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  1. WhatsApp Image 2021 08 04 at 09.40.37Ele foi nosso ponto de encontro e nos ajudou a atravessar momentos muito difíceis! Nos últimos tempos, sobrecarregados com tantas lives, reuniões e aulas remotas, suspendemos a nossa programação. Esse convite é para um reencontro, para renovarmos nossas forças pois em breve iniciaremos a campanha eleitoral para a nova diretoria da AdUFRJ.
  2. Para participar é fácil, a partir das 17h15 você envia uma mensagem para o whatsapp da AdUFRJ (21) 99365-4514 pedindo para participar e nós te enviamos o link de acesso à nossa sala no ZOOM. Se você ainda não conhece o aplicativo, acesse zoom.come instale em seu computador ou celular.

WhatsApp Image 2021 07 31 at 10.03.07ESTÁTUA do bandeirante Borba Gato, em São Paulo, foi incendiada em ato isoladoDiretoria da AdUFRJ

Nada mais definidor das políticas públicas para a Ciência e a Arte do atual governo do que a semana que se encerra: CNPq fora do ar, com um servidor queimado e a notícia de que teria se perdido todo o seu enorme banco de dados (incluindo aí os nossos Lattes) e o incêndio em um dos galpões da Cinemateca Brasileira, com a possibilidade de perdas irrecuperáveis da memória do cinema nacional. Junte-se a isso o achado da antropóloga Adriana Dias, divulgado em matéria do Intercept, que, por acaso, se deparou com as conexões entre grupos neonazistas e o atual presidente da República datados de 2004. Alguém ainda tem dúvida sobre o horror que nos governa? O bafo imundo da besta sopra no Planalto Central, desafia, mente e escarnece as instituições do país. Institui do alto de suas prerrogativas a mentira e a falsificação como norma, e reduz o já vergonhoso toma-lá-dá-cá, ou o famoso “é dando que se recebe” da fisiologia parlamentar, ao mais abjeto colaboracionismo. “O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera”, drummondianamente falando. Mas não só. Porque sábado foi dia de rua, ato, grito e muitos “Fora, Bolsonaro!”. Nem tão grande nas capitais como gostaríamos, mas surpreendente em tantas cidades pelo país.
O que fere e queima num país que convive com mais de meio milhão de mortos na pandemia? Não queremos explosões descontroladas, dispersas e pouco efetivas. Precisamos de organização, sensatez, persistência e disciplina para nos mantermos no jogo. Aproveitemos a semana olímpica e o belo baile da favela que entrou pela casa de tantas pessoas em todo o mundo. Rebeca entrou com tudo, Daiane lembrou que faz muito pouco diziam que ali não era lugar para elas. Mas elas foram e ocuparam. E Rebeca ocupou sem concessões: mulher, negra, favelada finca o pé na festa esportiva de todos os povos, queimando na pira olímpica mais um tanto de racismo e preconceito. Tivemos até fadinha, com direito a esperança num mundo melhor.
E, no meio do caminho, uma estátua incendiada. Muita polêmica em torno dela, porque roubou a cena dos atos organizados, porque deu argumentos para os conservadores, porque foi uma decisão autoritária de um pequeno grupo. E também porque não se queimam monumentos, não se queima a história... E por aí segue o fio de uma grande lista de argumentos contra o ato da autointitulada Revolução Periférica. Mas não é do passado que estamos falando, pois a questão é que Borba Gato está mais vivo do que nunca. Escravista e aventureiro, predador extrativista, parece que seu espírito volta a nos assombrar, rondando a vida política brasileira, hoje sustentada por madeireiros ilegais, garimpeiros e toda sorte de contrabandistas e atravessadores. Por isso a discussão é urgente, mas ela é muito maior do que refutar o passado colonialista, é ainda lutar desesperadamente para que ele seja de fato um passado a ser criticado.
Sigamos nessa conjuntura cada vez mais complexa, sem perder o rumo da prosa: unidade de todas as forças democráticas, em defesa da vida. Não é pequeno o que temos pela frente, não cabe qualquer ilusão que projete para um futuro próximo uma eleição redentora de todos os males. Cada dia é preciso conter o avanço desse projeto autoritário, em todas as frentes, onde for possível. Estamos iniciando o processo eleitoral para a nova diretoria da AdUFRJ. As inscrições de chapas estão abertas até o dia 12 de agosto. Que este seja um momento de reorganizarmos nossas forças. Vamos fortalecer o nosso sindicato. A velha máxima ainda está valendo: todos juntos somos fortes.

WhatsApp Image 2021 07 24 at 11.46.00

WhatsApp Image 2021 07 30 at 21.03.44Lucas Abreu e Silvana Sá

A Olimpíada é a maior expressão do esporte mundial. Os Jogos reúnem histórias de homens e mulheres que superam obstáculos físicos, rompem muralhas sociais e culturais, se entregam, semeiam exemplos e encantam torcidas. Num tempo de enorme desesperança mundial, com pandemia e horrores políticos, as Olimpíadas de Tóquio, sem torcida e com muita emoção, aceleram corações por todo o globo. No Brasil, as manhãs e madrugadas estão mais alegres com nossos heróis olímpicos nos presenteando com performances e biografias impressionantes.
O filho de pescador, dono do ouro, que surfava numa tampa de isopor; a fada do skate que conquista sua primeira medalha aos 13 anos; a mulher negra que encantou uma arena ao som de “Baile de Favela” e nos trouxe a primeira medalha da história no individual geral da ginástica olímpica. Estes são alguns exemplos de como esporte e emoção andam juntos. Mas não só.
Ao longo das últimas décadas, cresceu também a participação da ciência e da tecnologia para melhoria do rendimento dos atletas de ponta e também aumentou o controle para evitar disputas desleais, como o uso de substâncias proibidas que melhoram químicamente o desempenho do corpo.
“Estamos falando da preservação de valores éticos na nossa sociedade”, pontua o professor Henrique Marcelo Gualberto Pereira, do Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD), que está em Tóquio e nos concedeu uma entrevista exclusiva. O Jornal da AdUFRJ foi em busca dele e de outros especialistas que nos ajudam a mostrar como a UFRJ, a ciência e a tecnologia atuam para tornar o espetáculo cada vez mais perfeito.

“Não dá para realizar treinamento de atleta sem tecnologia e pesquisa científica”

Silvana Sá

Imagine repetir um movimento tantas vezes e por tantas horas até que seja impossível errar qualquer milímetro. Esse era basicamente o princípio de treinamento dos atletas de alto rendimento no Brasil e no mundo até bem pouco tempo atrás. A ideia era reproduzir o que acontecia nas competições como meio de aperfeiçoar as equipes de qualquer modalidade esportiva. Mas, com o avanço da ciência do esporte, treinamentos exaustivos e repetitivos estão dando lugar a treinos focados e que buscam otimizar o rendimento do indivíduo, ao invés de cansá-lo. Além de melhorar o desempenho, as técnicas minimizam os riscos de lesões por esforços prolongados. “Não dá para realizar treinamento em atleta sem ciência e tecnologia”, enfatiza o professor Alexandre Palma, vice-diretor da Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ.
A UFRJ tem uma longa tradição no mundo dos esportes. A então Escola Nacional de Educação Física da Universidade do Brasil foi fundada em 1939 por ninguém menos que a professora – e maior nadadora da nossa história – Maria Lenk. A docente também foi a primeira mulher a dirigir a unidade. O passado glorioso inspira o presente. “Estudamos efeito de cargas de treinamento, aspectos fisiológicos. A gente está antenado com tudo isso”, revela Alexandre Palma. “Estudos sobre genética, também feitos na universidade, tentam associar determinados treinamentos com polimorfismos genéticos”, aponta o pesquisador. Outras linhas de pesquisa investigam enzimas que estão associadas com o perfil de mais força ou mais aeróbico de um atleta. “Com conhecimento mais seguro sobre isso, é possível influenciar na escolhas de atletas de alta performance para determinadas modalidades”, sugere. “A ciência vai alimentando a intervenção dos treinadores”.
“Somos uma das universidades mais evoluídas no conceito de ciência do esporte”, completa o professor Renato Alvarenga, do Departamento de Biociências da EEFD. “A Escola é uma das primeiras da América Latina nessa área”, orgulha-se. “A gente contribuiu muito para mudar o conceito da educação física, em função das pesquisas que desenvolvemos nas últimas décadas”, revela o pesquisador.
Para o docente, um dos principais aspectos que geraram o salto qualitativo dos últimos anos é a ciência do movimento. “A biomecânica, muito mais computadorizada, permite avaliar cada giro, cada movimento, cada salto do atleta para melhorar sua performance, para que tudo seja otimizado de forma que ele não faça nada que seja desnecessário ou que vá machucá-lo”, detalha. Tamanha precisão de dados gera treinamentos mais específicos e elaborados por modalidade.
Equipamentos capazes de medir enzimas como a CK, que surge na circulação sanguínea sempre que a musculatura de um atleta apresenta fadiga, permitem controlar o treino e evitar lesões. “Hoje também temos câmeras termográficas que observam como está o músculo do jogador. A cor mais avermelhada permite verificar se o músculo tem, por exemplo, micro lesões e em que lugares estão, o que também contribui para a recuperação desse indivíduo”.

Teoria e prática
Uma das pesquisas em andamento na EEFD envolve o time de vôlei feminino Sesc RJ Flamengo. A investigação, coordenada pelo professor Eduardo Portugal, do Departamento de Jogos da Escola, utiliza a tecnologia Vert, capaz de mensurar todos os deslocamentos e alturas de saltos de cada atleta. “Isso permite chegar para uma atleta e orientar que ela salte menos, porque na semana anterior ela saltou muitas vezes e isso pode comprometer ligamentos, pode resultar numa lesão desnecessária”, explica. “É uma ferramenta incrível. Não é mais só o que o técnico acha. Ele recebe uma série de informações e vai trabalhando em cima delas”, afirma o pesquisador.
A mesma tecnologia também está sendo aplicada no futebol. “Estamos fazendo estudo parecido com jogadores de futebol, medindo a velocidade do atleta e as distâncias percorridas. Dá para fazer isso de forma individualizada, mesmo o esporte sendo coletivo. É uma revolução! Até pouco tempo atrás isso não existia”, conta Portugal.
Também com investigações na área esportiva – mas não só – o Laboratório de Biomecânica, do Programa de Engenharia Biomédica da Coppe, pesquisa o desenvolvimento de um calçado que seja capaz de reduzir o desgaste do usuário para longas caminhadas. “O sujeito tem que fazer uma marcha de 10 quilômetros com uma mochila de 15kg, como fazer com que essa pessoa se desgaste menos com o calçado, que tenha menos lesão, gaste menos energia? Como o calçado pode devolver uma parte da energia para o usuário?”, indaga o professor Luciano Menegaldo, coordenador do laboratório.

Investimento necessário
Tanta tecnologia tem um alto custo financeiro e coloca na frente da corrida os países mais ricos. Uma das consequências mais evidentes, nas Olimpíadas, é o número de premiações de cada país. “Os países desenvolvidos, consequentemente, têm ampla vantagem no quadro de medalhas. Muitas vezes, não se trata só de ser um país que investe em esporte, mas uma consequência do investimento em ciência e tecnologia”, afirma o professor Alexandre Palma. “Quem investe menos vai ficando para trás”.
Outra face da falta de investimentos é o abandono de equipamentos esportivos. Os Jogos do Rio, em 2016, geraram uma série de instalações que hoje estão degradadas pela falta de manutenção e recursos.  “Viraram elefantes brancos”, observa o professor, que cita entre seus exemplos os campos de hóquei e rugby, na Cidade Universitária. “Esses espaços se deterioraram, por falta de recursos. Estamos fazendo um processo de recuperação da piscina e também das áreas externas, mas tropeçamos no orçamento”, lamenta o vice-diretor. “Estamos numa área com muitas crianças no entorno. Seria uma oportunidade de potencializar a utilização dos equipamentos para a sociedade”, critica. “Quando a gente pensa no esporte não pode ter em mente só a formação de atletas”.
Eduardo Portugal concorda. “O esporte tem uma vertente mais importante, como meio de inclusão social, como manifestação cultural, como lazer, como saúde. É dever do Estado fomentar a prática esportiva dentro dessas vertentes. É um ponto chave para o desenvolvimento da nossa sociedade”. (Silvana Sá)

Tóquio faz história

O torneio de Tóquio já entrou para a história como o mais diverso desde a invenção das Olimpíadas. É a primeira vez que a competição tem 49% de atletas femininas. O maior percentual de mulheres competindo numa Olimpíada havia sido registrado no Rio, em 2016, com 45% de participação. Também é a primeira vez que uma atleta transgênero integra a equipe de um país. Laurel Hubbard, do levantamento de peso da Nova Zelândia, obteve o direito depois de cumprir rígidas normas e provar que seus índices de testosterona estavam abaixo do estabelecido pelo Comitê Olímpico Internacional. Estreantes nos Jogos,  surf e skate ganharam projeção e trouxeram medalhas para o Brasil. As Olimpíadas 2020 também bateram recorde no número de atletas declaradamente LGBTQIA+: ao menos 166. Em 2016 eles eram 56 e, em 2012, apenas 23.
Tanta diversidade colocou na pauta dos Jogos de Tóquio debates absolutamente contemporâneos e coube às mulheres o protagonismo: elas saltaram com macacão para protestar contra a sexualização de seus corpos na ginástica artística; entraram em campo com braçadeira de capitã com as cores do arco-íris; se ajoelharam em protesto contra o racismo e o assassinato sistemático de pessoas negras no mundo; abandonaram a competição para presevar a saúde mental.
Especialista em Psicofisiologia do Exercício, o professor Eduardo Portugal, da EEFD, estuda a relação entre corpo e mente e como as emoções podem interferir no desempenho esportivo – para o bem e para o mal. “A pressão que um atleta desse nível recebe para se manter no topo é enorme”, opina. “Eu consigo mensurar quando o atleta teve mais sucesso e o que afetou sua performance. É um olhar holístico para o desempenho, estamos vendo o indivíduo como um todo, para focar em cada pessoa”, explica. “É uma tentativa de humanizar as estratégias de treinos”.

ENTREVISTA I Henrique Marcelo Gualberto Pereira
Coordenador do Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem da UFRJ

“Estamos falando da preservação de valores éticos na nossa sociedade”

Lucas Abreu

WhatsApp Image 2021 07 31 at 10.19.54Em 2016, o Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem (LBCD), ligado ao Instituto de Química da UFRJ, foi responsável por fazer os testes antidoping dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Agora, a universidade leva a sua excelência para Tóquio. O professor Henrique Marcelo Gualberto Pereira, coordenador do LBCD, comanda o time de pesquisadores que foram representar o laboratório da UFRJ no centro de testagem antidoping, coordenado pela Agência Internacional de Testes. Diretamente do Japão, onde está desde o dia 23 de julho, o professor Henrique contou sobre o trabalho que está sendo feito durante os jogos.

Jornal da AdUFRJ - Há quanto tempo o senhor atua nessa área de testes antidoping? Como começou esse trabalho?
Henrique Marcelo Gualberto Pereira - Iniciei na área da Ciência Antidopagem como aluno do mestrado do Instituto de Química da UFRJ, em 1997. Tenho a felicidade de completar, em 2021, 24 anos no que hoje é conhecido como Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem.

Qual o maior desafio de trabalhar na área da ciência antidoping?
O maior desafio é a necessidade constante de evolução metodológica, o que requer grande investimento em pesquisa, mão de obra ultra qualificada e equipamentos modernos. Para se manter em pé de igualdade em relação aos laboratórios de países economicamente mais desenvolvidos, existe a necessidade de investimentos constantes.

Foi a sua experiência à frente do LBCD na Rio 2016 que fez o senhor ser convidado para Tóquio 2020?
Sim. Tive a honra de ser convidado para trabalhar como especialista internacional nos Jogos de Tóquio, compondo um painel de diretores de laboratórios acreditados pela Agência Mundial Antidopagem (WADA). Hoje existem apenas 30 laboratórios acreditados na WADA no mundo. O LBCD é o único na América do Sul. No total, cinco membros do LBCD participam das análises antidopagem nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio. Além de mim, estão incluídos no projeto Gustavo Cavalcante, especialista na análise de esteroides anabolizantes, Gustavo Ramalho, especialista na análise de peptídeos e proteínas por espectrometria de massas, Fábio Azamor, especialista na análise de esteroides por IRMS (sigla em inglês de Espectrometria de Massa de Razão Isotópica), e Rachel Santos Levy, especialista na análise de eritropoietina.

Em 2016, o LBCD foi o responsável pelos testes antidoping nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Qual o papel do laboratório nas Olimpíadas de Tóquio? O que o Brasil leva de expertise para o Japão?
O número de amostras analisadas nos Jogos Olímpicos é extraordinariamente grande. Um complicador é a necessidade de liberação de resultados em até 24 horas. Nenhum laboratório acreditado pela WADA reúne condições de realizar tal tarefa sem o apoio de especialistas internacionais de outros laboratórios. Instituiu-se assim a tradição de apoio técnico-científico ao laboratório anfitrião. Como o LBCD foi o responsável pelas análises nos últimos Jogos Olímpicos, houve grande interação entre o LBCD e o Laboratório Olímpico do Japão. Essa interação muito nos honra, sendo um bom parâmetro do nível de inserção internacional alcançado pelo LBCD.

Quantos testes antidoping serão feitos, aproximadamente, ao longo dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio?
No pico da competição, esse número possivelmente chegará a 450 amostras por dia. O número total pode chegar a seis mil amostras, ou até mais. Tudo depende do planejamento da Autoridade de Controle de Dopagem, que coordena as atividades de coleta e inteligência.

Enfrentar o doping exige pesquisas permanentes e trabalho contínuo de aperfeiçoamento, já que os artifícios utilizados para burlar os testes sempre avançam rápido. Como manter essa preparação?
Para trabalhar na área antidopagem é interessante ter a percepção da importância que o esporte tem na saúde do indivíduo e na construção de uma sociedade com padrões éticos elevados. Assim, o surgimento de novas estratégias de dopagem serve, na verdade, como motivação, pois estamos falando da preservação de valores éticos na nossa sociedade.

E como os laboratórios se preparam para lidar com estes avanços?
Investimento em pesquisa é absolutamente fundamental para a evolução dos métodos e estratégias de detecção de agentes dopantes. Sem dúvida, esse é o caminho para que seja possível antecipar as estratégias de dopagem, que costumam estar um passo à frente da antidopagem.

Do ponto de vista pessoal, como é fazer parte de uma Olimpíada? Afinal, estamos falando de um evento que preza pela união e a competição justa, e seu trabalho é ser um dos mantenedores dessa justiça.
Fazer parte de um evento desta magnitude é um prazer, uma honra, mas também uma grande responsabilidade. O princípio do Olimpismo, dentro de uma perspectiva histórica, é algo realmente singular. Apesar de não ser um atleta, gosto de pensar que eu, bem como os demais colegas do LBCD, represento o Brasil aqui em Tóquio. Somos um país com um potencial extraordinário, e a capacidade intelectual do brasileiro não deve nada a nenhum povo do mundo. Quando despertarmos como sociedade para o fato de que os países mais desenvolvidos só o são pelo investimento pesado em educação e ciência, o Brasil não conhecerá limites para suas realizações.

“E a cidade que tem braços abertos
Num cartão postal
Com os punhos fechados da vida real
Lhes nega oportunidades
Mostra a face dura do mal”.

WhatsApp Image 2021 07 24 at 10.30.50A canção “Alagados”, dos Paralamas do Sucesso, é de 1986, mesmo ano em que o Conselho Universitário, sob a gestão do reitor Horácio Macedo, aprovou que a Maré, musa da obra de Herbert Vianna, João Barone e Bi Ribeiro, se tornaria campus vicinal da UFRJ para projetos de pesquisa e extensão. Era uma das primeiras decisões formais de uma universidade que não queria mais estar de costas para a vida real da favela vizinha. Ao contrário, queria contribuir para a criação das necessárias oportunidades de desenvolvimento e acesso a bens e direitos historicamente negados à população mais pobre.
Um desses direitos negados é a segurança. Na sexta-feira passada (16), a Maré viveu mais um episódio de violência promovido pelo Estado. A operação policial durou mais de 30 horas. Voos rasantes de helicóptero, tiros, caveirão, correria e, por fim, o silêncio denunciador do medo marcaram o final de semana de mais de 50 mil moradores das favelas do Parque União, Parque Rubens Vaz, Nova Holanda e Parque Maré, locais onde a mega operação se concentrou. Ao todo, a Maré reúne 16 comunidades e possui mais de 130 mil habitantes, segundo o último Censo Maré, de 2010. Aliás, a primeiro censo da região partiu da UFRJ e foi realizado em 1987, com a participação de estudantes, professores, técnicos e moradores.
Em mais de 30 anos de iniciativas, os frutos são evidentes. Se até os anos 1980 o que acontecia na Maré era algo apenas externo à universidade, a realidade passou a mudar gradativamente nas últimas décadas. “Os problemas da Maré são cada vez mais problemas da UFRJ. Muda completamente nossa perspectiva quando a gente sabe que um aluno está debaixo da cama tentando se proteger das balas, no horário da aula. Como dar um conteúdo se meus alunos não estão em condições emocionais de acompanhar, porque estão tentando sobreviver a uma situação de violência?”, questiona a presidente da AdUFRJ, professora Eleonora Ziller, da Faculdade de Letras. “Hoje a Maré está na universidade. É outra relação, outro envolvimento”, acredita a professora.
“Eu moro no Parque Maré, numa rua que é conhecida como ‘Iraque’. Quando tem operação na favela, a gente precisa se esconder para não morrer, não tem como sair”, destaca o estudante Raniery Soares, de 24 anos. Aluno da Letras, ele conta que, apesar de cursar o sétimo período da graduação, ainda tem disciplinas dos períodos iniciais da faculdade. “Mesmo estudando ao lado de casa, muitas vezes eu fiquei preso por conta das operações. Sobretudo 2018 foi um ano muito violento e acabei reprovado em algumas matérias”, justifica.
Segundo levantamento realizado pela ONG Redes da Maré, em 12 anos de vida escolar, crianças e adolescentes perdem um ano inteiro de aulas por conta dos conflitos armados causados, principalmente, por operações policiais e, em menor grau, por disputa de territórios entre grupos armados. “O Estado não permite que a gente tenha o acesso completo à educação”, afirma Raniery. “Eu entrei por cotas de escola pública. As cotas são fundamentais para o acesso, mas a gente ainda tem um deficit de aprendizado muito grande”, reconhece. “Quando eu chego à universidade, tenho um ano a menos de aprendizado formal que meus colegas que não moram em favelas”.
Como boa parte dos moradores da Maré que conseguiram acessar o ensino superior, Raniery é o primeiro de sua família a cursar uma universidade. “Minha família sempre teve a UFRJ como a melhor, diziam que eu precisava entrar lá para ser alguém”, diz. “Aos quatro anos de idade, eu fiquei internado por seis meses no hospital infantil. Então, minha relação com a UFRJ sempre existiu, desde a infância”.
Mudança de vida
Para Raniery, estar na universidade é ter a oportunidade de mudar de vida. “Eu sou gay e sair da favela, por exemplo, é sair da influência do fundamentalismo religioso. É uma libertação”, considera. “Por outro lado, é um peso também. É a única possibilidade de mudar de vida. O estudante de baixa renda já entra com essa cobrança nas costas. A única chance de eu conseguir garantir a velhice da minha mãe é ter uma boa formação universitária”.
Rayanne Soares, também de 24 anos, concorda. “Para nós, moradores de favelas, a educação é a única ferramenta concreta de transformação. Você consegue alcançar lugares que você não sonhava antes. Educação é emancipação e o ensino superior é uma garantia de você mudar minimamente o lugar em que você está”, afirma. “A universidade democratiza o acesso a coisas que outras pessoas tiveram a vida toda, como cultura, literatura, línguas estrangeiras...”.
Quando terminou o ensino médio, em 2015, Rayanne deu à luz seu filho. E só conseguiu ingressar na universidade em 2019.2, no curso de Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social. “Eu me matriculei no dia 25 de julho, dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Eu, mais uma mulher preta, ocupei a universidade naquele dia tão simbólico”, orgulha-se.
Além da mudança de vida e de perspectiva que já experimenta, Rayanne quer mudar a vida de mais e mais pessoas à sua volta. “A UFRJ ainda não é plenamente acessível a todos. Os nossos ainda não estão lá em peso”, declara a estudante. “Eu escolhi Gestão Pública não à toa. Esse recorte econômico-social é exatamente o que a gente precisa disputar na sociedade brasileira. Eu penso em mudar o território, afetar realmente a vida das pessoas, transformar”, afirma, entusiasmada. “Segurança pública não pode ser só operação policial. A ação de educação não pode ser um retorno presencial de qualquer jeito. Quero usar esse lugar de formada para ter legitimidade, dar visibilidade às ações que já existem e ajudar a formular novas iniciativas e políticas públicas”.

Mosaico de Atividades

Enorme população, cultura pujante e péssima qualidade de vida são algumas das características da Maré. De acordo com dados do Censo 2010 do IBGE, o conjunto de favelas era o nono bairro mais populoso da cidade do Rio de Janeiro, com 135.989 moradores. Se fosse um município, a Maré seria o 21º mais populoso do estado. Mais de 50% dos habitantes são jovens de até 30 anos. Razão que levou ao projeto mais recente de vacinação em massa dos moradores adultos da Maré. A imunização ocorre de 29 de julho a 1º de agosto e é parte de um estudo da Fiocruz para avaliar a proteção de uma população imunizada contra as variantes da covid-19.

CULTURA E CIDADANIA
WhatsApp Image 2021 07 24 at 10.30.50 1Ainda nos anos 1980, a preocupação da universidade era levar cultura e cidadania à Maré. Uma das iniciativas foi a criação de uma colônia de férias para crianças. “A gente parava o ônibus, colocava todo mundo dentro e ia para o campus realizar atividades como jogos, teatro, gincanas”, relembra a professora Eleonora Ziller. Logo depois, a Escola de Educação Física e Desportos firmou parceria com a Secretaria Municipal de Educação para ser sede do Clube Escolar. Com oficinas de artes e esportes gratuitas, as crianças desenvolviam atividades em horário complementar ao escolar. O projeto ainda é ativo e atende 1.270 crianças das escolas públicas vizinhas ao Fundão, a maioria dos alunos é oriunda da Maré.
Anderson Machado foi uma das crianças atendidas ainda na década de 1980. “Foi a primeira vez que tive acesso à universidade. Muitos anos depois, consegui passar no vestibular para Educação Física. No primeiro dia de aulas, um outro aluno falou que tinha que botar mais cloro na piscina porque o pessoal da Maré tinha estado lá. Foi muito importante eu estar ali, naquele momento, e dizer que eu era morador da Maré e que tinha passado no mesmo vestibular que ele”, recorda.
No início dos anos 1990, um núcleo da Faculdade Nacional de Direito passou a auxiliar moradores a conseguirem o registro definitivo de seus imóveis na Maré. Era o embrião do que em 2006 se transformou no Niac – Núcleo Interdisciplinar de Ações para a Cidadania, com sede ao lado da Prefeitura Universitária.

AÇÕES SOLIDÁRIAS
Antonio Carlos Pinto Vieira, o Carlinhos, morava na Maré quando passou no vestibular da Faculdade Nacional de Direito, em 1982, e acompanhou de perto as primeiras iniciativas de aproximação da universidade com a comunidade. “Era um grande projeto chamado ‘Vamos entrar nessa Maré’, com iniciativas de várias áreas do conhecimento”, relembra. Ele é um dos fundadores do Ceasm, o Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré. “Tivemos forte apoio da UFRJ para a instalação do nosso pré-vestibular comunitário, também por meio do convênio com a Faculdade de Letras, para curso de línguas para os moradores”. O Ceasm contabiliza mais de duas mil aprovações de moradores da Maré para as universidades.
Atualmente, a UFRJ é parceira do fórum “Favela Universidade”, que discute a inserção de jovens de favela na produção acadêmica brasileira. O projeto “Tecendo Diálogos” atua em diversas frentes. Uma delas é a construção de um banco de referências de produções acadêmicas de moradores da Maré e Manguinhos sobre suas comunidades. Outro braço é o GT de Saúde Mental dos moradores universitários. Também está sendo planejada uma jornada científica com trabalhos acadêmicos produzidos por moradores de favelas. “Além disso, estamos levantando dados para montar um grande mapa com informações de todos os pré-vestibulares comunitários do estado. A universidade precisa caminhar junto com a Maré. Não é um movimento de mão única, da universidade que contém o saber científico, mas uma via de mão dupla, em que a universidade também aprende, vai se desenvolvendo e abrindo outros caminhos na sua prática, na sua ação”, diz Carlinhos.
TALENTOS DA MARÉ
Nos anos 2000, a Música passou a ser também um instrumento promotor de direitos e cidadania. Foram criados alguns programas, como “Música para Todos”, com aulas de introdução a instrumentos musicais e ao canto gratuitas na Maré; o projeto “Arte para Todos”, que tinha como tarefa preparar os jovens moradores da Maré para o Teste de Habilidade Específica do vestibular de Música; e o Musicultura, projeto que existe há 17 anos.
“A nossa proposta une elementos de antropologia com a pedagogia de Paulo Freire. A ideia é valorizar o conhecimento local, ao invés de a Escola de Música levar uma caixinha de ferramentas. Nós somos mais os facilitadores da cultura tão massacrada pela realidade e abafada pelo senso comum que acha que lá só tem violência”, pontua o coordenador do projeto, professor Samuel Araújo. O bloco Se Benze que Dá foi um dos primeiros frutos do Musicultura em parceria com a Rede Memória, da Maré. O bloco é tradicional e desfila por todas as comunidades, no período do Carnaval, passando pelas fronteiras territoriais impostas pelas facções que dividem a região. Daí o nome “Se benze, que Dá”.WhatsApp Image 2021 07 24 at 10.30.50 2
Há projetos também de arquitetura e urbanismo, de educação ambiental, de saúde e emancipação feminina, de apoio e prevenção à violência doméstica que envolvem variadas unidades da UFRJ. “A Maré tem muitos talentos acadêmicos, artísticos, talentos políticos, muitas lideranças. É preciso dar meios para que esses talentos todos levem o país para um mundo mais saudável e alvissareiro”, finaliza o professor Samuel Araújo.

“A Maré não é violência, é potência”


DEPOIMENTO DA JORNALISTA SILVANA SÁ

WhatsApp Image 2021 07 24 at 10.31.14SILVANA (à direita) em manifestação nas escadarias da Alerj, em 2008 - Álbum de famíliaA Maré tem violência, mas não só. Ela transborda vida. Múltiplos talentos ali convivem, mas não têm oportunidade. Eu saí daquele chão. Marielle Franco também. Fizemos curso pré-vestibular comunitário no Ceasm (Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré), fundado por jovens mareenses que conseguiram quase por milagre acessar a graduação na UFRJ. O motor que me possibilitou alcançar pequenas revoluções foi o mesmo que levou Marielle a ser o fenômeno que todos conheceram. Foi o mesmo que levou aqueles poucos universitários da Maré, ainda nos anos 1990, a multiplicarem o número de vizinhos com ensino superior. A universidade transformou nossas trajetórias, mas, por muito tempo, ela não passava de uma ilustre desconhecida.

Quando eu era criança, nos idos anos 1980, eu conhecia a Cidade Universitária como “Fundão”. Ir ao Fundão era ir ao “médico” e ao “campinho da perna seca”. A gente ia andando de casa para a consulta no hospital infantil (Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira – IPPMG). Já para jogar bola no campinho do Hospital do Fundão (Clementino Fraga Filho), às vezes dez, às vezes 15 crianças ocupavam o chão de uma kombi dirigida pelo pai da Rosane, minha amiguinha da Rua da Paz. Era nosso passeio mensal.

Os hospitais eram nossa referência, mas não sabíamos que eram universitários. Da laje lá de casa dava para ver o imponente Hospital do Fundão. Com seus 14 andares e então 220 mil metros quadrados (metade nunca funcionou, por isso foi apelidada de “perna seca”), o prédio sobressaía na paisagem de casas baixas. Hoje, a verticalização da favela tampou a nossa vista.

Apesar de estar ao alcance da visão, universidade era coisa muito distante do chão da favela. Só depois dos meus doze anos eu descobri que ali no Fundão existia a UFRJ. E que ali as pessoas estudavam para muitas coisas diferentes. Alguns amigos já frequentavam colônias de férias e o Clube Escolar, que funcionava nas dependências da Escola de Educação Física e Desportos. Eram os primeiros frutos de uma universidade e uma Maré que tentavam derrubar os muros invisíveis que as separavam.

Esses mais de 35 anos de ações e projetos de extensão demonstram inegáveis avanços nessa relação. Aos poucos, mais moradores se tornam alunos, contribuindo para transformar não só suas realidades, mas a própria universidade. A Maré não é violência, é potência que a UFRJ ajuda a construir e deve apoiar cada vez mais.

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