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O infectologista Roberto Medronho, professor da Faculdade de Medicina e coordenador do GT Coronavírus da UFRJ, dá um recado importante no programa "Pílulas Antimonotonia": permaneçam em casa!

As medidas não surtiram o efeito esperado na redução da curva’

“Considero uma irresponsabilidade, do ponto de vista epidemiológico, a suspensão das medidas restritivas, porque nós estamos há duas semanas da instalação dessas medidas e elas ainda não surtiram o efeito esperado na redução da curva [de contágio].

Reconhecemos o impacto econômico que isso traz, mas agora temos que salvar vidas. Precisamos que os governantes, em especial o governo federal, junto com os governantes estaduais invistam em  medidas políticas e econômicas para mitigar o efeito econômico, especialmente nas classes menos favorecidas.

Mas suspender as medidas restritivas agora será pior, porque teremos, mais à frente, uma epidemia com várias mortes e, também, uma grave crise econômica.”

Pílulas antimonotonia

Diante da necessária quarentena para minimizar os efeitos da pandemia no Brasil, a AdUFRJ lançou as “Pílulas antimonotonia”. Trata-se de uma nova forma digital de comunicação entre professores da UFRJ e a sociedade.

São vídeos curtos, publicados nas redes sociais da AdUFRJ, sobre variados temas, em que os especialistas da universidade vão nos ajudar a superar o afastamento social oferecendo debate sobre temas atuais, com conteúdo qualificado à luz de suas áreas de especialização. Uma forma de colaborar com o debate sério e responsável. Ao mesmo tempo em que leva a ciência, a cultura e os conhecimentos produzidos pela universidade para a população. 

Confira a participação do professor Medronho em:


Antes do coordenador do GT Coronavírus da UFRJ, participaram do programa as professoras Esther Dweck (veja AQUI) e Ligia Bahia (veja AQUI)

hands 1167619 1280A versão impressa do Jornal da AdUFRJ está suspensa durante a quarentena. Para receber a versão digital por correio eletrônico mantenha seus dados atualizados. Para isso, basta enviar um email  para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
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financial 4560047 1280Na linha de frente do combate ao coronavírus, a UFRJ solicitou R$ 20,7 milhões ao Ministério da Educação para a compra de insumos e equipamentos. A boa notícia é que a demanda deve ser integralmente atendida nos próximos dias.
O plano de trabalho foi enviado na quinta-feira (19), após uma consulta do MEC às universidades sobre o custo de ações em andamento ou em estudo para ajudar no enfrentamento da pandemia.
O primeiro ponto do documento da universidade é a aquisição de material de consumo para diagnóstico molecular, ao custo de R$ 1 milhão. O valor será aplicado no Laboratório de Virologia do Instituto de Biologia e na Faculdade de Medicina, que estão atuando na triagem de pacientes e nos testes da doença.
Os demais itens são voltados para o atendimento nas unidades hospitalares da UFRJ: aquisição de equipamentos de proteção individual (R$ 4,1 milhões); adequação de leitos de UTI no Instituto de Neurologia Deolindo Couto, no campus da Praia Vermelha (R$ 391 mil); e compra de equipamentos para 150 leitos de UTI (R$ 14,6 milhões).
A universidade também solicita R$ 600 mil para a compra de insumos necessários à produção de álcool glicerinado, álcool em gel e álcool 70°. Há uma estimativa de que os recursos possam abastecer o Complexo Hospitalar da UFRJ com aproximadamente 16 mil litros dos produtos, por mês, pelos próximos 90 dias.
Decana do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza e professora do Instituto de Química, Cássia Turci explica que a produção pode crescer, dependendo das doações que a universidade está recebendo e da disponibilidade da matéria-prima no mercado.

APORTE NECESSÁRIO
Os recursos, se confirmados, chegam em bom momento. A UFRJ, que já estava com o orçamento reduzido para enfrentar as despesas regulares do ano, depende do governo para custear os gastos extraordinários provocados pela doença. A suspensão das aulas de graduação e pós-graduação não aliviou os cofres da instituição.
“Mesmo com unidades parcialmente fechadas, temos mais demanda de limpeza geral e limpeza especializada nos hospitais, por exemplo”, explica o pró-reitor de Planejamento e Finanças, professor Eduardo Raupp. Um exemplo é o reforço da higienização em uma área do Centro de Ciências da Saúde reservada para testes do coronavírus, desde a semana passada.
“Segurança também imaginamos que será muito exigida, seja para preservar o patrimônio nas áreas com baixa utilização, seja para assegurar as condições de trabalho nas unidades assistenciais que serão sobrecarregadas no próximo período”, observa o dirigente. “Assim, entendemos que a pandemia aumenta a necessidade de gastos e esperamos ter os aportes necessários do governo federal para isso”, completa.  

DOIS MESES DE DÉFICIT
Mesmo sem considerar a crise do coronavírus, a situação de arrocho da universidade não sofreu alteração em relação ao que vem ocorrendo nos últimos anos. Até agora, foram recebidos 25% do orçamento total, ou R$ 78 milhões. Estão incluídos no montante os 25% do Plano Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), ou R$ 13,2 milhões. Para investimento, nenhum centavo. A instituição somou, até o momento, R$ 13 milhões de receita própria.
É muito pouco para regularizar os débitos da UFRJ: “Foi possível pagar as contas de 2019 e indicar orçamento para as contas de janeiro e parte de fevereiro”, explica o pró-reitor Raupp.
“Do ponto de vista ordinário do orçamento, a dificuldade segue a mesma: a defasagem de dois meses. Acrescida da ausência, até aqui, de liberação para investimento”, completa.
Empresa demite 93 terceirizados do bandejão
 

Empresa demitiu 93 terceirizados do bandejão

WEB menor p.3Terceirizados temem demissão - Foto: Arquivo AdUFRJTodas as empresas terceirizadas da UFRJ estão recebendo dentro da margem de 90 dias em que, pela legislação, deveriam preservar a prestação de serviços e o pagamento dos funcionários. Mas a crise econômica causada pelo coronavírus já prejudica os trabalhadores. Noventa e três pessoas foram demitidas da empresa responsável pela produção e fornecimento das refeições do restaurante universitário (RU). E pelo menos uma firma — que faz a limpeza do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN) e do Ladetec — tem atrasado auxílios e o salário dos terceirizados.
O pró-reitor de Governança da universidade, André Esteves, explica que, diferentemente dos contratos que trabalham com mão de obra de dedicação exclusiva, a empresa do restaurante emprega as pessoas de acordo com a produção estimada pela universidade. Com a suspensão das aulas e o fechamento dos bandejões — com exceção do Restaurante Central —, houve significativa queda da demanda: “A empresa não consegue manter o quadro funcional empregado”, afirma Esteves.
O pró-reitor de Finanças, Eduardo Raupp, completa: “Todas as empresas estão recebendo dentro da defasagem de dois meses praticada desde 2015. Os atrasos, portanto, não deveriam ocorrer”, observa. “Mas creio que a situação econômica geral tem reduzido o capital de giro destas empresas, levando a estes atrasos”.
As pró-reitorias de Finanças e de Governança têm mantido contato com as empresas, informando oficialmente das medidas recomendadas pela UFRJ: “Nossa política em relação aos contratos tem sido a de mantê-los ativos, evitando ainda mais caos social com a possível demissão dos trabalhadores”, diz Raupp.
As orientações e precauções com os servidores e alunos devem ser estendidas aos terceirizados. “A dispensa de trabalhadores por razões humanitárias não pode ensejar demissões ou corte de benefícios. Estamos atuando neste sentido”, afirma Raupp.
Para Luciana Calixto, da Associação de Trabalhadores Terceirizados da UFRJ (ATTUFRJ), a decisão da empresa do RU é “desumana”. “Faltou diálogo entre as partes. Estes 93 trabalhadores não vão ter como conseguir emprego tão cedo”, avalia.
Em relação à empresa de limpeza do CCMN e do Ladetec, a ATTUFRJ cobrou providências da administração central no fim da última semana, uma vez que os pagamentos das faturas estão sendo feitos pela universidade, ainda que com atraso. Os terceirizados estão sem receber os auxílios-transporte e de alimentação há três meses e o salário de fevereiro ainda não foi depositado. “Há colegas que estão sem o dinheiro do aluguel”, lamenta.

WEB menor p.7Foto: Elisa Monteiro/Arquivo AdUFRJEm meio à pandemia do coronavírus, o Ministério da Educação editou uma portaria que autoriza as universidades federais a oferecerem ensino a distância para os alunos. Publicada no último dia 18, a portaria permite a substituição das aulas presenciais por 30 dias. O período pode ser prorrogado. 
    A reitoria da UFRJ publicou uma nota no domingo, 22, afirmando que “a utilização de plataformas virtuais é permitida naquelas turmas que já faziam uso dessa tecnologia anteriormente e nos casos em que já esteja pactuada entre os estudantes e seus respectivos professores”. 
     A administração central reiterou que as atividades em ambiente digital não devem substituir as aulas presenciais, e que o calendário acadêmico será reajustado tão logo a situação se normalize. Na noite de segunda-feira, 23, a reitoria suspendeu as aulas por tempo indeterminado e não mais por 15 dias, como havia feito no início da pandemia.
A nota da UFRJ elenca as dificuldades para a adoção da metodologia, como a necessidade de que todos os professores tenham recursos materiais, a inclusão de alunos com deficiência e até a operacionalização do EaD. O fato é que a portaria do MEC abriu um debate na comunidade acadêmica da universidade. A diretoria da AdUFRJ preparou uma nota sobre o tema (box ao lado), ressaltando que o Ensino a Distância não deve ser institucionalizado durante a quarentena. Argumenta que os cursos foram planejados presencialmente e que as enormes diferenças entre as unidades da universidade inviabilizam uma mudança no atual cenário de incerteza. A nota destaca, no entanto, a importância de os professores preservarem os vínculos com os alunos.  
Para o professor e diretor da AdUFRJ Jackson Menezes, a portaria é cruel, porque empurra a responsabilidade pela suspensão das aulas para as universidades. “O governo se comporta como se estivesse oferecendo uma solução, e caso as universidades não aceitem, há chance de serem tratadas como arcaicas”, defendeu. “É como se o MEC lavasse as mãos, e deixasse para as universidades essa responsabilidade, o que gera uma insegurança jurídica e acadêmica para os reitores”.
Outro problema apontado por Jackson é o curto prazo para a adaptação de um modelo que se propõe como temporário. “É praticamente impossível que a UFRJ tenha, em 15 dias, um sistema que todos os professores possam utilizar. Vamos gastar energia para fazer uma coisa que é temporária, quando já tivemos experiências anteriores de readequação do calendário?”, questionou.

ADAPTAÇÃO NÃO É SIMPLES
A adaptação de uma disciplina para o EaD não é um processo simples, explica o professor Leandro de Paula. Coordenador do curso de Licenciatura em Física a distância da UFRJ desde 2003, ele lembrou que um curso nesse modelo não é apenas um professor falando através de monitores, mas toda uma nova maneira pedagógica de pensar, e que exige planejamento. “O ensino a distância tem essa maneira diferente de organizar. É preciso repensar as aulas, o material didático e o contato entre os alunos e o professor”, explicou.
O professor Olavo Amaral, do Instituto de Bioquímica Médica, está conseguindo manter o contato com os alunos. Ele entrou em acordo com sua turma de Estatística e Reprodutibilidade em Ciências da Vida e começou a dar aulas online durante a quarentena. “Tem aparecido mais gente nas aulas online do que nas aulas presenciais, inclusive alguns alunos que não estão matriculados”, contou. “A interação com a turma está muito boa.”
Ele reconhece que há problemas específicos no modelo online. “Às vezes, tenho alunos com problemas na conexão ou outro tipo de dificuldade para acessar a aula. Por outro lado, alguns alunos tiveram que voltar para as suas cidades de origem com a suspensão das aulas, e estão conseguindo fazer a disciplina assim mesmo”, relatou o professor, que assinou um serviço de web conferências e paga US$ 15 por mês do próprio bolso para manter o curso a distância.
Diferente da empreitada do professor do IBqM, a Faculdade de Letras tem o programa Letras 2.0, projeto que oferece recursos e condições para professores da universidade usarem recursos digitais em turmas de graduação, pós-graduação e cursos de extensão. Criado em 2009, o programa é vinculado ao Núcleo de Pesquisa em Linguagem, Educação e Tecnologia – LingNet, e já atendeu mais de 6,5 mil usuários, com algo entre 25 e 30 professores utilizando a plataforma por semestre. “O Letras 2.0 não é só um serviço, mas uma fonte de pesquisa sobre como as novas tecnologias podem ser melhor aproveitadas para objetivos pedagógicos”, explicou a professora Kátia Tavares, coordenadora do Núcleo. “Nós avaliamos o uso desses recursos na prática, quais funcionam, o que os alunos pensam e o desenvolvimento dos alunos e dos docentes, e apresentamos os resultados”.
O Letras 2.0 não substitui as aulas presenciais. Mesmo assim, a procura pela iniciativa aumentou este período. “Não tivemos professores novos, mas alguns professores que já haviam usado o programa em outras ocasiões nos procuraram manifestando interesse”, contou a coordenadora.

 
ENSINO A DISTÂNCIA NÃO FAZ MILAGRE
 
Diretoria da AdUFRJ 

n Em meio à comoção social causada pela COVID-19, o Ministério da Educação anunciou, em portaria publicada na quarta-feira (18/03), que as universidades poderiam “em caráter excepcional, substituir as disciplinas presenciais, em andamento, por aulas que utilizem meios e tecnologias de informação e comunicação, nos limites da legislação em vigor”.
Nessa grave crise de caráter inédito no Brasil, não queremos alienar as universidades das necessidades de seus alunos e da população em geral. Nesse sentido, acreditamos que há, sim, recursos presentes na “tecnologia da informação e comunicação” aos quais podemos e devemos recorrer para manter nossos discentes ativos em suas quarentenas produtivas, e para que técnicos e docentes possam realizar quaisquer atividades que forem possíveis a distância.
No entanto, é necessário dizer com toda a ênfase que é simplesmente impossível que uma instituição baseada no ensino presencial se converta em uma de educação a  distância (EaD), mesmo que temporariamente. A EaD possui uma dinâmica, infraestrutura e desafios próprios, que não se resolvem apenas com boa vontade e um celular na mão. Algumas disciplinas requerem anos de planejamento e comprometimento humano e financeiro, e tentar vencer isso em 15 dias (prazo dado para as instituições se manifestarem sobre a possibilidade) comprometerá drasticamente a qualidade da maioria das disciplinas.
Em suma: instamos nossos e nossas docentes a buscarem toda a forma de manter o contato com seus alunos, se valendo das mais variadas tecnologias disponíveis. Mas que isso sirva apenas de complemento e jamais como substituição dos nossos cursos regulares. Estes terão que esperar o fim da epidemia para continuarem.

Mais de 70 docentes do Instituto de Economia da UFRJ lançaram um documento crítico às medidas econômicas anunciadas pelo governo Bolsonaro para enfrentar os efeitos do coronavírus no país. E apresentam propostas ao Executivo e ao Congresso. 

 

Carta Aberta de Professores do Instituto de Economia da UFRJ: Impacto Econômico da Covid-19 e Medidas de Combate à Crise Econômica


LOGO IEO mundo está enfrentando uma grave crise econômica provocada pelo avanço da pandemia da Covid-19. Instituições internacionais (FMI, OCDE, UNCTAD, etc.) e economistas renomados estão projetando significativa desaceleração do crescimento mundial, no melhor dos cenários, ou uma recessão global em 2020, em cenários menos otimistas.
As medidas implementadas de isolamento e/ou quarentena para impedir o avanço do vírus nos países mais afetados provocaram a interrupção das atividades normais das pessoas, desmobilizando recursos. Isso impactou negativamente a produção, o consumo corrente e os investimentos. Portanto, a gravidade dos efeitos econômicos da Covid-19 deve-se à sua capacidade de gerar, ao mesmo tempo, choques negativos na oferta e na demanda agregada mundial. Ademais, há uma enorme pressão sobre os recursos (físicos e humanos) na área de saúde com o aumento dos casos de pessoas infectadas, sobretudo no pico da epidemia, o que requer uma espécie de economia de guerra nesse segmento.
Em virtude disso, muitos governos estão adotando medidas para: i) garantir que não haja desabastecimento de bens e insumos básicos, por meio do monitoramento das cadeias de distribuição (transportes e o comércio atacadista e varejista) e, quando necessário, de eventuais intervenções em setores produtores e importações emergenciais; e ii) estimular a economia por meio de políticas monetária, fiscal e creditícia.
A economia brasileira será profundamente afetada por essa conjuntura crítica decorrente do avanço na Covid-19 no país, o que é agravado pela nossa situação prévia de baixo dinamismo e incapacidade para recuperar os níveis de produção anteriores à recessão de 2015-16.
Nesse quadro, que já era preocupante antes de a pandemia se instalar, a resposta do governo brasileiro para enfrentar a crise econômica (plano divulgado no dia 16/03/2020) gera ainda maior preocupação ao não propor nenhum recurso novo, apenas antecipação de recursos ou diferimento de pagamentos. Ademais, o ministro da Economia mantém o discurso de que a melhor resposta para combater a crise econômica seria a aprovação das reformas administrativa e tributária.
As reformas já aprovadas (Emenda Constitucional 95/2016 do “Teto dos gastos”, reformas trabalhista e previdenciária) não foram capazes de proporcionar a retomada do crescimento econômico e, em alguns casos, ampliaram as vulnerabilidades para enfrentar os desafios atuais das crises de saúde e econômica provocadas pela Covid-19.
A EC 95/2016, por exemplo, alterou o cálculo do mínimo constitucional na área de saúde que implicou uma redução de mais de R$ 20 bilhões nos recursos federais que deveriam ter sido utilizados para saúde pública desde 2018. Ademais, somada a um resultado primário rígido, essa emenda constitucional impede a execução de políticas fiscais anticíclicas que permitem, durante a crise, manter o fluxo de renda da população, por meio de instrumentos de transferência de renda e da ampliação de investimentos.
Diante desse quadro, a economia brasileira deverá mergulhar numa recessão em 2020, provocando a ampliação do número de desempregados e da população em situação de extrema pobreza. Segundo estimativas realizadas por Warwick McKibbin & Roshen Fernando (ver The Global Macroeconomic Impacts of COVID-19: Seven Scenarios, CAMA Working Paper, Australian National University, 2020), a economia brasileira deverá perder, em 2020, dois pontos percentuais de crescimento, num cenário mais favorável, e até oito pontos percentuais num cenário mais desfavorável.
A recessão está contratada e pode ter a gravidade de uma depressão caso não sejam utilizados todos os instrumentos disponíveis de política econômica, sobretudo os fiscais, para combater a crise. Em uma economia sob efeito da Covid-19, haverá um esgotamento da capacidade instalada e escassez da mão de obra no setor saúde, combinados a desemprego e falta de produtos e insumos nos outros setores. Nesse contexto, a necessidade de priorizar os objetivos imediatos do país – a luta contra a pandemia e a contenção dos seus efeitos sobre a atividade econômica – em detrimento do equilíbrio fiscal de curto prazo não é uma questão ideológica.
As medidas econômicas anunciadas pelo governo brasileiro são paliativas: suficientes apenas para impedir a ruptura do sistema de crédito sem conseguir estimular a economia, pois o aumento da liquidez deverá ficar empoçado no sistema financeiro. Entretanto, a política de gastos governamentais deveria assumir papel central na reativação econômica e na economia de guerra na área da saúde. Para tanto, são necessários gastos adicionais ao previsto no orçamento para a infraestrutura de combate à doença e coordenação do governo central em virtude da baixa capacidade fiscal dos estados e munícipios.
Pelas razões apontadas, professores do Instituto de Economia, abaixo assinados, consideram ser sua obrigação expressar publicamente sua profunda preocupação com a lenta reação das autoridades econômicas ante a gravidade da crise. Nessa situação, defendemos que o governo e o Congresso brasileiro adotem os seguintes pontos para combater a crise:
1) Ampliação dos benefícios e de programas de transferência de renda para famílias, de trabalhadores formais e informais que perderem ou tiverem sua capacidade de geração de renda diminuída pela crise, em especial para as famílias afetadas pela pandemia com filhos em idade escolar, garantindo que estes possam permanecer junto aos pais.
2) Eliminação da fila do Bolsa Família e reajuste do benefício.
3) Recomposição da verba de saúde em relação aos mínimos constitucionais definidos antes da EC 95/2016 e garantia de recurso extra para ampliação de testes, de leitos e aquisição de equipamentos para emergência.
4) Recomposição das verbas para Ciência e Tecnologia, especialmente para áreas capazes de enfrentar a pandemia, de forma a garantir nossa capacidade de desenvolver medicamentos e vacinas.
5) Alteração das demais regras fiscais vigentes, além do Superávit Primário, como a Regra de Ouro e a suspensão do Teto de Gastos, de forma a se criar um espaço legal para a necessária política de expansão dos gastos públicos.
6) Suspensão de multa, juros e penalização sobre pagamento atrasado de contas dos serviços de utilidade pública.
7) Ajuda fiscal aos estados e municípios, seja por meio de transferências do governo federal, seja pela renegociação de dívida, de forma a permitir aos entes subnacionais elevar seus gastos para fazer frente à emergência médica e seus impactos sociais mais imediatos.
8) Política de expansão de crédito e alongamento de dívidas utilizando os bancos públicos, para socorrer empresas e famílias mais afetadas pela pandemia.

Rio de Janeiro, 17 de março de 2020

1 Adilson de Oliveira
2 Alexandre Laino de Freitas
3 Alexis Nicolas Saludjian
4 Almir Pita
5 Ana Celia Castro
6 Ana Cristina Reif De Paula
7 Andre de Melo Modenesi
8 Angela Ganem
9 Ary Vieira Barradas
10 Bernado Karam
11 Caetano Christophe Rosado Penna
12 Camila Cabral Pires Alves
13 Carlos Aguiar de Medeiros
14 Carlos Eduardo Frickmann Young
15 Carlos Frederico Leão Rocha
16 Carlos Pinkusfeld Bastos
17 Celia de Andrade Lessa Kerstenetzky
18 Daniel de Pinho Barreiros
19 Denise Gentil
20 Edson Peterli Guimarães
21 Eduardo Costa Pinto
22 Eduardo Figueiredo Bastian
23 Ernani Torres
24 Esther Dweck
25 Fabio de Silos Sá Earp
26 Fabio Neves Perácio de Freitas
27 Fernando Carlos Greenhalgh de Cerqueira Lima
28 Galeno Tinoco Ferraz Filho
29 Gustavo Daou Lucas
30 Helder Queiroz Pinto Junior
31 Helena Lastres
32 Isabela Nogueira de Morais
33 Italo Pedrosa Gomes Martins
34 Jaques Kerstenetzky
35 Joao Carlos Ferraz
36 João Felipe Cury Marinho Matias
37 Joao Luiz Maurity Saboia
38 João Luiz Simas Pereira de Souza Pondé
39 Joao Sicsu
40 José Eduardo Cassiolato
41 José Luís Fiori
42 Julia Paranhos de Macedo Pinto
43 Kaio Glauber Vital da Costa
44 Lena Lavinas
45 Leonarda Musumeci
46 Lia Hasenclever
47 Luis Fernando Rodrigues de Paula
48 Luiz Carlos Delorme Prado
49 Luiz Martins de Mello
50 Marcelo Colomer Ferraro
51 Marcelo Gerson Pessoa de Matos
52 Margarita Silvia Olivera
53 Maria da Conceição Tavares
54 Maria Isabel Busato
55 Maria Mello de Malta
56 Maria Silvia Possas
57 Maria Tereza Leopardi Mello
58 Marília Bassetti Marcato
59 Marina Honorio de Souza Szapiro
60 Marta Calmon Lemme
61 Marta dos Reis Castilho
62 Nicholas Miller Trebat
63 Norberto Montani Martins
64 Numa Mazat
65 Paulo Tigre
66 Raphael Padula
67 Renata Lebre Rovere
68 Rene Carvalho
69 Ricardo Alberto Bielschowsky
70 Ricardo de Figueiredo Summa
71 Rodrigo Vergnhanini
72 Rolando Garciga Otero
73 Ronaldo Bicalho
74 Victor Prochnik
75 Wilson Vieira

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