Os dias escaldantes do verão são a metáfora precisa para o aquecimento da temperatura política neste início de ano. Mas há muitas indagações sobre o que poderá acontecer
Da Redação
Oimenso saguão da Central do Brasil foi tomado por pelo menos 200 pessoas que protestavam contra o aumento das tarifas de ônibus e trens. O grupo promoveu ação inédita até aqui na história das recentes manifestações. Pulou as roletas que dão acesso às plataformas de embarque, o que estimulou centenas de passageiros a fazerem o mesmo, num espaço de tempo que durou cerca de 50 minutos. Na quinta-feira 30 o prefeito anunciou o reajuste das passagens de ônibus (com maquiagem de expansão do passe livre) que, se for mantido, passa a valer no dia 8 de fevereiro.
As manifestações – que marcaram o junho de 2013 – começam a recrudescer no Rio, São Paulo e outras cidades neste início de 2014, ano de Copa e de eleições (presidenciais, para governadores, Câmara e renovação de um terço do Senado). Nenhum dos problemas reclamados nos levantes do ano passado foi resolvido. Nada mudou e parece não haver dúvidas de que o ano será de intensa atividade nas ruas. Mas há muitas indagações sobre o que poderá acontecer.
Os dias escaldantes do verão são a metáfora precisa para o aquecimento da temperatura política neste início de ano. E os governos fazem a sua parte pondo gasolina no fogo como agentes determinantes num cenário devastador. A violenta repressão policial que recrudesce nas primeiras manifestações do ano (em São Paulo, Fabrício, de 22 anos, levou dois tiros de PMs durante protesto contra a Copa) fabrica mais indignação. O reajuste das tarifas de ônibus e trens (neste caso, ainda sem data) no Rio de Janeiro expõe o escárnio de prefeito e governador à população. O sistema de transporte humilha milhares no dia a dia das grandes cidades.
Dinheiro para juros
Na saúde e na educação, as dificuldades se agudizam e empurram milhares ao desespero e à frustração. Os gastos públicos com a Copa do Mundo há muito ganharam a dimensão de escândalo. Os megaeventos se tornaram para muitas famílias sinônimo de remoções e incertezas. Na política econômica, pressionado pelos grandes grupos financeiros e pelo poder dos rentistas, o governo mostra-se fiel ao mercado, aumenta a taxa de juros e anuncia cortes para garantir o superávit primário (justamente o dinheiro para remunerar títulos do governo).
Essa política fiscal para atender a alta burguesia e seus representantes (bancos, fundos de investimento etc) é aplicada ao custo da redução de investimentos nas áreas essenciais vinculadas ao bem-estar da maioria da população. E nas cidades, outra novidade nefasta: o segregacionismo de jovens pobres da periferia nos shoppings do Rio e de São Paulo expressa o desprezo das elites e o pavor autista de setores da classe média das aglomerações das periferias. O caldeirão político começa a ferver.
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Em janeiro, pauta de reivindicações do funcionalismo foi protocolada no Ministério do Planejamento
Audiência com a ministra Miriam Belchior foi solicitada
A pauta composta pelos eixos da Campanha Salarial Unificada de 2014 dos Servidores Públicos Federais (SPF) foi protocolada no Ministério do Planejamento no último dia 24 pelas entidades que compõem o Fórum dos SPF. No documento, há uma solicitação de audiência com a ministra Miriam Belchior para este dia 5, data do ato público, em Brasília (DF), que marcará o lançamento nacional da iniciativa. O mote da mobilização é “Jogando juntos a gente conquista”.
Os servidores públicos federais iniciaram a Campanha Salarial nos estados dia 22 de janeiro. Foi uma forma de preparar o funcionalismo para os desafios que serão enfrentados neste ano. “Estamos começando a mobilização bem cedo e em meio às férias porque sabemos que o governo e a burguesia não dão trégua nos ataques à classe trabalhadora”, explica o dirigente da CSP-Conlutas Paulo Barela.
Algumas entidades já discutem possível greve
Outra importante atividade será a Reunião Ampliada do Fórum Nacional dos SPF, dia 7, para discutir a ampliação da mobilização e o indicativo de greve já sinalizado por algumas entidades.
A Campanha busca reeditar a organização da greve realizada pelos servidores em 2012. Neste sentido, o dirigente da CSP-Conlutas convocou a categoria a repetir o feito e ampliar a luta. “Vamos, na esteira das jornadas de junho de 2013, lutar pelas reivindicações de nossa pauta unificada, mas também por mais verbas para saúde, educação, transporte e moradia. Enquanto o governo de Dilma Rousseff (PT) abre as torneiras para a construção de estádios padrão Fifa, o povo trabalhador morre nas filas dos hospitais e nossas crianças têm de estudar em escolas precarizadas, sem a menor condição de funcionamento. Por isso, estamos exigindo serviços públicos e salários de acordo com o “padrão Fifa” de estádios, ou seja, de qualidade e que atenda às necessidades de nosso povo”, enfatizou. (Fontes: Andes-SN e CSP-Conlutas. Edição: Adufrj-SSind)
Confira os eixos da Campanha Salarial Unificada:
Na edição que circulou no final de janeiro de 2012, há precisamente dois anos, o Painel Adufrj comentava a nomeação de Aloizio Mercadante para o Ministério da Educação. A nota definia Mercadante como “uma espécie de curinga” entre os cardeais do PT, disponível para diferentes funções. O mesmo texto acertava na mosca. “O seu papel no Ministério da Educação é dar continuidade à orientação seguida pelo antecessor Fernando Haddad. Não há expectativa de mudança, portanto, quanto à alienação do MEC em relação a debates cruciais para a educação superior, como o da Carreira Docente – cuja condução foi entregue à órbita gerencialista do Ministério do Planejamento.” Mercadante, como se sabe, deixa o MEC para assumir a Casa Civil. Como ministro, foi, no mínimo, omisso na greve dos docentes de 2012 – categoria à qual pertenceu e na qual atuou como dirigente sindical na posição de vice-presidente da então Andes, em 1984. Será substituído por José Henrique Paim, secretário-executivo do MEC desde 2006, quando Haddad assumiu. Isso já diz tudo sobre o que esperar do novo ministro.
Capes e Copa
A Capes avisa a comunidade acadêmica que “evite” fazer solicitações ao Programa de Apoio a Eventos para palestras, congressos etc, durante o período da Copa do Mundo.
A recomendação se justifica, segundo a Capes, pelo preço elevado de hotéis e passagens aéreas nas cidades-sede.
Necessidades educacionais do povo jamais serão atendidas pelo mercado
Mais de dois mil docentes e técnicos desempregados e cerca de 13 mil estudantes sem universidade para concluir seus cursos superiores. Esse é um dos prejuízos que a organização dos professores da Universidade Gama Filho (UGF) e do Centro Universitário da Cidade (UniverCidade), do Rio de Janeiro, contabiliza com o descredenciamento anunciado pelo Ministério da Educação (MEC) no último dia 13.
Mobilizados desde 2012, os três segmentos universitários tentam, há dois anos, negociar com o ministério uma solução para a falência. Após o descredenciamento, o (por enquanto) ministro da Educação, Aloizio Mercadante, recusou a proposta dos reitores das universidades federais do Rio de federalizar as duas instituições. O MEC entende que a federalização é o mesmo que integrar no sistema federal público de educação estudantes sem vestibular e docentes e funcionários sem concurso público.
Tema precisa ser aprofundado
O Andes-SN tem denunciado há muito tempo o descalabro no qual tem sido transformado o ensino superior brasileiro, um dos países da América Latina com o menor percentual de jovens diplomados no ensino superior, com uma das menores inversões de recursos públicos em educação perante o Produto Interno Bruto (PIB), com uma das maiores taxas de privatização do ensino superior e, ainda assim, com transferências de recursos públicos para as empresas que exploram a educação como mercadoria. “A crise dessas duas universidades é mais uma prova de que a questão precisa ser enfrentada estruturalmente”, analisa o 1º vice-presidente do Sindicato Nacional, Luiz Henrique Schuch.
Para o dirigente, a responsabilidade daqueles que defendem a Educação pública é pautar esse debate em profundidade. “Além disso, é preciso denunciar o fato de as mantenedoras e as direções das universidades privadas utilizarem todos os meios, há mais de 20 anos, para impedir a organização dos docentes no Andes-SN, até mesmo com a demissão sumária de comissões provisórias ou toda a diretoria de seções sindicais que conseguiram se constituir, assunto que já resultou em denúncia por iniciativa do Andes-SN na Organização Internacional do Trabalho (OIT) e condenação por prática antissindical”, completa o 1º vice-presidente. (Fonte: Andes-SN. Edição: Adufrj-SSind).
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