calendário aprovado. O chamado Período Letivo Excepcional foi considerado curto. “O encurtamento do calendário pode, sim, comprometer a qualidade das aulas e da formação”, afirmou o professor José Henrique Sanglard, da Engenharia Naval. “A Escola Politécnica tem um problema adicional: a maioria dos professores não tem experiências com ensino a distância ou aulas remotas”.
O professor Sylvio Oliveira, da Engenharia Mecânica, reivindicou um direcionamento mais claro sobre que plataformas usar para as aulas neste período. “Há muitas perguntas a fazer e muitas orientações que eu gostaria de receber”, disse.

AVALIAÇÃO POSITIVA
O vice-presidente da AdUFRJ comemorou o sucesso do encontro. “A reunião foi surpreendentemente cheia, superou as expectativas. Mostra que o tema domina a dinâmica da universidade”, avaliou Felipe Rosa. Ele destacou que a volta das atividades remotas, com inclusão e solidariedade, foi um consenso importante entre os participantes. “Não será o melhor dos mundos, mas é um caminho que deve ser seguido”.
As questões levantadas pelos professores serão levadas em consideração para a versão final do documento sobre ensino remoto da diretoria da AdUFRJ. “As questões centrais que foram abordadas já estão contempladas no nosso documento, mas ele certamente será enriquecido. Protocolos de segurança para laboratórios e atividades práticas de pós-graduação tem de ser incorporados.  Além disso, a universidade deve dar uma orientação mais direcionada aos professores sobre plataformas e metodologias de ensino”, concluiu Felipe. (Silvana Sá)

ARTES
Criatividade é a palavra de ordem

A plenária das Artes e outras práticas teve um número menor de participantes, mas surpreendeu pela representatividade. Participaram da troca de ideias docentes dos cursos de Música, Comunicação Visual Design (EBA), Direção Teatral (ECO), Letras e Gastronomia. A roda de conversa foi conduzida pela presidente da AdUFRJ, Eleonora Ziller.
As disciplinas práticas são o calcanhar de Aquiles. “Metade da nossa carga horária é de vivência em laboratório. Não achamos uma solução para resolver isso remotamente”, relatou Daniela Munizzo (Gastronomia). Segundo a docente, o caminho escolhido foi a oferta de disciplinas eletivas e teóricas.
 Já na ECO, as estratégias incluem a oferta de disciplinas complementares e conjuntas (ministradas em parceria por mais de um docente). “Nossa intenção é garantir um período mais leve e sem muita pressão sobre os alunos e professores”, informou José Henrique (Direção Teatral). A criatividade é a palavra de ordem, tanto para a graduação quanto para os projetos de pesquisa e extensão. “Enviamos kits de luz e cromaquis para a casa das pessoas e vamos fazer nossa primeira web ópera”, disse.
A estrutura física da universidade também foi debatida. Norma Menezes,  da Escola de Belas Artes, interpelou a Adufrj para garantia de espaços físicos, na universidade, para gravação das aulas. Assim como, uma política de formação para os docentes sobre ensino remoto. “Vídeos, oficinas, tutoriais”, exemplificou. “Ninguém quer perder a qualidade”.
Uma das maiores unidades da universidade, a Letras pontuou preocupações em relação a um eventual retorno às aulas. “Apesar de bem arejado, o prédio não tem a menor perspectiva de atender ao volume enorme de pessoas que abrigamos, inclusive de outros cursos, respeitando a demanda de isolamento”, relatou a professora Danielle Copas. “Não temos condições nem para semipresencial”, advertiu.
Surgiu também a preocupação com contagem do tempo para progressão docente durante a pandemia. A presidente da Adufrj afirmou que a entidade atua junto à reitoria para proteger os direitos docentes em relação à carreira e à propriedade intelectual. (Elisa Monteiro)

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