facebook 19
twitter 19
andes3
 

filiados

03WEB menor1130Já são mais de dois meses em isolamento social com mudanças profundas na rotina. Estamos distantes de nossos locais de trabalho, transformamos nossas casas em escritórios, suspendemos os encontros com amigos e familiares, nossos filhos não vão para a escola. A vida social e profissional agora está confinada em aparelhos eletônicos. O trabalho dobrou, as incertezas triplicaram e a saúde mental está por um fio.         
    “Há uma série de consequências, a começar pelo aumento da ansiedade, que altera o ritmo da vigília e do sono e leva muita gente a trocar o dia pela noite”, explica a professora Maria Tavares Cavalcanti, professora do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da UFRJ. “É importante construir uma nova rotina”.
Na prática, significa reorganizar o tempo, preservando os limites entre as atividades.  “É bom ter hora para acordar, para fazer exercícios, comer, e ter tempo para o lazer”, explica. “Ainda assim, essa nova rotina pode não ser o suficiente, então é preciso ter um objetivo forte para perseguir”.
Ex-diretora do Instituto de Psiquiatria da UFRJ (Ipub), Cavalcanti pondera que essa perspectiva tem um corte social. “Estou falando das pessoas da classe média, que em muitos dos casos estão isoladas e seguras”, ponderou. “Entre pessoas mais pobres pode ser muito pior. Há mais gente morando na mesma casa. Pessoas sem nenhuma renda garantida, ou que precisam sair para ter o que comer. Nesse caso, essa ansiedade é muito mais intensa”.
Professor do Instituto de Psicologia e presidente do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro, Pedro Paulo Bicalho destaca os efeitos do cenário de insegurança. “Estamos presos em casa e cercados de incertezas. Será que vou me contaminar? Se acontecer, será que consigo hospital? Corro risco de morrer?”, lista o docente. “O medo da morte passa a ser um problema ainda maior, e com uma implicação mais cruel: a possibilidade de não poder realizar os ritos fúnebres”.
Diante da pandemia, velórios não estão sendo permitidos e os enterros das vítimas da Covid-19 são feitos com os caixões fechados. “Estamos muito preocupados com esses lutos não realizados”, explica o professor. “O temor aumenta cada vez que sabemos de um amigo, conhecido ou parente que morre com a doença”.
Para o professor de psicologia e de saúde mental da Escola de Serviço Social, Erimaldo Nicacio, estamos diante de uma situação peculiar, que é estar mais perto da morte. “A pandemia torna o real da morte mais presente”, disse. “Isso cria uma situação de dupla fragilidade, a do medo de morrer, mas também a do medo de não poder se despedir de quem morre”.
E como se não bastassem essas incertezas sobre a própria vida, há ainda uma perplexidade com fatores mais práticos, como o trabalho ou o cenário político. “Há essa enorme pressão econômica. Mesmo funcionários públicos estão inseguros, não sabem o que o governo planeja para o funcionalismo, se vai cortar benefícios ou congelar salários”, diz.
Para  Pedro Paulo Bicalho, esse cenário acentua a ansiedade e afeta o trabalho remoto. O isolamento colocou milhares de pessoas trabalhando em suas casas, sem que houvesse qualquer adaptação ao processo. O professor pontua que o trabalho remoto tem propriedades, sobretudo de linguagem, que  a sociedade não estava adaptada antes de adotá-lo. “Nas reuniões virtuais as pessoas se desentendem com mais facilidade”, explica.
E ainda precisam ser consideradas as condições em que o trabalho é feito. “As crianças estão em casa, sem escola, a quantidade de afazeres domésticos passa a aumentar e a casa começa a demandar uma parte do nosso tempo que antes não demandava, o que torna o trabalho ainda mais difícil”, observa o professor. “Estamos falando de um trabalho remoto que não está sendo feito por escolha, precisamos levar em conta todas as intercorrências do isolamento”, explica o professor. Ele relata que tem sido muito comum as pessoas se queixarem de que estão mais cansadas ou com a sensação de que estão trabalhando demais. “Estamos em casa há dois meses e parece que estamos trabalhando mais do que nunca”.
Para o professor do IP, uma das maneiras de tentar proteger a saúde mental é entendendo os próprios limites. “Vai ter um dia que você não vai conseguir fazer nada, um dia que você não vai conseguir entrar na reunião ou escrever um texto”, explica, lembrando que as pessoas tendem a se culpar por oscilações de comportamento pelas quais não são responsáveis.
A professora Maria Cavalcanti concorda com o colega e acha que há ricos em uma auto cobrança por produtividade, mesmo em momentos que não estão associados ao trabalho. “Pensamos em cursos, em começar projetos pendentes e até mesmo na hora do lazer, estamos nos cobrando para estar assistindo essa ou aquela live. Parece outro vírus que pegou a gente, o da necessidade de ser produtivo”.

DICAS
A melhor forma de manter a saúde mental em tempos insanos é manter contato com pessoas queridas. “E como estamos em regime de distanciamento, a opção é aproveitar a tecnologia para fazer esse contato”, explica a professora Maria Cavalcanti. “Não é o ideal porque a gente sente falta do contato físico, do olhar, do abraço, beijo, mas é o que a gente pode fazer. Os afetos sustentam a gente. O ser humano é gregário, a gente precisa do outro, precisa ter contato com o outro. E a rede social amplia isso tudo”.
O professor Pedro Bicalho defende que o contato com pessoas queridas pode ser também uma oportunidade para procurar algum amparo emocional. “Precisamos fortalecer nossas redes de afeto, nossos vínculos sociais. Isso é fundamental. Precisamos compartilhar as angústias, as dificuldades, dizer para o outro que está difícil”, explicou. “É fundamental fazer isso para que a gente possa sobreviver e ter a certeza de que vai passar. O isolamento social é uma estratégia de sobrevivência, é importante manter esses vínculos, e reinventar os aniversários, encontros, fins de semana”.
Mas os dois professores alertam para alguns riscos na hora de buscar por diversão, especialmente no uso de álcool ou outras drogas, seja para lazer, seja para tentar lidar com a angústia e a ansiedade. “Até por conta da limitação das opções de lazer, há um risco muito grande de as pessoas abusarem do consumo de álcool”, alertou o professor Bicalho. “Claro que pode beber, mas com moderação. O que não pode é colocar isso na rotina” explicou a professora Cavalcanti.

SERVIÇO
A UFRJ tem uma divisão para atender funcionários da universidade que estejam passando por transtornos ou angústias psicossociais. Durante o período de isolamento, o acolhimento inicial está sendo feito por e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.. Não tenha medo de pedir ajuda.

 

ENTREVISTA: ERIMALDO NICACIO
Professor de Psicologia e de saúde mental da Escola de Serviço Social da UFRJ

A FADIGA DA CONEXÃO PERMANENTE

03aWEB menor11301O trabalho em home office pode ser um agravante das angústias proporcionadas pelo confinamento?
Neste contexto de pandemia, a fronteira entre casa e trabalho se desfez, o espaço se comprimiu e se reduziu à nossa casa. Somos mais do que nunca obrigados a ficar conectados. E isso produz fadiga mental, distúrbios de sono, esquecimentos.Não está sendo fácil para os casais terem que trabalhar, cuidar das crianças e acompanhá-las nos estudos. Há uma sobrecarga, que muitas vezes recai sobre a mulher. É uma situação particularmente ansiogênica.

 As crianças exigem algum tipo de cuidado especial?
É essencial conversar com as crianças abertamente sobre o que está sendo vivido.  É preciso estimulá-las a expressar seus sentimentos acerca do que está acontecendo, tranquilizando-as sobre a situação. Além disso, é importante ajudá-las no estabelecimento de suas rotinas. Mas atenção, sabendo que as combinações e rotinas vão fracassar com frequência. E é preciso aceitar isso.

09WEB menor1130Assessoria a prefeituras do Norte Fluminense, estudo de cenários epidemiológicos, treinamento de profissionais, apoio aos mais vulneráveis e divulgação correta de informações. A UFRJ Macaé mostra sua força e atua, com sucesso, em diversas frentes contra a pandemia.
O Grupo de Trabalho Covid-19 UFRJ Macaé mobiliza 23 subgrupos. A estrutura é multidisciplinar e horizontal. “É um processo muito dinâmico, que todo dia se atualiza, seja pela chegada de novas informações científicas, seja por novas parcerias criadas pelos pesquisadores”, diz o professor Leonardo Moreira, um dos integrantes da rede. Mais de cem docentes desenvolvem projetos voltados para a crise. O número representa cerca de 25% do quadro total.
“Nesse momento de emergência, quem não sabe o que está acontecendo não consegue fazer políticas públicas”, avalia Kathleen Tereza da Cruz, professora do curso de Medicina e coordenadora do GT. O foco, explica a docente, é subsidiar a tomada de decisão dos gestores com consistente base científica. As prefeituras de Macaé, Rio das Ostras e Quissamã entenderam a mensagem e estão alinhadas com a universidade e as diretrizes das autoridades sanitárias interancionais.
Um exemplo está na análise dos pesquisadores Bernardo Tavares e Habib Montoya, publicada na página eletrônica da universidade, desde o início de maio.  O estudo mostra o impacto dos decretos da prefeitura de Macaé, entre o final de março e início de abril, e indica o efeito positivo da opção pelo isolamento social, com “achatamento da curva” de infectados a partir de 21 de abril. Os cenários epidemiológicos para a pandemia em Rio das Ostras e Quissamã mostram resultados semelhantes
Uma das frentes trabalho do GT de Macaé é a construção de um painel online que aponte as principais tendências epidemiológicas dos municípios da região. O diferencial do projeto da universidade, segundo a coordenadora do GT, é a capacidade de análise por meio do cruzamento de informações. “Os painéis sobre a Covid-19 que encontramos hoje só mostram dados absolutos, por exemplo, número de internações ou de óbitos. Mas o que isso quer dizer para aquela cidade afinal? É muito, é pouco?”, questiona Kathleen.
Sala de Situação é o nome do painel de acompanhamento, que considera indicadores de saúde como mortalidade, incidência, números de casos confirmados, de óbitos, distribuição por bairros. O trabalho é realizado em parceria com o curso de Computação da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Rio das Ostras.
A ideia é que a plataforma atenda todas as cidades do Norte Fluminense. Mas isso depende da colaboração das prefeituras para fornecer os dados. “Muitos municípios não dão atenção à produção e análise das informações sobre saúde, limitando-se à prestação de contas obrigatórias por lei. Alguns não querem abrir os dados, outros nem têm”, observa.
 Até o momento, o projeto-piloto é Quissamã. O município foi o primeiro a assinar uma cooperação institucional com a universidade para enfrentamento do coronavírus. Além do painel, o acordo inclui um conjunto de ações em parceria para conjugar saúde e educação. E as equipes de profissionais de saúde que atuam na pandemia recebem especial atenção, desde a formação permanente para construção de protocolos que reduzam riscos de adoecimento, até teleacolhimento para cuidar da saúde mental.
 “Como orientar casos suspeitos, teleatendimentos, acompanhamento de profissionais de saúde afastados, critérios para alta. Tudo é construído a partir das realidades trazidas pelos gestores. Esse diálogo é bom para eles e para a universidade”, relata a coordenadora do GT. Para a docente, a pandemia confirmou o acerto da interiorização da universidade. “Nós moramos e trabalhamos aqui. Conhecemos toda a região. Certamente, isso permite à universidade outro nível de atuação no território”.    

Comunicação é tudo
09aWEB menor1130Aproximar a população da produção científica é outra trincheira da UFRJ contra a Covid-19. Além da desinformação, há uma preocupação especial com a disseminação de informações erradas. Cartilhas educativas foram produzidas.
Mas, para a diretora de extensão do Nupem, professora Mirella Pupo, o caminho deve ser mais criativo. Ela e outros três docentes “traduzem” artigos científicos publicados diariamente em revistas científicas, como a Nature, sobre a pandemia, para uma linguagem simples. O bastante para gerar um card, uma publicação curta e ilustrada, para ser difundida pelas redes sociais. Também participam da empreitada uma técnica-administrativa e dez estudantes. No Facebook, a proposta ganhou rapidamente dois mil seguidores.
 “Não é uma coisa simples, porque, além da tradução, fazemos toda uma discussão sobre o conteúdo com os alunos. Em geral, usamos mais de uma literatura para esgotar o tema e não repetir assunto. O trabalho gera certo atraso em relação às notícias do dia, mas vale a pena”, diz. “Se a comunidade científica não se atualizar na forma de comunicar, serão apenas cientistas falando para cientistas”, acredita.
Os cards trazem assuntos diversos relacionados à pandemia, como alcance e velocidade da propagação do vírus, eficácia de drogas, produtos para limpeza, tempo para manifestação de sintomas, entre outros. Os temas são escolhidos levando em conta o interesse da população. As máscaras, por exemplo, ganharam duas publicações, o que não é comum.

Pós-pandemia
O cuidado com os laboratórios mobiliza os pesquisadores. “Temos algo em torno de 60 pesquisas, sendo que pelo menos 20 delas utilizam modelos com animais diversos, como camundongos, peixes, mosquitos etc”, explica a diretora adjunta de Pesquisa do Nupem, Cintia Barros. As escalas nos laboratórios são orientadas pela administração da universidade para manter a segurança no espaço de confinamento. Laboratórios com equipamentos ópticos também recebem manutenção frequente. “Estamos muito perto do mar, o risco é de fungos”, explica a diretora. “Se todo esse material for perdido, o retorno às atividades ficará muito  mais comprometido”.

Quem mais precisa
Macaé mantém ativa uma rede própria de solidariedade aos mais vulneráveis. Sete ações de doações já foram articuladas pela comunidade desde o início da pandemia. Além de cestas básicas, as doações incluem itens extras como material de higiene pessoal, máscaras, álcool líquido e em gel. Em casos especiais, o pacote contém também material de proteção individual, leite, fraldas infantis e geriátricas.
O público-alvo atendido é composto por funcionários terceirizados da UFRJ, idosos de asilos próximos à universidade e estudantes com baixa renda familiar. O Nupem realiza ainda atividades educativas sobre prevenção. A ação é coordenada pelo professor Pedro Hollanda Carvalho (Nupem), com colaboração da Adufrj.

rochinhaProfessor Fernando Rochinha coordenou o GTRegular o funcionamento das atividades da UFRJ durante a pandemia, com autonomia e em cumprimento às leis vigentes. E mais importante: garantir direitos dos servidores e defender a vida. Este é o desafio que tem mobilizado um grupo de trabalho criado no Conselho Universitário com integrantes do próprio colegiado e das entidades representativas da instituição, entre elas a AdUFRJ.
Um Consuni extraordinário na próxima semana vai apreciar a proposta do GT, que se reúne na segunda-feira (dia 1º) para fazer os últimos retoques em um texto de resolução. Coordenador do grupo e representante dos Titulares do CT no colegiado, o professor Fernando Rochinha explica a opção: “Não era ideia ter uma portaria, que é um ato da administração central. Pensamos em ter uma resolução para dar conta da política maior da universidade”. Ele completa: “É uma resolução que formaliza o que está acontecendo hoje e nos prepara para a continuidade do enfrentamento da pandemia”.
A criação do GT ocorreu após a chuva de críticas de toda a universidade à portaria nº 3.188, considerada excessiva na aplicação das instruções normativas do Ministério da Economia para regulamentação do trabalho remoto.
Presidente da AdUFRJ e também integrante do GT, a professora Eleonora Ziller destacou que o documento foi resultado de um ambiente de “amplo diálogo construtivo”. E deu como exemplo a condução das atividades do grupo pelo professor Rochinha, que convidou mais representantes do Consuni para colaborar com a elaboração do texto. “Foram chamados justamente aqueles que mais falaram no conselho do dia 28 (leia matéria na página 4)”, elogiou.
Para Eleonora, o princípio da resolução é o de que a universidade, por ser muito grande, é também muito diversa e muito complexa na sua organização. “Não dá para fazer um detalhamento, pois esse foi o problema da antiga portaria”, disse. Por enquanto, informa a diretora da AdUFRJ, o grande “nó” é encontrar a melhor forma para dar conta de toda heterogeneidade da UFRJ.  
A proposta estava dividida em três partes, até a última versão obtida pela reportagem: exposição de motivos, considerandos e resolução propriamente dita.

De imediato, a exposição de motivos, de cinco páginas, destaca a autonomia universitária, o Regime Jurídico Único dos servidores e a lei de emergência de saúde pública para considerar que todos os servidores estão em efetivo exercício. A situação é reforçada no início da resolução.

“Devemos considerar que os servidores, docentes e técnico-administrativos, estão em efetivo exercício, muitos em atividades necessariamente presenciais nos campi da UFRJ e, outros, em atividades no local onde estão obedecendo ao isolamento social”.


O que é atividade necessariamente presencial? A resolução explica, também sem entrar em detalhes, diante da diversidade encontrada na UFRJ. Além do trabalho assistencial desenvolvido nos hospitais, também foram citadas no Consuni as preocupações com a conservação de acervos e da infraestrutura predial e acadêmica, como o maquinário de laboratórios e os biotérios.

(...) são serviços públicos indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da Comunidade (...)”

A resolução também busca preservar o direito daqueles que se encontram em situação mais vulnerável durante a pandemia. E lista as condições, como ter 60 anos ou mais, por exemplo.

“O servidor ou empregado público em atividade presencial que se enquadrar em alguma das condições abaixo poderá, se assim o desejar e se houver viabilidade, trabalhar na forma não presencial:”

Há o reconhecimento de práticas importantes durante a pandemia: o trabalho intermitente e em horário flexível. O professor Rochinha dá o exemplo de funcionários da Prefeitura que podem não estar frequentando os campi todos os dias, mas podem fazer jornada dobrada quando vão.

Em caráter excepcional, ficam autorizados o trabalho não presencial, o trabalho intermitente e o trabalho em horário flexível,

Outra preocupação do texto foi garantir que não haja a necessidade de criação de novos planos de trabalho e preenchimento de relatórios em curto prazo de tempo, como previa a portaria nº 3.188, o que causou grande indignação na comunidade acadêmica. “Nós estamos dizendo que eles já existem“, explica o professor Rochinha.

O planejamento e execução do trabalho remoto serão desenvolvidos pelo servidores e empregados públicos, tendo em vista os planos de trabalho cadastrados no Programa de Avaliação de Desempenho (AVADES) e a resolução CONSUNI nº 08/2014.

Representante dos pós-graduandos no Consuni, Igor Alves destacou que o texto apresenta uma preocupação com os terceirizados da UFRJ, algo que não existia na portaria nº 3.188. “A proposta dá mais proteção aos trabalhadores”, disse.

“Caberá à Pró Reitoria de Gestão e Governança a orientação de procedimentos junto às empresas contratadas, que preservem e protejam a higidez e a saúde das trabalhadoras e dos trabalhadores terceirizados, (...)”

06WEB menor1130A Reunião do Conselho de Representantes da AdUFRJ foi uma importante mostra de como os professores estão mobilizados em torno do trabalho remoto e preocupados com a possibilidade de perdas salariais, a partir da Instrução Normativa 28, do Ministério da Economia. O assunto foi discutido virtualmente no dia 25. O encontro chegou a ter 56 docentes conectados simultaneamente.
A presidente da AdUFRJ, Eleonora Ziller, abriu a reunião lembrando que há boas notícias. “Começam a sair decisões judiciais favoráveis para a manutenção dos adicionais para quem está em trabalho remoto”, afirmou. Em Pernambuco, a Justiça suspendeu os efeitos dos parágrafos 4º e 5º da Instrução Normativa 28, que tratavam do corte de adicionais noturno, de insalubridade, periculosidade e radiação ionizante. A ação foi movida pelo Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Federais de Pernambuco (Sintufepe). Apesar da vitória, a decisão manteve o corte do vale-transporte.
A atividade deixou clara uma divisão entre os professores em relação à forma de se contrapor à reitoria no debate sobre o trabalho remoto. Enquanto a diretoria da AdUFRJ e um amplo grupo de docentes apostam no diálogo para construir uma saída que resguarde os direitos dos professores e a universidade, um grupo de oposição que se mantém organizado como coletivo, acredita que o confronto público pode garantir que não haja os cortes dos adicionais.
A posição foi explicitada em duas notas encaminhadas ao Conselho Universitário nos dias 14 e 20 de maio. “Apesar dos erros graves da reitoria – e achamos que a portaria foi um grande equívoco –, consideramos que a nossa atuação deve ser de diálogo. Nunca vi um coletivo de oposição tensionar, no Conselho Universitário, o posicionamento de seu sindicato”, criticou Eleonora Ziller. A professora Cleusa Santos, ex-presidente da AdUFRJ, afirmou que a intenção não era causar melindres. “Temos que trabalhar com as diferenças e elas aparecem nos espaços da universidade. Nosso papel como sindicato é defender aquilo que discutimos nos espaços do Andes”.
Entretanto, se havia diferenças quanto ao modo de abordagem do problema, estas não existiam quanto à avaliação do problema a ser enfrentado. Representantes de diferentes unidades acadêmicas foram unânimes na crítica à Portaria 3188 da reitoria, agora suspensa. “Houve críticas principalmente à forma como a portaria foi apresentada, sobretudo porque não tinha um calendário de trabalho”, afirmou o professor João Torres, do Instituto de Física. “Mas não houve uma proposta de boicote ao formulário, porque se entendeu que seria necessário prestar contas de alguma forma à sociedade”, disse.
O ensino remoto também foi um tema tratado no encontro da Física. O docente afirmou que seu instituto trabalha na perspectiva de “redução de danos”. “Não vai ser um cenário perfeito, nem bom, mas é melhor do que não fazer nada”, disse. “Pretendemos contribuir com a universidade nesse debate sobre ensino remoto emergencial”, concluiu o professor.
A professora Ana Lúcia Fernandes, da Faculdade de Educação, contou que a Congregação da Unidade enviou longo documento com considerações sobre trabalho remoto para a reitoria. Uma das sugestões – que acabou sendo acordada no Conselho Universitário do dia 20 – era que a regulamentação do tema acontecesse por meio de Resolução aprovada no colegiado máximo da universidade. Outro pedido era para que o trabalho remoto fosse considerado pela instituição como efetivo exercício, dado que ninguém está afastado de suas funções por vontade própria ou motivos pessoais. O terceiro ponto destacado pela conselheira, ainda sobre o documento, é um pedido de dispensa do preenchimento das autodeclarações.
Preocupações em relação ao Direito do Trabalho foram levantadas pela professora Luciana Boiteux, da Faculdade Nacional de Direito. A reunião da unidade expôs, segundo a docente, muitas dúvidas sobre o pós-pandemia. “A retomada das aulas precisa levar em conta a saúde dos professores. Levar em consideração o acúmulo de trabalho. Muitos relataram sobrecarga gerada pela pandemia”, afirmou.
Os professores do Instituto de Química sugeriram, em reunião da unidade, que a universidade utilizasse a divisão entre “trabalho essencial e trabalho não essencial”. “A pesquisa foi indicada como atividade essencial pelo próprio presidente. Isto poderia resolver a nossa questão”, observou o professor Rodrigo Bitzer.

Proposta do Sintufrj
A proposta de Resolução apresentada pelo Sintufrj ao Conselho Universitário também foi alvo de críticas. Os professores consideraram que ela mantém nomenclaturas que enquadram os professores e técnicos na Instrução Normativa 28. “O documento do Sintufrj precisa ser discutido criticamente e da forma mais ampla possível”, destacou o professor Renato Monteiro, da Nutrição.
Ficou decidido que os professores encaminhariam observações sobre trabalho remoto e avaliações do documento do Sintufrj para a diretoria da AdUFRJ, como forma de contribuir para o debate no GT de trabalho remoto, montado no Conselho Universitário. A AdUFRJ participa do GT, assim como as demais entidades representativas da universidade.
“O cenário ainda é muito turvo, mas precisamos nos debruçar sobre o problema. Precisamos proteger os professores e seus ganhos, mas também os professores que são gestores e a própria universidade”, afirmou a presidente Eleonora Ziller. Ela destacou que a saída adotada pela universidade não pode deixar a UFRJ isolada no cenário nacional. “É preciso acompanhar também o que está acontecendo nas outras universidades federais”.

Solidariedade contra o terror
A AdUFRJ reforça seu compromisso social na pandemia. Esta semana, a seção sindical doou R$ 2.495 para o Pré-Vestibular Popular Machado de Assis, do Morro da Providência. O recurso será utilizado para a compra de 50 cestas de higiene. A região foi alvo de operação da polícia no dia 21 de maio. A ação resultou no assassinato de Rodrigo Cerqueira, de 19 anos. Ele era um dos alunos voluntários que distribuía cestas quando foi atingido por um tiro e morreu no local.

DEPOIMENTO: ELEONORA ZILLER PRESIDENTE DA AdUFRJ

Conselho de Representantes, 25 de maio de 2020

Hoje vou abrir uma exceção e fazer uma fala um pouco mais longa e pessoal. Estou na universidade desde 1982. A primeira sessão do Conselho Universitário a que assisti foi em 1985, pelo Centro Acadêmico da Letras, para acompanhar a eleição do professor Horácio Macedo. Eu frequento o Consuni há muitos anos, fui por seis anos representante dos professores adjuntos e depois dos associados do CLA. Mas fui também da primeira bancada de técnicos-administrativos, e como tal vivi a frustração da nomeação do Vilhena como reitor, que foi um momento muito difícil para todos. Um momento de fratura interna muito complexo na UFRJ. Mas foi um momento de aprendizado, em que o Consuni não era só um espaço de debate político e deliberações, mas o local onde forjamos a unidade para o fortalecimento da universidade.
Quando aceitei ser presidente da AdUFRJ, foi para ajudar a superar um modus operandi de atuação fraturada do movimento docente, e conto com o apoio e a participação de toda diretoria nesse projeto. Já houve um tempo em que tivemos eleições com apenas 400 votantes, e que havia mais professores filiados ao SINTUFRJ do que à AdUFRJ. Por isso dissemos que iríamos fortalecer o Conselho de Representantes, para construir um espaço de diálogo e de troca, como estamos fazendo, pois chegamos a convocar reuniões semanais para enfrentar o início da pandemia.
Guedes diz que jogou uma granada no bolso do inimigo e o inimigo somos nós. UFF, UniRio e Rural tiveram cortes ou estão com o processo de cortes de benefícios encaminhados, para falarmos só do Rio de Janeiro. A UFRJ, por conta de sua unidade interna, está conseguindo manter os pagamentos até agora, com a não implantação dos códigos de trabalho remoto. Essa semana tivemos algumas boas notícias, com ações que estão pipocando e decisões judiciais favoráveis à manutenção dos benefícios em outros estados. AdUFRJ e Sintufrj entraram com ação conjunta inédita, e estamos aguardando os primeiros resultados.
Apesar dos erros graves da reitoria — e achamos que a portaria foi um grande equívoco —, consideramos que a nossa atuação deve ser sempre para construir o diálogo. A portaria finalmente foi suspensa e estamos preparando a Resolução a partir de um Grupo de Trabalho do Consuni.
Quando temos granadas no bolso e o inimigo é fascista, não nos resta outra possibilidade a não ser atuarmos de forma unitária. Minha bisavó foi morta em Auschwitz. Fui privada por 17 anos do convívio com meu avô, que foi para o exílio em 1964. Conheci aos 12 anos os relatos de meu tio, torturado pela ditadura em 1975. Eu conheço o meu inimigo.
A chapa “Ventos de Maio” deixou de existir quando ganhamos a eleição. A nossa meta é construir e consolidar o movimento docente e não representar apenas um segmento de professores. Com toda a pressão que a reitoria tem sofrido para implantar a política do governo, nós temos tido um diálogo de excepcional qualidade e a UFRJ é referência nacional sobre a forma de condução desse debate do trabalho remoto. O momento é de unificar e discutir como vamos caminhar juntos. E não deixar essa granada no nosso bolso estourar.

formatura ctFormatura na Escola Politécnica - Imagem: DivulgaçãoO Conselho de Ensino de Graduação reuniu-se por teleconferência esta semana para debater a possibilidade de a universidade oferecer remotamente disciplinas eletivas. Mas a complexidade do tema levou o colegiado a dar um passo atrás, e decidir por começar a construir uma proposta de oferta de disciplinas para alunos que estejam no último período dos seus cursos.
 O CEG vai entrar em contato com as coordenações de graduação de  todos os cursos para mapear a oferta de disciplinas que podem ser ministradas remotamente e o universo de estudantes concluintes.
A PR-1 espera ter o retorno do levantamento proposto já na semana que vem, para a próxima reunião ordinária do CEG.
A pró-reitora de Graduação, Gisele Viana Pires, explicou que a proposta surgiu para
atender a dezenas de pedidos que a pró-reitoria tem recebido de alunos e pais de alunos. Preocupados com as incertezas provocadas pela pandemia, eles pedem que as aulas remotas
sejam adotadas como maneira de manter o vínculo com a universidade durante o período
de isolamento social. Ao mesmo tempo, desejam que as aulas contem para cumprir créditos de disciplinas eletivas durante a suspensão das atividades presenciais.
Mas a pró-reitora foi bem clara quanto às condições para que haja a oferta de aulas remotas. “As disciplinas só aconteceriam em caso de acordo mútuo entre o professor e o conjunto dos alunos, e a adesão ao curso será facultativa, não havendo qualquer prejuízo ao aluno que não aderir.”
A primeira grande questão a ser levantada sobre o tema veio dos representantes dos discentes, que manifestaram sua preocupação com o acesso de todos os alunos a meios e condições de ter aula remotamente. “Não somos contra essa possibilidade, mas a gente não pode fazer essa discussão longe do que significa as possibilidades das pessoas. A reitoria precisa ter uma proposta para  quem não tenha acesso possa ter”, disse a conselheira Antônia Veloso, do DCE da UFRJ. Foi o professor José Ricardo de Almeida França, do CCMN, o primeiro a manifestar preocupação com os alunos concluintes. Posição compartilhada por outros integrantes do colegiado.  “Muitos dos alunos que vão se formar em 2020 precisam cumprir ainda disciplinas eletivas e obrigatórias”, falou. A preocupação com a adaptação da metodologia de ensino também foi um dos assuntos abordados.
Alguns conselheiros lembraram que não há uma previsão de volta à normalidade, e que portanto a universidade deve começar a pensar em novas possibilidades. “Estamos diante de um cenário de enorme incerteza estrutural provocada pela pandemia”, lembrou o professor Eduardo Costa Pinto, do CCJE

Topo