“Eu não esperava que meu projeto fosse laureado, porque, em geral, os trabalhos têm uma aplicação mais imediata. E o meu é mais teórico”, argumenta Carolina, única mulher representante das Américas na edição 2019.
O projeto aclamado pela comunidade científica internacional envolve inteligência artificial. A cientista investiga se é possível prover energia elétrica sustentável e eficiente para pequenas comunidades isoladas com sistemas de microgeração inteligentes. O chamado microgrid é um sistema elétrico construído para produzir energia, como resume a pesquisadora. “No projeto proposto, considerei fonte eólica, solar, conjunto de baterias. Mas é preciso responder a algumas perguntas: por exemplo, se em dada região é viável instalar esse ‘grid’. Para isso, deve-se estudar a sazonalidade do passado, vento, radiação solar, clima, solo”, explica.
O conjunto de informações alimentará um algoritmo que o projeto propõe criar. “Ele vai receber esses dados que serão tratados e vai acoplar a algum método de tomada de decisão para refinar soluções”, diz.
A docente elenca algumas das possibilidades: “É possível, ao mesmo tempo, minimizar o custo da geração, a emissão de poluentes, maximizar as fontes de energia renováveis, descobrir qual o tamanho ótimo da bateria do meu sistema? Isso tudo a gente quer responder por meio desse novo algoritmo. Por isso, o projeto tem viés mais teórico”, sustenta.
EDUCAÇÃO PÚBLICA
A pesquisadora é um exemplo de como a educação pública pode transformar a vida de alguém. Natural de Minas Gerais, Carolina estudou numa escola pública estadual de Belo Horizonte. Cursou a graduação no Instituto Federal do Espírito Santo. Fez o mestrado e o doutorado no CEFET-MG. Ingressou no pós-doutorado do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação da Coppe, em 2018, e ficou sob orientação do professor Carlos Eduardo Pedreira. Em outubro do ano passado, tornou-se Bolsista Nota 10 da Faperj. “A educação pública pode mudar a vida de alguém. Mudou a minha! A oportunidade de estudar em instituições de ensino superior federal me fez enxergar um mundo diferente. Trouxe novas possibilidades”.
Carolina é a primeira de três irmãos. “Venho de uma família de poucas posses. O que meu pai e minha mãe nos proporcionaram de legado foi o estudo”, diz. Sua inspiração foi um “tio emprestado”, Almir Martins, professor de nas ciências biológicas da UFMG. “Quando eu era criança, as pessoas perguntavam o que eu queria ser quando crescer. Eu olhava e dizia que queria ser igual a ele: professor e cientista”, relembra.
Agora com a docência, ela se vê diante de um novo desafio. Talvez, o maior enfrentado até agora. “Ensinar e orientar não são tarefas triviais. Não é fácil. Como não foi fácil para meus orientadores me trazerem até aqui. Tenho muito carinho e admiração por eles, Paulo Almeida e Elizabeth Wanner, do CEFET-MG”, cita. “Você tem que ter independência enquanto aluno de doutorado. A pesquisa é uma tarefa muito solitária. Estamos diante de perguntas que não têm respostas. Ter alguém que nos diz ‘olha, caminha por ali’ faz toda a diferença”. Como toda boa cientista, a nova professora do Instituto de Matemática se move por perguntas. “Como eu, Carolina, vou conseguir conduzir pessoas tão bem como fui conduzida?”, questiona-se.
Segundo a pró-reitora da área, professora Denise Freire, “a instituição não tem uma política de inovação que deveria ter há, pelo menos, três anos. Diversas outras universidades já têm e é muito importante regulamentar”. A proposta da UFRJ busca adequar a legislação interna ao Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, instituído em 2016.
O texto sob consulta foi montado por um comitê de 18 pessoas de vários centros da instituição, com o objetivo de captar diferentes olhares sobre a inovação. O modelo seguido foi o de estabelecer os artigos de forma mais enxuta, que futuramente poderão ser detalhados. “Cada artigo dá margem para construir uma resolução específica. O compartilhamento de laboratórios, por exemplo, como vamos fazer? Será que é necessário?”, esclarece Roder.
Outro padrão a ser seguido seria o da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde toda a política de inovação já está completamente descrita. De acordo com a PR-2, a alternativa poderia atrasar ainda mais a aprovação da política da UFRJ. “Poderíamos ter críticas a pequenas partes do texto”, afirma a superintendente.
Após avaliação das sugestões recebidas, o material será enviado para discussão no Conselho Universitário. A expectativa é que isso ocorra ainda no primeiro semestre.
INTEGRAÇÃO
A integração é um dos destaques da nova política. A criação de um Conselho de Coordenação do Ecossistema de Inovação da UFRJ (CCI) é um dos projetos para 2020. O colegiado integraria as pró-reitorias de graduação, pós-graduação e pesquis e extensão, a Agência UFRJ de Inovação, o Parque Tecnológico, incubadoras e coordenadores de cada centro.
Coordenadora da Agência de Inovação, a professora Flávia Lima destaca que a nova política amplia as possibilidades de ação da universidade: “Nós tínhamos até então uma política de Propriedade Intelectual, que dava o suporte para a atuação da Agência, mas era restritiva e com o foco em patentear os resultados dos projetos de pesquisa”.
Para o diretor do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, professor Bruno Lourenço, somente com a integração do Ecossistema de Inovação a UFRJ poderá atingir plenamente seu potencial inovador. “A UFRJ já está entre as universidades mais inovadoras do Brasil. Entretanto, ainda há espaço para melhora e uma política institucional de inovação será fundamental para avançarmos nesta área”.
Uma resolução aprovada em 17 de dezembro pelo Conselho Superior de Coordenação Executiva – composto pela cúpula da administração central e os decanos –, agora apresenta tramitações específicas para cada pedido às fundações, como construções ou reformas prediais, pesquisas que demandem cuidados em relação à propriedade intelectual e até contratos de prestação de serviços pela UFRJ.
“Essa resolução complementa uma anterior e pretende agilizar a assinatura de contratos da universidade em conjunto com suas fundações de apoio”, declarou o vice-reitor Carlos Frederico Leão Rocha. “Nós pretendemos aumentar a atratividade da UFRJ em relação a recursos que vêm por intermédio das fundações e viabilizar políticas de cooperação com outras entidades, sejam empresas ou entes públicos, como a Finep e o CNPq”, disse o professor.
Para o diretor da Coppetec, Fernando Peregrino, a resolução é uma nova forma de recepcionar o dinheiro que vem de fora da universidade. “A UFRJ perdeu sua competitividade com o mercado. Se, antes, apenas a assinatura dos trâmites demorava cerca de três a seis meses para ser realizada, esperamos que a nova resolução torne esse processo mais ágil e reduza para até um mês”, afirmou o diretor do órgão.
Segundo Peregrino, só a Coppetec atende cerca de 450 convênios de 51 unidades acadêmicas por ano. Com a demora excessiva para assinatura de contratos, por exemplo, a universidade enfrentava problemas para manter pesquisas e receber investimentos externos.
Decano do Centro de Tecnologia, o professor Walter Suemitsu também destacou a necessidade da resolução. De acordo com ele, muitas empresas que procuravam os serviços da universidade reclamavam ou chegavam a desistir de projetos pela demora na assinatura de contratos. “Acredito que haverá menos burocracia, que os projetos serão assinados com maior rapidez. Isso será importante tanto para os laboratórios e unidades quanto para as empresas que procuram a UFRJ”, afirmou.
A nova versão do texto faz do empreendedorismo um dos eixos do programa e menciona as fundações de apoio como uma alternativa às organizações sociais para a execução das atividades previstas pelo Future-se. Também flexibiliza contratos e metas de acordo com cada instituição de ensino e abandona ideias como permitir que hospitais universitários cobrem pelo atendimento. O plano também passou a citar a “obediência à autonomia universitária”.
Para a presidente da AdUFRJ, professora Eleonora Ziller, a aparente razoabilidade da nova proposta esconde riscos. “O projeto é mais perigoso, porque ele tem uma razoabilidade aparente, e vai recuando e encontrando diálogos, e escutando setores das universidades que acham que a universidade deve abrir maisparcerias com a iniciativa privada”, explica. “Mas o Future-se é um projeto de destruição da universidade pública. O fundamento dele continua lá: a privatização e a desobrigação do Estado com as universidades.”
Outra mudança da proposta prevê que as universidades participantes do programa tenham prioridade na hora de receber bolsas da Capes, segundo o MEC, para dar mais “segurança jurídica” às instituiçõies de ensino e fundações de apoio.
“A Capes sempre atuou com autonomia e com critérios próprios”, afirma a presidente da AdUFRJ. “Vincular a distribuição de bolsas ao Future-se é subordinar a Capes a uma política do governo”.
Para reitora Denise Pires de Carvalho, o Future-se ainda não é claro quanto ao seu contrato. Ela entende que o debate deve ser feito de maneira mais ampla possível dentro da sociedade, a fim de garantir segurança para as universidades. “É hora de nos articularmos com o Congresso Nacional, fazer seminários, entender o que se está propondo e somar forças para que as universidades não sejam penalizadas”.
Após o fim da consulta, o texto será enviado como projeto de lei para o Congresso Nacional.