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WEB menorP4SacraVoxDiante da pandemia, professores e alunos da UFRJ não ficaram paralisados e foram encontrar na arte caminhos para promover uma integração entre si, e ao mesmo tempo aproximar a universidade da sociedade, sem deixar de respeitar o isolamento social. São iniciativas ligadas à música e à dança, que mostram que o potencial criativo da arte pode ser uma ferramenta poderosa de estímulo durante um período tão difícil.
A Escola de Música se prepara para lançar ainda no começo de maio o projeto “A Escola de Música daqui de casa”, onde professores vão produzir vídeos curtos, de 3 a 6 minutos, com apresentações suas, pequenas palestras, lições ou dicas. Os vídeos serão escolhidos por uma comissão formada pela direção da escola, que vai determinar critérios de áudio, som e identidade que os vídeos devem ter.
“A ideia é dar visibilidade a todo trabalho artístico e acadêmico que é feito na Escola de Música”, explicou o diretor Ronal Silveira. “As pessoas pensam que os setores administrativos não estão funcionando, mas estamos trabalhando como nunca. O aluno tem condição de saber, mas a sociedade não sabe. A vida artística permanece, ela só mudou de perfil, e é importante que a sociedade entenda a importância da universidade” defendeu  o professor.
Silveira ressalta, ainda, que a iniciativa do projeto foi coletiva, e que coube à direção da Escola oferecer suporte para que a ideia pudesse ser colocada em prática. O diretor conta também que os professores foram estimulados a fazer atividades extracurriculares remotas com seus alunos. Para o docente, o momento trouxe perspectivas positivas. “A ideia é que essas iniciativas não acabem junto com a quarentena, mas permaneçam indefinidamente”, explicou.
Ainda na Música, o coral “Sacra Vox”, um projeto de extensão dirigido pela professora Valéria Matos, preparou ações para dar visibilidade ao grupo durante o período de isolamento. O “Estação Sacra Vox” pretende aproximar o público do coral através das redes sociais. “Queremos compartilhar com toda a comunidade os frutos das nossas ações artísticas e pesquisas acadêmicas”, explicou a professora.
No período, o grupo também vai lançar apresentações em vídeo do coral, produzidos respeitando o isolamento social. Cada um dos cantores grava a sua participação, os vídeos são reunidos e sincronizados. Utilizando como base o áudio da gravação do último CD do grupo, o resultado fica muito próximo de um videoclipe. “A gente optou por isso para poder preservar a qualidade do nosso produto, que é a música”, contou Miriã Valeriano, assistente de direção coral e produtora do vídeo.
WEB menorP4DNa Faculdade de Educação, um movimento feito para pensar a própria faculdade em tempos de pandemia estimulou a professora Silvia Soter, do curso de Licenciatura em Dança, a resgatar um antigo projeto seu, o “Corpo aceso”. “Criei esse trabalho há 10 anos, como um trabalho de consciência corporal, feito para ativar as nossas percepções”, explicou. Agora ela disponibilizou os vídeos com as lições na internet. “As práticas nos ajudam a entrar em contato com as sensações, assimetrias  e detalhes do nosso corpo, o que nos ajuda a enfrentar vários desafios neste momento, como o de estar confinados em casa”.
Criado há dez anos, o grupo de pesquisa e extensão Imagem, Texto e Educação Contemporânea (ITEC/LISE) busca articular as transformações culturais do nosso tempo com o trabalho educacional escolar, através de oficinas, ações nas escolas, cursos de extensão e diversos experimentos didáticos e artísticos. Com a pandemia, o grupo, coordenado pelas professoras Angela Santi e Aline Monteiro, vem realizando ações que convidam todos os interessados a compartilharem experiências e descobertas deste período de quarentena. Uma delas é o “Percebendo Perspectivas”, em que as pessoas são chamadas a refletir sobre o contato com elementos da casa que não eram percebidos antes do confinamento – ou pelo menos não com a intensidade de agora. WEB menorP4A
“Estava nos incomodando a sensação de que a pandemia tinha nos arrancado da rotina das nossas vidas. A quarentena vinha com uma sensação de falta, de perda, de anulação, de angústia”, afirma Angela. “Começamos a pensar maneiras de nos apropriarmos desta situação de uma forma mais potente. São experiências estéticas na contramão da lógica do mundo contemporâneo, capitalista, produtivista”, completa.(colaborou Kelvin Melo)

Screenshot 15As ciências biomédicas não são as únicas que têm algo a dizer sobre a Covid-19. Uma pequena amostra do potencial da interdisciplinaridade para compreender o fenômeno foi o seminário “O que a história ensina (e não aprendemos) com as pandemias?”, promovido pelo Instituto Nutes de Educação em Ciências e Saúde, na quarta-feira (15). A sala virtual, com cem lugares, ficou lotada. Outras 150 pessoas chegaram a solicitar participação. O debate pode ser resgatado pelas redes sociais do Instituto (https://bit.ly/3cD533f).
“Se você pensar que o lavabo surge na arquitetura para que as pessoas tivessem um lugar perto da porta para lavar as mãos, temos a dimensão da importância dos diferentes conhecimentos para entender os sentidos de uma pandemia”, argumentou Isabel Martins, uma das pesquisadoras do Instituto, em referência à gripe espanhola, de 1918.
Coube aos historiadores Claudio Bertolli (UNESP) e Heloisa Starling (UFMG) segurar a audiência plena até o fim do evento. Missão desempenhada com louvor.
A maior pandemia do século 20, que levou à morte 50 milhões de pessoas no mundo, foi o fio condutor da troca de ideias. “A gente sempre pode colocar perguntas ao passado. Não para repetir as respostas, mas para termos boas ideias para o presente”, afirmou Heloisa Starling.
Pesquisadora sobre a gripe espanhola em Belo Horizonte, Heloisa destacou algumas semelhanças com a pandemia atual.  “Havia uma ideia de que a doença não chegaria”, descreveu. “Os jornais e governos tentaram minimizar o problema. Até que não houve mais jeito”. As reações à determinação do isolamento como medida sanitária também são lembradas: “Bares e restaurantes foram fechados e o transporte de bondes elétricos, desinfetados diariamente. As aulas foram suspensas, inclusive nas quatro faculdades que iriam formar a atual UFMG. E os comerciantes reclamaram demais”.
A solidariedade permite outro paralelo. Entre os exemplos citados pela historiadora está a transformação da Faculdade de Medicina em local para atendimento ao público mais vulnerável, com alistamento de professores e estudantes. Outro, nas redes de doações, impulsionadas, à época, pela igreja católica e associações como as de imigrantes. “O tempo de peste é um tempo de solidão forçada, mas também de compaixão”, avaliou a docente.
Autor da primeira tese sobre a gripe espanhola, no Brasil (publicada em 1986), o historiador Claudio Bertolli, apresentou mais analogias. Além do discurso de desqualificação da doença, como “gripezinha”, o pesquisador apontou para um bis da narrativa do “inimigo externo”. “Em outras pandemias, os ‘culpados’ foram os espartanos, judeus, alemães. Hoje são os chineses”, exemplificou. “Os idosos viraram fonte de horror público, passando rapidamente de vítimas a disseminadores preferenciais”, criticou ainda sobre novos estigmas.
A oposição entre o discurso científico e a cultura popular foi outro aspecto abordado por pelo professor da Unesp. “Desde meados do século XIX, com o positivismo, a Ciência se apresentou como a grande comandante do progresso não só material, mas intelectual e espiritual”, disse o historiador.

WEB menor 1125 p6bAdUFRJ doou 100 cestas básicas para terceirizados e alunos do CAp - Foto: Alessandro CostaAjuda aos mais vulneráveis, aparelhamento dos hospitais da universidade e apoio à pesquisa. Desde o início da pandemia, a AdUFRJ busca atuar em todas as frentes de combate ao novo coronavírus. E sempre com o compromisso de operar em conjunto com iniciativas que já estejam em andamento.  “Nós não temos uma campanha só nossa. Temos uma proposta de ação articulada com todas as campanhas”, resume a presidente da associação docente, professora Eleonora Ziller.
Uma das mais recentes doações da AdUFRJ foi para o Laboratório de Virologia Molecular, vinculado ao Instituto de Biologia. O espaço tem se destacado no Rio de Janeiro com a realização dos testes mais precisos para detecção do vírus. São R$ 25 mil em luvas, agulhas para coleta, tubos para sangue e soro e máscaras cirúrgicas. A entrega ocorreu nesta sexta (24). “Estamos contribuindo para que eles possam manter o trabalho no nível mais alto que puderem”, destaca o professor Felipe Rosa, vice-presidente da associação.
Também nesta sexta (24), foram distribuídas 100 cestas básicas para funcionários terceirizados e famílias de alunos carentes do Colégio de Aplicação. Marcelo Campello, docente do Setor de Geografia do CAp, que participou da distribuição, destacou que a iniciativa para arrecadação de cestas partiu de vários colegas . “Essa corrente pensou não só nos trabalhadores, mas em seus familiares. A gente agradece muito ao sindicato”, disse. Também docente da Geografia, Rafael Arosa reforçou a importância da ajuda para os estudantes: “Temos cada vez mais alunos de famílias de origem popular, que passam por dificuldades maiores durante a pandemia. O perfil do alunado do CAp mudou bastante”, observou.
A solidariedade não para por aí. A diretoria já definiu que vai apoiar o IPPMG com uma grande compra de máscaras e capotes. A doação, estimada em R$ 100 mil, poderá garantir a proteção dos profissionais de saúde da unidade por dois meses.
As ações de maior porte também convivem com pequenos movimentos de ajuda. A AdUFRJ colaborou com o transporte de materiais de limpeza para um grupo de estudantes moradores da Vila Residencial, área do Fundão que sofreu enchentes recentes. A Associação dos Pós-graduandos (APG) já havia comprado os itens. “E o DCE fez um movimento lindo de arrecadação de cestas básicas e agora vamos entrar com a logística para distribuição”, reforça Eleonora. “Às vezes, são iniciativas ótimas, que envolvem muita gente e muitas doações, e falta pouco pra dar certo”.
O próximo passo é organizar toda essa rede de solidariedade pelo recém-criado Fórum das entidades da UFRJ, o Formas: “A AdUFRJ e o Sintufrj têm recursos. As entidades estudantis e a ATTUFRJ têm muita capacidade de mobilização entre os mais vulneráveis. Essa junção é importantíssima”, completa Eleonora

WEB menor 1125 p4Arquivo Biblioteca NacionalPara professores do Instituto de História da UFRJ, a resposta é não. Embora sejam capazes de mexer com a economia e com a vida da população, crises sanitárias, na visão dos historiadores, não têm força para alterar estruturas políticas.
O Brasil de 1918 vivia a República Velha. O poder girava em torno das oligarquias do Sudeste, com alteranância entre São Paulo e Minas Gerais. O presidente Rodrigues Alves se preparava para assumir novo mandato na Presidência da República. Mas a gripe espanhola, que chegou nas terras brasileiras em setembro daquele ano, mudaria os rumos da política nacional. O presidente adoeceu em novembro. O vice, Delfim Moreira, assumiu seu lugar até que Rodrigues Alves pudesse retomar suas atividades. Mas a gripe matou Alves em janeiro de 1919. Novas eleições foram convocadas e Epitácio Pessoa venceu o pleito.
Apesar das peças mexidas no xadrez político nacional, historiadores consideram pequeno ou nulo o impacto da pandemia de 1918 na cena política brasileira. “O que podemos tirar de mais expressivo foi a eleição de Epitácio Pessoa, que era nordestino e, portanto, de fora do eixo Sudeste. Era esta a alternância de poder colocada até então”, pontua a professora Andréa Casa Nova, do Instituto de História da UFRJ.
Outros setores sociais, da classe média e populares, começam a disputar maior presença na cena nacional. Houve algumas greves, como a dos coveiros, por melhores condições de trabalho e salário. Depois de 1918 e toda a década de 20 que se seguiu, houve movimentações de trabalhadores exigindo mais espaço e representação política. “Mas não podemos afirmar que isto é consequência da gripe espanhola. O início da crise da Primeira República coincide com a gripe, mas também com o fim da Primeira Guerra, que é um acontecimento que mexe efetivamente com as estruturas políticas em todo o mundo”, explica Casa Nova.
O historiador Carlos Fico, também professor do IH e especialista em Brasil República, é mais taxativo. “Não houve uma mudança significativa do campo político. O sistema se manteve exatamente igual na República Velha”, afirma.
Para Fico, a crise sanitária que foi capaz de trazer à cena política novos atores foi a Revolta da Vacina, anos antes, em 1904. “Curiosamente, Rodrigues Alves era o presidente à época. Naquele contexto havia uma crise política colocada. Havia uma tentativa de golpe militar. A revolta popular foi usada politicamente e nós temos grande destaque de figuras do campo científico e da saúde. Em 1918 não houve essa efervescência”, compara o historiador.
O professor Marcos Bretas, também do IH-UFRJ, concorda com o colega. “Não houve uma transformação das relações de poder. Como não acho que vá acontecer agora”, afirma. “Uma crise sanitária não é capaz de mudar estruturas políticas”, destaca.
Ele acredita que a gripe espanhola gerou impacto menor para o país, se comparada à atual pandemia do novo coronavírus. “Vivemos uma pandemia no mesmo momento de uma crise política”, justifica. “A universidade, que estava sendo atacada e desacreditada, passa a ter centralidade no debate e nas medidas de enfrentamento à doença. Mas, todo esse protagonismo não é capaz de mudar o discurso do governo”, analisa o historiador.
Ele também compara o papel político da comunidade científica em relação à gripe espanhola e em relação à Revolta da Vacina. “Em 1918, não havia uma solução, como uma vacina ou um remédio. Os embates na comunidade científica foram, portanto, menos evidentes que na ocasião da Revolta da Vacina. Em 1904, todo aquele caldo foi usado contra o presidente da República. Algo que não aconteceu em 1918”.
Se epidemias do passado não mudaram estruturas políticas, eles tampouco acreditam que a atual crise sanitária poderá ser capaz de modificar a rota do país. “Diante de episódios muito trágicos, há uma congregação no imaginário social de que é necessária uma nova forma de viver. A sociedade passa a afirmar que tudo vai ser diferente. Mas, não é verdade”, defende Carlos Fico.
A crise econômica e social gerada a partir da pandemia, ele acredita, não trará mudanças estruturais. Nem à esquerda, nem mais à direita. “Estamos diante de um governo que é uma mistura explosiva de despreparo e autoritarismo”, diz o docente.
Apesar da tendência autoritária, Fico não acredita em golpe do governo Bolsonaro. “A sociedade tem condições de reagir. Por outro lado, também não haverá maior solidariedade”.
A professora Andréa Casa Nova também não acredita em rupturas no Brasil, mas está reticente em relação ao mundo. “Eu acho que no nosso caso atual não vai mudar nada”. E acrescenta: “Não dá para dizermos o que será, mas se olharmos para as experiências do passado, vemos após a gripe espanhola e o fim da Primeira Guerra a ascensão de governos nacionalistas, fascistas. Vemos o nazismo”, lembra. “Ao invés de as mortes – pela guerra e pela gripe – indicarem um caminho de solidariedade entre os povos, o que aconteceu foi a ascensão do autoritarismo”, finaliza a docente.

WEB menor 1125 p5Foto: ReproduçãoNão é de hoje que os professores, médicos e alunos da UFRJ enfrentam uma pandemia. Há mais de 100 anos, a Faculdade de Medicina desempenhou importante papel no combate à gripe espanhola.  
“As grandes lideranças médicas desse momento, lembrando que o Rio era a capital federal, eram da Faculdade”, afirma Gisele Sanglard, historiadora e coordenadora da Pós-Graduação em Historia das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.
“Sem a faculdade, haveria uma maior mortandade. Em termos de assistência, os professores e alunos foram fundamentais no enfrentamento da gripe espanhola”, acrescenta o professor Antônio Braga, da Maternidade-Escola da UFRJ e ex-presidente da Sociedade Brasileira de História da Medicina.
Braga alerta que, antes de 1808, quando foi autorizado o curso médico no Brasil, os tratamentos de saúde eram feitos por boticários, que eram farmacêuticos de formação própria, e cirurgiões-barbeiros. Profissionais que, além de cortar o cabelo e de fazer a barba, praticavam a pequena cirurgia da época, isto é, sangrar e aplicar sanguessugas nas feridas.
Claro que a faculdade daquele tempo — que nem fazia parte da universidade ainda — era uma instituição bem diferente dos dias atuais. O curso, com seis anos de duração, funcionava nas dependências da Santa Casa de Misericórdia, no Centro da cidade.
“A Santa Casa de Misericórdia era o maior hospital voltado para os pobres. Era o único que atendia qualquer pessoa. E gratuitamente aos que não podiam pagar”, relata Gisele. A historiadora da Fiocruz chama atenção para um fato anterior à pandemia e que seria determinante para a criação dos hospitais de campanha da época por Carlos Chagas, formado pela Faculdade de Medicina. “A Misericórdia já estava lotada. É como hoje, onde já está se vendo o esgotamento do sistema de saúde”, diz.
Mesmo contando todos os hospitais da Santa Casa — existiam outras unidades fora da Rua Santa Luzia —, estima-se que existiam em torno de 900 leitos para uma cidade com quase 1 milhão de habitantes. “Aonde você fosse no Rio de Janeiro, os maiores cargos eram exercidos por professores da Faculdade de Medicina”, informa Gisele. A única exceção seria a Policlínica Geral do Rio. “E os alunos também se engajaram no tratamento dos doentes. E se voluntariavam nas outras unidades de saúde”, acrescenta.

CONTEXTO
Até a deflagração da epidemia, só existiam outras seis faculdades de Medicina em todo o país: a de Salvador (Bahia), duas no Paraná, a do Instituto Hahnemanniano (fundada em 1912, que se tornará a Escola de Medicina e Cirurgia da UniRio), a de São Paulo, e a de Minas Gerais.
Mas nenhum lugar do mundo estava preparado para algo como a gripe espanhola. Mesmo o qualificado corpo docente da faculdade do Rio, “composto, em sua maioria, por médicos nacionais, advindos das principais Faculdades de Medicina do país, localizadas no Rio de Janeiro e em Salvador”, informa a historiadora Caroline Pritsivelis, mestre em Saúde Perinatal pela Maternidade Escola da UFRJ. “A despeito do currículo do curso de Medicina no início do século passado contar com disciplinas de Microbiologia e Higiene, esses conhecimentos ainda eram muito incipientes”, completa Caroline.
A faculdade sequer contava com um periódico próprio. O principal jornal da área no Brasil era o “Brazil-Médico”, criado pelo grupo da Policlínica Geral do Rio de Janeiro. “A pesquisa na época era muito rudimentar”, explica o professor Braga.

DEPOIS DA PANDEMIA
Para Gisele, uma das consequências pós-pandemia de 1918 é a vitória do discurso de que a saúde pública não poderia ser apenas uma preocupação de governantes locais. “Não adiantava o federalismo trazido pela Constituição de 1891. De modo geral, a saúde pública sempre foi uma questão estratégica dos governos centrais”, avalia a pesquisadora da Fiocruz.
Outro desdobramento, para a historiadora da Fiocruz, é um movimento muito grande pela criação de faculdades de Medicina. “Você precisa desse espaço, que não é só da prática médica, mas de espaço de reflexão do conhecimento médico, que se reflete na prática”.
O professor Antônio Braga segue a mesma linha da pesquisadora da Fiocruz: “Nós não tínhamos no Brasil um Ministério da Saúde. Nossos políticos percebem que é importante ter um Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), que foi chefiado por Carlos Chagas, e seria o embrião do ministério”.
Para Braga, o grande legado da Covid-19 para o Brasil é o mesmo da gripe espanhola: necessidade de valorização da saúde pública. “E isso, hoje, é valorizar o Sistema Único de Saúde (SUS)”.

DE ESCOLA DE CIRURGIA À UNIVERSIDADE DO BRASIL

Durante o período colonial, as universidades eram proibidas no Brasil. Uma das razões era a tentativa de impedir a circulação de ideias que pudessem conduzir à independência. Uma situação que muda radicalmente com a chegada da corte portuguesa, fugindo de Napoleão.
O curso médico no Rio de Janeiro foi inaugurado como Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica, em 1808. Sua sede inaugural foi o Hospital Real Militar e Ultramar que funcionava no Morro do Castelo. Em 1º de abril de 1813, uma série de reformas modifica não apenas o nome da Instituição, agora Academia Médico-Cirúrgica do Rio de Janeiro, mas amplia as instalações do curso, que passam a contar com três salas na Santa Casa da Misericórdia. D. Pedro II, em 1854, inaugura o Pavilhão Novo, com 11 novas enfermarias. A melhoria estimulou a mudança da Direção da Faculdade de Medicina, em 1856, para o prédio do Recolhimento de Órfãs da Irmandade da Misericórdia, vizinho ao Hospital Geral.
Sob um regime didático mais organizado, em melhoradas instalações, não tardaram a surgir conflitos entre a direção da Misericórdia e a Faculdade de Medicina. O que se agravou com a vinda das irmãs vicentinas, em 1852, com funções não apenas administrativas, como também técnicas, para as quais não tinham a mínima formação. Isso não agradava aos professores, muito menos aos alunos, que eram permanentemente tolhidos em seu processo de aprendizagem.
A falta de acordo entre a Provedoria da Irmandade da Misericórdia e a Congregação da Faculdade de Medicina, desde os meados do século XIX, provocava a necessidade de construção de uma sede independente para o curso.
O local escolhido para a empreitada seria um terreno pertencente à própria Santa Casa, na vizinhança do Hospício de Pedro II (atual Palácio Universitário, no campus da Praia Vermelha). Em 12 de outubro de 1918, foi inaugurado o prédio para abrigar a já centenária escola médica do Rio de Janeiro, na Praia Vermelha. Estavam presentes o Presidente da República Wenceslau Braz e altas autoridades da Administração Pública.
A Faculdade de Medicina funcionou como escola isolada até 7 de setembro de 1920, quando foi criada, por Decreto, a Universidade. Em 1965, a Universidade do Brasil passou a ser denominada Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, em 1973, foi determinada a transferência da Faculdade de Medicina para o Campus da Cidade Universitária, na Ilha do Fundão, onde se encontra atualmente. (com informações do professor Antônio Braga, da historiadora Caroline Pritsivelis e do site da Faculdade)

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