facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

haddadA análise do projeto do governo para a educação e as universidade mobilizou um dos disputados encontros do Festival do Conhecimento essa semana. Com mais de 600 espectadores, a atividade contou com os ex-ministros da Educação, Fernando Haddad (2005-2012) e Renato Janine Ribeiro (2015), a professora da Faculdade de Educação, Giovana Xavier, e o vice-reitor da UFRJ, Carlos Frederico Rocha.
“Estamos no quarto ministro da Educação de um governo fracassado nessa área. Não há mais como recuperar o governo nessa área”, afirmou Haddad, que defendeu o legado dos governos do PT na Educação, destacando o projeto do Reuni e a criação do Enem. Ele ressaltou a grandeza da universidade e da pesquisa brasileiras. “A universidade está firme e forte nos seus propósitos enquanto o governo cai pelas tabelas na área da educação porque não tem projeto a não ser o seu desmonte”, declarou, criticando em seguida o programa Future-se do ex-ministro Abraham Weintraub. “O retorno do investimento em educação e ciência é extraordinário”, disse, lembrando das ações do MEC enquanto esteve à frente da pasta, como o respeito à autonomia das instituições, a ampliação de vagas e do financiamento das universidades.
Para Janine Ribeiro, a universidade tem papel central no pós-pandemia. “A Europa pretende retomar sua economia descarbonizando. Ou seja: não é voltar igual, é voltar sustentável. Nós temos um conhecimento científico pujante”, declarou o ex-ministro. “A universidade deve estar presente neste momento da pandemia. Se não atuarmos, a realidade será pior”, afirmou.
Mas a autonomia universitária e a ciência, por si só, não são capazes de realizar esta transformação, para a professora Giovana Xavier. “Precisamos continuar dialogando sobre uma gestão pública que reinvente a autonomia universitária em prol do combate às desigualdades. Que a gente possa construir caminhos alternativos para que as histórias asfixiadas sejam resgatadas”, defendeu. Para ela, o pós-pandemia é imprevisível e a pandemia, racial. “Cinquenta e sete por cento das mortes por Covid-19 estão na comunidade negra”, lembrou.
O vice-reitor da universidade, Carlos Frederico Rocha, citou as recentes ações da UFRJ para proporcionar meios de ensino virtual para os estudantes. “A preparação para as aulas remotas envolve inclusão social, inclusão digital e desenvolvimento científico”, disse. Apesar dos esforços da universidade, ele teme um retrocesso social e econômico no país. “Vamos caminhar para uma sociedade com conflitos políticos e uma miséria crescente”.

7bWEB menor1137“No Centro de Tecnologia, onde estão os LGBTs? Desde quando em uma sala de 60 alunos é comum haver apenas seis mulheres e um, ou nenhum, LGBTQI+?” indagou Matheus Fernandes, presidente da Diversiliga UFRJ. A conversa sobre a importância da representatividade dentro da Universidade, mediada pelo estudante, ocorreu no dia 16. “É importante ver além daquilo que é raso, ver a realidade, ver o outro”, pontuou Fernando Castro, primeiro professor trans da UFRJ, do Instituto de Microbiologia.

6aWEB menor1137A UFRJ está com uma proposta de política de inovação pronta para ser debatida e votada pelo Conselho Universitário. A informação foi divulgada pela professora Ariana Roder, superintendente de Pesquisa da Pró-reitoria de Pós-graduação, em uma das mesas do Festival do dia 15. A expectativa da docente é que, uma vez aprovado o documento, a universidade possa “potencializar sua capacidade, que já é enorme, nesta área”.  O vice-reitor da UFRJ, Carlos Frederico Leão Rocha, destacou a iniciativa: “Nós precisamos normatizar o ambiente inovador dentro da universidade, ainda que a universidade não seja o agente inovador por essência”.  Diretor de Tecnologia da Faperj e fundador do Parque Tecnológico da UFRJ, o professor Mauricio Guedes observou que o Brasil ainda está muito atrasado em relação a outros países no quesito inovação.

7WEB menor1137A pandemia explicitou dois problemas que afetam a Educação nos últimos anos: o ensino visto como um serviço e a aplicação de pacotes vendidos por grandes corporações tecnológicas. A afirmação foi feita pelo professor português António Nóvoa, ex-reitor da Universidade de Lisboa, historiador da Educação e embaixador da Unesco, em uma das mesas mais aguardadas do Festival do Conhecimento, na manhã do dia 16.
A primeira dificuldade, Nóvoa argumenta, é que os pais enxergam a educação como um bem privado e com ela estabelecem uma relação de consumo. “É como se a educação fosse um serviço, e apenas um serviço, que se presta a um conjunto de crianças no plano individual”, explicou.
O segundo obstáculo ocorre com a entrada de empresas de tecnologia na educação, oferecendo soluções prontas. “Os professores não têm que exercer um trabalho de conhecimento próprio, mas há apenas a aplicação de um trabalho”, criticou Nóvoa.
Articuladas, as duas tendências pareciam estar prontas para resolver a crise causada pela pandemia, mas fracassaram. “Todos esses movimentos que vinham se infiltrando no debate sobre a educação tornaram-se claros durante a pandemia”, disse.
Ao mesmo tempo, esclareceu o professor, o cenário trouxe boas notícias. “A primeira foi a capacidade de resposta de muitos professores, que, em colaboração, conseguiram criar soluções, manter vínculos pedagógicos, para que a ideia de educação pública se mantenha presente”, contou — o discurso no festival era um reflexo da frase anotada em um quadro atrás do intelectual: “O que conta mesmo é a força dos professores”.
“A segunda boa notícia é um novo reconhecimento, por parte das famílias, da complexidade e da importância do trabalho e da ação dos professores”. Para Nóvoa, a situação representa uma oportunidade para universidades, professores e agentes interessados na defesa da educação pública.
A proposta de reformulação da educação básica de António Nóvoa parte do princípio de que as coisas não vão voltar ao normal durante a pandemia, o que é bom. “A escola que tínhamos antes da pandemia era uma escola não inclusiva, onde os professores não eram valorizados e não tinham a autonomia respeitada. Uma escola com muitas dificuldades de enfrentar o século XXI”, explicou.
Mas, para o processo que vai envolver muita disputa política, o ex-reitor destacou a necessidade de existência de instituições especiais, que respeitem quatro eixos: formação, não só no sentido da elaboração dos programas de licenciatura, mas também nas políticas públicas de recrutamento e preparação dos professores; práticas, que estão diretamente ligadas ao cotidiano de trabalho dos professores; pesquisa, que é a reflexão sobre as práticas, a produção do conhecimento, inovação e as proposições de mudanças; e políticas públicas que coloquem os professores como peças centrais.
Nóvoa fez uma reverência à UFRJ. “Hoje, essas quatro coisas estão fragmentadas, e essa fragmentação torna muito difícil um combate pela educação pública e pela valorização dos professores, que são os dois combates da minha vida”, afirmou. “E a UFRJ é, talvez, umas das poucas instituições que já concebeu este lugar, o Complexo de Formação de Professores”, completou.

02bWEB menor1137“Ninguém solta a mão de ninguém”.  Este foi o conselho da professora Miriam Struchiner, que coordena o Laboratório de Tecnologias Cognitivas (LTC/NUTES) da UFRJ e atua na área de tecnologia educacional, para os mais de 80 participantes do último Tamo Junto. O encontro, promovido todas as sextas-feiras pela AdUFRJ, teve como tema o PLE, ou Período Letivo Excepcional, e suas implicações para a comunidade acadêmica. A maioria dos docentes presentes participou pela primeira vez da reunião, interessados em entender o funcionamento do PLE e os possíveis recursos educacionais a serem utilizados remotamente.  Estiveram presentes, também, professores da UFF e da UERJ com o objetivo de se preparar para os seus respectivos períodos remotos.
 “Vamos pensar a tecnologia  não só como uma ferramenta, mas como uma linguagem”, sugeriu Miriam. “A ideia é que os alunos possam interagir, de maneira colaborativa. É uma experiência relevante”, explicou. Para a professora, o PLE deve ser construído em parceria com os alunos, já que é uma novidade para todas as partes envolvidas. “Estamos no mesmo barco, há muito a ser construído.”
 Miriam acredita que a linguagem configura a experiência do aluno, dessa maneira, “o conhecimento vai acontecendo em redes onde os objetos, estratégias e sujeitos da aprendizagem influenciam na sua formação.”. No contexto virtual, é necessário compreender a inserção da aprendizagem na Cybercultura, explicou a professora. “A cultura digital já está presente na educação mesmo que nós não façamos uso. O contexto torna isso inexorável”.

Topo