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WhatsApp Image 2022 03 18 at 22.36.25Em uma votação histórica, a maior já registrada nos mais de 40 anos da AdUFRJ, os professores da UFRJ, por esmagadora maioria, decidiram não aderir à greve nacional por tempo indeterminado do funcionalismo público federal, marcada para o próximo dia 23. O indicativo foi proposto pelo Fórum Nacional das Entidades do Serviço Público Federal (Fonasefe) e encaminhado pelo Andes para deliberação nas seções sindicais. Nesta sexta-feira (18), mobilizados pela assembleia convocada pela AdUFRJ, 1.076 professores votaram de forma virtual, pelo Sistema Helios: 883 entenderam que não é momento para a deflagração de um movimento paredista, 169 votaram a favor da greve, e outros 24 se abstiveram. A urna ficou aberta das 12h às 18h.
“Isso é um recorde, nunca aconteceu uma votação tão expressiva em nossa seção sindical. Só por isso, nosso movimento já é vitorioso”, afirmou o professor João Torres, presidente da AdUFRJ, ao anunciar o resultado da consulta.
Cerca de 250 docentes participaram das mais de três horas de debate na assembleia virtual e muitos argumentos sustentaram a decisão contra a greve. Os principais têm relação com o baixo nível de envolvimento e mobilização dos professores, com o fato de a universidade estar em recesso acadêmico, com o impedimento de reajustes ao funcionalismo a partir de 4 de abril pela legislação eleitoral e, principalmente, com os preparativos para o retorno das aulas presenciais após dois anos de trabalho remoto.
“Eu gostaria muito de fazer uma ação contundente contra o governo Bolsonaro, e esse desejo eu creio que se exprima na categoria. Mas estamos num cenário pouco propício para uma greve por tempo indeterminado, temos uma janela muito curta de articulação”, ponderou o professor João Torres, presidente da AdUFRJ. “A opinião pública não pode ser ignorada, inclusive a dos nossos alunos, que anseiam voltar para os campi universitários”, argumentou o dirigente.
O professor Paulo Maia Neto, do Instituto de Física, lamentou o quadro de degradação da universidade provocado pelos cortes orçamentários do governo Bolsonaro. “Desde que eu ingressei na UFRJ, há 30 anos, nunca vi uma situação tão ruim”, afirmou. No entanto, o docente pontuou a dificuldade de envolver os professores numa greve ao final de um período remoto. “É extremamente complicado fazer uma mobilização remota, as pessoas estão trabalhando muitas vezes fora do Rio de Janeiro. Esse tipo de situação é inédita e temos que entender que fica muito difícil mobilizar nesse contexto”, disse. “Creio que fazer greve neste momento é ruim, porque [a suspensão das atividades] poderia ser usada pelos agentes que querem destruir a universidade pública”.
O desejo de se agregar a um movimento nacional unificado foi expresso pelo professor Ricardo Medronho, 2º vice-presidente da AdUFRJ. “Seria uma coisa fantástica se conseguíssemos mobilizar todos os servidores públicos”, afirmou. No entanto, ele destacou situações objetivas que enfraquecem uma greve por tempo indeterminado neste momento. “A partir de 4 de abril vai ser ilegal o reajuste para o funcionalismo. Teríamos apenas dez dias para estabelecer e concluir negociações com o governo”, disse. “Além disso, a sociedade não ficará ao nosso lado se entrarmos em greve no momento de voltarmos às aulas presenciais. Boa parte da sociedade sofreu duras consequências da pandemia. A gente, mal ou bem, continua com nossos salários em dia”.
Para a professora Marta Castilho, do Instituto de Economia, o ponto central de uma greve por tempo indeterminado neste momento é seu caráter desmobilizador. “Eu não vejo como a gente vai conseguir reproduzir uma dinâmica de participação sem voltar presencialmente. É impensável, para mim, que a gente não retorne ao presencial depois de dois anos”, afirmou. “É nas salas de aula que a gente vai discutir, trazer os estudantes e funcionários para mobilizações. Eu acho que o Paulo Guedes adoraria a greve. O governo não está incentivando a volta porque está interessando a ele que permaneçamos desmobilizados”, concluiu.
Mesmo entre professores com reconhecida posição a favor da greve, houve discursos moderados. “A greve é um horizonte posterior. O que temos que fazer é instituir uma comissão de mobilização para construir o retorno presencial”, afirmou a professora Selene Alves Maia, do Instituto de Matemática. “O retorno presencial tem que ser acompanhado de algumas medidas fundamentais, como o mapeamento rigoroso das condições de trabalho. É preciso que fique claro para a sociedade brasileira que a UFRJ está pronta para o retorno presencial, porém está construindo condições de trabalho para que esse retorno aconteça”, disse. “Temos que ocupar a universidade. Queremos ouvir os estudantes, devemos construir percursos que nos possibilitem esse retorno pleno”.
Luis Acosta, professor da Escola de Serviço Social e ex-presidente da AdUFRJ, reconheceu que o momento não é o mais propício para a paralisação das atividades. “Parece-me que no dia de hoje a nossa base não está preparada para deflagrar essa greve necessária. Então, creio que devamos continuar nos mobilizando”, defendeu. “Uma forma de mantermos a mobilização é a AdUFRJ declarar um estado de assembleia permanente, para avaliar a conjuntura. Outra proposta é realizar uma assembleia comunitária e manifestações na rua”, sugeriu. “Podemos marcar o dia 23 como um dia de mobilização e de luta, com uma espécie de universidade na praça”.
Outros integrantes da oposição, no entanto, foram enfáticos na defesa da greve. “Não podemos nos entregar ao possibilismo que tomou conta das últimas gestões”, criticou o professor Mathias Luce, também da Escola de Serviço Social. “Tivemos greves que aconteceram ao longo do período letivo, outras que aconteceram ao término do período e outras que não deixaram o período começar. Então, a questão do recesso não é um impedimento”, argumentou. “Em ano eleitoral, temos até o dia 4 de abril para colocar em projeto de lei o reajuste salarial, mas há outros trâmites. Não necessariamente um projeto terá sua tramitação concluída, daí a importância de trabalharmos politicamente com a pressão sobre a greve por tempo indeterminado”.
“O calendário não respeita a dinâmica das universidades porque a greve não é das universidades, é de todo o funcionalismo”, frisou o professor Cláudio Ribeiro, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e ex-presidente da AdUFRJ. “Construirmos a greve e irmos para a rua lutar contra esse governo pode ser importante para ajudar aqueles que estão perdendo muitos direitos a entenderem que também podem se juntar a esse movimento”, ilustrou. “A solução eleitoral de outubro não está dada. É necessário pensar o desgaste político de quem tanto nos atacou”.
Ex-diretor da AdUFRJ, o professor Felipe Rosa, do Instituto de Física, dicordou. “Estamos no meio do processo de retorno presencial depois de dois anos de pandemia, no meio da preparação para esse reencontro. Se não voltarmos agora, a gente corre sério risco de não voltar mais”, alertou. “Sabotar a operação mais importante que a UFRJ tem neste momento, eu não posso concordar. Isso não é um tiro no pé, é um tiro na cabeça. E tiros na cabeça costumam ser fatais”.
Para a professora Eleonora Ziller, ex-presidente da AdUFRJ e docente da Faculdade de Letras, aprovar greve sem unidade traria mais prejuízos do que benefícios. “Uma greve não pode ser tirada com a universidade dividida. Nos últimos dez, doze anos, as nossas greves nos afastaram mais da sociedade e dificultaram nossa luta. O avanço do pensamento conservador, inclusive na universidade, acaba sendo consequência também de decisões equivocadas do movimento docente, que se isolou”, afirmou. “As greves passaram a ser sustentadas por 500 professores e outros três mil ficavam de fora da decisão”, lembrou.
Alguns encaminhamentos foram sugeridos ao longo do debate e a professora Mayra Goulart, vice-presidente da AdUFRJ, indicou que a diretoria dará sequência às ações, em parceria com o Conselho de Representantes. “A gente tem acordo com o ‘Fora, Bolsonaro!’, com vários encaminhamentos que foram colocados. Todas as datas do calendário de mobilização do Fonasefe vão contar com nosso apoio. Queremos estar presentes à próxima plenária do serviço público do Rio de Janeiro, estamos envolvidos com as demandas do retorno presencial. A gente vai fazer panfletagens em sala de aula para atuar nessa mobilização envolvendo os alunos, os professores e queremos fazer isso juntamente com o Sintufrj”, garantiu.

Técnicos descartam paralisação

O Sintufrj realizou assembleia virtual dos técnico-administrativos para deliberar sobre a greve nacional, com participação de 213 servidores. A votação aconteceu por enquete simples da plataforma Zoom, que indicou 81% de rejeição à greve por tempo indeterminado. Outros 18% votaram favoravelmente à deflagração do movimento e 1% dos votantes se absteve. Os técnicos decidiram realizar uma paralisação de 24 horas no dia 23 de março. Uma nova assembleia, no dia 29, vai reavaliar a mobilização e decidir novos encaminhamentos.

WhatsApp Image 2022 03 18 at 22.41.02Fotos: Fernando SouzaA última quarta-feira (16) foi o Dia Nacional de Mobilização, Paralisações e Manifestações do funcionalismo público federal, parte da campanha salarial da categoria. Foram organizados atos em diversas cidades em dez estados e no Distrito Federal, segundo um levantamento feito pelo Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe). No Rio, a manifestação aconteceu na Praça 15, no Centro, e reuniu principalmente entidades ligadas à área de Educação. A AdUFRJ esteve no ato do Rio, representada pelo presidente João Torres e pelos diretores Karine Verdoorn, Nedir do Espirito Santo e Ricardo Medronho.
Embora pequeno em tamanho, a manifestação mostrou que o funcionalismo público está empenhado em enfrentar a gestão Bolsonaro e reivindicar o reajuste de 19,99%, o equivalente às perdas inflacionárias nos três anos do atual governo. Representantes das entidades ligadas à Educação também lembraram a política econômica que vem asfixiando o ensino superior com cortes orçamentários, e as propostas de desmonte do Estado que fazem parte do cardápio do ministro da Economia, Paulo Guedes, como a reforma administrativa.
Na avaliação do professor João Torres, a luta é mais do que justa, mas é preciso tomar cuidado com a estratégia adotada. “Temos perdas acumuladas nos nossos salários. Acho que é importante ir às ruas mostrar isso para a sociedade”, defendeu o dirigente. Mas ele observou que este é o pior momento para uma greve unificada do funcionalismo. “Eu adoraria fazer greve contra o governo Bolsonaro, mas não nessas circunstâncias. Estamos voltando de dois anos de trabalho remoto, e o tempo para a negociação do reajuste este ano é exíguo”, explicou João. Segundo a lei eleitoral, nenhum reajuste pode ser concedido ao funcionalismo público menos de seis meses antes de uma eleição majoritária.WhatsApp Image 2022 03 18 at 22.41.02 1
João reafirmou que a direção da AdUFRJ é contrária à greve. “É importante ir para às ruas falar, se conectar com a sociedade, mas sem perder de vista que o apoio da sociedade é fundamental”, observou. O que está em jogo, para o professor, é a capacidade de angariar o apoio da população à causa dos professores. “Não somos a favor da greve por tempo indeterminado agora. Precisamos do apoio das pessoas e, entrando em greve agora, nós dificilmente conseguiríamos este apoio”, explicou.
WhatsApp Image 2022 03 18 at 22.41.02 2A presidente da Associação dos Docentes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (Adur – RJ), Elisa Guaraná, também exaltou a união diante do cenário tão complicado em que vive a educação superior no Brasil. “Essa união é fundamental. Estamos sofrendo vários ataques, que acontecem de várias formas”, disse. Segundo ela, o desmonte do Serviço Público Federal é parte da política neoliberal do atual governo. “O ataque ao funcionalismo federal o torna praticamente inviável. Seguimos com salários rebaixados, com o trabalho sucateado e atendendo mal a população”, disse.

ATOS PELO BRASIL
Em Brasília, os servidores públicos foram em passeata até o Ministério da Economia, com a intenção de levar ao ministro Paulo Guedes o recado da categoria. Além da capital federal, os servidores se reuniram em cidades de Alagoas, Pará, Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Servidores públicos federais de diferentes categorias foram à Praça XV, no Centro do Rio, para dialogar com a população. A diretoria da AdUFRJ marcou presença. O objetivo da manifestação era angariar apoio para as demandas do funcionalismo junto ao governo e ao Congresso. Os servidores cobram a revogação do teto de gastos públicos (Emenda Constitucional 95), o arquivamento da proposta de reforma administrativa (PEC 32) e 19,99% de aumento salarial. O índice corresponde à inflação acumulada nos três primeiros anos do mandato de Bolsonaro.

Confira algumas imagens do ato produzidas pelo fotógrafo Fernando Souza.

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A diretoria da AdUFRJ marcou uma assembleia geral dos professores para o dia 18 de março, às 10h. Docentes não filiados ao sindicato também podem participar e votar — CONFIRA AQUI A LISTAGEM DOS DOCENTES NÃO SINDICALIZADOS QUE SOLICITARAM VOTO.

interno2A diretoria da AdUFRJ marcou uma assembleia geral dos professores para o dia 18 de março, às 10h. Docentes não filiados ao sindicato também poderão participar e votar (veja detalhes ao lado) — CONFIRA AQUI A LISTAGEM DOS DOCENTES QUE SOLICITARAM VOTO. A pauta é a decisão sobre a adesão ou não à greve por tempo indeterminado marcada para 23 de março — cujo indicativo foi aprovado pelo Andes — dentro da campanha salarial dos servidores públicos federais. A assembleia será remota, por meio da plataforma Zoom (com link enviado por e-mail), e a votação será feita pelo Sistema Helios, muito utilizado na UFRJ. A diretoria do sindicato é contrária à greve, e considera que este não é o momento de paralisar por tempo indeterminado as atividades docentes na UFRJ.
Para o presidente da AdUFRJ, professor João Torres, é preciso levar em consideração o longo período em que a universidade manteve aulas remotas por causa da pandemia de covid-19. “Ficamos dois anos fisicamente afastados, e na hora de voltar surge essa proposta de greve? Como conseguir assim o apoio da comunidade universitária e, principalmente, da sociedade em uma luta justa como a da campanha salarial?”, questionou João.
A proposta de greve se insere na campanha por recomposição salarial do funcionalismo público, que reivindica um reajuste de 19,99%, o equivalente às perdas durante o governo Bolsonaro.
“A reivindicação é justíssima. Além dos salários defasados, há também os cortes no orçamento das universidades, que asfixiam as instituições. É uma onda muita grave de ataques à Educação, mas entendo que uma greve por tempo indeterminado não é a melhor estratégia para enfrentar essa situação”, defendeu João. Ele reiterou que a intenção da diretoria do sindicato é que a AdUFRJ participe da campanha, mesmo sem aderir à greve. “Vamos promover ações de mobilização, como o Universidade na Praça, por exemplo, para dar visibilidade ao trabalho dos professores e mostrar para a sociedade que a nossa luta é justa”, explicou.
O professor emérito Ricardo Medronho, diretor da AdUFRJ, também é contra a greve no atual momento. Não só pela volta às aulas presenciais, em 11 de abril, mas pelo curto prazo que há para negociação. A legislação proíbe o aumento do salário de servidores a menos de seis meses da eleição (o prazo se encerra em 2 de abril). “O problema é o timing. Perdemos o momento adequado para a construção de uma greve unificada”, explicou Ricardo. “Se começarmos a greve no dia 23, serão menos de 15 dias para abrir a negociação com o governo, um prazo que não seria factível com qualquer que fosse o governo, imagina com Bolsonaro”.
Na opinião do professor, a decisão de começar uma greve reivindicando um reajuste, mas sem tempo hábil para que ele seja concedido, interrompendo o retorno presencial, pode afastar a possibilidade de apoio da sociedade. “É uma completa falta de bom senso começar neste momento, depois de dois anos trabalhando de casa. Muito, mas de casa. Diante de uma sociedade que sofreu duríssimas consequências por causa da pandemia, como vamos justificar isso?”, questionou Ricardo.
Já para Luis Acosta, professor da Escola de Serviço Social e ex-diretor da AdUFRJ, o momento é oportuno para a construção de um movimento nacional do funcionalismo. “Quando Bolsonaro prometeu o reajuste para segmentos específicos, abriu a janela de oportunidade para pleitearmos o aumento. Estamos tendo perdas salariais significativas, então é importante pressionar o governo”, disse. O professor defendeu também que a assembleia seja um espaço de construção da luta: “Minha proposta para a assembleia é avaliar e, em função disso, decidir quais serão as melhores formas de luta para alcançar nossos objetivos. Deflagrar uma greve é uma das possibilidades”. Para Acosta, uma eventual paralisação não significa ficar de braços cruzados. “A greve não é um momento de esvaziamento da universidade, mas sim parte da mobilização da categoria para ir para as ruas”, explicou.
O Jornal da AdUFRJ abre suas páginas para esse debate, com artigos de dois professores com opiniões distintas. A professora Eleonora Ziller, ex-presidente do sindicato, é contrária à paralisação. Já o professor Jorge Ricardo Gonçalves, da Faculdade de Educação, é a favor. O debate começa aqui, mas a decisão vai ser tomada na assembleia, onde a participação de todos os professores é fundamental.

Artigo

WhatsApp Image 2022 03 11 at 20.50.24É greve?

ELEONORA ZILLER
Professora da Faculdade de Letras e ex-presidente da AdUFRJ

Neste mês de março, completo 40 anos de UFRJ. Sim, me espantei. Caloura da Letras, em 1982, estudei num prédio que era provisório há 14 anos, na Avenida Chile. Nos estertores da ditadura, o cenário era de baixos salários, entulho autoritário, estrangulamento orçamentário... Mas havia muita esperança no ar. Nos primeiros anos da AdUFRJ e da Andes (quando não nos era permitido construir um sindicato), importantes vitórias tinham sido alcançadas, principalmente em relação à carreira.

Em 1984, a primeira grande greve me fez conhecer a UFRJ. A emoção de entrar pela primeira vez no auditório lotado do CT, para assistir a uma assembleia docente, ainda está muito viva na minha memória. Pelo menos 800 pessoas estavam ali. E, ainda, descobri que o Museu Nacional (que amava desde criança) era nosso: a primeira “Universidade na Praça” a gente nunca esquece.
As lutas, os sonhos, a dedicação de tantas pessoas, foi dessa matéria que se construiu a universidade que temos hoje. Carreira, eleições, dotação orçamentária e, mais que tudo, a gratuidade do ensino público e a autonomia universitária foram conquistas de um movimento que teve seu ápice na elaboração da Constituição de 1988. Trinta e quatro anos nos separam da grande caravana que partiu do campus do Fundão com centenas de professores, estudantes e funcionários. Acampados em Brasília, ajudamos a escrever o artigo 207, que ultimamente nos tem salvado das mais terríveis ameaçadas deste desgoverno federal.
Na década de 1990, a chamada Fernandécada (expressão do saudoso professor Carlos Lessa, referindo-se ao Collor e ao FHC) e a privataria tucana nos feriram de morte, mas uma poderosa rede de resistência impediu que nos desmontassem por completo. Mas aquela poderosa aliança, que unira a todos, já não se apresentava da mesma forma. O exemplo maior, na UFRJ, dessa fratura, foi a nomeação do Vilhena para reitor.
A reforma da Previdência de 1998 foi outra devastação, precipitou a saída de uma grande quantidade de docentes. A grande mobilização da década de 1980 cedera lugar a uma espécie de “cultura de greve”, onde uma boa parte já não participava de sua construção, mas passivamente aprovava, diante da dificílima situação em que nos encontrávamos. Arrastavam-se por semanas, meses, à espera de uma porta de negociação com o governo. O tempo foi nosso inimigo. As relações internas começaram a se desgastar, os espaços coletivos de deliberação foram se esvaziando e uma militância aguerrida e determinada passou a ocupar quase que sozinha os fóruns de decisão da categoria. Valeria uma detalhada avaliação de todo esse processo, principalmente a partir de 2003, quando as divergências se agudizaram com a reforma da Previdência protagonizada pelo governo Lula. Mas não há espaço aqui para rever todo esse processo. O fato é que chegamos a uma situação limite em 2015, quando um grupo muito grande e significativo de professores se organizou para dar um fim a essa “cultura”.
Sempre existiu, e eu me incluo nesse grupo, uma parte do movimento docente que não se identificava com os métodos e as propostas encaminhadas pelo Andes, sindicato nacional. Longas greves, corredores vazios, passeatas pequenas. Há décadas, posso dizer assim, defendo uma forma diferente de intervenção. Nós tínhamos força quando nosso movimento expressava uma ampla e sólida unidade interna. Ao longo dos anos, fomos nos distanciando de nós mesmos e da sociedade, cada vez mais fechados num enfrentamento corporativo, embora o discurso se radicalizasse para declarar o compromisso classista do sindicato nacional. A militância aguerrida e revolucionária se acostumou a falar para ela mesma, e hoje, esfacelada em pequenos grupos, mal se escuta. Sem retaguarda consistente, com baixos quóruns em assembleias e eleições sindicais, o movimento docente precisa encontrar novamente seu caminho de diálogo e representação da maioria da sua categoria.
Nunca fomos atacados de forma tão sistemática e institucional. É urgente lutar e enfrentar essa onda negacionista, fundamentalista e ultraconservadora. Disso depende a nossa sobrevivência. A mim, me parece esgotado e pouco eficiente o modelo de greve por tempo indeterminado, nos moldes das que ocorreram nos últimos 20 anos, ainda mais com um desgoverno em fim de mandato como esse. Precisamos de forte presença coletiva, de unidade interna, de vontade de mudança.
O que nos unifica? O que nos mobiliza? Como sairemos às ruas? Depois de dois anos em ambiente remoto devemos ter quase metade dos estudantes que nunca pisaram no campus, que não conhecem a vida universitária, que nunca nos encontraram nos corredores. Que vínculos foram criados com os novos professores, que também mal conseguiram pisar numa sala de aula? Além da exaustão, ainda temos um calendário de mobilizações que se desenvolverá em pleno período de recesso acadêmico. Por tudo isso, e muito mais que não cabe nessas linhas, acho que a nossa pior opção será suspender as atividades por tempo indeterminado em plenas férias acadêmicas. Não nos faltam razões para isso, elas existem e são muitas. Mas é que não vejo, nesse momento que atravessamos, rebeldia maior do que fazer a nossa UFRJ funcionar a todo vapor, para desespero dos governantes de plantão. Isso não pode significar inércia ou conformismo. As velhas “novas formas de lutas” nunca foram tão necessárias. Ou, como nos versos daquela canção, “as lições nós sabemos de cor, só nos resta aprender...”.
Seja lá qual for a nossa decisão, ela só será forte e significativa se for unitária, se envolver a maioria dos professores numa participação ativa e decisiva. Assim, se será uma greve ou uma paralisação, se será de um dia ou por tempo indeterminado, isso tudo é secundário. O que precisamos é que seja representativa, que rompa o círculo vicioso que nos jogou em sucessivas experiências que nos dividiram e que afastaram das assembleias a maioria dos docentes.

Artigo

WhatsApp Image 2022 03 11 at 20.50.24 1Alô, alô, geral!

JORGE RICARDO GONÇALVES
Professor da Faculdade de Educação

Tudo bem com os companheiros e as companheiras? Talvez não como gostaríamos, mas melhor agora do que há um tempo atrás, não é mesmo?

Venho falar agora de algo muito sério — a nossa situação profissional. Estamos há dois anos encurralados em casa, alguns de nós tendo adoecido, até mesmo perdido entes queridos.
E quando vemos a luz no fim do túnel da pandemia e olhamos à nossa volta, com que situação nos deparamos? Uma inflação altíssima, causada em parte pela pandemia, pela incapacidade do desgoverno federal atual, e já no início da inflação mundial, fruto da guerra insana que está começando. Ou seja: nosso salário, há cinco anos sem reajuste, encolhe cada vez mais. E a nossa querida universidade, como vai? A Arquitetura, a Belas Artes e a reitoria continuam desalojadas, sem espaço físico para as aulas agora “presenciais”. A Praia Vermelha está pior do que antes da pandemia, pois tem enorme déficit de salas de aula, e o “Aulário” — nome péssimo para a estrutura de contêiners instalada — está com sérios problemas de conservação. O mesmo acontece com algumas partes do IFCS. Isto para citar só algumas unidades com problemas infraestruturais.

E quais são as perspectivas
de apoio do MEC?

Pelo histórico recente, se não nos mexermos, nada conseguiremos, pois com este governo, até agora, só perdemos!
E na maior parte do funcionalismo público federal, a situação é a mesma, com exceção daqueles setores apoiados pelo presidente da República, como militares e policiais.
Por isso, os sindicatos dos diversos setores do funcionalismo público federal, incluindo os professores das outras universidades públicas federais, institutos federais de Educação, entre outros, estão realizando um grande esforço conjunto para pressionar o governo a repor o valor das nossas perdas salariais e por condições de trabalho adequadas ao labor presencial.
Em vista de tudo isso, haverá este mês um dia nacional de mobilização com paralisação do trabalho dos servidores públicos federais, dia 16/03/2022. Será um dia de luta e de diálogo com a sociedade, já anunciando ao governo o movimento grevista que está por vir, a partir do dia 23/03/2022.
Para nós, da UFRJ, infelizmente marcamos a próxima assembleia do nosso sindicato para discussão destes fatos para depois do dia 16/03, dia da paralisação de 24 horas, somente para o dia 18/03, dois dias após.

Mesmo assim, que tenhamos uma assembleia geral forte e participativa, para decidirmos sobre a inserção da querida UFRJ nesse movimento de pressão pela conquista de nossos direitos!

 

ÚLTIMOS REAJUSTES

WhatsApp Image 2022 03 11 at 20.52.20Parcelas lineares:
5,5% em agosto de 2016
5% em janeiro de 2017

Reestruturação na carreira
Aumentos diferenciados entre os professores em três parcelas: agosto de 2017, 2018 e 2019

CALENDÁRIO

16/3 Dia Nacional de Mobilização, com paralisações e manifestações em todo o Brasil. A AdUFRJ vai participar do Dia Nacional de Mobilização com diversas ações, entre elas projeções em paredões do Rio de Janeiro em defesa da universidade pública e gratuita.

18/3 Rodada de assembleias para definir a deflagração da greve

21/3 Reunião do setor de IFES (Andes)

23/3 Indicativo para o início da greve geral por tempo indeterminado, respeitando as especificidades de cada entidade

1º/4 Ato em Porto Alegre (40º Congresso do Andes)

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